{"id":3511,"date":"2021-10-21T21:28:32","date_gmt":"2021-10-22T00:28:32","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3511"},"modified":"2021-10-21T21:28:32","modified_gmt":"2021-10-22T00:28:32","slug":"pib-do-v-ao-simbolo-da-raiz-quadrada","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3511","title":{"rendered":"PIB – do V ao s\u00edmbolo da raiz quadrada"},"content":{"rendered":"

PIB \u2013 do V ao s\u00edmbolo da raiz quadrada<\/strong><\/h1>\n

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Ap\u00f3s conclu\u00edda no 1.\u00ba semestre, recupera\u00e7\u00e3o da economia passou a mostrar linha pr\u00f3xima de uma reta com o resultado do segundo.<\/strong><\/span><\/h3>\n

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Por Roberto Macedo*<\/em><\/p>\n

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Come\u00e7arei pelo V. Tenho \u00e0 minha frente um gr\u00e1fico que mostra o \u00edndice do volume do Produto Interno Bruto (PIB) trimestral desde o trimestre final de 2019, quando o valor desse \u00edndice foi de 171,6, com a m\u00e9dia de 1995 = 100. Com a chegada da Covid-19, no final do primeiro trimestre de 2020, o \u00edndice caiu para 167,6. No trimestre seguinte, teve queda mais forte e atingiu 152,6, seu ponto mais baixo no ano, que se tornou o v\u00e9rtice de um V, porque em seguida veio a recupera\u00e7\u00e3o, com o \u00edndice passando a 164,3 e a 169,4 no terceiro e no quarto trimestres de 2020, respectivamente.<\/p>\n

Com isso, o PIB findou o ano s\u00f3 um pouco abaixo do que era no \u00faltimo trimestre de 2019, ou seja, 171,6, conforme apontado acima. No primeiro trimestre de 2021, a recupera\u00e7\u00e3o em V se completou com o \u00edndice de 171,5, muito pr\u00f3ximo do que tinha no final de 2019. Vale repetir: 171,6.<\/p>\n

Com n\u00fameros j\u00e1 citados, o crescimento entre o primeiro trimestre de 2021 e o \u00faltimo trimestre de 2019 foi de 1,2%, taxa muito boa para uma varia\u00e7\u00e3o trimestral, impulsionada, entre outros fatores, pelo desempenho do agroneg\u00f3cio, que \u00e9 mais forte no primeiro trimestre, marcado pela colheita de safras plantadas no ano anterior, que cresceram. Tamb\u00e9m pesou um forte aumento de investimentos em capital fixo (f\u00e1bricas, m\u00e1quinas e outros), como propor\u00e7\u00e3o do PIB, em boa parte decorrente da contabiliza\u00e7\u00e3o, no Brasil, de car\u00edssimas plataformas de explora\u00e7\u00e3o de petr\u00f3leo at\u00e9 ent\u00e3o escrituradas no exterior.<\/p>\n

Da\u00ed para a frente, a economia brasileira passou a mostrar desempenho fraco, inclusive caindo um pouquinho no segundo trimestre de 2021, quando o \u00edndice de seu PIB ficou em 171,4, ap\u00f3s ter alcan\u00e7ado 171,5 no primeiro trimestre deste ano.<\/p>\n

Olhando para a frente, a previs\u00e3o do crescimento do PIB\u00a0entre<\/em>\u00a02021 e 2020, revelada pelo boletim\u00a0Focus<\/em>, do Banco Central (BC), de sexta-feira passada, \u00e9 de um aumento de 5,0%, o que seria uma taxa \u00f3tima, n\u00e3o fosse o fato de que decorre principalmente da forte queda do PIB em 2020, que foi de 4,2%. Com essa queda, e conforme n\u00fameros acima, o \u00edndice m\u00e9dio do PIB naquele ano foi de 163,5. Se n\u00e3o crescesse nada\u00a0dentro<\/em>\u00a0de 2021, ficando no valor a que chegou no \u00faltimo trimestre de 2020, ou seja, 169,4, s\u00f3 isso levaria a um crescimento anual de 3,6%!<\/p>\n

Portanto, esta previs\u00e3o de uma taxa de 5% em 2021 \u00e9, na sua maior parte, resultante do V que marcou o ano de 2020. E tem impl\u00edcita a hip\u00f3tese de que\u00a0dentro<\/em>\u00a0de 2021 o PIB cresceria apenas mais uma parcela de 1,4%. Como j\u00e1 cresceu 1,2% no primeiro trimestre e ficou praticamente est\u00e1vel no segundo, pode-se concluir que a \u00faltima previs\u00e3o do relat\u00f3rio\u00a0Focus<\/em>, do BC, envolve, tamb\u00e9m implicitamente, a hip\u00f3tese de que o desempenho da economia no segundo semestre deste ano ser\u00e1 muito fraco.<\/p>\n

Com esses dados, a recupera\u00e7\u00e3o em V, ap\u00f3s conclu\u00edda no primeiro trimestre do ano, passou a mostrar linha pr\u00f3xima de uma reta com o resultado do segundo. E, juntando o V com essa reta,\u00a0o gr\u00e1fico tem formato parecido com o do s\u00edmbolo da raiz quadrada<\/em>.<\/p>\n

O mesmo formato tamb\u00e9m aparece a partir de dados do IBC-Br, o \u00cdndice de Atividade Econ\u00f4mica do Banco Central, que procura prever as taxas de varia\u00e7\u00e3o mensal do PIB. Esse \u00edndice, que tem como base a m\u00e9dia de 2002 = 100, mostrou tamb\u00e9m um V em 2020, terminando o \u00faltimo trimestre do ano com o valor m\u00e9dio de 137,6. No primeiro trimestre de 2021, subiu 1,5%, caiu 0,4% no segundo e, j\u00e1 mostrando os dados de julho e agosto do\u00a0terceiro\u00a0<\/em>trimestre, a varia\u00e7\u00e3o da m\u00e9dia desses dois meses relativamente \u00e0 do segundo semestre foi de apenas 0,1%. Ou seja, ap\u00f3s a subida no primeiro semestre, caiu no segundo e ficou por a\u00ed, levando tamb\u00e9m a algo pr\u00f3ximo da linha reta que forma a raiz quadrada ap\u00f3s o V da recupera\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Dei, tamb\u00e9m, uma olhada em \u00edndices setoriais do IBGE, e vi que at\u00e9 agosto os da ind\u00fastria, com\u00e9rcio e servi\u00e7os n\u00e3o mostravam for\u00e7a capaz de crescer o PIB com maior vigor at\u00e9 o fim do ano. Creio que esse panorama da raiz quadrada \u00e9 que vem levando \u00e0 redu\u00e7\u00e3o da previs\u00e3o do crescimento do PIB tamb\u00e9m em 2022, que segundo o mesmo\u00a0Focus\u00a0<\/em>estava em 1,5%, e entre analistas do mercado j\u00e1 h\u00e1 quem aposte at\u00e9 em 0,5%.<\/p>\n

Por tr\u00e1s desse desempenho est\u00e1 o aumento da infla\u00e7\u00e3o, que sobe h\u00e1 28 semanas no\u00a0Focus<\/em>\u00a0e corr\u00f3i o consumo das fam\u00edlias, pois seus rendimentos n\u00e3o acompanham o ritmo inflacion\u00e1rio, mais o aumento dos juros e as incertezas pol\u00edticas que prejudicam o investimento privado e desvalorizam o real, tamb\u00e9m com impacto inflacion\u00e1rio. E h\u00e1, ainda, problemas nas cadeias de suprimentos e um enfraquecimento da economia internacional, em particular da China. Ademais, o governo federal n\u00e3o tem recursos para aumentar sensivelmente os investimentos p\u00fablicos e parece estar s\u00f3 preocupado em investir em projetos eleitorais do presidente da Rep\u00fablica e do Centr\u00e3o.<\/p>\n

E assim segue a economia brasileira, sem rumo. Ou, pior, s\u00f3 t\u00eam rumo os projetos populistas de seu comandante e dos que o apoiam. Espero que ao menos ele n\u00e3o chegue ao destino que tanto almeja.<\/p>\n

 <\/p>\n

* Roberto Macedo<\/strong> \u00e9 economista (UFMG, USP e\u00a0Harvard), professor s\u00eanior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/p>\n

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Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo<\/em> em 21 de outubro de 2021.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O autor analisa o desempenho da economia brasileira em 2020 e 2021 destacando que em meados de 2021 a recupera\u00e7\u00e3o iniciada no segundo semestre de 2020 estancou fazendo com que a recupera\u00e7\u00e3o em V assumisse a forma de uma raiz quadrada.<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[8,776],"tags":[769,66,821],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3511"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3511"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3511\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3511"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3511"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3511"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}