{"id":3448,"date":"2021-05-25T10:25:53","date_gmt":"2021-05-25T13:25:53","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3448"},"modified":"2021-05-25T15:01:46","modified_gmt":"2021-05-25T18:01:46","slug":"epidemiologia-economica-uma-nova-ferramenta-para-lidar-com-as-epidemias","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3448","title":{"rendered":"Epidemiologia econ\u00f4mica: uma nova ferramenta para lidar com as epidemias"},"content":{"rendered":"

Epidemiologia econ\u00f4mica:<\/strong><\/h3>\n

uma nova ferramenta para lidar com as epidemias<\/strong><\/h3>\n

Por Araceli Hubert Ribeiro* e Gi\u00e1como Balbinotto Neto**<\/em><\/p>\n

O objetivo deste artigo \u00e9 falar sobre um novo campo da economia da sa\u00fade, a epidemiologia econ\u00f4mica, a qual busca estudar as doen\u00e7as infecciosas do ponto de vista do comportamento dos indiv\u00edduos com o intuito de avaliar epidemias e sua trajet\u00f3ria com base no comportamento humano e nos custos diretos e indiretos destas doen\u00e7as, assumindo o pressuposto de um comportamento racional [Becker (1976)]. \u00a0Aqui iremos apresentar, brevemente, os principais fundamentos desta \u00e1rea, que apesar de estar em sua inf\u00e2ncia, tem se mostrado ser muito promissora, tanto em termos te\u00f3ricos como emp\u00edricos, bem como relevante para os formuladores de pol\u00edticas p\u00fablicas em sa\u00fade.<\/p>\n

A epidemiologia econ\u00f4mica \u00e9 a rela\u00e7\u00e3o entre o comportamento preventivo e a preval\u00eancia da doen\u00e7a, focada nas causas econ\u00f4micas e consequ\u00eancias epidemiol\u00f3gicas da dissemina\u00e7\u00e3o de doen\u00e7as infecciosas que afetam a sa\u00fade p\u00fabica, ou seja, como o comportamento econ\u00f4mico dos indiv\u00edduos afeta o curso de uma doen\u00e7a infecciosa em uma popula\u00e7\u00e3o, podendo trazer consequ\u00eancias indesejadas ao n\u00edvel individual e coletivo.<\/p>\n

As doen\u00e7as infecciosas merecem um estudo a parte da economia de sa\u00fade p\u00fablica. Isto se d\u00e1 em raz\u00e3o de uma caracter\u00edstica \u00fanica das doen\u00e7as infecciosas que as tornam particularmente dif\u00edceis de analisar: o fato de elas serem transmitidas de pessoa para pessoa. Com isto, o comportamento individual se torna um aspecto central dentro da epidemiologia econ\u00f4mica, especialmente pelo fato de que as escolhas individuais feitas sobre tratamento e preven\u00e7\u00e3o impactam outros indiv\u00edduos, gerando externalidades. O impacto das escolhas individuais em outros indiv\u00edduos \u00e9 um conceito muito utilizado na economia, conhecido como externalidade e, em raz\u00e3o desse conceito t\u00e3o central na economia do bem-estar, a abordagem econ\u00f4mica tem o potencial de contribuir muito para a compreens\u00e3o de como o comportamento humano afeta as doen\u00e7as infecciosas e qual \u00e9 o papel governamental no controle destas doen\u00e7as. \u00a0Um exemplo cl\u00e1ssico na \u00e1rea de economia da sa\u00fade s\u00e3o as vacinas.<\/p>\n

A \u00e1rea da epidemiologia econ\u00f4mica come\u00e7ou a ser desenvolvida juntamente com a pandemia de HIV\/AIDS, na d\u00e9cada de 1980, quando uma dimens\u00e3o econ\u00f4mica foi adicionada aos modelos epidemiol\u00f3gicos cl\u00e1ssicos utilizados para tra\u00e7ar o curso de um surto viral. Como o HIV se espalha principalmente por meio de rela\u00e7\u00f5es sexuais, as decis\u00f5es das pessoas em rela\u00e7\u00e3o ao contato sexual t\u00eam um impacto claro na propaga\u00e7\u00e3o do HIV, assim como na propaga\u00e7\u00e3o de outras doen\u00e7as sexualmente transmiss\u00edveis. Os indiv\u00edduos tomam diversas decis\u00f5es que podem impactar a propaga\u00e7\u00e3o de doen\u00e7as, como por exemplo, o qu\u00e3o frequentemente lavam as m\u00e3os, se evitam sair de casa, se evitam o contato com pessoas possivelmente infectadas, se se testam para determinadas doen\u00e7as, se usam ou n\u00e3o preservativos, dentre outros.<\/p>\n

Segundo Phillipson e Posner (1993, p.3), a ideia de que uma doen\u00e7a contagiosa pudesse ser abordada do ponto de vista econ\u00f4mico havia recebido pouca aten\u00e7\u00e3o at\u00e9 o in\u00edcio dos anos 1980. Assim, a abordagem econ\u00f4mica das doen\u00e7as contagiosas busca examinar as respostas p\u00fablicas e privadas referentes a doen\u00e7as contagiosas, de um ponto de vista do comportamento racional, enfatizando principalmente as respostas do comportamento humano a mudan\u00e7as nos incentivos e a preval\u00eancia da doen\u00e7a.<\/p>\n

Este ponto com rela\u00e7\u00e3o ao comportamento racional merece ser mais detalhado. Aqui seguimos a argumenta\u00e7\u00e3o de Phillipson e Posner (1993, pp. 1-10). Assim, para melhor compreendermos a epidemiologia econ\u00f4mica, parece ser plaus\u00edvel assumirmos que a \u201cescolha racional\u201d n\u00e3o implica necessariamente um comportamento consciente, deliberado ou informado. Na maioria das vers\u00f5es, segundo eles, uma escolha \u00e9 racional se ela maximizar a utilidade esperada, onde a utilidade diz respeito ao bem-estar subjetivo do indiv\u00edduo, e esperado, gra\u00e7as \u00e0 presen\u00e7a da incerteza, a qual faz com que a escolha possa ser possivelmente ruim. Segundo eles, a racionalidade implicaria que os meios se adequariam aos fins (suiting means to ends<\/em>), quaisquer que sejam estes fins. Assim, devemos ter claro, segundo os autores, que a teoria econ\u00f4mica da escolha racional seria uma fonte de explica\u00e7\u00f5es e predi\u00e7\u00f5es referentes ao comportamento, que incluiria o comportamento com rela\u00e7\u00e3o aos perigos de uma doen\u00e7a contagiosa.<\/p>\n

A epidemiologia econ\u00f4mica se apoia no comportamento racional das pessoas que buscam maximizar o bem-estar individual com base em incentivos, restri\u00e7\u00f5es e informa\u00e7\u00f5es que chegam a elas. A import\u00e2ncia disto, dada a din\u00e2mica do comportamento humano dentro de uma epidemia, traz novas explica\u00e7\u00f5es para o entendimento de doen\u00e7as infecciosas. Como destacaram Phillipson e Posner (1993, p.7), a epidemiologia econ\u00f4mica, busca tamb\u00e9m ilustrar o poder da an\u00e1lise econ\u00f4mica para iluminar o comportamento n\u00e3o mercado, que \u00e9 um pouco afastado dos objetos de an\u00e1lise convencional da economia. Segundo Phillipson e Posner (1993, p.8), os modelos epidemiol\u00f3gicos padr\u00f5es, de um modo geral, exageravam em suas previs\u00f5es sobre o crescimento das doen\u00e7as contagiosas, tais como a AIDS, a qual \u00e9 transmitida principalmente atrav\u00e9s do comportamento volunt\u00e1rio. Assim, a economia pode ser utilizada para aumentar o poder preditivo e explanat\u00f3rio de tais modelos.<\/p>\n

O principal ponto e cr\u00edtica aos modelos epidemiol\u00f3gicos convencionais \u00e9 que aqueles modelos falhavam em n\u00e3o considerar a import\u00e2ncia dos incentivos na modelagem das respostas privadas tanto com rela\u00e7\u00e3o \u00e0s doen\u00e7as comunic\u00e1veis, como com rela\u00e7\u00e3o aos programas que buscam control\u00e1-las. A raz\u00e3o disto, por exemplo, com rela\u00e7\u00e3o \u00e0 AIDS, era a falha em reconhecer que o aumento na preval\u00eancia de uma doen\u00e7a \u00e9 (com certas qualifica\u00e7\u00f5es) o equivalente a um aumento no pre\u00e7o do comportamento que cria o risco de contrair a doen\u00e7a, induzindo a uma resposta comportamental que iria limitar uma maior dissemina\u00e7\u00e3o da mesma.<\/p>\n

O estudo das epidemias, segundo Phillipson e Posner (1993, p.5), est\u00e1 baseado no pressuposto de que o mercado para atividades que criam o risco de contrair uma doen\u00e7a infecciosa (como o contato com uma pessoa infectada) \u00e9 muito semelhante a outros mercados que os economistas estudam. Aqui, as trocas de contato s\u00e3o referidas no sentido econ\u00f4mico padr\u00e3o na qual uma atividade \u00e9 tomada como sendo mutuamente ben\u00e9fica para as pessoas nela engajadas. Assim, no caso das doen\u00e7as contagiosas, \u00e9 assumido, tamb\u00e9m, que as pessoas iriam tomar medidas para se ajustar ao risco da infec\u00e7\u00e3o, especialmente com rela\u00e7\u00e3o \u00e0 preval\u00eancia da doen\u00e7a. Ainda segundo eles, os epidemiologistas, por exemplo, na predi\u00e7\u00e3o do crescimento futuro ou no decl\u00ednio de uma doen\u00e7a, abstraem o elemento de vontade (volitional element<\/em>) \u2013 qual seja, a decis\u00e3o de se engajar ou n\u00e3o num comportamento potencialmente transmiss\u00edvel, que os economistas, por sua vez, esperam que venha a ter um aspecto central no crescimento ou decl\u00ednio at\u00e9 uma vacina ou cura ser desenvolvida. Assim, o modelo econ\u00f4mico das epidemiologias, chamado tamb\u00e9m de modelo de epidemia racional, implica estimativas menos alarmantes com rela\u00e7\u00e3o ao futuro do crescimento das doen\u00e7as contagiosas do que assumido pelos modelos epidemiol\u00f3gicos convencionais, dado que um crescente risco de infec\u00e7\u00e3o levaria os indiv\u00edduos racionais a substituir as atividades ariscadas, fazendo ent\u00e3o, com que a doen\u00e7a fosse autolimitante.<\/p>\n

\u00a0<\/strong>A epidemiologia econ\u00f4mica considera a possibilidade de a demanda por autoprote\u00e7\u00e3o contra uma doen\u00e7a ser sens\u00edvel \u00e0 preval\u00eancia da doen\u00e7a que \u00e9 a propor\u00e7\u00e3o da popula\u00e7\u00e3o acometida por uma doen\u00e7a espec\u00edfica em um per\u00edodo determinado. Desta maneira, haveria uma rela\u00e7\u00e3o rec\u00edproca entre autoprote\u00e7\u00e3o e a preval\u00eancia da doen\u00e7a, criando, assim, um loop<\/em> de resposta como podemos ver na figura 1. A compreens\u00e3o desta rela\u00e7\u00e3o auxilia a identifica\u00e7\u00e3o destes per\u00edodos durante o curso de uma epidemia e a resposta subsequente que os indiv\u00edduos possam vir a ter em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 doen\u00e7a.<\/p>\n

<\/a>Figura 1: Rela\u00e7\u00e3o rec\u00edproca entre autoprote\u00e7\u00e3o e preval\u00eancia da doen\u00e7a<\/strong><\/p>\n

\"\"<\/a><\/p>\n

Fonte: Adapta\u00e7\u00e3o de Bhattacharya et al.,<\/em> (2013, p. 453).<\/h6>\n
(1) autoprote\u00e7\u00e3o limita o crescimento da doen\u00e7a;<\/h6>\n
(2) baixa taxa de preval\u00eancia acarreta menos autoprote\u00e7\u00e3o.<\/h6>\n

Esta abordagem difere da abordagem epidemiol\u00f3gica tradicional, onde uma maior prote\u00e7\u00e3o acarreta um menor crescimento da doen\u00e7a, terminando a rela\u00e7\u00e3o sem considerar que ela funcionaria como um ciclo e, portanto, n\u00e3o considera a resposta comportamental dos indiv\u00edduos que cria esse loop<\/em> de resposta \u00e0 preval\u00eancia da doen\u00e7a. A an\u00e1lise epidemiol\u00f3gica tradicional certamente discute como v\u00e1rios padr\u00f5es de comportamento afetam a ocorr\u00eancia da doen\u00e7a, por\u00e9m ela n\u00e3o analisa as implica\u00e7\u00f5es de como o comportamento se modifica em resposta aos novos incentivos criados pelo crescimento de uma doen\u00e7a, nem analisa os efeitos dessas mudan\u00e7as nas medidas de sa\u00fade p\u00fablica (Bhattacharya et al.,<\/em> 2013).<\/p>\n

Sob o ponto de vista econ\u00f4mico, se uma doen\u00e7a se tornar mais disseminada na popula\u00e7\u00e3o, a demanda por prote\u00e7\u00e3o privada (individual) aumenta em resposta. Os meios pelos quais as medidas preventivas aumentam em resposta ao surto da doen\u00e7a podem diferir entre as doen\u00e7as. Por exemplo, para doen\u00e7as evit\u00e1veis por vacina, estes meios podem representar o n\u00famero de vacina\u00e7\u00f5es adicionais induzidas por cada nova infec\u00e7\u00e3o, enquanto para doen\u00e7as sexualmente transmiss\u00edveis pode representar o aumento na correspond\u00eancia de parceiros sexuais que t\u00eam o mesmo status<\/em> de infec\u00e7\u00e3o (Philipson, 2000).<\/p>\n

A sensibilidade \u00e0 preval\u00eancia \u00e9 chamada de elasticidade preval\u00eancia da demanda privada por preven\u00e7\u00e3o contra doen\u00e7as <\/em>(elasticidade-preval\u00eancia). Como mencionado anteriormente, muitos modelos epidemiol\u00f3gicos n\u00e3o consideram que a demanda por prote\u00e7\u00e3o reaja \u00e0 preval\u00eancia da doen\u00e7a, e com isso, acabam assumindo, mesmo que implicitamente, que a elasticidade-preval\u00eancia \u00e9 igual a zero (Bhattacharya et al.,<\/em> 2013). Este ponto ser\u00e1 aprofundado nos par\u00e1grafos a seguir. \u00a0Folland et al.,<\/em> (1994), explica mais detalhadamente a quest\u00e3o de interven\u00e7\u00f5es serem ou n\u00e3o autolimitantes, e como isso pode ser identificado. O autor utiliza a equa\u00e7\u00e3o 1 para apresentar a maneira que a autoprote\u00e7\u00e3o est\u00e1 relacionada com a preval\u00eancia:<\/p>\n\n\n\n
\"\"<\/a><\/td>\n<\/tr>\n<\/tbody>\n<\/table>\n

Se Ep<\/em> \u00e9 baixo, zero, ou perto de zero, as pessoas demandar\u00e3o pouca preven\u00e7\u00e3o, resultando, desta forma, em maior preval\u00eancia futura. Ao contr\u00e1rio, se Ep<\/em> \u00e9 alto, muito maior que zero, ent\u00e3o ser\u00e1 demandada uma quantidade maior por preven\u00e7\u00e3o, como, por exemplo, vacinas. Assim, existir\u00e1 uma baixa preval\u00eancia futura. Estas demandas por preven\u00e7\u00e3o, de acordo com o autor, alteram a taxa de preval\u00eancia da doen\u00e7a.<\/p>\n

A elasticidade-preval\u00eancia \u00e9 considerada uma grande contribui\u00e7\u00e3o da epidemiologia econ\u00f4mica para a compreens\u00e3o da propaga\u00e7\u00e3o de doen\u00e7as infecciosas. Como explicado anteriormente, a demanda por autoprote\u00e7\u00e3o varia de acordo com a preval\u00eancia da doen\u00e7a na popula\u00e7\u00e3o, presumindo uma elasticidade-preval\u00eancia positiva, ao contr\u00e1rio da vis\u00e3o epidemiol\u00f3gica que assume uma elasticidade-preval\u00eancia zero. Al\u00e9m da preval\u00eancia, os indiv\u00edduos tamb\u00e9m reagem a outras medidas se percebidas como amea\u00e7as como, por exemplo, a taxa de mortalidade (Folland et al.,<\/em> 1994).<\/p>\n

De acordo com modelos epidemiol\u00f3gicos, com a elasticidade-preval\u00eancia igual a zero, significa que com o aumento da preval\u00eancia de uma doen\u00e7a na popula\u00e7\u00e3o, a incid\u00eancia tamb\u00e9m cresce, pois os indiv\u00edduos n\u00e3o s\u00e3o sens\u00edveis ao surto da doen\u00e7a. Por\u00e9m, se a elasticidade-preval\u00eancia for considerada positiva, enquanto uma doen\u00e7a se propaga, pessoas n\u00e3o infectadas buscam se proteger. Com isso, \u00e9 poss\u00edvel que a incid\u00eancia ir\u00e1 permanecer est\u00e1vel ou declinar enquanto a preval\u00eancia aumenta (Bhattacharya et al.,<\/em> 2013). A elasticidade-preval\u00eancia positiva assume, de acordo com a teoria da epidemiologia econ\u00f4mica, uma rela\u00e7\u00e3o inversa entre preval\u00eancia e incid\u00eancia.<\/p>\n

Pode-se verificar esta rela\u00e7\u00e3o em epidemias passadas, como, por exemplo, o caso do HIV nos Estados Unidos, mais precisamente, na cidade de S\u00e3o Francisco, que na d\u00e9cada de 1980 representava 12,5% dos casos de HIV nos Estados Unidos.<\/p>\n

\u00a0<\/strong>Algumas evid\u00eancias emp\u00edricas relacionadas \u00e0 epidemiologia econ\u00f4mica, a fim de exemplificar a sua aplica\u00e7\u00e3o direta com base em dados reais, t\u00eam indicado como os conceitos desta \u00a0nova \u00e1rea da economia da sa\u00fade podem ajudar na identifica\u00e7\u00e3o do problema e nas suas poss\u00edveis solu\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Uma diferen\u00e7a consider\u00e1vel entre modelos epidemiol\u00f3gicos e o modelo apresentado pelos autores \u00e9 a suposi\u00e7\u00e3o de que os indiv\u00edduos escolham seus parceiros sexuais de acordo com as probabilidades de infec\u00e7\u00e3o. Os modelos epidemiol\u00f3gicos descartam esta probabilidade de escolha e assumem uma escolha aleat\u00f3ria. Uma rela\u00e7\u00e3o sexual que tem o potencial de transmiss\u00e3o de doen\u00e7a ocorre apenas quando parceiros potenciais decidem se relacionar sexualmente. Esta escolha, que \u00e9 guiada por incentivos, \u00e9 considerada n\u00e3o aleat\u00f3ria pelo modelo estudado. Esta \u00eanfase nos incentivos, mencionada anteriormente, \u00e9 a principal diferen\u00e7a para modelos epidemiol\u00f3gicos, neste caso.<\/p>\n

A epidemiologia n\u00e3o \u00e9 uma ci\u00eancia social, portanto, n\u00e3o incluiu as respostas comportamentais e as prefer\u00eancias humanas individuais nos seus modelos. Como foi argumentado acima, o comportamento cria um efeito de feedback, <\/em>relacionado \u00e0 responsividade \u00e0 preval\u00eancia, que tem a capacidade de causar um impacto substancial na propaga\u00e7\u00e3o de doen\u00e7as infecciosas. As prefer\u00eancias individuais, isto \u00e9, o comportamento individual necessita ser incorporado aos modelos de transmiss\u00e3o de doen\u00e7as infecciosas, dado que a presen\u00e7a de externalidades implica que o comportamento individual \u00e9 amplificado devido \u00e0s consequ\u00eancias que pode ter para outros indiv\u00edduos.<\/p>\n

Em resumo, modelos econ\u00f4micos e as evidencias emp\u00edricas dispon\u00edveis t\u00eam mostrado que a demanda por preven\u00e7\u00e3o \u00e9 el\u00e1stica \u00e0 preval\u00eancia. Se a demanda for altamente el\u00e1stica, \u00e9 visto um decl\u00ednio percentual na preval\u00eancia que levar\u00e1 a um decl\u00ednio percentual maior nos esfor\u00e7os de preven\u00e7\u00e3o dos indiv\u00edduos. Consequentemente, ser\u00e1 cada vez mais caro atingir redu\u00e7\u00f5es adicionais na preval\u00eancia. Estimativas precisas da magnitude da elasticidade s\u00e3o, portanto, cruciais para prever o efeito das escolhas individuais e a necessidade de interven\u00e7\u00e3o governamental.<\/p>\n

Este breve artigo teve o objetivo de mostrar como as doen\u00e7as infecciosas podem ser avaliadas sob a \u00f3tica das ci\u00eancias econ\u00f4micas. Esta an\u00e1lise n\u00e3o procurou diminuir a import\u00e2ncia de outras abordagens, mas sim, ressaltar as recentes contribui\u00e7\u00f5es te\u00f3ricas e emp\u00edricas que podem ser feitas pela economia e que n\u00e3o receberam, ainda, a devida aten\u00e7\u00e3o pelos epidemiologistas e pelos formuladores de pol\u00edticas p\u00fablicas em sa\u00fade. O ponto fundamental que buscamos destacar foi que a incorpora\u00e7\u00e3o dos aspectos comportamentais nos modelos epidemiol\u00f3gicos tradicionais a fim de se ter uma melhor compreens\u00e3o de como estes comportamentos afetam a trajet\u00f3ria de epidemias e, tamb\u00e9m, as pol\u00edticas p\u00fablicas adotadas para cont\u00ea-las. Todos estes pontos se mostram cr\u00edticos para avaliarmos a real efici\u00eancia das pol\u00edticas p\u00fablicas para doen\u00e7as infecciosas.<\/p>\n

Com o avan\u00e7o da pandemia do novo coronav\u00edrus, esta \u00e1rea est\u00e1 obtendo notoriedade dentro da comunidade dos economistas. Est\u00e3o sendo feitos diversos esfor\u00e7os para entender o comportamento de diferentes popula\u00e7\u00f5es e pol\u00edticas p\u00fablicas frente \u00e0 pandemia e o que pode ser feito para mudar os incentivos e restri\u00e7\u00f5es individuais para promover uma melhoria na sa\u00fade p\u00fablica. A compreens\u00e3o do que faz as pessoas tomarem decis\u00f5es referentes a doen\u00e7as espec\u00edficas faz com que se abra um leque de op\u00e7\u00f5es e possibilidades de conter a propaga\u00e7\u00e3o e o agravamento de doen\u00e7as infecciosas, al\u00e9m de auxiliar o enfrentamento de poss\u00edveis epidemias futuras.<\/p>\n

A epidemiologia econ\u00f4mica, seus modelos, implica\u00e7\u00f5es e evid\u00eancias emp\u00edricas ainda se encontram na fase inicial do seu desenvolvimento, na sua inf\u00e2ncia para assim dizer, n\u00e3o sendo ainda completamente explorada em termos de implica\u00e7\u00f5es e pol\u00edticas p\u00fablicas em sa\u00fade que afetam o bem-estar de todos os agentes envolvidos.<\/p>\n

Com a pandemia da Covid-19 vemos o quanto o comportamento humano tem o poder de alterar a trajet\u00f3ria de uma doen\u00e7a infecciosa. Isto apenas refor\u00e7a a necessidade de explorarmos ainda mais o campo da epidemiologia econ\u00f4mica como uma forma de melhorarmos a nossa resposta a doen\u00e7as infecciosas, procurando atingir um bem-estar coletivo. Este tema necessita ainda ser mais detalhado e refinado teoricamente, bem como testado com base em dados reais, especialmente em pa\u00edses que sofrem tanto com doen\u00e7as infecciosas. Enfim, a epidemiologia econ\u00f4mica constitui-se em um importante t\u00f3pico de pesquisa, n\u00e3o somente para os economistas, mas tamb\u00e9m para os profissionais da \u00e1rea da sa\u00fade e formuladores de pol\u00edtica econ\u00f4mica.<\/p>\n

 <\/p>\n

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*Araceli Hubert Ribeiro<\/strong> \u00e9 aluna do curso de gradua\u00e7\u00e3o em Economia da UFRGS.<\/p>\n

** Gi\u00e1como Balbinotto Neto<\/strong> \u00e9 professor do PPGE\/UFRGS – Economia Aplicada e IATS\/UFRGS.<\/p>\n

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Os autores discorrem sobre as contribui\u00e7\u00f5es da epidemiologia econ\u00f4mica para o entendimento e a formula\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas em situa\u00e7\u00f5es de epidemia\/pandemia.<\/p>\n","protected":false},"author":167,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[781,10],"tags":[849,811,846,845,848,850,847],"class_list":["post-3448","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-coronavirus-economia","category-educacao-e-saude","tag-aids","tag-covid-19","tag-epidemia","tag-epidemiologia","tag-estatistica","tag-hiv","tag-pandemia"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3448","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/167"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3448"}],"version-history":[{"count":1,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3448\/revisions"}],"predecessor-version":[{"id":3450,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3448\/revisions\/3450"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3448"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3448"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3448"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}