{"id":3324,"date":"2020-09-08T12:00:26","date_gmt":"2020-09-08T15:00:26","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3324"},"modified":"2020-09-08T12:01:16","modified_gmt":"2020-09-08T15:01:16","slug":"pib-afundou-ainda-mais-no-buraco-onde-esta-desde-2015","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3324","title":{"rendered":"PIB afundou ainda mais no buraco onde est\u00e1 desde 2015"},"content":{"rendered":"
A economia est\u00e1 sujeita a conveni\u00eancias pol\u00edticas que a levaram por maus caminhos<\/b><\/p>\n
<\/p>\n
O relat\u00f3rio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica (IBGE) sobre o produto interno bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano \u00e9 um amontoado de m\u00e1s not\u00edcias. A queda relativamente ao primeiro trimestre foi de 9,7%, a pior da s\u00e9rie iniciada em… 1996 (!).\u00a0<\/span><\/p>\n <\/p>\n E mais: vendo outros n\u00fameros do documento, conclu\u00ed que o PIB voltou ao valor que teve no segundo trimestre de… 2009 (!). Alguns analistas dir\u00e3o que come\u00e7ou uma recess\u00e3o t\u00e9cnica, dada a conven\u00e7\u00e3o de que duas taxas trimestrais consecutivas de queda do PIB a caracterizam, e a do trimestre anterior tamb\u00e9m foi negativa. Foi de -1,5% e passou a -2,5% na nova divulga\u00e7\u00e3o. Como a economia est\u00e1 em recupera\u00e7\u00e3o no trimestre atual, nele a taxa relativa ao anterior ser\u00e1 positiva, o que, dada a mesma conven\u00e7\u00e3o, levar\u00e1 ao fim da recess\u00e3o.<\/span><\/p>\n <\/p>\n Como noutros artigos, insisto que essa vis\u00e3o \u00e9 muito estreita. Cabe situ\u00e1-la num contexto temporal maior, retornando a 2015, quando, nesse ano e em 2016, o PIB caiu num buraco medindo perto de 6% do seu valor. Entre 2017 e 2019 rastejou rumo \u00e0 superf\u00edcie apenas a taxas pr\u00f3ximas de 1% ao ano, e assim ficou nesse buraco que \u00e9 uma depress\u00e3o, algo mais forte e duradouro que uma recess\u00e3o, e agora ainda mais grave. E repito outra p\u00e9ssima not\u00edcia: a de que a economia tamb\u00e9m est\u00e1 em estagna\u00e7\u00e3o desde os anos 1980, status em que ela cresce abaixo do seu potencial.<\/span><\/p>\n <\/p>\n Meu objetivo com esse quadro \u00e9 mostrar a enorme dimens\u00e3o das dificuldades em que nossa economia se meteu, para ver se nossos pol\u00edticos, autoridades p\u00fablicas e a sociedade em geral refletem, caem nessa realidade e atuam em sentido contr\u00e1rio.\u00a0<\/span><\/p>\n <\/p>\n Por d\u00e9cadas ela foi desarrumada por pol\u00edticos e autoridades p\u00fablicas. Muitas vezes sob press\u00e3o ou b\u00ean\u00e7\u00e3o da pr\u00f3pria sociedade e de grupos organizados dentro dela, que acreditam caber predominantemente ao governo atender a seus anseios, sem considerar os custos. \u00c0s vezes, at\u00e9 inescrupulosamente.\u00a0<\/span><\/p>\n <\/p>\n Emblem\u00e1tico dessa situa\u00e7\u00e3o \u00e9 o estado do Rio de Janeiro. Ali, segundo o site Poder360, seis governadores foram afastados ou presos nos \u00faltimos quatro anos, um permanece detido e quatro recorrem em liberdade. \u00c9 uma pena. Gilberto Gil gravou um de seus sucessos em 1969, <\/span>Aquele Abra\u00e7o<\/span><\/i>, cuja letra assim come\u00e7a: \u201cO Rio de Janeiro continua lindo…\u201d. Falava da capital, onde a trag\u00e9dia agora se concentra. Hoje teria de acrescentar: mas s\u00f3 nas fotos a\u00e9reas. No notici\u00e1rio, o Rio tamb\u00e9m se destaca pelos malfeitos com verbas destinadas ao combate \u00e0 Covid-19, o que pode ter levado a mais mortes.<\/span><\/p>\n <\/p>\n Um PIB que seguiu pelo mau caminho acima descrito prejudica muito o emprego e leva a um desastre tamb\u00e9m social. Sintom\u00e1ticos dele s\u00e3o os dados mostrados por Marcelo Silva, do <\/span>Brazil Journal<\/span><\/i>. Em n\u00fameros redondos, o Brasil tem 213 milh\u00f5es de habitantes.<\/span><\/p>\n <\/p>\n Descontados idosos e crian\u00e7as at\u00e9 14 anos, 173 milh\u00f5es estariam dispon\u00edveis para integrar a chamada for\u00e7a de trabalho, mas 77 milh\u00f5es est\u00e3o fora dela, em parte por terem desistido de procurar emprego em face da m\u00e1 situa\u00e7\u00e3o do mercado laboral. Assim a for\u00e7a de trabalho efetiva se limita a 96 milh\u00f5es, dos quais 13 milh\u00f5es est\u00e3o desempregados, e os ocupados s\u00e3o 83 milh\u00f5es, entre eles 32 milh\u00f5es sem carteira profissional ou CNPJ, com o que os ocupados com esses documentos s\u00e3o apenas 51 milh\u00f5es. Socialmente, isso implica ser uma enormidade o n\u00famero de pessoas sem assist\u00eancia e sem renda, em particular neste momento.\u00a0<\/span><\/p>\n <\/p>\n O Pa\u00eds n\u00e3o \u00e9 rico, seu enorme or\u00e7amento governamental \u00e9 absorvido por prioridades e \u201cprioridades\u201d, e o atendimento social \u00e9 prec\u00e1rio. O aux\u00edlio emergencial de R$ 600 reais mensais foi uma boa ajuda, mas ser\u00e1 reduzido para R$ 300, por mais quatro meses. N\u00e3o h\u00e1 como mant\u00ea-lo indefinidamente com maior d\u00e9ficit e endividamento. Em n\u00fameros, o de R$ 600 custava R$ 51,5 bilh\u00f5es por m\u00eas, cerca de 70% mais do que o governo gasta por ano com o Bolsa Fam\u00edlia, reconhecido pelo enorme alcance social.<\/span><\/p>\n <\/p>\n Noutra compara\u00e7\u00e3o, feita por Felipe Salto, diretor executivo da Institui\u00e7\u00e3o Fiscal Independente, do Senado, nesta mesma p\u00e1gina, na segunda-feira, se o aux\u00edlio de R$ 600 permanecesse, totalizaria R$ 618 bilh\u00f5es por ano, o que equivaleria a quase todo o gasto do INSS no ano passado, de R$ 627 bilh\u00f5es. Acrescento que seria como colocar outro INSS no Or\u00e7amento. \u00c9 algo impens\u00e1vel, dado o desastre or\u00e7ament\u00e1rio a que levaria, tendo como consequ\u00eancia, entre outras, outro forte aumento da d\u00edvida p\u00fablica e subidas da taxa de c\u00e2mbio, da infla\u00e7\u00e3o, dos juros e da desconfian\u00e7a de investidores, prejudicando ainda mais o PIB.\u00a0<\/span><\/p>\n <\/p>\n O que fazer? A economia est\u00e1 sujeita a conveni\u00eancias pol\u00edticas que a levaram por maus caminhos. Por isso enfatizo tanto a gravidade da situa\u00e7\u00e3o, na esperan\u00e7a de levar seus respons\u00e1veis ao que chamaria de psicoterapias de grupos para uma an\u00e1lise profunda do que se passa e \u00e0 busca de consensos majorit\u00e1rios para sair dela, sem ficar s\u00f3 no palavr\u00f3rio e papel\u00f3rio que n\u00e3o resolvem problemas. Tudo deveria convergir para a\u00e7\u00f5es eficazes e r\u00e1pidas para solucion\u00e1-los.\u00a0<\/span><\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n \u00a0Artigo publicado no jornal <\/span>O Estado de S. Paulo<\/span>, em 3 de setembro de 2020.<\/span><\/em><\/p>\n <\/p>\n Roberto Macedo<\/strong> \u00e9 economista (UFMG, USP e\u00a0Harvard), professor s\u00eanior da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" O relat\u00f3rio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica (IBGE) sobre o produto interno bruto (PIB) do segundo trimestre deste ano \u00e9 um amontoado de m\u00e1s not\u00edcias. A queda relativamente ao primeiro trimestre foi de 9,7%, a pior da s\u00e9rie iniciada em… 1996 (!).\u00a0<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[8,776],"tags":[],"class_list":["post-3324","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-crescimento-e-eficiencia-da-economia","category-reproducoes"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3324","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3324"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3324\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3324"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3324"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3324"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}