{"id":528,"date":"2011-05-17T14:08:36","date_gmt":"2011-05-17T17:08:36","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=528"},"modified":"2011-05-17T14:08:36","modified_gmt":"2011-05-17T17:08:36","slug":"sera-o-pre-sal-um-bilhete-premiado-sem-riscos-ou-custos","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=528","title":{"rendered":"Ser\u00e1 o pr\u00e9-sal um bilhete premiado, sem riscos ou custos?"},"content":{"rendered":"

Em visita a Bras\u00edlia, em 1976, Takeo Fukuda, que logo se tornaria primeiro-ministro do Jap\u00e3o, disse a seus anfitri\u00f5es: \u201cap\u00f3s a crise do petr\u00f3leo, tornou-se claro que os recursos s\u00e3o limitados. Este \u00e9 um grande evento na hist\u00f3ria da humanidade. Seu pa\u00eds \u00e9 uma pot\u00eancia no s\u00e9culo 21, uma pot\u00eancia de recursos\u201d[1]<\/a>. Esse tipo de discurso tornou-se corriqueiro, passando a ser um protocolo da diplomacia de outros pa\u00edses em rela\u00e7\u00e3o ao Brasil. Agora o discurso est\u00e1 se tornando realidade.<\/p>\n

A expans\u00e3o das exporta\u00e7\u00f5es de commodities <\/em>trouxe uma abund\u00e2ncia de recursos ao Brasil, uma vez que \u00e9 l\u00edder mundial nas exporta\u00e7\u00f5es de min\u00e9rio de ferro, soja, carne bovina, aves, celulose e muitos outros. Guiado pela Embrapa, instituto de pesquisa agr\u00edcola do governo, o pa\u00eds passou a utilizar novas t\u00e9cnicas, transformando o cerrado em uma das regi\u00f5es agr\u00edcolas mais produtivas do mundo.<\/p>\n

No entanto, o mais rico dos recursos brasileiros deve ser a \u00e1gua. O Brasil \u00e9 dotado de 13% do abastecimento mundial de \u00e1gua doce. Um membro do Instituto Fernand Braudel, residente em Pequim, Arthur Kroeber, editor do China Economic Quarterly<\/em>, disse, em um de nossos semin\u00e1rios no m\u00eas passado, que a maior limita\u00e7\u00e3o no desenvolvimento a longo prazo da China \u00e9 a \u00e1gua. Ele acrescentou que a China espera importar \u00e1gua do Brasil, sob a forma de produtos agr\u00edcolas. Enquanto isso, o Brasil ter\u00e1 que superar a escassez iminente de abastecimento de \u00e1gua para suas pr\u00f3prias cidades, devido \u00e0 m\u00e1 gest\u00e3o e falta de investimento p\u00fablico[2]<\/a>.<\/p>\n

A id\u00e9ia do Brasil como “pot\u00eancia de recursos” foi refor\u00e7ada por uma nova fronteira na explora\u00e7\u00e3o petrol\u00edfera. Possivelmente uma das \u00faltimas fronteiras desse tipo de recurso natural. Em 2006, a Petrobras, em parceria com empresas privadas, come\u00e7ou a perfurar a cerca de 7.000 metros abaixo da superf\u00edcie do Atl\u00e2ntico Sul, penetrando sedimentos antigos que se encontram abaixo de uma cama de sal de mais de 2.000 metros de espessura, para encontrar os restos de micr\u00f3bios fossilizados que viveram 130 milh\u00f5es anos atr\u00e1s, quando dinossauros ainda vagueavam pelo interior do continente brasileiro. Presos sob estrutura maci\u00e7a de sal, estes micr\u00f3bios foram transformados pelo calor, press\u00e3o e tempo no hoje conhecido campo de Tupi. J\u00e1 rebatizado de \u201cLula\u201d, esse \u00e9 um dos maiores campos do mundo em petr\u00f3leo e g\u00e1s, tamb\u00e9m considerado a maior descoberta das \u00faltimas d\u00e9cadas. Ao todo, dez campos gigantes foram anunciados at\u00e9 agora nas \u00e1guas profundas da Bacia de Santos.<\/p>\n

O Brasil \u00e9 hoje o maior mercado do mundo para bens e servi\u00e7os do setor petrol\u00edfero em alto mar. A Petrobras \u00e9 a maior compradora individual. Alguns consultores acreditam que a Petrobr\u00e1s poder\u00e1 gastar US$ 1 trilh\u00e3o nos pr\u00f3ximos anos, em investimentos e custos operacionais do projeto em \u00e1guas profundas[3]<\/a>, valor equivalente \u00e0 metade do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010, no maior empreendimento industrial da hist\u00f3ria do Brasil. Os gastos anuais de capital da Petrobr\u00e1s nesta d\u00e9cada j\u00e1 acumulam mais de US$ 45 bilh\u00f5es. S\u00e3o muito mais do que o or\u00e7amento anual da Nasa nos anos 60, em d\u00f3lares atualizados, quando os Estados Unidos se preparavam para enviar um homem \u00e0 Lua[4]<\/a>. Em cinco anos a estatal receberia 224 bilh\u00f5es de d\u00f3lares em investimento: o maior investimento do setor petrol\u00edfero nos dias atuais, que corresponde a 10% do investimento bruto em capital fixo do Brasil.<\/p>\n

Riscos sempre foram inerentes \u00e0 ind\u00fastria petrol\u00edfera, tanto em termos f\u00edsicos quanto financeiros. No entanto, isso pode ser mitigado quando as companhias conseguem a integra\u00e7\u00e3o vertical, controlando o fluxo da produ\u00e7\u00e3o, transportes, refino e comercializa\u00e7\u00e3o. A Standard Oil Trust<\/em>, de John D. Rockefeller, conseguiu a integra\u00e7\u00e3o nos primeiros anos de exist\u00eancia do setor, assim como as maiores companhias – Exxon, Shell e algumas outras – at\u00e9 que a revolu\u00e7\u00e3o da Organiza\u00e7\u00e3o dos Pa\u00edses Exportadores de Petr\u00f3leo (Opep), nos anos 70, reduziu o controle delas sobre as reservas.<\/p>\n

Desde a sua cria\u00e7\u00e3o em 1954, a Petrobras desenvolveu-se espetacularmente. Com suas descobertas desde a d\u00e9cada de 70, a Petrobras agora se posiciona como uma das empresas petrol\u00edfera mais importantes e integradas do mundo, dominando seu grande mercado nacional, com apoio do governo e com acesso privilegiado \u00e0s enormes reservas em \u00e1guas profundas das bacias de Campos e Santos. No entanto, o sucesso comercial da explora\u00e7\u00e3o do pr\u00e9-sal depende da supera\u00e7\u00e3o de desafios relacionados \u00e0 geologia, tecnologia, log\u00edstica, seguran\u00e7a, finan\u00e7as, pol\u00edtica, recursos humanos e governan\u00e7a corporativa. Descrevo alguns desses desafios a seguir.<\/p>\n

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Desafio Pol\u00edtico<\/strong><\/p>\n

O presidente Luiz In\u00e1cio Lula da Silva chamou essas descobertas de um \u201cbilhete premiado\u201d. A euforia do pr\u00e9-sal produziu na classe pol\u00edtica a ilus\u00e3o de recursos ilimitados no horizonte. Ao propor uma legisla\u00e7\u00e3o para criar um novo conjunto de leis para regular a explora\u00e7\u00e3o dessa riqueza, os ministros do governo Lula declararam que os riscos da explora\u00e7\u00e3o s\u00e3o extremamente baixos, com grande rentabilidade esperada. A sucessora de Lula, Dilma Rousseff, coordenou a elabora\u00e7\u00e3o da nova legisla\u00e7\u00e3o enquanto presidia o conselho da Petrobras, antes de entrar na campanha eleitoral de 2010.<\/p>\n

O intenso debate dessa nova proposta legal no Congresso centrou-se quase exclusivamente na distribui\u00e7\u00e3o de royalties<\/em> entre estados e munic\u00edpios, negligenciando a governan\u00e7a e as quest\u00f5es t\u00e9cnicas decorrentes da explora\u00e7\u00e3o e produ\u00e7\u00e3o em \u00e1guas profundas. Tudo se passava como se os recursos j\u00e1 estivessem dispon\u00edveis, e restasse apenas a tarefa de dividir o dinheiro.<\/p>\n

Em seu discurso de posse como presidente, Dilma declarou que as descobertas do pr\u00e9-sal seriam “o nosso passaporte para o futuro”, mas advertiu que “recusaremos o gasto apressado que reserva \u00e0s futuras gera\u00e7\u00f5es apenas as d\u00edvidas e o desespero“.<\/em> No entanto, o novo regime de partilha de produ\u00e7\u00e3o fortifica um regime de capitalismo de Estado, sujeito a amplo poder discricion\u00e1rio do governo e pouca transpar\u00eancia. Refor\u00e7ou-se o monop\u00f3lio da Petrobras, reduzindo-se a concorr\u00eancia de mercado e a diversifica\u00e7\u00e3o de risco entre v\u00e1rias empresas. A nova legisla\u00e7\u00e3o obriga a Petrobras a se tornar a operadora, com uma participa\u00e7\u00e3o de 30%, no m\u00ednimo, de todas as fases de explora\u00e7\u00e3o na “estrat\u00e9gica” zona de \u00e1guas profundas, abrangendo 149.000 km2<\/sup>. Tal obriga\u00e7\u00e3o pode ser um peso grande para uma empresa que j\u00e1 se encontra sobrecarregada em rela\u00e7\u00e3o a recursos humanos e capacidade t\u00e9cnico-financeira.<\/p>\n

Todas as decis\u00f5es operacionais da Petrobras e das empresas privadas, incluindo contrata\u00e7\u00e3o de pessoal, fornecedores e prestadores de servi\u00e7os, ser\u00e3o decididas pelo comit\u00ea operacional, que ter\u00e1 metade de seus integrantes, incluindo o presidente, com direito a veto, indicado por uma nova empresa estatal, Petr\u00f3leo Pr\u00e9-Sal S\/A, criada para fiscalizar as empresas da \u00e1rea do pr\u00e9-sal. O espa\u00e7o para interven\u00e7\u00e3o pol\u00edtica nas decis\u00f5es t\u00e9cnicas \u00e9, portanto, muito grande.<\/p>\n

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Desafio Geol\u00f3gico <\/strong><\/p>\n

As camadas de sal na Bacia de Santos s\u00e3o muito espessas, chegando em alguns lugares a cinco mil metros. S\u00e3o pl\u00e1sticas, m\u00f3veis e heterog\u00eaneas, contendo tipos diferentes de sal. Elas mudam de posi\u00e7\u00e3o \u00e0 medida que as perfura\u00e7\u00f5es s\u00e3o realizadas. Essas forma\u00e7\u00f5es geol\u00f3gicas, com potencial de petr\u00f3leo, se estendem mar adentro no Atl\u00e2ntico Sul em profundidades ainda maiores.<\/p>\n

Estas forma\u00e7\u00f5es n\u00e3o seriam acess\u00edveis hoje sem os recentes desenvolvimentos das sondas de s\u00edsmica e no processamento de dados s\u00edsmicos. \u201cPerfurar esses reservat\u00f3rios de pr\u00e9-sal implica desafios gigantescos\u201d, observaram os engenheiros da Petrobr\u00e1s durante a Offshore Technology Conference<\/em> (OTC), em Houston[5]<\/a>. \u201cDe todos esses desafios, o deslizamento do sal \u00e9 o mais comum e mais dif\u00edcil de administrar\u201d. As camadas de sal s\u00e3o t\u00e3o inst\u00e1veis que podem engolir as brocas de perfura\u00e7\u00e3o e derrubar a carca\u00e7a que envolve o tubo de perfura\u00e7\u00e3o. \u201cOs reservat\u00f3rios de microcarbonatos ainda s\u00e3o pouco conhecidos\u201d, disse um engenheiro veterano. \u201cO petr\u00f3leo sai do reservat\u00f3rio muito quente para chegar a um ambiente frio, com apenas 4\u00ba cent\u00edgrados, e congela, virando uma cera, bloqueando o tubo, a menos que produtos qu\u00edmicos especiais sejam adicionados e esse tubo seja continuamente lubrificado.\u201d A instabilidade das camadas de sal impede a perfura\u00e7\u00e3o horizontal para aumentar a recupera\u00e7\u00e3o dos reservat\u00f3rios imediatamente abaixo do sal. Este \u00e9 apenas um dos problemas envolvidos no desenvolvimento desses recursos.<\/p>\n

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Desafio de Engenharia e Log\u00edstica<\/strong><\/p>\n

\u201cNas descobertas de pr\u00e9-sal, temos dois tipos de problemas log\u00edsticos\u201d, disse o presidente da Petrobr\u00e1s, Jos\u00e9 S\u00e9rgio Gabrielli, numa entrevista: \u201cO primeiro tem a ver com pessoas, e \u00e9 um problema de dist\u00e2ncia. Na Bacia de Campos, atualmente nossa principal \u00e1rea de produ\u00e7\u00e3o, transportamos em helic\u00f3pteros mais de 60 mil pessoas entre a costa e as plataformas, que se situam a 150 km de dist\u00e2ncia. Mas os blocos de pr\u00e9-sal na Bacia de Santos podem estar a uma dist\u00e2ncia de 300 quil\u00f4metros, longe demais para transportarmos tanta gente por helic\u00f3ptero. Assim, precisamos, em primeiro lugar, reduzir o n\u00famero de pessoas trabalhando nas plataformas, por meio de maior automa\u00e7\u00e3o. Precisamos colocar plataformas a meio caminho entre a costa e as descobertas de pr\u00e9-sal para servirem como centros log\u00edsticos e tamb\u00e9m como dormit\u00f3rios, de modo que os trabalhadores que chegam por barcos possam ser distribu\u00eddos por helic\u00f3pteros para as plataformas de produ\u00e7\u00e3o, depois de passarem a noite no centro log\u00edstica. O segundo problema \u00e9 o suprimento de equipamentos para as opera\u00e7\u00f5es em alto-mar. \u00c9 preciso transportar produtos qu\u00edmicos, m\u00e1quinas, eletricidade. Provavelmente teremos plataformas especiais para gera\u00e7\u00e3o de eletricidade e outras para a mistura de subst\u00e2ncias qu\u00edmica para os fluidos de perfura\u00e7\u00e3o.\u201d[6]<\/a><\/p>\n

Uma dificuldade para criar essas plataformas log\u00edsticas \u00e9 garantir a estabilidade em mar agitado para permitir a atraca\u00e7\u00e3o segura, como tamb\u00e9m a chegada e sa\u00edda de navios e helic\u00f3pteros. \u201cTodo mundo acha que \u00e9 \u00f3bvio, mas n\u00e3o \u00e9\u201d, disse Jos\u00e9 Formigli, diretor de opera\u00e7\u00f5es do pr\u00e9-sal da Petrobr\u00e1s. \u201cE o pre\u00e7o? J\u00e1 foi oferecido at\u00e9 um porta-avi\u00f5es. S\u00f3 que um porta-avi\u00f5es se ficar parado tem o p\u00e9ssimo h\u00e1bito de ficar virando de um lado para outro. Tem casco fininho porque precisa ter velocidade, e quando para, rola. E a\u00ed o helic\u00f3ptero n\u00e3o pousa\u201d.[7]<\/a><\/p>\n

A estrat\u00e9gia da Petrobras pode ser a automa\u00e7\u00e3o de opera\u00e7\u00f5es sempre que isso for poss\u00edvel, reduzindo o n\u00famero de trabalhadores no mar. Na Bacia de Santos, base para grandes frotas de helic\u00f3pteros e navios de apoio, devem ocorrer mudan\u00e7as na ecologia do litoral, com o porto de Santos se tornando um novo centro de gerenciamento das explora\u00e7\u00f5es em alto-mar. Guilherme Estrella, diretor de explora\u00e7\u00e3o e produ\u00e7\u00e3o da Petrobr\u00e1s, imagina 50 plataformas operando na \u00e1rea das descobertas iniciais, cada uma consumindo 100 megawatts de eletricidade. Isso totaliza 5 mil megawatts de capacidade gerada por 200 turbinas movidas a g\u00e1s, o equivalente ao consumo de energia na regi\u00e3o da Grande S\u00e3o Paulo, que tem aproximadamente 20 milh\u00f5es de habitantes.<\/p>\n

Desafio no suprimento industrial <\/strong><\/p>\n

Em 2009, a Petrobr\u00e1s dominava o mercado mundial em sistemas de produ\u00e7\u00e3o flutuantes em \u00e1guas profundas (FPSOs), na maior parte superpetroleiros adaptados para receber, armazenar e descarregar petr\u00f3leo e g\u00e1s extra\u00eddos do leito marinho. A Petrobras opera 23 dos 49 FPSOs em uso no mundo atualmente, e 10 das 17 plataformas de produ\u00e7\u00e3o semi-submers\u00edveis usadas globalmente[8]<\/a>. Em 2020, as opera\u00e7\u00f5es da Petrobr\u00e1s absorver\u00e3o mais 58 plataformas de perfura\u00e7\u00e3o (que custam mais de US$ 600 milh\u00f5es cada uma), 45 plataformas de produ\u00e7\u00e3o adicionais e 300 superpetroleiros e barcos de apoio.<\/p>\n

Nos pr\u00f3ximos anos, a Petrobr\u00e1s dever\u00e1 encomendar 330 geradores \u00e0 turbina, 610 mil v\u00e1lvulas, 10 mil quil\u00f4metros de cabos el\u00e9tricos submarinos, 17 mil quil\u00f4metros de tubos flex\u00edveis, 4,8 milh\u00f5es de toneladas de a\u00e7o, milhares de pe\u00e7as de complexos equipamentos submarinos. Tudo isso envolver\u00e1 68 milh\u00f5es de homens-hora de engenharia e um bilh\u00e3o de horas de trabalho para a constru\u00e7\u00e3o e montagem[9]<\/a>.<\/p>\n

Gabrielli alertou para “\u00e1reas cr\u00edticas\u201d ou \u201cestrangulamento” na cadeia de abastecimento. “Uma delas \u00e9 a de sondas. Uma sonda leva de tr\u00eas a quatro meses para perfurar po\u00e7os a mais de 2 mil metros de profundidade da l\u00e2mina d\u2019\u00e1gua. Uma FSPCO (sigla em ingl\u00eas de plataforma de produ\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo) usa de 15 a 20 po\u00e7os. Portanto, com uma sonda voc\u00ea leva quatro anos para montar um sistema de produ\u00e7\u00e3o. \u00c9 um elemento cr\u00edtico e o Brasil n\u00e3o fabrica\u201d. Tamb\u00e9m faltam \u201csistemas submersos, tubula\u00e7\u00f5es que ligam o fundo do mar \u00e0 superf\u00edcie (…). Hoje, temos a capacidade mundial praticamente contratada e vamos precisar de mais. Empresas inglesas e francesas est\u00e3o vindo para o Brasil porque aqui \u00e9 onde est\u00e1 a demanda. Precisamos avan\u00e7ar na \u00e1rea de grandes turbo-compressores, que s\u00e3o geradores flutuantes de eletricidade. \u00c9 uma \u00e1rea que precisa crescer para atender \u00e0 nossa demanda. Estamos falando de uma quantidade gigantesca de equipamentos (…)Cada sistema de produ\u00e7\u00e3o produz entre 100 e 180 mil barris por dia. Ent\u00e3o, se vamos produzir 4,5 milh\u00f5es de barris por dia em 2020, precisamos ter 40, 41 sistemas desse. Cada sistema custa algo em torno de US$ 3 bilh\u00f5es. Para funcionar, cada um precisa, em m\u00e9dia, de cinco barcos de apoio. Estamos falando, portanto, de 200 barcos de apoio de todo tipo (rebocadores, chata, \u2018anchor handling\u2019, navio-bombeiro etc.). Para produzir 4 milh\u00f5es de barris, vamos precisar de muitos petroleiros para transportar tudo isso. Se pensarmos em termos de Suezmax [petroleiro com capacidade de carga de 1,1 milh\u00e3o de barris], vamos precisar diariamente em torno de 20 a 30 navios.”[10]<\/a><\/p>\n

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Desafio Financeiro <\/strong><\/p>\n

Em setembro de 2010, a Petrobras captou 70 bilh\u00f5es de d\u00f3lares com lan\u00e7amento de a\u00e7\u00f5es. Deste, US$ 45 bilh\u00f5es foram em dinheiro do governo, incluindo US$ 16 bilh\u00f5es do seu fundo soberano e do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econ\u00f4mico e Social), elevando a participa\u00e7\u00e3o federal na Petrobras de 40% para 48%. O Minist\u00e9rio da Fazenda emitiu R$ 30 bilh\u00f5es em t\u00edtulos e os repassou ao BNDES, e este usou os recursos para comprar a\u00e7\u00f5es da Petrobras. Dos US$ 70 bilh\u00f5es recebidos pela Petrobras, a t\u00edtulo de capitaliza\u00e7\u00e3o, US$ 45 bilh\u00f5es foram devolvidos ao Tesouro para pagar os direitos de explora\u00e7\u00e3o de um reservat\u00f3rio que, supostamente, cont\u00e9m 5 bilh\u00f5es de barris de \u00f3leo. Estas transfer\u00eancias representam uma opera\u00e7\u00e3o circular, que eleva o grau de estatiza\u00e7\u00e3o e de depend\u00eancia da Petrobras em rela\u00e7\u00e3o ao Tesouro. Alguns analistas dizem que a Petrobras pode ter de levantar ainda mais capital em poucos anos.<\/p>\n

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Conclus\u00f5es <\/strong><\/p>\n

A Petrobras e o governo podem vencer todos esses desafios? Pol\u00edticos, gestores e t\u00e9cnicos se deparam com esses riscos com uma coragem beirando a temeridade. As descobertas do pr\u00e9-sal criaram o mito dos recursos ilimitados, que acabam gerando incentivos a gastos sem comedimento. O Brasil realmente precisa investir no desenvolvimento do pr\u00e9-sal a esta velocidade<\/span> e escala<\/span>? Ser\u00e1 que esses investimentos acelerados n\u00e3o criar\u00e3o distor\u00e7\u00f5es na economia do pa\u00eds? Ser\u00e3o os investimentos em petr\u00f3leo os mais importantes para o futuro do Brasil? Ou seriam prefer\u00edveis investimentos para corrigir enormes defici\u00eancias como no ensino p\u00fablico, portos, aeroportos, gera\u00e7\u00e3o e transmiss\u00e3o de eletricidade, comunica\u00e7\u00f5es, saneamento b\u00e1sico e infra-estrutura de transporte?<\/p>\n

Embora os recursos de petr\u00f3leo do Brasil em \u00e1guas profundas sejam um dos principais alvos na busca mundial por novas reservas, a Petrobras pode ter de trabalhar com mais cautela e tempo para superar as limita\u00e7\u00f5es na capacidade financeira, t\u00e9cnica e de recursos humanos. Ter\u00e1 sido correto estabelecer em lei a obrigatoriedade de participa\u00e7\u00e3o da Petrobras em pelo menos 30% de todos<\/span> os campos de explora\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo? Isso n\u00e3o levar\u00e1 a empresa a uma exaust\u00e3o financeira?<\/p>\n

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