{"id":3424,"date":"2021-03-15T11:22:58","date_gmt":"2021-03-15T14:22:58","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3424"},"modified":"2021-03-15T11:47:11","modified_gmt":"2021-03-15T14:47:11","slug":"a-nova-lei-de-licitacoes-e-mais-eficiente-economicamente","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3424","title":{"rendered":"A nova lei de licita\u00e7\u00f5es \u00e9 mais eficiente economicamente?"},"content":{"rendered":"
Por Eduardo Pedral Sampaio Fiuza[1]<\/strong><\/a><\/em><\/p>\n \u00a0<\/strong>Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n Em vota\u00e7\u00e3o rel\u00e2mpago, o Senado aprovou o PL 4253\/2020, o qual nada mais \u00e9 que o Substitutivo da C\u00e2mara dos Deputados ao Projeto de Lei destinado a substituir, no decurso de dois anos, a nada saudosa Lei 8.666 — que vem regendo as licita\u00e7\u00f5es e contrata\u00e7\u00f5es p\u00fablicas brasileiras desde 1993 –, bem como os seus \u201cpuxadinhos\u201d, que v\u00eam regendo respectivamente os preg\u00f5es (Lei 10.520\/2002) e o Regime Diferenciado de Contrata\u00e7\u00f5es P\u00fablicas -RDC (Lei 12.462\/2011). Antes do fechamento deste artigo, foi a plen\u00e1rio um parecer da Mesa Diretora para ajustes de reda\u00e7\u00e3o previamente ao envio \u00e0 Presid\u00eancia da Rep\u00fablica para san\u00e7\u00e3o. \u00c9 desta vers\u00e3o final do Senado que agora trato, tendo a consci\u00eancia de que outras altera\u00e7\u00f5es podem vir na forma de vetos da Presid\u00eancia da Rep\u00fablica, os quais, por sua vez, podem ser em parte reexaminados e eventualmente revertidos pelo Congresso.<\/p>\n O anticl\u00edmax na vota\u00e7\u00e3o morna pode ter sido capaz de obnubilar a cobertura jornal\u00edstica do desfecho de t\u00e3o longo processo de tramita\u00e7\u00e3o, que come\u00e7ou em 2007[2]<\/a> e passou duas vezes por cada uma das duas Casas Legislativas. Mas as redes sociais pululam de convites para lives <\/em>com os maiores juristas especializados em licita\u00e7\u00f5es, oferecendo an\u00e1lises com maior ou menor grau de profundidade sobre as mudan\u00e7as implementadas.<\/p>\n O debate ocorrido nas duas Casas Legislativas foi muito frut\u00edfero e produziu grandes avan\u00e7os na legisla\u00e7\u00e3o de contrata\u00e7\u00f5es p\u00fablicas brasileira. A despeito disso, a pe\u00e7a legislativa aprovada ainda ficou aqu\u00e9m do necess\u00e1rio para ser considerada uma legisla\u00e7\u00e3o verdadeiramente moderna e trazer maior agilidade, produtividade e competitividade \u00e0s licita\u00e7\u00f5es e contrata\u00e7\u00f5es brasileiras.<\/p>\n De fato, a despeito dos avan\u00e7os alcan\u00e7ados at\u00e9 agora, s\u00e3o preocupantes alguns artigos que, ou cristalizam em lei regulamenta\u00e7\u00f5es que at\u00e9 hoje vinham sendo aperfei\u00e7oadas com maior rapidez por decretos ou outras normas infralegais, ou simplesmente andam na dire\u00e7\u00e3o contr\u00e1ria \u00e0 liberaliza\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica que o Pa\u00eds vem buscando empreender nos \u00faltimos anos.<\/p>\n Tendo participado ativamente \u2013 ainda que majoritariamente \u00e0 dist\u00e2ncia, mas o suficiente para ver diversas sugest\u00f5es de texto acolhidas pelas relatorias \u2013 das discuss\u00f5es sobre os impactos econ\u00f4micos previstos em cada altera\u00e7\u00e3o trazida pela nova Lei, fui convidado por este site a consolidar aqui os pontos que resumem a minha vis\u00e3o sobre o conjunto da nova pe\u00e7a legislativa, utilizando do ferramental de an\u00e1lise microecon\u00f4mico, que, por vezes, destoa das interpreta\u00e7\u00f5es jur\u00eddicas. Sobre este mister ora me debru\u00e7o, aproveitando-me principalmente das quatro notas t\u00e9cnicas, dois Textos para Discuss\u00e3o, tr\u00eas cap\u00edtulos de livros e um artigo de peri\u00f3dico que escrevi, de 2009 a 2020, em sua maioria na companhia de ilustres coautores.<\/p>\n Maximalismo<\/strong><\/p>\n Para come\u00e7ar, fa\u00e7o coro a v\u00e1rios renomados juristas no refr\u00e3o de \u201cMenos Lei e Mais Regula\u00e7\u00e3o Infralegal, por favor\u201d. Em todas as minhas contribui\u00e7\u00f5es, defendi uma lei enxuta e a remiss\u00e3o de numerosos detalhes a regulamenta\u00e7\u00f5es posteriores.<\/p>\n A nova lei tem 179 artigos em seu n\u00facleo, mais outros 14 artigos contendo disposi\u00e7\u00f5es transit\u00f3rias. Esse excesso de detalhes consolida uma tend\u00eancia maximalista da legisla\u00e7\u00e3o do tema. S\u00f3 para ficar nos \u00faltimos dois diplomas legais (os \u00fanicos do s\u00e9culo XX exclusivamente versando sobre licita\u00e7\u00f5es), o Decreto-Lei 2300\/1986 tinha 90 artigos, e a Lei 8666\/1993 cont\u00e9m 126. Al\u00e9m disso, com esse incha\u00e7o, a nova Lei esvazia ainda mais as compet\u00eancias regulat\u00f3rias dos entes subnacionais para essa mat\u00e9ria.<\/p>\n Pa\u00edses vizinhos ao Brasil, com ordenamento jur\u00eddico baseado no Direito Romano, e que passaram nos \u00faltimos dez anos por revis\u00f5es de suas legisla\u00e7\u00f5es de compras p\u00fablicas em conformidade com recomenda\u00e7\u00f5es da OCDE (Organiza\u00e7\u00e3o para a Coopera\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Econ\u00f4mico), t\u00eam legisla\u00e7\u00f5es bem mais enxutas, deixando para seus regulamentos (exarados pelo Poder Executivo) o maior detalhamento de procedimentos \u2013 ver Tabela 1. Na dire\u00e7\u00e3o oposta, o Brasil incorporou ao texto legal v\u00e1rios detalhes que antes eram regulamentados por diferentes decretos. \u00c9 o caso do Sistema de Registro de Pre\u00e7os e do preg\u00e3o eletr\u00f4nico. Outros detalhamentos — que sempre me esforcei sem sucesso para convencer os legisladores a deixar de fora da lei — dizem respeito aos modos de disputa \u2013 embora tenha de reconhecer que houve grandes avan\u00e7os no leque de modalidades oferecido pela lei.<\/p>\n TABELA 1<\/strong><\/p>\n GRAU DE DETALHAMENTO DAS LEIS E REGULAMENTOS EM PA\u00cdSES LATINOAMERICANOS DA OCDE<\/strong><\/p>\n