{"id":3426,"date":"2021-03-22T11:57:52","date_gmt":"2021-03-22T14:57:52","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3426"},"modified":"2021-03-22T12:01:23","modified_gmt":"2021-03-22T15:01:23","slug":"mercado-ve-pib-crescendo-32-em-2021-mas-deve-ficar-perto-de-zero","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3426","title":{"rendered":"Mercado v\u00ea PIB crescendo 3,2% em 2021, mas deve ficar perto de zero"},"content":{"rendered":"

Mercado v\u00ea PIB crescendo 3,2% em 2021, mas deve ficar perto de zero<\/strong><\/h3>\n

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A expectativa dessa taxa de 3,2% vem mais da forte queda do PIB em 2020<\/span><\/h4>\n

Por Roberto Macedo<\/em><\/p>\n

Esse forte contraste se explica por que, ao olhar para o produto interno bruto (PIB) de 2021, o mercado est\u00e1 muito influenciado pela taxa a ser anunciada pelo IBGE no in\u00edcio de 2022, prevista como muito alta pelo andar recente da economia, e muito mais impactada pela forte queda da economia em 2020 do que pelo desempenho da economia em 2021. Essa previs\u00e3o de 3,2% acompanha procedimentos estat\u00edsticos adotados pelo IBGE ao medir as varia\u00e7\u00f5es do PIB, conforme explicarei em seguida, pedindo ao leitor desculpas por recorrer a algumas tecnicalidades que tentarei minimizar.<\/p>\n

Recorde-se que o PIB teve em 2020 um movimento na forma de um V incompleto na sua haste direita, caindo fortemente com a pandemia da Covid-19 a partir de meados de mar\u00e7o e at\u00e9 o segundo trimestre. Depois o PIB passou a crescer, mas sem superar a queda anterior, levando a uma redu\u00e7\u00e3o de 4,1% no ano. Como o IBGE chegou a esse valor? \u00c9 como se calculasse a varia\u00e7\u00e3o m\u00e9dia trimestral do PIB ao longo de um ano, por meio de um \u00edndice, e a comparasse com a do ano anterior.<\/p>\n

Resolvi conferir essa taxa de 4,1% com base no \u00faltimo relat\u00f3rio do PIB trimestral do IBGE, divulgado em 3 de mar\u00e7o e, nele, a\u00a0S\u00e9rie Encadeada do \u00cdndice de Volume Trimestral (M\u00e9dia de 1995=100)<\/em>. Tomei as m\u00e9dias dos quatro \u00edndices trimestrais de 2020 e 2019 e, dividindo a primeira m\u00e9dia pela segunda, o resultado levou a essa queda de 4,1% em 2020.<\/p>\n

Noutro exerc\u00edcio, tomei o valor do mesmo \u00edndice no \u00faltimo trimestre de 2020 e, supondo para o PIB um crescimento nulo em 2021, esse valor seria o mesmo nos quatro trimestres. E dividindo-o pela m\u00e9dia de 2020 encontrei qual seria a taxa de crescimento da economia em 2021, se medida pelo IBGE com essas informa\u00e7\u00f5es, chegando \u00e0 taxa de 3,8%. Ou seja, com crescimento zero do PIB, o resultado do IBGE em 2021 seria esse.<\/p>\n

O\u00a0Boletim Focus<\/em>, do Banco Central (BC), divulgado no \u00faltimo dia 15, que mostra as expectativas dos analistas do mercado com rela\u00e7\u00e3o a v\u00e1rios indicadores, prev\u00ea que esse crescimento ser\u00e1 de 3,2%, e abaixo do valor a que cheguei, sugerindo que, al\u00e9m de n\u00e3o crescer, o PIB teria uma pequena queda em 2021 na previs\u00e3o desses analistas.<\/p>\n

Ambas as previs\u00f5es s\u00e3o altas porque em 2020 o valor do PIB caiu bastante, fazendo com que a taxa do PIB de 2021 a ser calculada IBGE tenha um vi\u00e9s de alta independentemente do que acontecer neste ano. Esse vi\u00e9s \u00e9 chamado de\u00a0carry over<\/em>\u00a0na literatura internacional sobre o assunto, um carregamento transferido de um espa\u00e7o para outro ou, no tempo, de um para outro per\u00edodo, como no caso sob exame.<\/p>\n

Algu\u00e9m errou nessa hist\u00f3ria? N\u00e3o, \u00e9 uma quest\u00e3o de crit\u00e9rio. O IBGE trabalha com essa m\u00e9dia trimestral dentro de um ano relativamente \u00e0 do anterior; outro seria calcular a varia\u00e7\u00e3o do PIB comparando o valor alcan\u00e7ado em dezembro de 2021 com o verificado de dezembro de 2020. E mais um crit\u00e9rio foi o procedimento que adotei acima, de zerar o crescimento em 2021, baseado em outras avalia\u00e7\u00f5es que economistas fazem da economia neste ano, independentemente do que aconteceu no ano passado. Entendo que o IBGE est\u00e1 correto, pois \u00e9 melhor trabalhar com as m\u00e9dias dentro de cada ano comparado. A distor\u00e7\u00e3o do carregamento de 2020 para 2021 foi um caso excepcional. O desempenho usual do PIB \u00e9 de crescimento, e n\u00e3o de queda, e muito menos t\u00e3o forte como a do ano passado.<\/p>\n

Olhando \u00e0 frente em 2021, o quadro \u00e9 desalentador. Como foi visto acima, a pr\u00f3pria previs\u00e3o do\u00a0Boletim Focus<\/em>, do BC, embute pequena varia\u00e7\u00e3o negativa do PIB. De fato, ainda sem completar uma efetiva recupera\u00e7\u00e3o em V, os dados mais recentes levaram v\u00e1rios economistas a prever at\u00e9 um desempenho negativo do PIB j\u00e1 nos dois primeiros trimestres do ano, percep\u00e7\u00e3o que se agravou com a piora da pandemia imposta pela Covid-19. Em mat\u00e9ria de meia p\u00e1gina (B3), ontem, este jornal entrevistou v\u00e1rios economistas e assim resumiu o resultado: \u201cPa\u00eds est\u00e1 na contram\u00e3o do resto do mundo, onde proje\u00e7\u00f5es para a atividade sobem; no Brasil, previs\u00e3o \u00e9 de queda com infla\u00e7\u00e3o em alta\u201d.<\/p>\n

Nesse contexto, ganhou surpresa o resultado de um aumento do \u00cdndice de Atividade Econ\u00f4mica do Banco Central (|IBC-Br) \u00e0 taxa de um 1% em janeiro, mas isso foi visto como um ponto fora da curva, pois a economia deve ter mostrado menos \u00edmpeto em fevereiro e deve piorar, avan\u00e7ando no negativo, a partir do m\u00eas atual.<\/p>\n

Com o cont\u00e1gio e as mortes pela Covid-19 batendo novos recordes desde meados de fevereiro, as refor\u00e7adas medidas de isolamento rec\u00e9m-adotadas devem impor novas perdas principalmente ao com\u00e9rcio e ao setor de servi\u00e7os, o mais importante da economia, com o que ela sofrer\u00e1 bastante. A vacina\u00e7\u00e3o est\u00e1 atrasada e insuficiente, ainda sem efeitos sens\u00edveis no controle da pandemia, com a contamina\u00e7\u00e3o pela Covid-19 avan\u00e7ando mais r\u00e1pido do que a vacina\u00e7\u00e3o. Ela veio escassa com o grande descaso do governo em planej\u00e1-la, ainda em meados no ano passado, e rapidamente adquirir as vacinas necess\u00e1rias para a imuniza\u00e7\u00e3o em massa da popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Deu no que deu.<\/p>\n

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Roberto Macedo<\/strong> \u00e9 economista (UFMG, USP e\u00a0Harvard), professor s\u00eanior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/p>\n

Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo<\/em> em 18 de mar\u00e7o de 2021.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Roberto Macedo questiona previs\u00e3o do mercado de crescimento da economia brasileira em 2021, em fun\u00e7\u00e3o dos crit\u00e9rios adotados.<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[8,776],"tags":[769,66,821,828],"class_list":["post-3426","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-crescimento-e-eficiencia-da-economia","category-reproducoes","tag-brasil","tag-crescimento-economico","tag-pib","tag-previsoes"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3426","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3426"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3426\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3426"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3426"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3426"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}