{"id":3460,"date":"2021-06-22T11:01:04","date_gmt":"2021-06-22T14:01:04","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3460"},"modified":"2021-06-22T11:02:48","modified_gmt":"2021-06-22T14:02:48","slug":"novo-e-robusto-aumento-do-pib-ate-o-fim-do-ano-e-improvavel","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3460","title":{"rendered":"Novo e robusto aumento do PIB at\u00e9 o fim do ano \u00e9 improv\u00e1vel"},"content":{"rendered":"
Por Roberto Macedo<\/em><\/p>\n No primeiro trimestre deste ano o produto interno bruto (PIB) brasileiro cresceu 1,2% relativamente ao quarto trimestre de 2020, uma taxa forte para uma varia\u00e7\u00e3o trimestral. Mas cabe examin\u00e1-la num contexto mais amplo, o dos \u00faltimos anos da s\u00e9rie encadeada do \u00edndice do PIB, publicada trimestralmente pelo IBGE, com a atualiza\u00e7\u00e3o desse \u00edndice. Ela teve in\u00edcio no primeiro trimestre de 1998, com ajuste sazonal e m\u00e9dia de 1995 igual a 100.<\/p>\n Segundo essa s\u00e9rie, o PIB do primeiro trimestre de 2021 apenas voltou a 171,6, o mesmo valor que tinha no quarto trimestre de 2019, concluindo a recupera\u00e7\u00e3o em V da recess\u00e3o iniciada no primeiro trimestre de 2020, a da primeira onda da Covid-19.<\/p>\n Num olhar ainda mais amplo, at\u00e9 hoje o PIB n\u00e3o escapou da depress\u00e3o, algo mais duradouro e forte do que uma recess\u00e3o, iniciada ap\u00f3s o primeiro trimestre de 2014 (!), quando esse \u00edndice foi de 177,1 \u2013 o maior da s\u00e9rie \u2013, depress\u00e3o essa que tem um formato mais achatado, como o da parte inferior de um U, durante a qual ocorreram as fortes quedas de 2015-2016 e a da Covid-19. A recupera\u00e7\u00e3o desse \u00edndice de 177,1, de sete anos atr\u00e1s (!), ainda n\u00e3o se verificou, e exigiria um aumento de 3,2% do PIB a partir do primeiro trimestre de 2021, taxa mais t\u00edpica de uma varia\u00e7\u00e3o anual.Nesse contexto, a previs\u00e3o do crescimento do PIB neste ano, dada na \u00faltima sexta-feira pelo relat\u00f3rio semanal\u00a0Focus<\/em>, do Banco Central, que sintetiza as avalia\u00e7\u00f5es do mercado financeiro, \u00e9 de um aumento de 4,85%. N\u00e3o seria essa uma taxa excepcional e digna de comemora\u00e7\u00e3o? De fato, ela \u00e9 excepcional, mas noutro sentido. Desse valor, 3,8% decorrem de que na compara\u00e7\u00e3o ano a ano, a base de compara\u00e7\u00e3o, o PIB de 2020, teve uma queda de 4,1%, ficando, na mesma s\u00e9rie mencionada inicialmente, com um \u00edndice m\u00e9dio trimestral de 163,5, e um valor de 169,5 no quarto trimestre de 2020. Se permanecesse a\u00ed e n\u00e3o crescesse nada em 2021, isso levaria a um aumento de 3,7% na compara\u00e7\u00e3o com 2020, quando o PIB caiu num buraco de 4,1%, com o qual o PIB de 2021 estaria sendo comparado. Tecnicamente isso \u00e9 chamado de um carregamento que o mau desempenho de 2020 trouxe para o PIB de 2021 nessa compara\u00e7\u00e3o anual.<\/p>\n Como j\u00e1 visto, o mercado est\u00e1 prevendo um crescimento ainda maior, de 4,85%. Isso implica que a expectativa impl\u00edcita nessa taxa \u00e9 de que durante 2021 o PIB cres\u00e7a apenas mais 1,15% al\u00e9m dos 3,8%, ficando aproximadamente no mesmo n\u00edvel em que veio no primeiro trimestre, ou seja, com crescimento de 1,2%. O t\u00edtulo deste artigo est\u00e1 em sintonia com essa previs\u00e3o.<\/p>\n Complicado? Pode ser para quem n\u00e3o aprecie o assunto, nem domine o conceito de PIB e sua m\u00e9trica no tempo, mas ser\u00e1 indispens\u00e1vel assimilar\u00a0essa diferen\u00e7a entre o crescimento do PIB entre 2020 e 2021 e sua varia\u00e7\u00e3o dentro de 2021<\/em>. \u00c9 bem poss\u00edvel que o governo tente faturar politicamente o forte crescimento que a primeira taxa vai revelar, mas, a bem da verdade, ser\u00e1 preciso mostrar as duas taxas e explicar por que a primeira ser\u00e1 t\u00e3o alta.<\/p>\n Quanto \u00e0 varia\u00e7\u00e3o do PIB no restante de 2021, n\u00e3o estou otimista, e tor\u00e7o para estar errado. O PIB do segundo semestre dever\u00e1 ter menor desempenho que o do primeiro, pois n\u00e3o vai contar com o forte impulso do setor agropecu\u00e1rio no primeiro, quando suas colheitas s\u00e3o mais fortes, e a escassez de chuvas no segundo prejudicou v\u00e1rias safras, em particular a do milho, de grande tamanho. Tamb\u00e9m n\u00e3o vejo condi\u00e7\u00f5es de repetir o forte crescimento da forma\u00e7\u00e3o bruta de capital fixo do primeiro semestre, influenciada, entre outros fatores, pela contabiliza\u00e7\u00e3o interna de plataformas de petr\u00f3leo j\u00e1 operando no Pa\u00eds, mas at\u00e9 ent\u00e3o contadas como ativos no exterior. De forma correspondente, nota-se que as importa\u00e7\u00f5es tiveram forte aumento no primeiro trimestre de 2021 relativamente ao \u00faltimo de 2020, a uma taxa de 7,7%. Ainda pelo lado da produ\u00e7\u00e3o, o setor de servi\u00e7os, o mais importante da economia, continua com fraco desempenho, cresceu apenas 0,4% no primeiro trimestre de 2021, e a ind\u00fastria de transforma\u00e7\u00e3o caiu 0,5% no mesmo per\u00edodo, sempre relativamente ao trimestre anterior.<\/p>\n Pelo lado da demanda, n\u00e3o se espera que o consumo das fam\u00edlias e do governo, que teve desempenho negativo no primeiro trimestre, se recupere a ponto de ter impacto relevante no PIB, pois o governo n\u00e3o est\u00e1 em condi\u00e7\u00f5es de fazer isso e o das fam\u00edlias continua contido pelo distanciamento social e por uma vacina\u00e7\u00e3o muito lenta, num contexto tamb\u00e9m marcado por forte expans\u00e3o do desemprego. Com tudo isso, o segundo trimestre de 2021 pode at\u00e9 mostrar um pequeno retrocesso, e lembro que cen\u00e1rios como esse podem mudar, em particular no segundo semestre do ano.<\/p>\n Em s\u00edntese, ainda em depress\u00e3o, a economia segue muito doente. Falta-lhe at\u00e9 uma UTI para interna\u00e7\u00e3o, pois nem o Executivo nem o Congresso parecem estar preocupados em formular e executar eficazmente um tratamento econ\u00f4mico que lhe d\u00ea maior dinamismo.<\/p>\n <\/p>\n Roberto Macedo<\/strong> \u00e9 economista (UFMG, USP e\u00a0Harvard), professor s\u00eanior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/p>\n <\/p>\n Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo<\/em> em 17 de junho de 2021.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Roberto Macedo analisa as possibilidades de crescimento econ\u00f4mico do Brasil em 2021.<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[8,776],"tags":[769,66,854,821],"class_list":["post-3460","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-crescimento-e-eficiencia-da-economia","category-reproducoes","tag-brasil","tag-crescimento-economico","tag-depressao","tag-pib"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3460","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3460"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3460\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3460"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3460"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3460"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}