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2015

Por que a Moody’s rebaixou a nota de crédito da Petrobras?

Introdução

No dia 24 de fevereiro de 2015, a agência de avaliação de risco Moody’s1 rebaixou todas as notas de crédito (rating2,3) da Petrobras, incluindo a da dívida em moeda estrangeira, cujo rating caiu dois níveis: de Baa3 para Ba24. Todos os ratings da estatal permanecem em observação pela agência e com viés de baixa, isto é, um novo rebaixamento pode ocorrer em curto prazo.

É o segundo rebaixamento generalizado de rating da Petrobras aplicado pela Moody’s em menos de um mês.No anterior, em 29 de janeiro, o rating da dívida em moeda estrangeira caiu de Baa2 para Baa35. Porém o mais recente rebaixamento foi especialmente impactante, pois, com esta nova queda, o rating da estatal perdeu o chamado grau de investimento. Assim, de acordo com a avaliação da Moody’s, a dívida da Petrobras agora possui grau especulativo6.

O rebaixamento do rating da Petrobras para o grau especulativo é uma sinalização forte para o mercado da deterioração financeira da empresa e do aumento do risco de atrasos ou não pagamentos de sua dívida. Os resultados práticos da perda do grau de investimento são: o aumento do custo incorrido pela Petrobras para emitir novos títulos, pois, agravado o risco, os credores exigirão maiores juros para comprar esses títulos7; e a redução da quantidade de potenciais credores, devido aos regulamentos de diversos fundos de investimentos, que vedam a aquisição ou manutenção de títulos com grau especulativo8. Duas consequências absolutamente inoportunas neste momento em que a Petrobras carrega uma das maiores dívidas empresariais do mundo e executa um plano de investimentos que exige recursos além de sua capacidade de geração de receita.

Como é possível a Petrobras – que alcançou o grau de investimento (Baa2) da Moody’s em 2005, descobriu o pré-sal em 2006 e atingiu seu rating máximo (A3) em 2011 – ter sofrido tamanha erosão de sua credibilidade perante o mercado, a ponto de sofrer rebaixamentos sucessivos de cinco níveis em seu rating em apenas dois anos e retroceder ao grau especulativo? Dois fatores foram decisivos no calvário da Petrobras: o endividamento e a corrupção, como se tentará mostrar neste trabalho.

 

O endividamento da Petrobras

A Petrobras,ao divulgar seu ambicioso Plano de Negócios e Gestão (PNG) 2014-20189, que inclui investimentos de US$ 220,6 bilhões –majoritariamente na área de Exploração e Produção, cuja meta principal é atingir a produção de 3,2 milhões de barris por dia de petróleo e líquido de gás natural em 201810 –,definiu os pressupostos de financiabilidade para a consecução desses investimentos, e o primeiro pressuposto era justamente a manutenção do grau de investimento.  Com esse objetivo foram estabelecidas três metas financeiras:

  1. Retorno dos indicadores de endividamento e alavancagem aos limites em até 24 meses;
  2. Alavancagem11 menor que 35%; e
  3. Dívida líquida/EBITDA12 menor que 2,5 vezes.

A preocupação da estatal com a possibilidade de perda do grau de investimento era pertinente. Em outubro de 2013, a Moody’s havia rebaixado o rating da dívida em moeda estrangeira da Petrobras de A3 para Baa113. Segundo a agência, o rebaixamento refletia a alta alavancagem financeira da Petrobras e a expectativa de que a empresa iria,à medida que prosseguia o seu programa de investimentos,continuar a ter fluxo de caixa líquido negativo nos anos seguintes.

Em outubro de 2014, a Moody’s voltou a rebaixar o rating da dívida em moeda estrangeira da Petrobras, desta vez,de Baa1 para Baa214. As razões foram semelhantes às do rebaixamento anterior: a alta alavancagem financeira e a possibilidade de postergação para depois de 2016 do declínio da mesma, contrariamente às expectativas originais da agência. Contribuíram para a deterioração dessas expectativas: o aumento do endividamento provocado pela desvalorização do real, as perdas na área de Abastecimento devido à defasagem entre preços internacionais e domésticos dos derivados de petróleo e o aumento da necessidade de financiamento. Preocupava também a queda da cotação do petróleo, que, em curto prazo, favorece a Petrobras pela diminuição das perdas na área de Abastecimento, porém, em médio e longo prazos, reduz a rentabilidade da área de Exploração e Produção.

O endividamento da Petrobras – medido por meio de dois índices: Dívida Líquida/Capitalização Líquida e Dívida Líquida/EBITDA- vem crescendo de forma significativa em razão do aumento da dívida líquida da empresa, como mostra a Figura 1.

Figura 1 – Histórico do Endividamento da Petrobras15.

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A dívida líquida da estatal, no terceiro trimestre de 2014, era de R$ 261,4 bilhões16, uma elevação de 321,1% em relação ao final de 2010. A Petrobras tornou-se a empresa mais endividada do mundo, segundo relatório do Bank of America Merril Lynch17.

Os resultados da Petrobras no terceiro trimestre de 2014 mostram que a dívida líquida, a alavancagem e a relação dívida líquida/EBITDA continuam a crescer, justificando a preocupação da Moody’s com o endividamento da estatal. De fato, no terceiro trimestre de 2014, o fluxo de caixa líquido da estatal foi negativo, situação que se repete desde 2007! Consequentemente a empresa precisa recorrer ao endividamento para continuar seu plano de investimentos, tendo em vista que uma emissão de ações é descartada pela diretoria da Petrobras18.

A evolução dos índices de endividamento da Petrobras no terceiro trimestre de 2014 – Dívida Líquida/Capitalização Líquida = 43% e Dívida Líquida/EBITDA = 4,63- mostram quão difícil será atingir já em 2015, e mesmo nos anos seguintes, os índices estabelecidos no PGN 2014-2018: 35% e 2,5, respectivamente.

Para aumentar o EBITDA da Petrobras é fundamental reverter com celeridade as perdas da área de Abastecimento e aumentar o resultado líquido da área de Exploração & Produção. A primeira condição está sendo alcançada.O resultado da área de Abastecimento da Petrobras deverá melhorar em 2015 devido a não ter sido repassada a redução do preço do petróleo para o preço dos derivados no mercado interno, embora parte desse ganho seja diminuída pela desvalorização do real.

Com relação ao resultado da área de Exploração & Produção, a redução do preço do petróleo é uma ameaça real. Não porque o novo preço do petróleo esteja abaixo do custo de produção no pré-sal, principal aposta da empresa, mas porque diminuirá a rentabilidade esperada pela Petrobras por barril de petróleo produzido.

Mesmo considerando todas as dificuldades técnicas e logísticas envolvidas, o custo de produção de petróleo no pré-sal é relativamente baixo. Nas palavras do ex-diretor da área de Exploração & Produção da Petrobras, José Formigli, a exploração nessa área já seria sustentável com o preço internacional de petróleo entre US$ 40 e US$ 4519.  Porém as dificuldades para alcançar a rentabilidade planejada ficam claras ao cotejar o preço atual do petróleo, cerca de US$ 50 o barril do tipo Brent, e as premissas assumidas pelo Plano Estratégico 2030 da Petrobras: o barril de petróleo do tipo Brent a US$ 100 entre 2015 e 2017, com uma leve queda para US$ 95 entre 2018 e 2030.

Evidentemente a queda da cotação do petróleo atinge todas as empresas petrolíferas, mas as consequências do novo cenário são potencialmente mais danosas para a Petrobras do que para a maioria das petroleiras devido à elevada alavancagem da empresa.  Ao optar por uma estratégia de rápido aumento da produção sustentada por maciços investimentos com recursos de terceiros, a estatal colocou-se em posição de acentuada vulnerabilidade em relação às oscilações do preço do petróleo, commodity sabidamente volátil.

Além disso, muitos dos investimentos da Petrobras estão sendo executados a custo mais elevado do que a média praticada no setor do petróleo20,21,seja em razão da política de conteúdo local, seja devido a práticas fraudulentas de contratação. Sendo assim, o retorno desses investimentos exigirá prazos mais longos e/ou preço do petróleo mais alto do que seria necessário se tivessem sido adotadas políticas de investimento com foco na rentabilidade e de governança corporativa eficaz.

Pesa negativamente também o fato da Petrobras não ter cumprido sua meta de aumento de produção em 2014. O PNG 2014-2018 previa crescimento da produção de 7,5%, com margem de erro de 1%, sobre 2013, mas o alcançado foi de somente 5,3%22. Embora essa frustração do aumento da produção possa ser considerada pequena, ela reaviva a desconfiança em relação às metas de produção ambiciosas dos planos da Petrobras, que, historicamente, não são cumpridas. Mormente agora que a estatal precisará reduzir substancialmente os investimentos inicialmente planejados23. O não cumprimento das metas de produção comprometerá a geração de receita para fazer frente ao vencimento das dívidas.

Outra fonte de preocupação para a estatal é a cotação do dólar. No PNG 2014-2018, estimava-se que a taxa de câmbio média seria de R$ 2,23 em 2014, valorizando para R$ 1,92 em longo prazo. Esses valores, evidentemente, não correspondem mais à realidade.  No entendimento da Petrobras, contudo, a desvalorização do real é benéfica para a empresa, porque, a partir de 2016, se tornará exportadora líquida de petróleo, e suas receitas em reais aumentarão com o dólar mais forte24.

Apenas não se pode esquecer que a dívida da estatal denominada em dólares, no terceiro trimestre de 2014, equivalia a R$ 233,6 bilhões. Ou seja, enquanto a Petrobras não for exportadora líquida de petróleo, a desvalorização cambial do real é mais uma fonte de perdas para a empresa.

A perspectiva de que a Petrobras se torne exportadora líquida de petróleo a partir de 2016, baseia-se em duas projeções: de crescimento da produção de petróleo e de crescimento da demanda interna de derivados. Já foi visto que a primeira projeção não será cumprida conforme inicialmente estabelecido. Com relação à segunda, provavelmente foi subdimensionada.

O PNG 2014-2018 prevê que o mercado interno de derivados cresça 2,7% ao ano até 2020. Entretanto, no quinquênio 2010-2014, o crescimento anual médio do consumo de derivados foi de 6,8%25. É provável que números tão elevados não se repitam nos anos vindouros, mas, de qualquer forma, a estimativa de aumento médio de 2,7% no consumo de derivados parece tímida.

A produção de petróleo abaixo do planejado combinada com a maior taxa de crescimento do consumo interno de derivados de petróleo implica o adiamento do momento em que a Petrobras se tornará exportadora líquida de petróleo e a redução dos saldos exportáveis futuros. Por conseguinte, a estatal terá menor capacidade de gerar receitas em dólares do que previsto no PNG 2014-2018 e, assim, ficará mais exposta à valorização do dólar26.

 

A corrupção na Petrobras

O escândalo de corrupção na Petrobras, investigado pelo Ministério Público e pela Polícia Federal no âmbito da “Operação Lava Jato”27, e os seus possíveis desdobramentos foram determinantes para as duas mais recentes reduções de rating da estatal pela Moody’s, ambas citadas na introdução.

Os bilionários desvios de recursos da Petrobras trazem dúvidas sobre a real situação da empresa, até mesmo para a sua diretoria28, de forma que a Petrobras ficou sem condições de publicar seu balanço do terceiro trimestre de 2014 assinado por auditores independentes29. Esse fato gerou dúvidas a respeito da capacidade da estatal de publicar tempestivamente seu balanço anual auditado30. Caso contrário, em razão de cláusulas contratuais constantes dos processos de emissão, chamadas decovenants, os credores podem exigir o vencimento antecipado dos títulos da Petrobras, que montam a mais de US$ 50 bilhões, quantia além das disponibilidades do caixa da empresa.

O último rebaixamento do rating da Petrobras pela Moody’s pode ser visto como uma moção de desconfiança em relação à nova diretoria da estatal, aprovada pelo Conselho de Administração em 6 de fevereiro último, apenas três semanas antes do rebaixamento. A agência de risco, na nota explicativa a respeito do rebaixamento do rating da Petrobras, chamou a atenção para a falta de medidas concretas para publicação tempestiva do balanço anual auditado, a dificuldade que terá a diretoria para compatibilizar o tratamento do escândalo de corrupção com a atenção demandada pelas atividades operacionais e as incertezas sobre a efetiva melhora da governança e do controle interno da empresa.

Agravando ainda mais a situação geral, a Petrobras é alvo de investigações do Departamento de Justiça dos Estados Unidos e da Security Exchange Comission (SEC), órgão fiscalizador do mercado acionário americano31, já que seus papéis também são negociados na Bolsa de Nova Iorque. As investigações objetivam descobrir se houve descumprimento do Foreign Corrupt Practices Act32.Caso a estatal venha ser declarada culpada,poderá vir a sofrer pesadas multas administrativas e penais33.

Por fim, investidores que se consideram lesados pela Petrobras acionam a estatal nas cortes americanas para receberam indenizações pelas perdas com os papéis da empresa. Essas indenizações podem superar os quinhentos milhões de dólares34.

 

Conclusão

A Petrobras passa pelo pior momento de sua história sexagenária. Problemas de gestão, intervencionismo estatal, corrupção e queda do preço do petróleo juntaram-se para formar a “tempestade perfeita” que assola a empresa e que deverá levar anos para ser completamente debelada.

A situação financeira da Petrobras é extremamente grave e entrou em loop perigoso.A empresa não será capaz de cumprir as metas de redução de endividamento a níveis seguros. Diante desse quadro, terá que cortar investimentos e, consequentemente, também não cumprirá as metas de aumento da produção de petróleo.O que, por sua vez, diminuirá a geração futura de receita e, portanto, reduzirá sua capacidade de pagar as dívidas a vencer.

Além disso, em razão da possibilidade de não publicação tempestiva do balanço anual auditado, a estatal corre o risco de se tornar ilíquida pelo vencimento antecipado de suas dívidas.

A combinação dos fatores apresentados acima resultou na perda do grau de investimento da Petrobras na avaliação da Moody’s.

A situação da Petrobras, contudo, não é irreversível. A recuperação da empresa poderá ocorrer – certamente de forma custosa para consumidores e/ou contribuintes, afinal alguém tem que pagar pelo descalabro – sustentada em quatro pontos fortes que a estatal possui: i) corpo técnico de excelência; ii) reservas de petróleo em expansão; iii) monopólio de fato no fornecimento de derivados para o mercado brasileiro, o sexto maior do mundo; e iv) possibilidade de ser socorrida pelo Tesouro. Entretanto esses pontos fortes, por si sós, serão insuficientes se não houver melhora da gestão da Petrobras – incluindo seleção de investimentos com base na rentabilidade e efetiva adoção de práticas modernas de governança – e repensamento do papel da empresa na execução de políticas públicas ou de Governo. Mas isso é tema para um próximo artigo.

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1A Moody’s é uma das três principais agências internacionais de avaliação de risco. As outras duas agências são a Standard & Poor’s e a Fitch.

2O rating é uma medida que busca indicar a capacidade de empresas e governos honrarem os títulos de crédito que emitem, refletindo a possibilidade da ocorrência de atrasos ou mesmo de não pagamento, bem como a perda financeira esperada em caso de não pagamento. Trata-se de um importante instrumento de análise para os investidores – fundamental no mercado financeiro globalizado – que recebem uma opinião abalizada e independente sobre os riscos envolvidos nas transações com títulos de crédito.

3A Moody’s utiliza um sistema alfanumérico de classificação do risco de títulos. Esse sistema é dividido em duas faixas principais: grau de investimento e grau especulativo. A faixa grau de investimento é subdividida nos seguintes níveis, em ordem crescente de risco: Aaa; Aa1; Aa2; Aa3; A1, A2; A3; Baa1; Baa2; Baa3. A faixa grau especulativo é subdividida nos seguintes níveis, em ordem crescente de risco: Ba1; Ba2; Ba3; B1; B2; B3; Caa1; Caa2; Caa3; Ca; C.

<4PETROBRAS. Agência Moody’s revê nossa classificação de risco. Fatos e Dados. 25 fev. 2015. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/moody-s-reve-nossa-classificacao-de-risco.htm>. Acesso em: 25 fev. 2015.

5PETROBRAS. Agência Moody’s revê nossa classificação de risco. Fatos e Dados. 30 jan. 2015. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/agencia-moody-s-reve-nossa-classificacao-de-risco.htm>. Acesso em: 25 fev. 2015.

6De acordo com a avaliação da Standard & Poor’s, o rating dos títulos da Petrobras em moeda estrangeira é ‘BBB-‘, o nível mais baixo ainda no grau investimento na escala da agência, com perspectiva estável. Já para a Fitch, o rating para esses títulos é ‘BBB-‘, também o nível mais baixo ainda no grau investimento na escala da agência, com perspectiva negativa.

7O banco de investimentos UBS estima que os juros a serem pagos pela Petrobras aumentarão 2% em razão do rebaixamento do rating pela Moody’s. Isso representaria um gasto adicional de até R$ 1 bilhão na renovação da dívida de curto prazo da estatal. Fonte: Moreira, Talita; Oyamada, Aline; Moreira Assis. Sem grau de investimento, Petrobras perde acesso a mercado de US$ 15 trilhões. Valor Econômico. 26 fev. 2015. Disponível em: <http://www.valor.com.br/financas/3928064/sem-grau-de-investimento-petrobras-perde-acesso-mercado-de-us-15-tri>. Acesso em: 27 fev. 2015.

8Em caso de diferentes avaliações de risco por parte das principais agências, os fundos de investimento costumam utilizar métodos de composição dos ratings para chegar ao rating“médio” do título. O método de maior uso quando são três agências a classificar o título, como é o caso com os títulos da Petrobras, é utilizarorating mais repetido, ou, se todas as três agências avaliarem o risco de forma diferente, utilizaroratingintermediário. Assim, orating “médio” da Petrobras ainda está no último nível do grau de investimento, rating concedido pela Standard & Poor’s e pela Fitch. Para a Petrobras perder o grau de investimento “médio”, mais uma agência teria que rebaixar o rating da estatal. Contudo, a expectativa crescente de que isso possa ocorrer já provocou a perda de 3% no valor e aumento de mais de 150% no volume de transações dos títulos mais líquidos da Petrobras. Fonte: Id., Ibid.

9 PETROBRAS. Fato Relevante do Plano Estratégico 2030 e PNG 2014-2018. 25 fev. 2014. Disponível em: <http://investidorpetrobras.com.br/pt/plano-de-negocios-e-gestao/fato-relevante-do-plano-estrategico-2030-e-png-2014-2018.htm>. Acesso em: 26 fev. 2015.

10As metas de produção estabelecidas pela Petrobras são bastante ousadas. Em 2020, objetiva atingir 4,2 milhões de barris por dia de petróleo e líquido de gás natural. Considerando que em 2014 a produção diária de petróleo e líquido de gás natural foi de 2,031 milhões de barris, a Petrobras pretende mais que dobrar a produção em apenas seis anos. Ou seja, a Petrobras quer realizar nos próximos seis anos o equivalenteao que foi feito nos últimos sessenta anos.

11A alavancagem é calculada pela razão entre a dívida líquida e a soma do patrimônio líquido com a dívida líquida. É uma medida de quanto a empresa está se utilizando recursos de terceiros em relação aos recursos próprios, ou seja, de quanto a empresa prefere arriscar recursos de terceiros em vez de recursos próprios.

12EBITDA (earnings before interest, taxes, depreciation and amortization) é traduzido para o português como “lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização”, conhecido também pela sigla LAJIDA. A relação Dívida Líquida/EBITDA indica se a empresa está gerando receitas suficientes para pagar suas dívidas.

13VIRI, Natalia. Moody’s rebaixa nota de crédito da Petrobras de ‘A3’ para ‘Baa1’. Valor Econômico. 3 out. 2013. Disponível em: <http://www.valor.com.br/empresas/3293396/moodys-rebaixa-nota-de-credito-da-petrobras-de-a3-para-baa1>. Acesso em: 26 fev. 2015.

14VIRI, Natalia. Moody’s rebaixa rating da Petrobras de ‘Baa1’ para ‘Baa2’. Valor Econômico. 21 out. 2014. Disponível em: <http://www.valor.com.br/financas/3743102/moodys-rebaixa-rating-da-petrobras-de-baa1-para-baa2>. Acesso em 26 fev. 2015.

15Cálculos do autor a partir de informações da Petrobras. Fonte: PETROBRAS. Central de Resultados. Disponível em: http://investidorpetrobras.com.br/pt/central-de-resultados/. Acesso em 26/02/2015.

16PETROBRAS. Resultado do terceiro trimestre 2014 não revisado pelos auditores independentes. 27 jan. 2015. Disponível em: <http://investidorpetrobras.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8AAF0C7348D11F37014B32059DF65A0B>. Acesso em: 26 fev. 2015.

17GUIMARÃES, Fernanda. Petrobras é a empresa com mais dívidas no mundo. Estadão. 19 out. 2013. Disponível em: <http://economia.estadao.com.br/noticias/geral,petrobras-e-a-empresa-com-mais-dividas-no-mundo-imp-,1087347>. Acesso em: 21/11/2014.

18PETROBRAS. Fato Relevante do Plano Estratégico 2030 e PNG 2014-2018. 25 fev. 2014. Disponível em: <http://investidorpetrobras.com.br/pt/plano-de-negocios-e-gestao/fato-relevante-do-plano-estrategico-2030-e-png-2014-2018.htm>. Acesso em: 26 fev. 2015.

19FICK, Jeff. Pre-salt production ‘sustainable’ with oil prices between $40-$45 – Formigli. World Oil. 8 dez. 2013. Disponível em: <http://www.worldoil.com/Pre-salt-production-sustainable-with-oil-prices-Formigli.html>. Acesso em: 28/10/2014.

20Por exemplo, o custo final da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, deverá ser de US$ 18,5 bilhões, segundo a ex-presidente da Petrobras, Graça Foster. Considerando a capacidade de processamento da refinaria, de 230 mil barris por dia de petróleo, o custo de investimento será de US$ 80.345por barril. Fonte: BORGES, André. Refinaria Abreu e Lima deverá ter custo final de US$ 18,5 bilhões. Valor Econômico. 27 maio 2014. Disponível em: <http://www.valor.com.br/politica/3564228/refinaria-abreu-e-lima-devera-ter-custo-final-de-us-185-bilhoes>. Acesso em: 28 fev. 2015.

21A refinaria da Saudi Aramco Total Refinery & Petrochemicals Co. (Satorp) – situada na cidade de Jubail, na Arábia Saudita, inaugurada no segundo semestre de 2013 – com capacidade de processamento de 400 mil barris por dia de petróleo pesado, para conversão em petroquímicos e combustíveis de alta qualidade, custou US$ 14 bilhões. O custo de investimento por barril da Satorp foi de US$ 35.000. Ou seja, o custo de investimento por barril da refinaria Abreu e Lima foi 130% mais alto do que o da refinaria Satorp. Fonte: OGJ EDITORS. Satorp ships first products from Jubail refinery complex. Oil & Gas Journal. 26 set. 2013. Disponível em: <http://www.ogj.com/articles/2013/09/satorp-ships-first-products-from-jubail-refinery-complex.html>. Acesso em: 28 fev. 2015.

22PETROBRAS. Batemos em dezembro recordes diário, mensal e anual de produção de petróleo e gás. Fatos e Dados. 13 jan. 2015. Disponível em: <http://www.petrobras.com.br/fatos-e-dados/batemos-em-dezembro-recordes-diario-mensal-e-anual-de-producao-de-petroleo-e-gas-natural.htm>. Acesso em: 26 fev. 2015.

23Diante da crise que assola a Petrobras, a diretoria da empresa programa redução dos investimentos em 2015: de US$ 44 bilhões, inicialmente programados no PNG 2014-2018, para US$ 31 ou 33 bilhões. O corte atingirá inclusive a área de Exploração e Produção. Fonte: RAMALHO, André; POLITO, Rodrigo. Estatal atrasa plano de negócios e revê crescimento da produção. Valor Econômico. 30 jan. 2015. Disponível em http://www.valor.com.br/empresas/3885482/estatal-atrasa-plano-de-negocios-e-revecrescimento-da-producao. Acesso em 27fev. 2015.

24PETROBRAS. Plano de Negócios e Gestão: PNG 2014-2018. Disponível em: <http://www.agenciapetrobras.com.br/upload/documentos/apresentacao_j0Q04hFQXA.pdf>. Acesso em: 26/02/2015.

25Cálculos do autor a partir de estatísticas da ANP. Disponível em: <http://www.anp.gov.br/?dw=11029>. Acesso em: 26 fev. 2015.

26Mesmo a apreciação do real, dependendo do timing, pode ser prejudicial para a Petrobras.  Se o real voltar a se apreciar em médio prazo, a estatal viveria no “pior dos mundos”. Em curto prazo, enquanto importadora líquida de petróleo, a estatal teria que comprar dólar apreciado para pagar o serviço da dívida e parte do principal – e, assim, reduzir sua alavancagem –, bem comopara importar máquinas e equipamentos empregados no desenvolvimento dos campos de petróleo. Posteriormente, já como exportadora líquida, venderia o petróleo extraído a um dólar depreciado, enquanto arcaria com custos de produção majoritariamente em reais.

27FOLHA DE SÃO PAULO. Entenda a Operação Lava Jato, da Polícia Federal. 14 nov. 2014. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/11/1548049-entenda-a-operacao-lava-jato-da-policia-federal.shtml>. Acesso em: 27 fev. 2015.

28“A Companhia entende que será necessário realizar ajustes nas demonstrações contábeis para a correção dos valores dos ativos imobilizados que foram impactados por valores relacionados aos atos ilícitos perpetrados por empresas fornecedoras, agentes políticos, funcionários da Petrobras e outras pessoas no âmbito da “Operação Lava Jato”.

No entanto, em face da impraticabilidade de quantificar de forma correta, completa e definitiva tais valores que foram capitalizados em seu ativo imobilizado, a Companhia considerou a adoção de abordagens alternativas para correção desses valores: i) uso de um percentual médio de pagamentos indevidos, citados em depoimentos; ii) avaliação a valor justo dos ativos cuja constituição se deu por meio de contratos de fornecimento de bens e serviços firmados com empresas citadas na “Operação Lava Jato”. Essas alternativas se mostraram inapropriadas para substituir a impraticável determinação do sobrepreço relacionado a esses pagamentos indevidos.” Fonte: PETROBRAS. Resultado do terceiro trimestre 2014 não revisado pelos auditores independentes. 27 jan. 2015. Disponível em: <http://investidorpetrobras.com.br/lumis/portal/file/fileDownload.jsp?fileId=8AAF0C7348D11F37014B32059DF65A0B>. Acesso em: 26 fev. 2015.

29REUTERS BRASIL. PwC recusa-se a aprovar balanço da Petrobras, diz Estadão. 1º nov. 2014. Disponível em: <http://br.reuters.com/article/businessNews/idBRKBN0IL2W720141101>. Acesso em: 27 fev. 2015.

30A Petrobras tem 120 dias, a partir do fim do exercício, 31 de dezembro, para apresentar seu balanço anual auditado. São concedidos, ainda, 60 dias de tolerância.

31VEJA. EUA abrem investigação sobre a Petrobras, diz “FT”. 9 nov. 2014. Disponível em:<http://veja.abril.com.br/noticia/brasil/eua-abrem-investigacao-sobre-petrobras-diz-ft>. Acesso em: 27 fev. 2015.

32Lei americana anticorrupção que tornou ilegal o pagamento de suborno para funcionários estrangeiros com o intuito de obter vantagens em negócios.

33PITA, Antonio; NUNES, Fernanda; BORGES, Altamiro. Denúncias de corrupção na Petrobras podem gerar multa. Estadão. 10 nov. 2014. Disponível em: <http://politica.estadao.com.br/noticias/geral,denuncias-de-corrupcao-na-petrobras-podem-gerar-multa,1590900>. Acesso em: 27 fev. 2015.

34SETTI, Rennan. Investidores que processam Petrobras nos EUA alegam prejuízo de US$ 528 milhões, diz relatório. O Globo. 17 fev. 2015. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/economia/petroleo-e-energia/investidores-que-processam-petrobras-nos-eua-alegam-prejuizo-de-us-528-milhoes-diz-relatorio-15360197>. Acesso em: 27 fev. 2015.

 

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Sobre o Autor:

Luiz Alberto C. Bustamante

Consultor Legislativo do Senado Federal, Núcleo de Economia, Área de Minas e Energia. Doutor em Engenharia Metalúrgica e de Materiais.

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5 Comentários Comentar

  • Deviam sanear a empresa e privatizá-la, acompanhada de abertura total do mercado. Se alguém acha que a Petrobras faz bem ao Brasil, nos termos monopolísticos atuais, está redondamente enganado.

  • Melhor txt que já li sobre o assunto. Isento de tendências partidárias e afins… Um texto muito sóbrio que radiografa perfeitamente o atual momento da Petrobras e o que está por vir. Tal texto se resume em “má gestão”.

    Um vergonha

  • sim, a petrobrás descobriu o présal. mas depois do assalto à petrobrás, qual é agora sua capacidade de operação, se bem me expresso? quem na verdade está explorando o présal? qual a participação da petrobrás?

  • a resistência a privatizar ocorre na medida em que os governantes, que se acham os donos do nosso dinheiro, querem fazer o mesmo com essas empresas. além de ser cabide de emprego. a petrobrás não era isso. o que faz lá no seu conselho administrativo akguém como o franklin martins?

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