{"id":846,"date":"2011-11-14T01:01:57","date_gmt":"2011-11-14T04:01:57","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=846"},"modified":"2011-11-11T14:15:54","modified_gmt":"2011-11-11T17:15:54","slug":"como-anda-a-desigualdade-de-genero-no-brasil","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=846","title":{"rendered":"Como anda a desigualdade de g\u00eanero no Brasil?"},"content":{"rendered":"

Desde 2006, o F\u00f3rum Econ\u00f4mico Mundial divulga anualmente o Global Gender Gap Index<\/em> (GGI), que quantifica a magnitude da desigualdade de g\u00eanero em mais de 100 pa\u00edses. Em 1\u00ba de novembro, foi publicado o GGI de 2011, que classificou o Brasil como 82\u00ba dentre 135 pa\u00edses no ranking.<\/p>\n

Apesar de \u00edndices internacionais tenderem a formas quantitativas de mensura\u00e7\u00e3o, o GGI \u00e9 inovador por combinar dados quantitativos aos qualitativos, estes obtidos pela Executive Opinion Survey<\/em> do F\u00f3rum Econ\u00f4mico Mundial. Al\u00e9m disso, o GGI \u00e9 o mais robusto dos indicadores de desigualdade de g\u00eanero, medindo as disparidades entre homens e mulheres em quatro dimens\u00f5es, no total de 14 sub\u00edndices, de acordo com a tabela I a seguir.<\/p>\n

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Ap\u00f3s serem calculadas as raz\u00f5es, ocorre a normaliza\u00e7\u00e3o dos sub\u00edndices por meio da equaliza\u00e7\u00e3o de seus desvios padr\u00f5es. Os sub\u00edndices s\u00e3o ent\u00e3o somados, gerando um n\u00famero para cada dimens\u00e3o. Posteriormente, \u00e9 calculada a m\u00e9dia das quatro dimens\u00f5es e esta ser\u00e1 igual \u00e0 pontua\u00e7\u00e3o final do pa\u00eds, que pode variar entre 1(igualdade) e 0 (m\u00e1xima desigualdade).<\/p>\n

Em 2006, foram analisados 20 pa\u00edses a menos do que em 2011, e o Brasil, com uma pontua\u00e7\u00e3o igual a 0,6543, foi classificado como o 67\u00ba pa\u00eds dentre os 115 mensurados. Caso o n\u00famero de pa\u00edses se mantivesse o mesmo em 2011, a pontua\u00e7\u00e3o brasileira, igual a 0,6679, classificaria o Pa\u00eds na 76\u00aa posi\u00e7\u00e3o. Outrossim, nos dois per\u00edodos, o Brasil ficou abaixo do \u00edndice m\u00e9dio dos 115 pa\u00edses, igual a 0,6617 em 2006 e 0,6824 em 2011.<\/p>\n

De 2006 a 2011, o crescimento m\u00e9dio dos \u00edndices foi de 4,03%, enquanto o Brasil apresentou uma pequena melhora de 2,1%. \u00c9 um avan\u00e7o realmente modesto quando comparado ao Lesotho e a Nicar\u00e1gua, que aumentaram seus \u00edndices em 12,6% e 10,3% respectivamente. Mas \u00e9 um progresso na busca da igualdade de g\u00eanero que n\u00e3o deixa de ser positivo, ao contr\u00e1rio de El Salvador, por exemplo, que viu seu \u00edndice diminuir em 3,9%.<\/p>\n

O avan\u00e7o concentrou-se no \u00edndice de participa\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica e oportunidades. Mas, apesar da maior inser\u00e7\u00e3o da m\u00e3o de obra feminina no mercado de trabalho em compara\u00e7\u00e3o aos anos anteriores, a participa\u00e7\u00e3o das mulheres ainda \u00e9 aproximadamente 25% menor em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 dos homens e a remunera\u00e7\u00e3o de homens e mulheres continua consideravelmente desigual.<\/p>\n

O sub\u00edndice de igualdade salarial classifica o Brasil no \u00faltimo decil do ranking como o 124\u00ba pa\u00eds. J\u00e1 o sub\u00edndice de profissionais t\u00e9cnicos, que mensura a m\u00e3o de obra qualificada, surpreendentemente apresenta raz\u00e3o maior do que 1, o que significa maior quantidade de profissionais femininos do que masculinos, mesmo que, no geral, a taxa de desemprego de mulheres adultas seja 11%\u00a0 e a dos homens adultos, 5%. No total, considerando a m\u00e9dia dos sub\u00edndices, o desempenho brasileiro na dimens\u00e3o econ\u00f4mica obteve a pontua\u00e7\u00e3o 0,6490, ocupando a 68\u00aa posi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Entretanto, \u00e9 necess\u00e1rio ressaltar que o GGI n\u00e3o quantifica o trabalho informal e\/ou dom\u00e9stico, o que denota falta de representatividade do \u00edndice para pa\u00edses que, como o Brasil, tem parte expressiva de sua renda vinculada \u00e0 economia informal. Infelizmente, nenhum outro \u00edndice em voga preenche essa lacuna. O \u00edndice de desenvolvimento humano (IDH) elaborado pelo Programa das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) n\u00e3o desagrega seus sub\u00edndices por sexo. \u00a0O Gender-Related Development Index<\/em> (GDI) tamb\u00e9m criado pelo PNUD \u00e9 considerado indicador de desenvolvimento e n\u00e3o de desigualdade, por n\u00e3o ter raz\u00f5es entre mulheres e homens como sua base de c\u00e1lculo. O Social Institutions and Gender Index<\/em> (SIGI) da Organiza\u00e7\u00e3o para a Coopera\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Econ\u00f4mico (OECD) aborda o aspecto institucional da desigualdade de g\u00eanero e o Gender Equity Index<\/em> (GEI) da organiza\u00e7\u00e3o Social Watch estuda o poder pol\u00edtico, a educa\u00e7\u00e3o e a participa\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica, mas n\u00e3o analisa a esfera da sa\u00fade, como faz o Global Gender Gap Index<\/em>.<\/p>\n

A dimens\u00e3o concernente \u00e0 sa\u00fade \u00e9 a de melhor performance nacional no GGI, repetindo o que j\u00e1 havia sido observado em 2010, pois o Brasil obteve novamente a pontua\u00e7\u00e3o m\u00e1xima, garantindo a 1\u00aa posi\u00e7\u00e3o junto a mais 37 pa\u00edses. Mas, isso n\u00e3o significa que o sistema de sa\u00fade brasileiro tenha qualidade satisfat\u00f3ria – o GGI n\u00e3o \u00e9 um \u00edndice de desenvolvimento, mas de desigualdade de g\u00eanero. Logo, a pontua\u00e7\u00e3o representa apenas que h\u00e1 condi\u00e7\u00f5es de igualdade entre homens e mulheres nessa esfera.<\/p>\n

Tamb\u00e9m a educa\u00e7\u00e3o brasileira \u00e9 bem avaliada quanto \u00e0 igualdade de g\u00eanero, mantendo-se a pontua\u00e7\u00e3o de 2010, igual \u00e0 0,990, sendo classificado como o 66\u00ba pa\u00eds nesse \u00edndice. A taxa de alfabetiza\u00e7\u00e3o \u00e9 a mesma para homens e mulheres, havendo uma pequena preval\u00eancia masculina no ensino fundamental. Contudo, no ensino m\u00e9dio e no superior, as mulheres s\u00e3o mais numerosas do que os homens.<\/p>\n

A dimens\u00e3o pol\u00edtica \u00e9 a de pior desempenho do Brasil nos seis anos analisados, sendo classificado em 2011 como o 114\u00ba, com uma pontua\u00e7\u00e3o igual a 0,053, atr\u00e1s de pa\u00edses como Chade, Mali e Azerbaij\u00e3o. Esse cen\u00e1rio, contudo, apresenta-se melhor do que o do ano anterior, quando o \u00edndice pol\u00edtico brasileiro obteve pontua\u00e7\u00e3o igual a 0,049. Vale ressaltar que o poder pol\u00edtico tende a ser a dimens\u00e3o mais desigual em todos os pa\u00edses analisados, mas a representatividade das brasileiras na pol\u00edtica \u00e9 \u00ednfima e realmente alarmante, apesar da elei\u00e7\u00e3o da presidente Dilma Rousseff e das tentativas de se implementar uma pol\u00edtica eleitoral efetiva de cotas para mulheres desde 1995.<\/p>\n

As regras sobre a participa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica feminina estabelecem apenas uma reserva partid\u00e1ria de vagas que, muitas vezes, acabam por n\u00e3o ser preenchidas, devido a uma gama de fatores culturais, sociais, econ\u00f4micos, psicol\u00f3gicos e institucionais. E mesmo que as vagas sejam preenchidas, isso n\u00e3o significa necessariamente que haver\u00e1 um maior n\u00famero de mulheres eleitas.<\/p>\n

V\u00e1rios pa\u00edses latino americanos foram classificados de forma significativamente superior ao Brasil no quesito pol\u00edtico. A Argentina, por exemplo, possui a 20\u00aa coloca\u00e7\u00e3o nesse \u00edndice, pr\u00f3xima do Chile na 22\u00aa. Tamb\u00e9m no ranking geral, ambos est\u00e3o melhor que o Brasil \u2013 o Chile est\u00e1 na 46\u00aa posi\u00e7\u00e3o e a Argentina na 28\u00aa, a melhor classifica\u00e7\u00e3o da Am\u00e9rica do Sul, enquanto na regi\u00e3o, o Brasil \u00e9 o \u00faltimo colocado, devido principalmente ao seu p\u00e9ssimo desempenho na pol\u00edtica, atr\u00e1s de vizinhos como Paraguai, Bol\u00edvia e Peru.<\/p>\n

O desafio brasileiro, portanto, consiste em estender os bons resultados da educa\u00e7\u00e3o para a economia e para a pol\u00edtica. A qualifica\u00e7\u00e3o profissional feminina deve servir de base para maior participa\u00e7\u00e3o das mulheres no mercado de trabalho formal e para remunera\u00e7\u00e3o salarial igualit\u00e1ria, al\u00e9m de uma representa\u00e7\u00e3o pol\u00edtica, no m\u00ednimo, mais expressiva.<\/p>\n

As mensura\u00e7\u00f5es fornecem subs\u00eddio para mover o debate anal\u00edtico sobre a igualdade de g\u00eanero de uma postura passional para um posicionamento concreto baseado em argumentos objetivos, pois o que \u00e9 medido e documentado \u00e9 mais facilmente combatido. Assim, dar visibilidade ao posicionamento desigual de homens e mulheres na sociedade \u00e9 fundamental para desconstruir o car\u00e1ter estrutural da desigualdade de g\u00eanero, um dos mais persistentes eixos de desigualdade.<\/p>\n

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