{"id":3315,"date":"2020-08-25T16:31:56","date_gmt":"2020-08-25T19:31:56","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3315"},"modified":"2020-08-28T13:41:48","modified_gmt":"2020-08-28T16:41:48","slug":"poupanca-aumentou-mas-precisa-ser-investida","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3315","title":{"rendered":"Poupan\u00e7a aumentou, mas precisa ser investida"},"content":{"rendered":"
Instabilidade dos recursos depositados pode prejudicar seu uso para investimentos<\/span><\/p>\n Em 1.\u00ba de setembro vir\u00e1 do IBGE uma p\u00e9ssima not\u00edcia sobre a varia\u00e7\u00e3o do produto interno bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano. As estimativas giram em torno de menos 9%(!). A queda foi forte em abril, depois disso a economia vem se recuperando e as previs\u00f5es para a redu\u00e7\u00e3o do PIB em 2020 est\u00e3o perto de 5%, taxa tamb\u00e9m muito alta.\u00a0<\/span><\/p>\n Ademais, a pandemia da Covid-19 pegou a economia em depress\u00e3o, iniciada em 2015, quando o PIB caiu 3,55%, e teve outra queda, de 3,28%, em 2016. No tri\u00eanio seguinte vieram taxas positivas: 1,32% (2017), 1,32% (2018) e 1,14% (2019), que, grosso modo, s\u00f3 cobriram metade da queda no bi\u00eanio anterior, e assim n\u00e3o retornou o PIB a seu valor em 2014(!). Fazendo o PIB desse ano=100, ele chegou a 97,1 em 2019. Se cair os referidos 5% neste ano, passar\u00e1 a 92,2. Para voltar a 100 precisaria crescer 8,7%, o que numa hip\u00f3tese otimista tomaria cerca de tr\u00eas anos, com a recess\u00e3o comprometendo ainda o primeiro quinqu\u00eanio da d\u00e9cada atual.<\/span><\/p>\n No andar dessa tr\u00f4pega carruagem, como o PIB caiu 1,5% no primeiro trimestre de 2020, a nova queda ser\u00e1 apontada por alguns analistas como o in\u00edcio de uma \u201crecess\u00e3o t\u00e9cnica\u201d. Uma conven\u00e7\u00e3o entre economistas diz que ela vem com duas quedas consecutivas do PIB trimestral. Ora, o importante \u00e9 dizer que a economia ter\u00e1 afundado ainda mais na depress\u00e3o que come\u00e7ou em 2015! Depress\u00e3o \u00e9 algo mais forte e duradouro que recess\u00e3o.<\/span><\/p>\n Agora, uma boa not\u00edcia. De mar\u00e7o at\u00e9 julho \u00faltimo, a caderneta de poupan\u00e7a, doravante apenas poupan\u00e7a, teve capta\u00e7\u00e3o l\u00edquida \u2013 dep\u00f3sitos menos retiradas \u2013 fortemente positiva, de R$127,5 bilh\u00f5es, valor perto de quatro vezes o despendido anualmente pelo programa Bolsa Fam\u00edlia. Outra ideia dessa enorme dimens\u00e3o \u00e9 que o ministro Paulo Guedes anda \u00e0s turras com uma ala do governo em torno de verba de \u201capenas\u201d R$ 5 bilh\u00f5es, que essa ala quer gastar com investimentos p\u00fablicos.<\/span><\/p>\n Mas poupar mais \u00e9 bom para a economia financiar novos investimentos em forma\u00e7\u00e3o de capital, como f\u00e1bricas, habita\u00e7\u00f5es e obras de infraestrutura, que geram emprego e renda e levam ao desenvolvimento sustent\u00e1vel. N\u00e3o \u00e9 simples fazer essa poupan\u00e7a virar investimentos. N\u00e3o se sabe se esse dinheiro ficar\u00e1 permanentemente na poupan\u00e7a, enquanto os investimentos que financiasse seriam pagos a longo prazo, podendo haver um desequil\u00edbrio financeiro se a poupan\u00e7a for sacada no curto prazo. Tamb\u00e9m pode faltar demanda para novos financiamentos, como o habitacional, que tem na poupan\u00e7a sua fonte principal.<\/span><\/p>\n Uma quest\u00e3o a ser investigada pelo Banco Central (BC) \u00e9 conhecer a origem desses recursos. Ainda n\u00e3o vi dados a respeito, mas provavelmente uma parte veio do pagamento do aux\u00edlio emergencial de R$ 600 por m\u00eas criado pelo governo. Muitos que o receberam podem t\u00ea-lo deixado na poupan\u00e7a como precau\u00e7\u00e3o para ter com o que contar mais \u00e0 frente. Se isso ocorreu em grande magnitude, seria um risco quanto \u00e0 instabilidade dos recursos captados.\u00a0<\/span><\/p>\n Sabe-se tamb\u00e9m que houve uma fuga para a poupan\u00e7a de parte do dinheiro que saiu dos fundos de renda fixa, que perderam R$ 196 bilh\u00f5es entre dezembro de 2019 e junho de 2020. Dep\u00f3sitos na poupan\u00e7a rendem 70% da Selic, que caiu para 2% ao ano, ou seja, 1,4% ao ano. Mesmo com essa taxa, a poupan\u00e7a tornou-se competitiva diante de fundos que pagam pr\u00f3ximo de 2% ao ano, mas, ao contr\u00e1rio da poupan\u00e7a, cobram taxa de administra\u00e7\u00e3o. E h\u00e1 tamb\u00e9m o Imposto de Renda (IR) nos fundos, n\u00e3o cobrado na poupan\u00e7a de pessoas f\u00edsicas. Mesmo sem contar o IR, um fundo com 0,7% de taxa de administra\u00e7\u00e3o ao ano perderia para a poupan\u00e7a, pois seu rendimento com a Selic atual ficaria perto de 1,3% ao ano. De maio para junho os fundos desse tipo perderam R$ 196 bilh\u00f5es, mas n\u00e3o sei quanto foi para a poupan\u00e7a. Em princ\u00edpio, o que foi seria um recurso mais est\u00e1vel do que o dinheiro do aux\u00edlio emergencial.<\/span><\/p>\n Li que o BC est\u00e1 monitorando esse forte crescimento da poupan\u00e7a, para evitar riscos como o apontado acima quanto a seu uso no financiamento habitacional. Mas esse monitoramento precisa ser r\u00e1pido, pois tamb\u00e9m poderia indicar a viabilidade de mais financiamentos habitacionais, algo de que o Brasil carece, e muito. Haveria demanda? Em junho deste ano o financiamento imobili\u00e1rio cresceu 52% relativamente ao mesmo m\u00eas de 2019, segundo o jornal <\/span>Valor<\/span><\/i> do \u00faltimo dia 18. Mas o volume ainda foi pequeno diante do potencial de recursos que chegaram \u00e0 poupan\u00e7a. O valor foi de R$ 9,3 bilh\u00f5es, enquanto de janeiro a maio variou entre R$ 6,4 bilh\u00f5es e R$ 7,1 bilh\u00f5es.\u00a0<\/span><\/p>\n Se houver mesmo problema na demanda, h\u00e1 alternativa tamb\u00e9m por examinar. Em 25\/11\/2008 o BC autorizou as institui\u00e7\u00f5es financeiras a direcionar parte de seus recolhimentos compuls\u00f3rios sobre dep\u00f3sitos a prazo para adquirirem pap\u00e9is emitidos pelo BNDES, financiando-o. Esses recolhimentos sobre a poupan\u00e7a s\u00e3o de 20% sobre os dep\u00f3sitos, e tamb\u00e9m cresceram muito com o grande aporte mencionado. No BNDES, os recursos assim recebidos poderiam financiar investimentos n\u00e3o habitacionais.<\/span><\/p>\n <\/p>\n Artigo publicado no jornal <\/span>O Estado de S. Paulo<\/span><\/i>, em 20 de agosto de 2020.<\/span><\/p>\n <\/p>\n Roberto Macedo<\/strong> \u00e9 <\/span><\/i>Economista (UFMG, USP e Harvard), professor s\u00eanior\u00a0da USP e membro do Instituto Fernand Braudel.<\/span><\/p>\n <\/p>\n <\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" Em 1.\u00ba de setembro vir\u00e1 do IBGE uma p\u00e9ssima not\u00edcia sobre a varia\u00e7\u00e3o do produto interno bruto (PIB) no segundo trimestre deste ano. As estimativas giram em torno de menos 9%(!). A queda foi forte em abril, depois disso a economia vem se recuperando e as previs\u00f5es para a redu\u00e7\u00e3o do PIB em 2020 est\u00e3o perto de 5%, taxa tamb\u00e9m muito alta.\u00a0<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[8,776],"tags":[],"class_list":["post-3315","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-crescimento-e-eficiencia-da-economia","category-reproducoes"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3315","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3315"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3315\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3315"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3315"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3315"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}