{"id":811,"date":"2011-10-24T15:26:01","date_gmt":"2011-10-24T18:26:01","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=811"},"modified":"2012-01-04T01:14:09","modified_gmt":"2012-01-04T04:14:09","slug":"quem-ganha-com-a-meia-entrada","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=811","title":{"rendered":"Quem ganha com a meia-entrada?"},"content":{"rendered":"
I) <\/strong>A legisla\u00e7\u00e3o da meia-entrada e equidade<\/strong><\/p>\n Uma das regras mais conhecidas dos brasileiros \u00e9 a meia-entrada em cinemas, shows, pe\u00e7as de teatro e outros eventos para estudantes[1]<\/a> e, mais recentemente, idosos[2]<\/a>.<\/p>\n No segundo semestre de 2011, no entanto, a racionalidade da regra da meia-entrada tem sido debatida em fun\u00e7\u00e3o do questionamento da FIFA \u00e0 sua aplica\u00e7\u00e3o nos jogos da copa do mundo, por comprometer suas receitas, e do estatuto da juventude[3]<\/a> que garantiu o \u201cdireito\u201d \u00e0 meia-entrada a todo o jovem estudante com idade inferior a 30 anos.<\/p>\n Sempre houve d\u00favida se fazia sentido prover um desconto de 50% na entrada para estudantes e idosos, que se justificaria por uma alegada situa\u00e7\u00e3o de \u201cfragilidade\u201d gerada pela \u201cpouca\u201d ou \u201cmuita\u201d idade do indiv\u00edduo.<\/p>\n No caso de idosos, h\u00e1 uma desconfian\u00e7a mais significativa sobre a \u201cjusti\u00e7a\u201d embutida na regra, dado que h\u00e1 uma rela\u00e7\u00e3o positiva entre renda e idade como mostrado por Giambiagi e Castelar (2006)[4]<\/a>. Se o Estado est\u00e1 privilegiando um segmento com renda m\u00e9dia maior que a da popula\u00e7\u00e3o, o mecanismo implica uma piora na distribui\u00e7\u00e3o de renda da sociedade, o oposto do que teoricamente se busca com a medida.<\/p>\n No caso de estudantes, s\u00e3o conhecidas as variadas formas de se conseguir uma \u201ccarteirinha\u201d por qualquer curso que se fa\u00e7a ou mesmo por simples fraude. Ademais, \u00e9 sabido que grupos de maior renda ficam mais tempo na escola e universidade. Assim, \u00e9 pouco claro em que medida a regra de meia-entrada para \u201cestudantes\u201d apresente a alegada dire\u00e7\u00e3o de pol\u00edtica social que lhe \u00e9 atribu\u00edda.<\/p>\n De qualquer forma, as imagens de estudantes no in\u00edcio da vida e, portanto, com baixa ou nenhuma renda pr\u00f3pria e de idosos com rarefeitas oportunidades de divers\u00e3o tendem a ser fortes o suficiente para fazerem com que haja\u00a0 aceita\u00e7\u00e3o da sociedade em rela\u00e7\u00e3o ao tratamento diferenciado da meia-entrada.<\/p>\n J\u00e1 em rela\u00e7\u00e3o a todo o universo de adultos, estudantes ou n\u00e3o, at\u00e9 os 30 anos, mesmo com a maior das boas vontades, ficou patente que a medida protetiva foi longe demais.<\/p>\n II) <\/strong>Meia-entrada volunt\u00e1ria e discrimina\u00e7\u00e3o de Pre\u00e7os<\/strong><\/p>\n Mesmo que o governo n\u00e3o imponha a regra de meia-entrada, \u00e9 plaus\u00edvel que os pr\u00f3prios ofertantes do servi\u00e7o desejem utilizar alguma regra de discrimina\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os[5]<\/a> que se baseie em proxies<\/em> da disposi\u00e7\u00e3o a pagar dos indiv\u00edduos. Quanto mais a vari\u00e1vel observada identificar maior disposi\u00e7\u00e3o a pagar, maiores os pre\u00e7os cobrados. Quanto melhor a calibragem desta discrimina\u00e7\u00e3o, mais o empres\u00e1rio consegue lucrar sobre a mesma base de clientes.<\/p>\n H\u00e1 tr\u00eas dificuldades b\u00e1sicas, entretanto, para que o empres\u00e1rio seja capaz de implementar esta discrimina\u00e7\u00e3o. Primeiro, ele tem que ter algum poder de mercado ou se coordenar com outros empres\u00e1rios para implementar a mesma regra de discrimina\u00e7\u00e3o. Isso porque se um empres\u00e1rio cobrar mais de um determinado grupo e outro n\u00e3o, naturalmente o segundo atrair\u00e1 clientela do primeiro e frustrar\u00e1 a tentativa de discriminar pre\u00e7os.<\/p>\n Segundo, ele tem que ser capaz de evitar arbitragem, ou seja, um consumidor com pre\u00e7o mais baixo n\u00e3o pode adquirir o ingresso e repassar para um consumidor que teria que pagar um pre\u00e7o mais alto. Isso \u00e9 usualmente conseguido estabelecendo (custosos) controles na entrada do espet\u00e1culo, requerendo a carteirinha com foto ou alguma prova de que aquele \u00e9 realmente o consumidor que faz jus a um pre\u00e7o mais baixo.<\/p>\n Terceiro, o empres\u00e1rio deve ter algum mecanismo de identifica\u00e7\u00e3o das caracter\u00edsticas do indiv\u00edduo que indiquem o quanto ele est\u00e1 disposto a pagar. Menores de idade, por exemplo, tendem realmente a estar menos dispostos a pagar simplesmente por n\u00e3o terem renda e\/ou depender dos adultos. O controle do empres\u00e1rio que deseja extrair o m\u00e1ximo de seus clientes pode ser eventualmente refinado cobrando menos s\u00f3 dos menores estudantes de escolas p\u00fablicas, considerando que, para os menores estudantes de escola privada, os pais adultos tendem a ser mais generosos em prover a divers\u00e3o de seus filhos, incrementando a disposi\u00e7\u00e3o a pagar.<\/p>\n De qualquer forma, a capacidade de observar caracter\u00edsticas que estejam associadas \u00e0 disposi\u00e7\u00e3o a pagar dos indiv\u00edduos tende a ser limitada, diminuindo o espa\u00e7o para uma estrat\u00e9gia de discrimina\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os na entrada de espet\u00e1culos bem sucedida.<\/p>\n A ideia desta nota \u00e9 realizar alguns exerc\u00edcios de bem-estar da regra de meia-entrada com base em poss\u00edveis configura\u00e7\u00f5es das vari\u00e1veis de disposi\u00e7\u00e3o a pagar de grupos, A e B, e do n\u00famero\u00a0 de pessoas existentes em cada grupo.<\/p>\n III) <\/strong>Consequ\u00eancias econ\u00f4micas da meia-entrada: an\u00e1lise de quatro casos<\/strong><\/p>\n H\u00e1 v\u00e1rias formas poss\u00edveis de simular o comportamento dos agentes. Uma das possibilidades mais rigorosas formalmente seria assumir grupos com prefer\u00eancias distintas entre si, gerando curvas de demanda tamb\u00e9m espec\u00edficas para cada grupo. Dai se derivaria o processo de maximiza\u00e7\u00e3o de lucros do monopolista discriminador.<\/p>\n Uma forma de tornar tal exerc\u00edcio muito mais simples e intuitivo \u00e9 assumir que cada indiv\u00edduo adquire apenas uma unidade e que todo o indiv\u00edduo de um de dois grupos poss\u00edveis possui t\u00e3o somente um \u00fanico \u201cvalor de reserva\u201d \u00a0(em cada grupo). O \u201cvalor de reserva\u201d \u00e9 o pre\u00e7o m\u00e1ximo que cada grupo se disp\u00f5e a pagar[6]<\/a>. Ademais, repetindo o exerc\u00edcio para algumas poucas configura\u00e7\u00f5es diferentes, j\u00e1 conseguimos identificar os principais resultados e vari\u00e1veis envolvidas no que seria o caso mais geral.<\/p>\n Assim, suponha que A e B sejam dois grupos. O governo definir\u00e1 uma regra de meia-entrada em favor do grupo B. O empres\u00e1rio observa precisamente quem pertence a A e quem pertence a B. Tamb\u00e9m tem informa\u00e7\u00e3o completa sobre a m\u00e1xima disposi\u00e7\u00e3o a pagar e o n\u00famero de pessoas em cada grupo, n\u00e3o enfrenta concorr\u00eancia e \u00e9 capaz de evitar arbitragem entre os grupos. Em s\u00edntese, assumimos que as dificuldades de implementa\u00e7\u00e3o da discrimina\u00e7\u00e3o apontadas na se\u00e7\u00e3o anterior n\u00e3o se verificam. Os custos da discrimina\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os s\u00e3o zero.<\/p>\n Vejamos o primeiro caso em que haja uma divis\u00e3o populacional de 50%\/50% entre os dois grupos em uma popula\u00e7\u00e3o hipot\u00e9tica de 100 indiv\u00edduos. Sejam os seguintes dados:<\/p>\n Caso 1 \u2013 Grupos Balanceados e M\u00e1ximas Disposi\u00e7\u00f5es a Pagar N\u00e3o Muito Diferentes <\/span><\/p>\n