{"id":3347,"date":"2020-10-20T12:17:14","date_gmt":"2020-10-20T15:17:14","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3347"},"modified":"2020-10-20T12:17:14","modified_gmt":"2020-10-20T15:17:14","slug":"o-que-fazer-com-a-poupanca-que-segue-aumentando","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3347","title":{"rendered":"O que fazer com a poupan\u00e7a, que segue aumentando?"},"content":{"rendered":"
Esse dinheiro podia ser usado para estimular a atividade econ\u00f4mica e a cria\u00e7\u00e3o de empregos<\/em><\/strong><\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n No dia 20 de agosto \u00faltimo abordei esse crescimento com dados at\u00e9 o m\u00eas anterior. Volto ao tema porque os dep\u00f3sitos na Caderneta de Poupan\u00e7a continuaram aumentando bastante em agosto e setembro, quando o saldo total nas contas desse tipo ultrapassou a enorme cifra de R$ 1 trilh\u00e3o (!), cerca de 13% do produto interno bruto (PIB).<\/p>\n <\/p>\n Para uma ideia do significado desse valor, foi neste ano que esses dep\u00f3sitos ultrapassaram os ativos totais das entidades de previd\u00eancia privada. Conforme a Associa\u00e7\u00e3o Brasileira das Entidades Fechadas de Previd\u00eancia Complementar (Abrapp), que em 2018 reunia 258 entidades, entre elas a Previ e a Petros, tais ativos somavam R$ 944 bilh\u00f5es em julho \u00faltimo, sem perspectivas de ultrapassar R$ 1 trilh\u00e3o este ano, pois em 2020 ca\u00edram R$ 5,7 bilh\u00f5es at\u00e9 julho. At\u00e9 o mesmo m\u00eas, o saldo total da poupan\u00e7a aumentou R$ 128,4 bilh\u00f5es e subiu R$156,2 bilh\u00f5es no ano at\u00e9 setembro. Cresceram principalmente pela diferen\u00e7a entre dep\u00f3sitos e retiradas, e uma parte bem menor pelos rendimentos da poupan\u00e7a, que at\u00e9 setembro somaram R$ 19 bilh\u00f5es.<\/p>\n <\/p>\n Outra raz\u00e3o para voltar ao assunto foi pesquisa recente dos economistas Jos\u00e9 Roberto Afonso e Thiago Abreu, envolvendo outro conceito de poupan\u00e7a, a ser publicada na revista Conjuntura Econ\u00f4mica<\/em>. Tive acesso a um resumo de suas conclus\u00f5es em mat\u00e9ria no jornal Valor<\/em> de dia 13. Essa pesquisa ser\u00e1 referida mais \u00e0 frente.<\/p>\n <\/p>\n Um aumento da poupan\u00e7a familiar em \u00e9pocas de crise costuma ocorrer, pois o receio de mais dificuldades \u00e0 frente estimula uma provis\u00e3o maior de recursos para enfrent\u00e1-las. O Brasil enfrenta uma seri\u00edssima crise econ\u00f4mico-social, que por si mesma pode ter estimulado a poupan\u00e7a, e em cima disso veio tamb\u00e9m um forte aux\u00edlio emergencial recebido da Caixa Econ\u00f4mica Federal, que creio ser a institui\u00e7\u00e3o preferida pelos que usam a caderneta. Assim, muitas contas antigas e novas devem ter recebido parte desse aux\u00edlio. \u00c9 fator que at\u00e9 aqui vejo como mais importante, mas o assunto est\u00e1 a exigir an\u00e1lise mais aprofundada, pois pode ter havido tamb\u00e9m um aumento de dep\u00f3sitos n\u00e3o vindos do aux\u00edlio emergencial.<\/p>\n <\/p>\n Sabe-se, por exemplo, que houve uma fuga dos fundos de renda fixa quando sua taxa de remunera\u00e7\u00e3o, com a queda da Selic, em alguns casos passou a ser inferior \u00e0 da poupan\u00e7a, dependendo da al\u00edquota do Imposto de Renda incidente sobre os rendimentos desses fundos e da taxa de administra\u00e7\u00e3o cobrada pelas institui\u00e7\u00f5es financeiras. \u00c9 poss\u00edvel que parte dessa fuga tenha ido para a poupan\u00e7a.<\/p>\n <\/p>\n O Banco Central deveria fazer um amplo estudo abrangendo esses e outros aspectos do forte aumento da poupan\u00e7a, pois conhec\u00ea-los seria crucial para examinar a possibilidade de ampliar financiamentos imobili\u00e1rios com esses recursos adicionais. Em particular, seria preciso saber se essas fontes s\u00e3o est\u00e1veis, pois se logo vierem saques desses recursos seria arriscado seu uso para tais financiamentos, usualmente de longo prazo.<\/p>\n <\/p>\n Passando ao estudo de Afonso e Abreu, ele seguiu tamb\u00e9m a hip\u00f3tese de poupan\u00e7a por precau\u00e7\u00e3o, e concluiu que \u201cnum cen\u00e1rio em que o PIB recue 5,4% e o consumo das fam\u00edlias, 7,2%, o aumento da taxa de poupan\u00e7a chegar\u00e1 a 6,7% (…) da renda familiar, atingindo 20,2% do total, ante (…) 13,5% estimados em 2019\u201d. E, citando Affonso: \u201cO grande desafio macroecon\u00f4mico \u00e9 transformar essa poupan\u00e7a em investimento (…). E que (…), com isso, se consiga disparar o processo de cria\u00e7\u00e3o de renda e emprego\u201d. O conceito de poupan\u00e7a adotado pelo estudo, dado pela diferen\u00e7a entre renda dispon\u00edvel em geral e o consumo, indica um aumento bem maior da poupan\u00e7a do que o observado apenas nas cadernetas. Ignoro se os autores tamb\u00e9m trataram da poupan\u00e7a empresarial, e se abordaram a quest\u00e3o da estabilidade de recursos, mencionada acima. Pretendo voltar ao tema ap\u00f3s acessar o estudo citado.<\/p>\n <\/p>\n Para a poupan\u00e7a adicional dispon\u00edvel Afonso e Abreu prop\u00f5em um novo arranjo institucional e financeiro, para criar um cen\u00e1rio mais favor\u00e1vel em que \u201cos bancos poderiam oferecer cr\u00e9dito de longo prazo para as empresas investirem, e criar produtos para captar dinheiro das fam\u00edlias para essa finalidade\u201d. Entendi que tamb\u00e9m querem mais recursos para a infraestrutura, com o que concordo. No meu artigo citado propus que, se n\u00e3o houvesse demanda suficiente de financiamentos habitacionais, o governo poderia, seguindo procedimento utilizado no passado, autorizar que as institui\u00e7\u00f5es financeiras direcionassem parte dos recolhimentos compuls\u00f3rios do Banco Central sobre dep\u00f3sitos de poupan\u00e7a para adquirir pap\u00e9is emitidos pelo BNDES. Neste os recursos assim recebidos poderiam financiar investimentos n\u00e3o habitacionais.<\/p>\n <\/p>\n Assim, enquanto na \u00e1rea fiscal o governo enfrenta severa escassez de recursos, h\u00e1 essa dinheirama nova nas contas de poupan\u00e7a e impl\u00edcita na contra\u00e7\u00e3o mais geral do consumo, conforme o estudo citado. O governo precisa examinar a viabilidade de us\u00e1-la para estimular as ainda fracas atividade econ\u00f4mica e cria\u00e7\u00e3o de empregos.<\/p>\n <\/p>\n \u00a0<\/em><\/p>\n \u00a0<\/em><\/p>\n Roberto Macedo<\/em><\/strong> \u00e9 economista (UFMG, USP e\u00a0Harvard), professor s\u00eanior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/em><\/p>\n \u00a0<\/em><\/p>\n \u00a0<\/em><\/p>\n Artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo<\/strong>, em 15 de outubro de 2020.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" No dia 20 de agosto \u00faltimo abordei esse crescimento com dados at\u00e9 o m\u00eas anterior. Volto ao tema porque os dep\u00f3sitos na Caderneta de Poupan\u00e7a continuaram aumentando bastante em agosto e setembro, quando o saldo total nas contas desse tipo ultrapassou a enorme cifra de R$ 1 trilh\u00e3o (!), cerca de 13% do produto interno bruto (PIB).<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[8,776],"tags":[],"class_list":["post-3347","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-crescimento-e-eficiencia-da-economia","category-reproducoes"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3347","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3347"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3347\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3347"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3347"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3347"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}