{"id":3272,"date":"2020-07-09T12:21:09","date_gmt":"2020-07-09T15:21:09","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=3272"},"modified":"2020-07-09T12:22:53","modified_gmt":"2020-07-09T15:22:53","slug":"mais-sobre-a-gravissima-situacao-da-economia-brasileira","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=3272","title":{"rendered":"Mais sobre a grav\u00edssima situa\u00e7\u00e3o da economia brasileira"},"content":{"rendered":"
A pandemia da covid-19 pegou a economia fragilizada por depress\u00e3o que a acometeu desde 2015, come\u00e7ando ent\u00e3o com uma \u201crecess\u00e3o t\u00e9cnica\u201d, que os economistas definem como uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) por dois trimestres consecutivos. Vieram oito quedas trimestrais, prejudicando todo o bi\u00eanio 2015-2016. Essa recess\u00e3o s\u00f3 findou ap\u00f3s o aumento do PIB por dois trimestres consecutivos, no in\u00edcio de 2017. Mas esse crescimento foi fraco, e isso continuou em 2018 e 2019, sem que o PIB voltasse ao seu valor de 2014.<\/p>\n
Em n\u00fameros: as taxas de varia\u00e7\u00e3o do PIB nesse per\u00edodo foram -3,55% (2015), -3,28% (2016), 1,32% (2017), 1,32% (2018) e 1,14 (2019). Do que fica claro que as positivas dos \u00faltimos tr\u00eas anos n\u00e3o reconduziram o PIB ao seu valor de 2014. Usando um \u00edndice, com o PIB de 2014 = 100, ele chegou a 97,1 em 2019. E mais: a julgar pela varia\u00e7\u00e3o do PIB prevista para 2020 pelo \u00faltimo boletim Focus, do Banco Central \u2013 uma queda de 6,5% \u2013, o \u00edndice deste ano cairia para 90,8, bem mais longe do valor 100 de 2014, acumulando queda de 9,2% (!) relativamente a ele.<\/p>\n
\u00c9 como se o PIB ca\u00edsse num buraco em 2015, fosse mais fundo em 2016 e, ap\u00f3s rastejar rumo \u00e0 superf\u00edcie no tri\u00eanio seguinte, ainda n\u00e3o havia chegado l\u00e1 em 2019. Esse buraco configura uma depress\u00e3o, algo mais forte e duradouro do que uma recess\u00e3o.<\/p>\n
Para complicar, e muito, esse quadro, 2020 come\u00e7ou mal e segue ainda pior. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estat\u00edstica (IBGE) divulgou o PIB do primeiro trimestre e, j\u00e1 atingido em mar\u00e7o pela pandemia em andamento, seu valor teve contra\u00e7\u00e3o de 1,5%. A queda no segundo trimestre dever\u00e1 ser bem maior e, pelo referido conceito de \u201crecess\u00e3o t\u00e9cnica\u201d, haver\u00e1 quem diga que o Brasil ter\u00e1 iniciado nova recess\u00e3o. Para um diagn\u00f3stico mais adequado, contudo, \u00e9 preciso acrescentar que ser\u00e1 outra recess\u00e3o dentro da mesma depress\u00e3o em andamento. E para quem optar, como usualmente fa\u00e7o, por diagn\u00f3stico que tamb\u00e9m alcance passado mais long\u00ednquo, essa depress\u00e3o surgiu no contexto de uma estagna\u00e7\u00e3o, definida como um crescimento do PIB abaixo do seu potencial, o que aqui ocorre desde a d\u00e9cada de 1980!<\/p>\n
Com esse forte aumento do buraco em que a economia se meteu desde 2015, o ministro da Economia, Paulo Guedes teve de acomodar suas cren\u00e7as liberais \u00e0 dura realidade imposta pela pandemia em curso, partindo para forte a\u00e7\u00e3o intervencionista, conhecida como keynesiana, aumentando fortemente o d\u00e9ficit e a d\u00edvida do governo. Tamb\u00e9m n\u00e3o vi outra op\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
Nesse contexto, h\u00e1 quem enfatize que os maiores gastos do governo tamb\u00e9m estimulam a economia, como no caso do aux\u00edlio emergencial em tr\u00eas presta\u00e7\u00f5es mensais de R$ 600, e as \u00faltimas not\u00edcias s\u00e3o de que haver\u00e1 mais duas. Mas as reflex\u00f5es n\u00e3o podem parar por a\u00ed. Boa parte desse dinheiro foi para contas de poupan\u00e7a, tanto porque houve limita\u00e7\u00f5es da Caixa ao seu disp\u00eandio imediato, como tamb\u00e9m porque numa crise h\u00e1 quem opte por poupar mais em face do seu medo do que vem pela frente.<\/p>\n
Outro fator relevante a ponderar \u00e9 que, com a forte queda do PIB, indicadores importantes da situa\u00e7\u00e3o financeira do governo, como o da sua d\u00edvida como propor\u00e7\u00e3o do PIB, v\u00e3o se agravar, tanto pelo forte aumento da d\u00edvida quanto pela tamb\u00e9m forte redu\u00e7\u00e3o do PIB. Isso vai provocar novas incertezas quanto ao futuro da economia, em particular nos investidores, e em preju\u00edzo da retomada do crescimento.<\/p>\n
Al\u00e9m disso, ao aumentar sua d\u00edvida o governo toma dinheiro emprestado de empresas e fam\u00edlias que poupam e investem na expans\u00e3o da capacidade produtiva do Pa\u00eds uma propor\u00e7\u00e3o maior de seus recursos do que o governo, o que tamb\u00e9m prejudica o crescimento do PIB.<\/p>\n
Em resumo, a grav\u00edssima situa\u00e7\u00e3o da economia coloca o Brasil diante de um imenso desafio, e o governo e sua equipe econ\u00f4mica precisam mostrar claramente como pretendem enfrent\u00e1-lo, sem o que a desconfian\u00e7a quanto ao futuro aumentar\u00e1, em preju\u00edzo das decis\u00f5es de consumir e investir e, assim, tamb\u00e9m do PIB. Est\u00e1 faltando um rumo claro e confi\u00e1vel para a retomada do crescimento.<\/p>\n
Concluo com uma percep\u00e7\u00e3o n\u00e3o t\u00e3o ruim quanto \u00e0 covid-19 no Brasil. Aqui o notici\u00e1rio, como de h\u00e1bito, enfatiza mais as m\u00e1s not\u00edcias, e destaca n\u00fameros acumulados de casos e de mortes, o que sempre leva a novos recordes. Examino mais o n\u00famero de mortes por dia, sempre olhando como fica o Brasil num gr\u00e1fico atualizado diariamente pelo jornal Financial Times, que apresenta esse n\u00famero em m\u00e9dia m\u00f3vel de sete dias, e alcan\u00e7a dezenas de outros pa\u00edses. Ontem esse gr\u00e1fico continuava a mostrar o Brasil como o que tem o maior n\u00famero, mas este est\u00e1 est\u00e1vel h\u00e1 cerca de 25 dias, em torno de mil mortes por dia, e n\u00e3o \u00e9 recorde internacional. Isso estaria a indicar que o impacto da doen\u00e7a se estabilizou, s\u00f3 que sem come\u00e7ar a cair, como na maioria dos pa\u00edses, os quais mostram antes da queda uma estabiliza\u00e7\u00e3o mais curta do que a evidenciada pelo Brasil. Tal situa\u00e7\u00e3o permanece muito grave, mas pelo menos n\u00e3o tanto como os n\u00fameros que aqui mais frequentam as manchetes.<\/p>\n
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Artigo publicado no jornal\u00a0O Estado de S.Paulo<\/strong>\u00a0em 2 de julho de 2020.<\/em><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":" A pandemia da covid-19 pegou a economia fragilizada por depress\u00e3o que a acometeu desde 2015, come\u00e7ando ent\u00e3o com uma \u201crecess\u00e3o t\u00e9cnica\u201d, que os economistas definem como uma queda do Produto Interno Bruto (PIB) por dois trimestres consecutivos. Vieram oito quedas trimestrais, prejudicando todo o bi\u00eanio 2015-2016. Essa recess\u00e3o s\u00f3 findou ap\u00f3s o aumento do PIB por dois trimestres consecutivos, no in\u00edcio de 2017. Mas esse crescimento foi fraco, e isso continuou em 2018 e 2019, […]<\/p>\n","protected":false},"author":125,"featured_media":0,"comment_status":"open","ping_status":"closed","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_monsterinsights_skip_tracking":false,"_monsterinsights_sitenote_active":false,"_monsterinsights_sitenote_note":"","_monsterinsights_sitenote_category":0,"footnotes":""},"categories":[780,8],"tags":[],"class_list":["post-3272","post","type-post","status-publish","format-standard","hentry","category-coronavirus","category-crescimento-e-eficiencia-da-economia"],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3272","targetHints":{"allow":["GET"]}}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/users\/125"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcomments&post=3272"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=\/wp\/v2\/posts\/3272\/revisions"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fmedia&parent=3272"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Fcategories&post=3272"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/index.php?rest_route=%2Fwp%2Fv2%2Ftags&post=3272"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}