{"id":3397,"date":"2021-01-22T11:46:30","date_gmt":"2021-01-22T14:46:30","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3397"},"modified":"2021-01-22T11:49:46","modified_gmt":"2021-01-22T14:49:46","slug":"pib-per-capita-deixa-mais-evidente-a-pessima-situacao-da-economia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3397","title":{"rendered":"PIB ‘per capita’ deixa mais evidente a p\u00e9ssima situa\u00e7\u00e3o da economia"},"content":{"rendered":"

PIB \u2018per capita\u2019 deixa mais evidente a p\u00e9ssima situa\u00e7\u00e3o da economia<\/strong><\/h1>\n

Urge que o Pa\u00eds tome plena consci\u00eancia desse grav\u00edssimo problema e passe \u00e0 a\u00e7\u00e3o<\/em><\/p>\n

Por Roberto Macedo<\/em><\/p>\n

Continuo a pregar que o estado da economia \u00e9 muito pior do que muitos imaginam, e muita gente at\u00e9 ignora o que se passa. Em 16\/1\/2020 escrevi aqui um dos meus primeiros textos sobre o assunto. Nele usei as taxas anuais de varia\u00e7\u00e3o do produto interno bruto (PIB) total de 1901 a 2019, e suas m\u00e9dias por d\u00e9cadas revelaram dois movimentos. O primeiro, de forte tend\u00eancia de aumento, foi da primeira d\u00e9cada at\u00e9 a de 1970 \u2013 na qual o PIB total cresceu mais fortemente em todo o per\u00edodo \u2013, resultando numa taxa m\u00e9dia anual de 5,8%. No segundo movimento, desde a d\u00e9cada de 1980 a taxa m\u00e9dia anual das quatro d\u00e9cadas envolvidas caiu para apenas 2,4%. E a d\u00e9cada passada revelou-se a pior de toda a s\u00e9rie desde 1901!<\/p>\n

\u00c9 de estagna\u00e7\u00e3o esse segundo per\u00edodo, entremeado por recess\u00f5es e por uma depress\u00e3o, algo mais extenso e forte, que perdura desde 2015, e at\u00e9 hoje n\u00e3o voltamos ao PIB de 2014! No meu dicion\u00e1rio, uma estagna\u00e7\u00e3o ocorre quando o PIB n\u00e3o cresce \u00e0 altura do potencial econ\u00f4mico de um pa\u00eds. \u00c9 claramente o caso do Brasil. Acredito que com uma boa arruma\u00e7\u00e3o seu PIB poderia crescer bem mais do que vem crescendo desde 1980. Ainda n\u00e3o encontrei quem discordasse disso.<\/p>\n

Pretendia refazer esses c\u00e1lculos para o PIB\u00a0per capita<\/em>, j\u00e1 prevendo que os resultados de suas taxas seriam menores, pois elas descontam da varia\u00e7\u00e3o do PIB total a taxa de crescimento populacional. O PIB\u00a0per capita<\/em>\u00a0\u00e9 um melhor indicador do bem-estar da popula\u00e7\u00e3o ao levar em conta o crescimento dela e o seu tamanho, como em diferentes pa\u00edses.<\/p>\n

Mas em 15\/12\/2020 vi que o economista Cl\u00e1udio Considera, da Funda\u00e7\u00e3o Get\u00falio Vargas no Rio, entrevistado pelo jornal\u00a0Valor<\/em>, j\u00e1 havia elaborado uma s\u00e9rie do PIB\u00a0per capita<\/em>\u00a0desde 1901 at\u00e9 2020, e tamb\u00e9m outra do PIB total. Para definir d\u00e9cadas ele adotou crit\u00e9rio um pouco diferente do meu, em que cada d\u00e9cada conta a partir do ano zero, digamos, 1990, e vai a 1999, enquanto ele vai de 1991 a 2000. Mas isso deve ter afetado pouco as m\u00e9dias decenais.<\/p>\n

A entrevista mostrava gr\u00e1fico dessas m\u00e9dias para os dois PIBs. Tal como esperava, esse gr\u00e1fico mostrou aproximadamente os mesmos dois movimentos da s\u00e9rie que preparei. O primeiro, de forte aumento da primeira d\u00e9cada at\u00e9 a de 1970, com a taxa m\u00e9dia anual de 5,7% para o PIB total, bem perto da minha, de 5,8%, e de 3,2% para o PIB\u00a0per capita<\/em>. No segundo, essa taxa anual do PIB total cai fortemente para 2% a partir da d\u00e9cada de 1980, tamb\u00e9m perto da que calculei, de 2,4%, mas com maior diferen\u00e7a, pois Cl\u00e1udio Considera j\u00e1 incluiu o forte resultado negativo de 2020.<\/p>\n

Quanto ao PIB\u00a0per capita<\/em> a partir de 1980, seus resultados mostram uma taxa m\u00e9dia anual de apenas 0,5% nessas quatro d\u00e9cadas, inclu\u00eddas taxas negativas de -0,6% nas d\u00e9cadas de 1980 e 2010. E sabe-se que, comparado com pa\u00edses desenvolvidos e em desenvolvimento, o Brasil vem tendo um desempenho abaixo da m\u00e9dia tanto num PIB como no outro.<\/p>\n

Ou seja, estamos ficando para tr\u00e1s na corrida pelo desenvolvimento econ\u00f4mico. E n\u00e3o vejo clara percep\u00e7\u00e3o disso, nem provid\u00eancias concretas a esse respeito. No momento, quase que s\u00f3 se discute a tal recupera\u00e7\u00e3o em V depois da primeira onda da Covid-19. Mas mesmo que se completasse \u2013 ainda falta a recupera\u00e7\u00e3o do setor de servi\u00e7os \u2013 o PIB apenas estaria voltando a uma situa\u00e7\u00e3o que j\u00e1 era m\u00e1.<\/p>\n

Ao lado da vacina, vejo essa situa\u00e7\u00e3o dram\u00e1tica do PIB como a quest\u00e3o mais importante a ser enfrentada pelo Brasil, pois sem resolv\u00ea-la sempre faltar\u00e3o recursos para nossas muitas necessidades, algumas muito graves, e o Pa\u00eds continuar\u00e1 perdendo espa\u00e7o na corrida mundial pelo desenvolvimento, na qual, como dito, vem ficando para tr\u00e1s.<\/p>\n

Mas n\u00e3o vejo empenho do presidente da Rep\u00fablica nem do Congresso Nacional na busca de solu\u00e7\u00f5es para esse grav\u00edssimo problema. O primeiro n\u00e3o demonstra maior interesse pelo assunto e \u00e0s vezes at\u00e9 o agrava. Na atua\u00e7\u00e3o do Congresso no segundo semestre do ano passado, as elei\u00e7\u00f5es municipais receberam a aten\u00e7\u00e3o priorit\u00e1ria dos parlamentares. Depois disso s\u00f3 se fala na sucess\u00e3o do comando das duas Casas. E, para n\u00e3o variar, no Congresso continua o tal recesso parlamentar, tamb\u00e9m para lamentar, numa omiss\u00e3o no socorro de que o Pa\u00eds tanto carece.<\/p>\n

Para concluir transcrevo e subscrevo parte de um manifesto da Coaliz\u00e3o Ind\u00fastria, um grupo de 14 entidades do setor, entre elas a Eletros, da qual j\u00e1 fui presidente, pedindo \u201creformas j\u00e1\u201d, publicado em p\u00e1gina inteira do jornal\u00a0Valor<\/em>\u00a0do \u00faltimo dia 18: \u201cEst\u00e1 na hora de virar o jogo! Temos tudo para fazer isso. Para tanto, governos, candidatos \u00e0s presid\u00eancias da C\u00e2mara e do Senado, parlamentares, Judici\u00e1rio, empres\u00e1rios, trabalhadores, representantes da sociedade, todos precisam conscientizar-se da gravidade da situa\u00e7\u00e3o e dar os passos necess\u00e1rios para impedir o que, afinal, \u00e9 perfeitamente evit\u00e1vel: a perpetua\u00e7\u00e3o de uma economia de baixo crescimento e produtividade, incapaz de promover a melhoria na qualidade de vida da popula\u00e7\u00e3o\u201d.<\/p>\n

 <\/p>\n

\u00a0<\/em><\/strong>Roberto Macedo<\/em><\/strong> \u00e9 economista (UFMG, USP e\u00a0Harvard), professor s\u00eanior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/em><\/p>\n

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Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo<\/em> em 21 de janeiro de 2021.<\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

O autor sugere a tomada de a\u00e7\u00f5es imediatas para reverter o quadro de estagna\u00e7\u00e3o em que a economia brasileira se encontra h\u00e1 v\u00e1rios anos.<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[8,776],"tags":[66,809,808],"class_list":["post-3397","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-crescimento-e-eficiencia-da-economia","category-reproducoes","tag-crescimento-economico","tag-estagnacao","tag-pib-pib-per-capita"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3397","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3397"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3397\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3397"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3397"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3397"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}