12
2022
A queda da poupança em 2022
A queda da poupança em 2022
Por Roberto Macedo*
O Banco Central acabou de publicar seu relatório mensal sobre a caderneta de poupança, com dados mensais até junho de 2022. Na publicação, esses dados aparecem junto com os dados mensais de 2019, 2020 e 2021, cobrindo assim os três últimos anos e o primeiro semestre de 2022.
Este último semestre mostrou um comportamento atípico, pois se comparado com os primeiros semestres do período 2019-2021, foi o que mostrou mais meses (cinco) de capitalização líquida (depósitos menos retiradas) negativa, mesmo com o aumento dos rendimentos creditados que subiram. Estes voltaram a ser 0,5% ao mês mais o valor da taxa referencial, que voltou a ser positivo, depois de muito tempo com o valor zero. Especificamente, a última remuneração mensal total, divulgada pelo Banco Central em 7 de julho, foi de 0,7008.
O comportamento da poupança no primeiro semestre de 2022 contrastou mais fortemente com o que aconteceu com ela em 2020, que teve apenas dois meses de captação líquida durante todo o ano, e o saldo final de todas as contas passou de R$ 845 bilhões em dezembro de 2019 para R$ 1,035 trilhão no mesmo mês de 2020, resultado do auxílio emergencial de R$ 600 que o governo federal pagou em 2020, que muitos depositantes preferiram poupar.
Olhando à frente, a perspectiva é de um auxílio adicional de R$ 200, mas em cima dos R$ 400 do Auxílio Brasil. Talvez muita gente optará por poupá-lo no todo ou em parte, mas sem o maior impacto do auxílio emergencial de 2020.
Outro dado interessante é que o saldo final de todas as contas no mês de junho de 2022 foi de R$ 1,013 trilhão, abaixo do valor de R$ 1,030 trilhão em 2021. Ou seja, uma queda de R$ 17 bilhões. Isso apesar de as contas de poupança terem recebido rendimentos de R$ 30,5 bilhões durante do ano 2021 e R$ 33,5 bilhões no primeiro trimestre de 2022. Ou seja, sem esses R$ 64 bilhões o saldo final de todas as contas teria caído muito mais.
Noutra visão, no seu todo e de um modo geral, os depositantes da caderneta de poupança passaram a usá-la para suprir suas carências de renda em 2021 e 2022, na sua média mantendo os seus saldos finais, mas consumindo o que veio de rendimentos mensais. Mas essa é uma das finalidades da poupança, enfrentar tempos de dificuldades. E esses movimentos da poupança sinalizam que elas existem e estão sendo enfrentadas.
* Roberto Macedo é economista (UFMG, USP e Harvard), professor sênior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.
Artigo publicado no site da Fundação Espaço Democrático, em 12 de julho de 2022.
Recomendações de artigos:
Inscreva-se
Categorias
- Categorias (1)
- Coronavirus (10)
- Coronavirus (3)
- Crescimento e eficiência da economia (139)
- Desenvolvimento sustentável (1)
- Direito e economia (66)
- Economia (2)
- Economia (7)
- Educação e saúde (2)
- Finanças públicas e gestão pública (153)
- Inflação, juros e taxa de câmbio (23)
- Infraestrutura e petróleo (46)
- Instituições (2)
- Instituições (6)
- Outros (18)
- Podcast (5)
- Proteção ambiental (6)
- Redução da pobreza e redistribuição da renda (25)
- Reformas estruturais (1)
- Reformas Estruturais (4)
- Regulação (77)
- Regulamentação (4)
- Relações de consumo (5)
- Relações econômicas com o exterior (14)
- Relações Internacionais (1)
- Relações Internacionais (1)
- Reproduções (67)
- Trabalho, salário e previdência (55)
Últimos artigos
- PIB brasileiro está mal internacionalmente, segundo o FMI
- Poupança cai e também estimula o PIB
- PIB seguirá estimulado em 2022, mas 2023 é outra história
- Renovando o Meio Ambiente e a Segurança nas Rodovias: O Programa Renovar
- Limitações ao Ajuste Fiscal pelo Lado da Receita
- Uma leitura a respeito da gestão imobiliária da União: O caso dos Fundos de Investimentos Imobiliário com o patrimônio da União
- Efeito Fim de Jogo nas Concessões de Eletricidade
- Estaria a saga da regulamentação do lobby no Brasil perto de seu fim?
- Emenda Constitucional nº 123, de 14.7.2022: Aspectos Fiscais e Orçamentários¹
- 5G: Conectando o Brasil com o Futuro