{"id":3544,"date":"2021-12-17T17:45:25","date_gmt":"2021-12-17T20:45:25","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3544"},"modified":"2021-12-17T17:46:27","modified_gmt":"2021-12-17T20:46:27","slug":"a-sofrencia-do-pib","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3544","title":{"rendered":"A sofr\u00eancia do PIB"},"content":{"rendered":"
<\/p>\n
\u00a0<\/strong>\u00a0<\/strong><\/p>\n Por Roberto Macedo*<\/em><\/p>\n <\/p>\n O termo sofr\u00eancia ganhou proje\u00e7\u00e3o como modalidade de m\u00fasica sertaneja, fama esta que cresceu muito com o recente falecimento da famosa cantora Mar\u00edlia Mendon\u00e7a, l\u00edder dessa modalidade. Meu dicion\u00e1rio (Houaiss<\/em>) n\u00e3o cont\u00e9m esse termo, mas Roberto Teixeira da Costa, economista voltado para o mercado de capitais e rela\u00e7\u00f5es internacionais, escreveu neste espa\u00e7o, em 25 de novembro passado, o artigo\u00a0Saindo da sofr\u00eancia em busca da cresc\u00eancia<\/em>, e esclareceu que no dicion\u00e1rio que consultou \u201ca palavra \u00e9 definida como substantivo feminino, condi\u00e7\u00e3o de pessoa que sofre, que n\u00e3o consegue se livrar de uma situa\u00e7\u00e3o de tristeza e de sofrimento\u201d.<\/p>\n Usou o termo para se referir \u00e0 situa\u00e7\u00e3o atual do Brasil, afirmando que em \u201c(…) mais de 60 anos de vida profissional (…)\u201d n\u00e3o se recordava de ter \u201cvivido um per\u00edodo de tamanha descren\u00e7a no Pa\u00eds e no seu futuro\u201d. Tamb\u00e9m tenho o mesmo per\u00edodo de vida profissional e o mesmo sentimento. Teixeira da Costa aplicou o termo ao Brasil, e seu texto inspirou-me a usar sofr\u00eancia para a situa\u00e7\u00e3o que h\u00e1 muito tempo, desde os anos 1980, marca o Produto Interno Produto (PIB), indicador econ\u00f4mico das agruras por que passa o Pa\u00eds.<\/p>\n Come\u00e7ando pelos dados mais recentes, no dia 2 deste m\u00eas o IBGE publicou o resultado do PIB no terceiro trimestre deste ano, mostrando queda de 0,1% relativamente ao trimestre anterior. A imprensa destacou esse resultado, mas a not\u00edcia mais importante do relat\u00f3rio do IBGE sobre o assunto foi que a taxa do segundo trimestre foi revisada de -0,1% para -0,4%, uma queda bem maior. A taxa do primeiro trimestre tamb\u00e9m foi revisada, e para cima, de 1,2% para 1,3%, mas essa altera\u00e7\u00e3o ficou longe de compensar essas duas quedas nos trimestres seguintes.<\/p>\n Com esses n\u00fameros, dentro de 2021 o PIB cresceu apenas 0,8%, relativamente ao quarto trimestre de 2020, uma taxa muito ruim. E o quarto trimestre de 2021 j\u00e1 come\u00e7ou mal, com o m\u00eas de outubro indicando quedas setoriais na ind\u00fastria, no com\u00e9rcio e nos servi\u00e7os. E o \u00edndice do Banco Central que prev\u00ea o crescimento do PIB mostrou queda de 0,4% no mesmo m\u00eas.<\/p>\n Mas a sofr\u00eancia n\u00e3o fica por a\u00ed, pois, como venho apontando em v\u00e1rios artigos neste espa\u00e7o, desde 2015 a economia se encontra numa depress\u00e3o, e ainda n\u00e3o retomou o PIB que tinha em 2014! Supondo que o PIB n\u00e3o cres\u00e7a nada no \u00faltimo trimestre deste ano, ele precisaria subir 2,3% em 2022 para voltar ao PIB de 2014. As previs\u00f5es para 2022 est\u00e3o longe dessa taxa, e, assim, isso n\u00e3o deve acontecer.<\/p>\n Passando ao PIB\u00a0per capita<\/em>, ele leva em conta o crescimento da popula\u00e7\u00e3o, atualmente perto de 0,7% ao ano. Quanto maior for essa taxa, menor o crescimento do PIB\u00a0per capita<\/em>. Estudo recente do Instituto Brasileiro de Economia, da Funda\u00e7\u00e3o Get\u00falio Vargas, citado por este jornal no dia 13 deste m\u00eas, estimou que o PIB precisaria crescer 2,1% ao ano para retomar, s\u00f3 em 2028 (!), o valor que apresentava em 2013(!).<\/p>\n E h\u00e1 a sofr\u00eancia ainda mais antiga. O PIB brasileiro mostrou tend\u00eancia persistente de crescimento a partir de 1900 at\u00e9 a d\u00e9cada de 1970, quando alcan\u00e7ou a taxa m\u00e9dia anual de 8,8% (!), trazendo o Pa\u00eds para o grupo de pa\u00edses de renda m\u00e9dia. A partir da\u00ed, e at\u00e9 a d\u00e9cada de 2010, esse crescimento caiu para taxa m\u00e9dia anual pr\u00f3xima de apenas 2,5%, levando o Brasil \u00e0 chamada armadilha da renda m\u00e9dia.<\/p>\n E permanecemos dentro dela. A sofr\u00eancia vem provocando um aumento recorde do n\u00famero de brasileiros que vivem no exterior em busca de melhores oportunidades profissionais e condi\u00e7\u00f5es de vida que as dispon\u00edveis no Brasil. O site do Deutsche Welle (DW), uma grande empresa alem\u00e3 de comunica\u00e7\u00f5es que publica mat\u00e9rias em portugu\u00eas, noticiou recentemente que dados do nosso Minist\u00e9rio das Rela\u00e7\u00f5es Exteriores mostram que o n\u00famero de brasileiros fora do Pa\u00eds passou de 1,9 milh\u00e3o, em 2012, para 4,2 milh\u00f5es (!), em 2020. Ou seja, mais que dobrou. E esta semana veio a not\u00edcia de que o\u00a0El Pa\u00eds<\/em>, prestigioso jornal espanhol, encerrou a edi\u00e7\u00e3o brasileira, que contava com o apoio local de 17 jornalistas, ap\u00f3s oito anos no Pa\u00eds sem resultados que assegurassem a sustentabilidade econ\u00f4mica dessa edi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n E quem \u00e9 respons\u00e1vel por toda esta sofr\u00eancia? A resposta daria uma grande hist\u00f3ria, pois estamos falando de quatro d\u00e9cadas. Olhando mais o momento recente, a classe pol\u00edtica brasileira, salvo rar\u00edssimas exce\u00e7\u00f5es, n\u00e3o demonstra o menor interesse pela economia que t\u00e3o mal conduz. N\u00e3o vejo nem o presidente nem o Congresso atuando como socorristas da sofr\u00eancia. Seu interesse dominante \u00e9 o de renovar mandatos nas elei\u00e7\u00f5es de 2022, custe isso o que custar, inclusive com a\u00e7\u00f5es fiscais que tamb\u00e9m contribuem para prejudicar a economia.<\/p>\n Como n\u00e3o se pode perder a esperan\u00e7a, ela seria estimulada se os candidatos \u00e0 Presid\u00eancia apresentassem suas propostas sobre o que fazer na economia. O eleito ir\u00e1 herd\u00e1-la nesta p\u00e9ssima situa\u00e7\u00e3o, e \u00e9 preciso aprender e indicar como enfrent\u00e1-la, pois n\u00e3o haver\u00e1 sa\u00edda se ele n\u00e3o tiver essa disposi\u00e7\u00e3o.<\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n * Roberto Macedo<\/em><\/strong> \u00e9 economista (UFMG, USP e\u00a0Harvard), professor s\u00eanior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/em><\/p>\n Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo<\/em> em 16 de dezembro de 2021.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" O autor comenta o fraco desempenho da economia brasileira nas \u00faltimas quatro d\u00e9cadas e critica a classe pol\u00edtica por n\u00e3o se importar com isso, pensando apenas em reelei\u00e7\u00e3o.<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[8,776],"tags":[903,901,66,821,580,902],"class_list":["post-3544","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-crescimento-e-eficiencia-da-economia","category-reproducoes","tag-armadilha-da-renda-media","tag-brasil-desempenho-da-economia","tag-crescimento-economico","tag-pib","tag-recessao","tag-sofrencia"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3544","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3544"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3544\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3544"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3544"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3544"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}