{"id":3513,"date":"2021-10-27T21:16:38","date_gmt":"2021-10-28T00:16:38","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3513"},"modified":"2021-10-27T21:18:20","modified_gmt":"2021-10-28T00:18:20","slug":"a-aparente-contadicao-entre-desemprego-e-escassez-de-mao-de-obra","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3513","title":{"rendered":"A aparente contadi\u00e7\u00e3o entre desemprego e escassez de m\u00e3o de obra"},"content":{"rendered":"

A aparente contradi\u00e7\u00e3o entre desemprego<\/strong><\/h1>\n

e escassez de m\u00e3o de obra<\/strong><\/h1>\n

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Por Luiz Alberto Machado<\/em>*<\/p>\n

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Muita gente tem ficado confusa ao ler as diferentes se\u00e7\u00f5es dos jornais, revistas e sites nas \u00faltimas semanas, o que, em minha opini\u00e3o, \u00e9 absolutamente compreens\u00edvel. Afinal, algumas manchetes apresentam, aparentemente, enorme contradi\u00e7\u00e3o, sobretudo quando se referem ao n\u00edvel de emprego e ao mercado de trabalho.<\/p>\n

Tal contradi\u00e7\u00e3o resulta n\u00e3o apenas da complexidade da economia, mas tamb\u00e9m das oscila\u00e7\u00f5es que ocorrem na macroeconomia \u2013 que focaliza dados agregados \u2013 e na microeconomia, com desempenhos diferentes quando se examinam determinados setores ou regi\u00f5es.<\/p>\n

No presente artigo, procuro explicar a aparente contradi\u00e7\u00e3o que menciona, de um lado, o elevado desemprego e, de outro, a escassez de m\u00e3o de obra que gera acirrada disputa por profissionais em alguns segmentos do mercado.<\/p>\n

Comecemos pelo desemprego, que se elevou a partir do in\u00edcio da pandemia do coronav\u00edrus e permanece em patamar elevado, em torno de 14%, mesmo com a rea\u00e7\u00e3o da economia a partir do terceiro trimestre de 2020, que levou muitos especialistas a se referirem a ela como recupera\u00e7\u00e3o em V. Ora, se n\u00e3o apresentou melhora na fase mais favor\u00e1vel da recupera\u00e7\u00e3o em V, \u00e9 natural que n\u00e3o o fa\u00e7a agora, quando os indicadores apontam para uma estagna\u00e7\u00e3o, indicada pelo colega Roberto Macedo pelo sinal da raiz quadrada em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo <\/em>e reproduzido neste Blog.<\/p>\n

O elevado desemprego \u00e9 um dos componentes da chamada tempestade perfeita que se abate atualmente sobre a economia brasileira, resultante da combina\u00e7\u00e3o de uma pandemia devastadora, de uma crise h\u00eddrica t\u00e3o ou mais grave do que a de 2001 e de um governo desastroso, que pode ser comparado a uma f\u00e1brica de incertezas, e que produziu, na economia, a perversa mistura de crescimento baixo com infla\u00e7\u00e3o alta, pondo por terra, mais uma vez, um dos postulados da teoria econ\u00f4mica, a Curva de Philips[1]<\/a>.<\/p>\n

Como, ent\u00e3o, pode haver escassez de oferta de m\u00e3o de obra e acirrada disputa por profissionais no mercado num pa\u00eds marcado por elevado n\u00edvel de desemprego?<\/p>\n

Para entender essa aparente contradi\u00e7\u00e3o, precisamos fazer a ponte entre a macro e a microeconomia. Nem tudo que vale para a macroeconomia, vale para a microeconomia, cuja an\u00e1lise se desloca da seara dos agregados para a dos aspectos pontuais, examinando um segmento da economia, um setor da cadeia produtiva ou uma regi\u00e3o particular.<\/p>\n

No presente momento, a coexist\u00eancia que causa surpresa no mercado de trabalho n\u00e3o se estende a todos os setores da nossa economia, mas sim a um segmento espec\u00edfico.<\/p>\n

Enquanto os indicadores macroecon\u00f4micos persistem sinalizando para um alto desemprego, os indicadores microecon\u00f4micos referentes \u00e0s atividades ligadas \u00e0 tecnologia da informa\u00e7\u00e3o, diretamente associadas \u00e0 transforma\u00e7\u00e3o digital em curso, revelam um mercado de trabalho bastante aquecido, em que n\u00e3o \u00e9 raro observar empresas \u201croubando\u201d profissionais de suas concorrentes.<\/p>\n

Infelizmente, o fen\u00f4meno n\u00e3o \u00e9 generalizado. \u00c9 localizado e favorece apenas a profissionais qualificados, deixando \u00e0 margem a esmagadora maioria dos desempregados e desalentados, constitu\u00edda por trabalhadores de baixa qualifica\u00e7\u00e3o, v\u00edtimas, muitas vezes, das decantadas defici\u00eancias do nosso sistema educacional.<\/p>\n

Em consequ\u00eancia disso, constatam-se mudan\u00e7as importantes, com o enfraquecimento de algumas profiss\u00f5es ou ocupa\u00e7\u00f5es tradicionais e a crescente valoriza\u00e7\u00e3o de \u201ccarreiras do futuro\u201d, tend\u00eancia que tem levado muitas pessoas a se reposicionarem, buscando diferentes formas de aperfei\u00e7oamento em atividades relacionadas \u00e0 tecnologia.<\/p>\n

Naturalmente, as institui\u00e7\u00f5es de ensino correm para se adaptar aos novos tempos, alterando a oferta de cursos ou a grade curricular dos j\u00e1 existentes, na tentativa de atender a essa procura crescente por parte de estudantes atra\u00eddos por fun\u00e7\u00f5es que aliam boas oportunidades e bons sal\u00e1rios.<\/p>\n

E que fun\u00e7\u00f5es s\u00e3o essas?<\/p>\n

Entre elas, podem ser citadas: engenheiro de dados (respons\u00e1vel pelo gerenciamento de capta\u00e7\u00e3o, armazenamento e distribui\u00e7\u00e3o de dados em toda a empresa), arquiteto de solu\u00e7\u00f5es (respons\u00e1vel pelo desenvolvimento, adequa\u00e7\u00e3o e integra\u00e7\u00e3o de novas solu\u00e7\u00f5es personalizadas para as empresas), gestor de m\u00eddias sociais (respons\u00e1vel por posicionar a marca da empresa conforme seus objetivos de atrair, reter e engajar o p\u00fablico nesses canais), desenvolvedor full stack (respons\u00e1vel por desenvolver c\u00f3digos para a execu\u00e7\u00e3o das fun\u00e7\u00f5es de uma aplica\u00e7\u00e3o na internet), l\u00edder de live streaming (respons\u00e1vel por garantir o bom funcionamento das transmiss\u00f5es ao vivo e pela coordena\u00e7\u00e3o das equipes que far\u00e3o as lives), piloto de drone (respons\u00e1vel pelo controle da m\u00e1quina para a produ\u00e7\u00e3o de imagens e fotos a\u00e9reas para diversos tipos de empresas), especialista em machine learning (respons\u00e1vel pelo desenvolvimento de c\u00e1lculos, simula\u00e7\u00e3o de cen\u00e1rios de decis\u00e3o e avalia\u00e7\u00e3o dos resultados gerados pela simula\u00e7\u00e3o), people analytics (respons\u00e1vel pelo processo de coleta, an\u00e1lise e gera\u00e7\u00e3o de insights baseados em dados para a gest\u00e3o de pessoas) e pentester (respons\u00e1vel pela execu\u00e7\u00e3o de testes de seguran\u00e7a em uma infraestrutura para prevenir invas\u00f5es e exposi\u00e7\u00f5es de dados).<\/p>\n

Com sal\u00e1rios m\u00e9dios que variam de R$ 5,5 mil a R$ 13 mil, s\u00e3o algumas das fun\u00e7\u00f5es que come\u00e7am a ser mais requisitadas no mercado de trabalho. Elas ser\u00e3o, certamente, acompanhadas por novas designa\u00e7\u00f5es \u00e0 medida que a intelig\u00eancia artificial e a tecnologia de informa\u00e7\u00e3o evoluem num ritmo cada vez mais acelerado.<\/p>\n

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[1]<\/a> A teoria econ\u00f4mica n\u00e3o admitia a exist\u00eancia desse fen\u00f4meno, dado que a cren\u00e7a era no dom\u00ednio da Curva de Phillips original, que estabelece uma rela\u00e7\u00e3o inversa entre as taxas de desemprego e de infla\u00e7\u00e3o. Se o desemprego fosse alto, a infla\u00e7\u00e3o seria baixa, e vice-versa. Supondo a validade dessa rela\u00e7\u00e3o inversa, recomendava-se que as pol\u00edticas econ\u00f4micas adotassem medidas inflacion\u00e1rias para combater o desemprego e medidas recessivas, causadoras de desemprego, para combater a infla\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

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* Luiz Alberto Machado<\/strong> \u00e9 economista pela Universidade Mackenzie (1977), mestre em Criatividade e Inova\u00e7\u00e3o pela Universidade Fernando Pessoa (Portugal, 2012), assessor da Funda\u00e7\u00e3o Espa\u00e7o Democr\u00e1tico e conselheiro do Instituto Fernand Braudel.<\/p>\n

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O autor procura esclarecer a aparente contradi\u00e7\u00e3o entre, de um lado, a manuten\u00e7\u00e3o de elevado n\u00edvel de desemprego no Brasil e. de outro, a escassez de m\u00e3o de obra que gera acirrada disputa por profissionais de TI.<\/p>\n","protected":false},"author":156,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[11],"tags":[78,865,168,884,699,885],"class_list":["post-3513","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-trabalho-salarios-e-previdencia","tag-desemprego","tag-economia-brasileira","tag-macroeconomia","tag-mao-de-obra","tag-microeconomia","tag-tecnologia-da-informacao"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3513","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/156"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3513"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3513\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3513"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3513"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3513"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}