{"id":3359,"date":"2020-11-10T15:48:44","date_gmt":"2020-11-10T18:48:44","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3359"},"modified":"2020-11-10T15:48:44","modified_gmt":"2020-11-10T18:48:44","slug":"inflacao-maior-mais-dinheiro-circulando-e-causa-muito-importante","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3359","title":{"rendered":"Infla\u00e7\u00e3o maior? Mais dinheiro circulando \u00e9 causa muito importante"},"content":{"rendered":"

Pre\u00e7os de alimentos, c\u00e2mbio e escassez de insumos t\u00eam recebido mais aten\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n

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Por Roberto Macedo<\/em><\/p>\n

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A infla\u00e7\u00e3o aumentou bastante com a chegada da Covid-19 e seus desdobramentos. O boletim semanal\u00a0Focus<\/em>, do Banco Central (BC), com previs\u00f5es de analistas do mercado financeiro, mostrou na \u00faltima sexta que a infla\u00e7\u00e3o vem crescendo h\u00e1 12 semanas, e sua previs\u00e3o para o IPCA de 2020 foi de 3,02%. Em 5\/6\/2020 a previs\u00e3o era de 1,53%, e havia ca\u00eddo desde o in\u00edcio do ano.<\/p>\n

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Outro \u00edndice do Focus, o IGP-M, agrega tr\u00eas \u00edndices. Com suas participa\u00e7\u00f5es, s\u00e3o eles o \u00cdndice de Pre\u00e7os ao Produtor, Amplo (60%), de produtos agropecu\u00e1rios e industriais, o \u00cdndice de Pre\u00e7os ao Consumidor (30%) e o \u00cdndice Nacional de Custo de Constru\u00e7\u00e3o (10%). Pelo boletim do BC da sexta passada, o IGP-M vem subindo h\u00e1 16 semanas, e desta vez a previs\u00e3o para a anual de 2020 subiu para 20,23% (!). No\u00a0Focus<\/em>\u00a0de 5\/6\/2020 a previs\u00e3o era de 5,21%, e j\u00e1 havia come\u00e7ado a subir. O IGP-M \u00e9 muito afetado pela taxa de c\u00e2mbio e a nossa moeda se desvalorizou bastante neste ano.<\/p>\n

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Em geral, an\u00e1lises do aumento da infla\u00e7\u00e3o em 2020 v\u00eam enfatizando tr\u00eas aspectos nele presentes. Os dois primeiros s\u00e3o o forte aumento dos pre\u00e7os de alimentos, como o arroz e o \u00f3leo de soja, e de pre\u00e7os industriais, atribu\u00eddo a uma escassez de insumos utilizados pelo setor. O terceiro \u00e9 a taxa de c\u00e2mbio, conforme j\u00e1 mencionado.<\/p>\n

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Contudo a infla\u00e7\u00e3o \u00e9 um fen\u00f4meno macroecon\u00f4mico complexo em suas origens e na sua din\u00e2mica. Usualmente se distingue uma infla\u00e7\u00e3o de custos, como a dos aspectos citados, mas cabe explicar por que tais custos aumentaram. E h\u00e1 a infla\u00e7\u00e3o de demanda, que pode ocorrer, por exemplo, quando um banco central amplia consideravelmente a oferta monet\u00e1ria e\/ou \u00e9 adotada uma pol\u00edtica fiscal expansionista, particularmente se focar no consumo, e n\u00e3o em investimentos. Essas duas fontes de infla\u00e7\u00e3o podem atuar em conjunto.<\/p>\n

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No que se segue, focarei na infla\u00e7\u00e3o de demanda, que tem recebido aten\u00e7\u00e3o muito escassa, mas vejo como muito importante, em raz\u00e3o de dois aspectos, o lado fiscal da pol\u00edtica macroecon\u00f4mica governamental e o lado monet\u00e1rio e credit\u00edcio da mesma pol\u00edtica.<\/p>\n

Do lado fiscal, como \u00e9 sabido, a pol\u00edtica governamental tornou-se fortemente expansionista, entre outras raz\u00f5es, pela ado\u00e7\u00e3o do aux\u00edlio emergencial e por outros disp\u00eandios voltados para a sa\u00fade. Isso teve o seu lado monet\u00e1rio mais claro no caso do aux\u00edlio emergencial, pois foi pago em dinheiro ou creditado em conta, alcan\u00e7ando dezenas de milh\u00f5es de pessoas.<\/p>\n

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Vejamos alguns n\u00fameros desses aspectos. E s\u00e3o de grande dimens\u00e3o. O papel-moeda em poder do p\u00fablico aumentou 35% entre mar\u00e7o e setembro de 2020, quando chegou a R$ 288 bilh\u00f5es. Mas em 2019 o seu aumento relativamente a 2018 foi apenas de 5%. Recorrendo \u00e0 mesma forma da compara\u00e7\u00e3o anterior, no caso dos dep\u00f3sitos banc\u00e1rios \u00e0 vista, os n\u00fameros foram 25%, R$ 277 bilh\u00f5es e 14%. A soma do papel-moeda com os dep\u00f3sitos \u00e0 vista, conhecida como meios de pagamento, ou M1, tamb\u00e9m na mesma forma de compara\u00e7\u00e3o, mostrou estes n\u00fameros: 30%, R$ 565 bilh\u00f5es e 9%. Esses dados s\u00e3o do BC e, como visto, mostraram aumentos significativos se comparados com os verificados em 2019, sem a Covid.<\/p>\n

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Outro caso interessante \u00e9 o das contas de poupan\u00e7a. Ele confirma que parte do aux\u00edlio emergencial foi parar a\u00ed, al\u00e9m de seu saldo total ter crescido tamb\u00e9m por outras raz\u00f5es. Esse saldo total aumentou 18% entre mar\u00e7o e setembro de 2020, ou R$ 152 bilh\u00f5es, quando, pela primeira vez, ultrapassou a imensa cifra de R$ 1 trilh\u00e3o. De outra fonte, o Fundo Garantidor de Cr\u00e9ditos, soube que o aumento foi mais forte nas contas de saldo mensal at\u00e9 R$ 5 mil, em que chegou a 55% (!), consistentemente com a ideia de que parte do aux\u00edlio emergencial ali ficou.<\/p>\n

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O Banco Central n\u00e3o inclui a poupan\u00e7a entre os meios de pagamento, mas as contas desse tipo s\u00e3o tamb\u00e9m utilizadas, em parte, como dep\u00f3sitos \u00e0 vista. Por exemplo, em setembro deste ano, quando o saldo total atingiu o recorde citado, houve dep\u00f3sitos de R$ 294 bilh\u00f5es e saques de R$ 281 bilh\u00f5es.<\/p>\n

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Do lado monet\u00e1rio, houve tamb\u00e9m aumento consider\u00e1vel das concess\u00f5es de cr\u00e9dito, resultante de medidas tomadas em apoio a pessoas f\u00edsicas e jur\u00eddicas. Segundo um relat\u00f3rio do BC, o saldo da carteira de cr\u00e9dito livre do sistema financeiro aumentou expressivos 26,5% para pessoas jur\u00eddicas e 8,7% para pessoas f\u00edsicas, entre setembro de 2019 e setembro de 2020.<\/p>\n

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Como se percebe, houve forte expans\u00e3o dos meios de pagamento ou, noutros termos, do dinheiro em circula\u00e7\u00e3o na forma de moeda e dep\u00f3sitos banc\u00e1rios, o que pesou e continuar\u00e1 pesando na infla\u00e7\u00e3o de 2020. Da\u00ed para a frente, se de fato o aux\u00edlio emergencial for suspenso e outros gastos com a Covid-19 forem significativamente reduzidos, ainda assim haver\u00e1 recursos para gastos, inclu\u00eddos os de segmentos mais pobres, e sabe-se que os de maior poder aquisitivo tamb\u00e9m pouparam mais. Isso poder\u00e1 sustentar uma infla\u00e7\u00e3o mais alta por algum tempo, ainda que tendo como contrapartida um impacto favor\u00e1vel na recupera\u00e7\u00e3o da economia.<\/p>\n

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Roberto Macedo<\/em><\/strong> \u00e9 economista (UFMG, USP e\u00a0Harvard), professor s\u00eanior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/em><\/p>\n

Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo<\/strong>, em 5 de novembro de 2020.<\/em><\/p>\n

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