{"id":2761,"date":"2016-03-24T09:48:32","date_gmt":"2016-03-24T12:48:32","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=2761"},"modified":"2016-03-24T09:48:32","modified_gmt":"2016-03-24T12:48:32","slug":"por-que-o-fator-previdenciario-nao-adia-as-aposentadorias","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=2761","title":{"rendered":"Por que o fator previdenci\u00e1rio n\u00e3o adia as aposentadorias?"},"content":{"rendered":"
Em 2002, o israelense Daniel Kahneman foi o primeiro psic\u00f3logo a receber o pr\u00eamio Nobel em Economia, por \u201cintegrar insights da psicologia \u00e0 ci\u00eancia econ\u00f4mica<\/em>\u201d1<\/sup>. Kahneman, \u00e9 a principal refer\u00eancia do campo conhecido como \u201cEconomia Comportamental\u201d, \u00e1rea \u201cproveniente da incorpora\u00e7\u00e3o, pela economia, de desenvolvimentos te\u00f3ricos e descobertas emp\u00edricas no campo da psicologia\u201d<\/em>2<\/sup>. O enfoque da economia comportamental vai ao sentido de aprimorar a concep\u00e7\u00e3o do ser humano tido como \u201cexcessivamente\u201d racional na teoria econ\u00f4mica tradicional, concep\u00e7\u00e3o que \u00e9 pejorativamente conhecida como \u201chomo economicus<\/em>\u201d.<\/p>\n Mais recentemente, a economia comportamental saiu da academia e chegou aos governos, orientando em muitos pa\u00edses a implanta\u00e7\u00e3o de pol\u00edticas p\u00fablicas (conforme discutido no blog aqui<\/a>).\u00a0 Uma quest\u00e3o que \u00e9 especialmente relevante para a economia comportamental \u00e9 a aposentadoria. Segundo Sunstein (2013):<\/p>\n de acordo com a teoria econ\u00f4mica padr\u00e3o, as pessoas ir\u00e3o considerar tanto o curto prazo quanto o longo prazo. N\u00f3s temos em conta as incertezas; n\u00f3s sabemos que o futuro \u00e9 imprevis\u00edvel e que grandes mudan\u00e7as podem acontecer.<\/p>\n No entanto, o que se verifica frequentemente segundo Sunstein (2013) s\u00e3o escolhas por op\u00e7\u00f5es com \u201cbenef\u00edcios l\u00edquidos de curto prazo e custos l\u00edquidos de longo prazo<\/em>\u201d. Segundo o autor, decis\u00f5es \u201cm\u00edopes\u201d e curtoprazistas ocorrem em parte porque as pessoas simplesmente n\u00e3o conseguem considerar interesses futuros como sendo de fato seus.<\/p>\n Por sua vez, Hershfield et. al (2011) realizaram experimento usando \u201crealidade virtual imersiva\u201d3<\/sup>, em que parte dos participantes eram inseridos em um avatar, uma representa\u00e7\u00e3o visual de seus corpos e rostos no futuro: observou-se que aqueles que se \u201cvisualizaram\u201d no futuro exibiram tend\u00eancia maior de aceitar recompensas financeiras posteriores ao inv\u00e9s de recompensas imediatas. Os pesquisadores defendem que a dificuldade de os indiv\u00edduos se visualizarem aposentados seria respons\u00e1vel por uma crise de poupan\u00e7a para aposentadoria nos Estados Unidos, relacionada \u00e0 inclina\u00e7\u00e3o das pessoas de colocar maior peso na gratifica\u00e7\u00e3o de curto prazo em rela\u00e7\u00e3o aos ganhos de longo prazo.<\/p>\n Ariely (2008) avalia ser uma fraqueza humana comum ceder a \u201cimpulsos\u201d durante a consecu\u00e7\u00e3o de objetivos de longo prazo, dificuldade que estaria na raiz de problemas t\u00e3o diversos quanto se manter em uma dieta ou conseguir uma aposentadoria satisfat\u00f3ria. O fracasso \u2014 repetidamente \u2014 em alcan\u00e7ar esses objetivos seria a fonte de boa parte da \u201cmis\u00e9ria\u201d humana: \u201ctemos problemas com autocontrole, relacionados \u00e0 gratifica\u00e7\u00e3o imediata e (gratifica\u00e7\u00e3o) postergada<\/em>\u201d.<\/p>\n Decis\u00f5es como a da aposentadoria parecem ser de interesse especial para a economia comportamental por envolver uma das quest\u00f5es que mais lhe \u00e9 cara: a distribui\u00e7\u00e3o de ganhos e perdas de uma decis\u00e3o no curto e no longo prazo. Ariely (2008), que observa que a decis\u00e3o de aposentadoria \u00e9 sens\u00edvel no mundo todo, contrasta a abordagem da economia comportamental com a da teoria econ\u00f4mica tradicional nesta quest\u00e3o. Na concep\u00e7\u00e3o tradicional, um benef\u00edcio de aposentadoria insatisfat\u00f3rio seria decorrente de decis\u00f5es racionais de um indiv\u00edduo, o que teria de pressupor que \u201cn\u00e3o ligamos para o futuro, (…) aguardamos experenciar a pobreza quando aposentados, (…) esperamos que nossos filhos cuidem de n\u00f3s, (…) ou temos esperan\u00e7a de ganhar na loteria<\/em>\u201d. A provoca\u00e7\u00e3o evidencia que a racionalidade como concebida na teoria econ\u00f4mica tradicional, embora extremamente \u00fatil para v\u00e1rias abordagens, n\u00e3o parece se adequar a (m\u00e1s) decis\u00f5es de aposentadoria.<\/p>\n <\/p>\n A aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o no Brasil e a economia comportamental<\/strong><\/p>\n A escolha de quando se aposentar no Brasil pode estar especialmente sujeita aos vieses que a economia comportamental diagnostica, por conta da exist\u00eancia do benef\u00edcio de aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o (ATC), sem idade m\u00ednima. Este tipo de aposentadoria do Regime Geral de Previd\u00eancia Social \u00e9 a principal modalidade de aposentadoria da classe m\u00e9dia no pa\u00eds (exclu\u00eddos os servidores p\u00fablicos). N\u00e3o havendo um limite m\u00ednimo de idade obrigat\u00f3rio na aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o, os trabalhadores t\u00eam uma amplitude de tempo ainda maior para decidir quando devem parar de trabalhar.<\/p>\n Este espa\u00e7o de tempo abre um leque de escolhas tamb\u00e9m por conta da exist\u00eancia do fator previdenci\u00e1rio<\/strong>: criado para contornar a amea\u00e7a \u00e0 sustentabilidade da Previd\u00eancia Social devido \u00e0 aus\u00eancia da idade m\u00ednima, o fator calcula o benef\u00edcio da aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o de acordo com a expectativa de sobrevida do segurado (quanto maior, menor o benef\u00edcio) e com o pr\u00f3prio tempo de contribui\u00e7\u00e3o (quanto maior, maior o benef\u00edcio). Assim, cumpridos os requisitos de 35 anos de tempo de contribui\u00e7\u00e3o para homens e 30 para mulheres, o trabalhador pode continuar trabalhando ou, a qualquer tempo, pedir a aposentadoria. Ainda, \u00e9 poss\u00edvel que o trabalhador opte pelas duas coisas: continuar trabalhando e receber a aposentadoria \u2014 o que n\u00e3o \u00e9 proibido e de fato \u00e9 muito comum.<\/p>\n <\/p>\n A decis\u00e3o de se aposentar na teoria econ\u00f4mica tradicional<\/strong><\/p>\n A teoria econ\u00f4mica tradicional, baseada na j\u00e1 discutida no\u00e7\u00e3o de racionalidade, teve dificuldade em lidar satisfatoriamente com o problema da decis\u00e3o da aposentadoria. Em verdade, a percep\u00e7\u00e3o da import\u00e2ncia de itens como a educa\u00e7\u00e3o previdenci\u00e1ria para os cidad\u00e3os precede a ascens\u00e3o da pr\u00f3pria economia comportamental4<\/sup>. Este campo se mostrou relevante mais por identificar com clareza \u2014 empiricamente\u00a0 \u2014\u00a0 os vieses que afetam decis\u00f5es como esta e por sua prescri\u00e7\u00e3o de instrumentos (como os nudges<\/em>, discutidos aqui<\/a>), e n\u00e3o por reconhecer pioneiramente que, na pr\u00e1tica, decis\u00f5es sobre aposentadoria n\u00e3o s\u00e3o completamente racionais (na acep\u00e7\u00e3o da teoria econ\u00f4mica).<\/p>\n Por exemplo, Tafner, Botelho e Erbisti (2015) argumentam que a pr\u00f3pria interven\u00e7\u00e3o dos governos em prover previd\u00eancia p\u00fablica, de uma maneira mais ampla, j\u00e1 se basearia no diagn\u00f3stico de alguma defici\u00eancia. Os autores enfatizam defici\u00eancias de informa\u00e7\u00e3o e de capacidade de decis\u00e3o neste processo. Diz Oliveira (1982 apud TAFNER, BOTELHO e ERBISTI 2015):<\/p>\n A decis\u00e3o de quanto, quando e como poupar (…) de modo a garantir um fluxo de rendas suficientes durante o per\u00edodo de inatividade \u00e9, certamente, muito complexa. O indiv\u00edduo deveria ter dispon\u00edvel um conjunto de informa\u00e7\u00f5es extremamente amplo e preciso sobre seus futuros riscos.<\/p>\n Oliveira inclui entre esses riscos poss\u00edveis doen\u00e7as, suas dura\u00e7\u00f5es e custos, bem como as expectativas de vida do segurado e de seus dependentes \u201cMesmo que essas informa\u00e7\u00f5es fossem dispon\u00edveis, a an\u00e1lise (…) seria tarefa \u00e1rdua para uma equipe de atu\u00e1rios e de analistas de investimento\u201d.<\/em><\/p>\n No entanto, a abordagem tradicional da \u201ceconomia da aposentadoria\u201d se baseia na racionalidade de um agente. Leonesio (1996) descreve estes modelos como partindo de modelos de escolha entre trabalho e lazer, onde se incluiria tamb\u00e9m a decis\u00e3o de aposentadoria: \u201ctodos (s\u00e3o) partes de um problema mais geral de decidir como usar o tempo<\/em>\u201d. Em geral, estes modelos partiriam da no\u00e7\u00e3o de que um indiv\u00edduo tomaria uma decis\u00e3o racional maximizando sua \u201csatisfa\u00e7\u00e3o\u201d (fun\u00e7\u00e3o utilidade), baseada em quantidades de consumo, lazer e em sua \u201ctaxa de prefer\u00eancia temporal\u201d (que pondera o valor dessas vari\u00e1veis no presente e no futuro). Este processo de maximiza\u00e7\u00e3o se sujeitaria a uma restri\u00e7\u00e3o or\u00e7ament\u00e1ria tamb\u00e9m intertemporal. Com base nesses par\u00e2metros, o indiv\u00edduo tomaria a decis\u00e3o \u00f3tima referente ao n\u00famero de anos que deve trabalhar e quanto deve poupar ao longo de sua vida laboral. Ao leitor interessado em conhecer mais sobre os modelos de aposentadoria na teoria econ\u00f4mica tradicional, consultar Nery (2016).<\/p>\n <\/p>\n A decis\u00e3o de se aposentar na economia comportamental<\/strong><\/p>\n De acordo com as pesquisas da ci\u00eancia comportamental, decis\u00f5es como a da aposentadoria poderiam sofrer variadas influ\u00eancias n\u00e3o captadas pela teoria tradicional. Entre essas influ\u00eancias, se encontram heur\u00edsticas<\/em>, \u201cregras de bolso\u201d que simplificam a tomada de decis\u00f5es complexas, e vieses cognitivos<\/em>, os erros sistem\u00e1ticos de decis\u00e3o resultantes do uso de heur\u00edsticas5<\/sup>.<\/p>\n Cabe notar que essas influ\u00eancias e conceitos discutidos pela economia comportamental, que se contrap\u00f5em a modelos mais formalizados, como os citados anteriormente, e que ser\u00e3o apresentadas nesta subse\u00e7\u00e3o, se aplicam de maneira ampla ao problema de aposentadoria e de forma\u00e7\u00e3o de poupan\u00e7a como um todo, e n\u00e3o especificamente apenas ao caso brasileiro.<\/p>\n Conceitos destacados para a economia comportamental para melhor compreender problemas com as decis\u00f5es de aposentadoria e poupan\u00e7a incluem:<\/p>\n <\/p>\n Complexidade e insatisfa\u00e7\u00e3o na aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n Fica claro que a decis\u00e3o de pedir o benef\u00edcio da aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o, frente aos incentivos colocados pelas f\u00f3rmulas do fator previdenci\u00e1rio e a da f\u00f3rmula 85\/95 m\u00f3vel, \u00e9 especialmente complexa. Nos ve\u00edculos de comunica\u00e7\u00e3o, as d\u00favidas em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 aposentadoria aparecem com frequ\u00eancia. H\u00e1 profus\u00e3o de reportagens em jornais buscando orientar os cidad\u00e3os sobre o funcionamento da previd\u00eancia no pa\u00eds e sobre como decidir qual \u201co melhor momento de se aposentar\u201d.\u00a0 Diversos sites da internet disponibilizam ainda simuladores de aposentadoria, frequentemente ligados a sindicatos. Dados dos primeiros meses de vig\u00eancia da f\u00f3rmula 85\/95 mostram que os segurados t\u00eam se dividido entre as duas formas de c\u00e1lculo, ou seja, as decis\u00f5es em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 f\u00f3rmula de c\u00e1lculo do benef\u00edcio n\u00e3o t\u00eam sido uniformes (pelo menos a princ\u00edpio).<\/p>\n A complexidade percebida pelos segurados n\u00e3o \u00e9 o \u00fanico problema: um contingente significativo daqueles que se aposentam por tempo de contribui\u00e7\u00e3o consideram insatisfat\u00f3rio o valor de seus benef\u00edcios.\u00a0 Muitos se arrependem da data em que se aposentaram, sendo esta, por\u00e9m, uma decis\u00e3o irrevog\u00e1vel. Como reflexo, o Congresso Nacional recebe muitas demandas para conceder aumentos reais aos benef\u00edcios <\/a>\u00a0e para permitir a desaposentadoria<\/a> (rec\u00e1lculo das aposentadorias dos trabalhadores que continuaram trabalhando, em geral sem devolu\u00e7\u00e3o dos benef\u00edcios j\u00e1 recebidos). Esta \u00faltima seria objeto tamb\u00e9m de mais de 120 mil a\u00e7\u00f5es no Judici\u00e1rio segundo a Advocacia-Geral da Uni\u00e3o (AGU). Em verdade, no ano de 2015, duas medidas provis\u00f3rias foram aprovadas no Congresso Nacional com emendas atendendo estes dois pleitos (reajustes reais para todos os benef\u00edcios e desaposentadoria), vetadas posteriormente pela Presid\u00eancia.<\/p>\n Entre outras demandas que resultam em projetos de lei ou emendas parlamentares est\u00e3o tamb\u00e9m a extin\u00e7\u00e3o definitiva do fator previdenci\u00e1rio ou a fixa\u00e7\u00e3o de par\u00e2metros de seu c\u00e1lculo que sejam mais favor\u00e1veis aos segurados (ex: n\u00e3o atualizar a expectativa de sobrevida ap\u00f3s satisfeitos os requisitos de 35\/30 anos de contribui\u00e7\u00e3o).\u00a0 A t\u00edtulo de ilustra\u00e7\u00e3o, estudo da Consultoria Legislativa do Senado mostrou que em dezembro de 2014 tramitavam no Congresso Nacional 223 proposi\u00e7\u00f5es acerca de benef\u00edcios previdenci\u00e1rios, sendo que 78% na dire\u00e7\u00e3o de aumentar os benef\u00edcios recebidos6<\/sup>. Da mesma forma, outro estudo apontou que entre 1.048 emendas apresentadas \u00e0s quatro Medidas Provis\u00f3rias que tratavam de benef\u00edcios da Seguridade em 2015, 73% tamb\u00e9m objetivavam aumentar as despesas previdenci\u00e1rias7<\/sup>.<\/p>\n Essa relativa complexidade e a insatisfa\u00e7\u00e3o podem estar associadas \u00e0s idades precoces praticadas na aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o. A percep\u00e7\u00e3o de complexidade <\/em>pode ajudar a explicar a miopia dos segurados em se aposentar cedo, apesar do c\u00e1lculo do benef\u00edcio com o fator previdenci\u00e1rio ser muito mais favor\u00e1vel com alguns anos de espera. Por sua vez, os valores \u201cbaixos\u201d recebidos por conta do fator previdenci\u00e1rio que incide com a idade e tempo de contribui\u00e7\u00e3o menores podem ajudar a explicar a enorme insatisfa\u00e7\u00e3o<\/em> dos benefici\u00e1rios.<\/p>\n Os dados apresentados por Pereira (2013) coadunam com esta no\u00e7\u00e3o. Mesmo doze anos depois da cria\u00e7\u00e3o do fator, os pedidos de ATC parecem \u201cn\u00e3o obedecer\u201d \u00e0 sua l\u00f3gica: em 2012 essas aposentadorias se deram em m\u00e9dia com apenas cinco meses al\u00e9m do requisito m\u00ednimo de 35 anos no caso dos homens (35,44) e dois meses al\u00e9m do requisito m\u00ednimo de 30 anos no caso das mulheres (30,2 anos)8<\/sup>. Menos de um ter\u00e7o dos benef\u00edcios dos homens e apenas cerca de um quarto dos benef\u00edcios das mulheres foram concedidos com pelo menos um ano de contribui\u00e7\u00e3o adicional al\u00e9m do m\u00ednimo de 35\/30.<\/p>\n Ilustrativamente, um homem de 55 anos que se aposentasse naquele ano com os 35,44 anos de contribui\u00e7\u00e3o correspondentes \u00e0 m\u00e9dia teria um benef\u00edcio apenas 1,5% maior do que o que teria com o m\u00ednimo de 35 anos exatos. No mesmo sentido, uma mulher de 50 anos que se aposentasse com os 30,2 anos de contribui\u00e7\u00e3o da m\u00e9dia daquele ano teria um benef\u00edcio menos de 1% maior do que o que receberia com apenas 30 anos, o que evidentemente \u00e9 uma vantagem ainda muito pequena. Uma das possibilidades constantemente usada para explicar este fen\u00f4meno de aposentadorias precoces perante o fator previdenci\u00e1rio seria a percep\u00e7\u00e3o, bastante difundida, de que o c\u00e1lculo do fator \u201cpiora\u201d anualmente por conta da revis\u00e3o da expectativa de sobrevida da popula\u00e7\u00e3o, o que tornaria prudente pedir o benef\u00edcio o quanto antes9<\/sup> 10<\/sup>.<\/p>\n Sunstein (2013) avalia que a \u201ccomplexidade pode ter s\u00e9rios efeitos n\u00e3o intencionais, incluindo (gerar) indiferen\u00e7a (…) e confus\u00e3o<\/em>\u201d nos cidad\u00e3os. A complexidade da decis\u00e3o referente \u00e0 ATC no Brasil, conjugada com a insatisfa\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o aos benef\u00edcios, pode dar ensejo ao uso de nudges<\/em> para melhorar a tomada de decis\u00e3o daqueles que pedem esse benef\u00edcio, a partir do uso das principais descobertas da economia comportamental, ajudando-os a escolher quando<\/em> se aposentar.<\/p>\n Esta pode ser uma tentativa de abordar o \u201cparadoxo\u201d das aposentadorias por tempo de contribui\u00e7\u00e3o: elas t\u00eam regras consideradas ao mesmo tempo pouco generosas pelos segurados que as recebem e muito generosas pelos especialistas que analisam as contas da Previd\u00eancia. Este \u201cempurr\u00e3o\u201d seria uma interven\u00e7\u00e3o simples, focada em melhorar o planejamento dos segurados e reduzir as resist\u00eancias aos benef\u00edcios, com sorte atenuando a judicializa\u00e7\u00e3o de quest\u00f5es previdenci\u00e1rias e a press\u00e3o pol\u00edtica por aumento de gastos.<\/p>\n Um nudge <\/em>tem o objetivo de superar vieses inconscientes usados em decis\u00f5es que n\u00e3o s\u00e3o consideradas racionais, \u201creenquadrando\u201d as escolhas poss\u00edveis. Esta \u201carquitetura da escolha\u201d n\u00e3o obriga ningu\u00e9m a escolher alguma alternativa espec\u00edfica, nem pro\u00edbe qualquer op\u00e7\u00e3o. Um nudge<\/em> tamb\u00e9m n\u00e3o altera a estrutura de incentivos econ\u00f4micos existentes. Segundo Thailer e Sunstein (2008):<\/p>\n As pessoas ir\u00e3o precisar de nudges<\/em> para decis\u00f5es que s\u00e3o dif\u00edceis e raras, para quais elas n\u00e3o recebem pronto feedback<\/em>, e quando elas t\u00eam problema em traduzir aspectos da situa\u00e7\u00e3o em termos que elas consigam facilmente entender (…) para escolhas que t\u00eam efeitos postergados; as que s\u00e3o dif\u00edceis, infrequentes, e oferecem feedback<\/em> pobre; e para aquelas em que a rela\u00e7\u00e3o entre escolha e experi\u00eancia \u00e9 amb\u00edgua.<\/p>\n Estas caracter\u00edsticas parecem estar presentes no caso do benef\u00edcio da aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o (ATC). Como em outros pa\u00edses, esta \u00e9 uma decis\u00e3o obviamente rara e infrequente (uma mesma pessoa n\u00e3o se aposenta diversas vezes na vida). No Brasil, pode ser especialmente dif\u00edcil por conta do c\u00e1lculo a ser feito em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 f\u00f3rmula do fator previdenci\u00e1rio, que j\u00e1 chegou a ser considerada at\u00e9 em uma decis\u00e3o da Justi\u00e7a Federal como \u201cextremamente complexa \u2013 (de) complexidade absurda<\/em>\u201d11<\/sup>. Como vimos, a complexidade do c\u00e1lculo do benef\u00edcio foi significativamente aumentada em 2015 ap\u00f3s a aprova\u00e7\u00e3o da f\u00f3rmula 85\/95 m\u00f3vel para o c\u00e1lculo da aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o (que, cabe observar, n\u00e3o extinguiu o fator).\u00a0 A coexist\u00eancia dessas duas formas de c\u00e1lculo torna mais complicada a tarefa das pessoas de traduzir aspectos da situa\u00e7\u00e3o em termos que elas consigam facilmente entender.<\/p>\n Ainda em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s caracter\u00edsticas listadas por Thaler e Sunstein, esta \u00e9 uma decis\u00e3o em que n\u00e3o se recebe um pronto feedback<\/em>, que tem efeitos postergados, e em que a rela\u00e7\u00e3o entre escolha e experi\u00eancia \u00e9 amb\u00edgua. Estes tr\u00eas aspectos se aplicariam especialmente ao caso da aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o no Brasil por duas caracter\u00edsticas peculiares do benef\u00edcio no pa\u00eds j\u00e1 citadas: i) <\/em>a inexist\u00eancia da idade m\u00ednima, que gera aposentadorias em idades precoces (m\u00e9dia de 55 anos para homens, 52 para as mulheres); e ii)<\/em> a possibilidade de ac\u00famulo das rendas do trabalho e da aposentadoria. Essas duas caracter\u00edsticas fazem com que haja frequentemente um grande distanciamento da experi\u00eancia de viver de fato como idoso e de receber como renda de fato apenas a aposentadoria em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 realidade imediatamente posterior \u00e0 escolha de pedir o benef\u00edcio (ao redor dos 54 anos e talvez acumulando outras rendas).<\/p>\n No caso aqui analisado, nudges<\/em> poderiam consistir na apresenta\u00e7\u00e3o, para o segurado que deseja se aposentar por tempo de contribui\u00e7\u00e3o, de maneira clara e inteleg\u00edvel, de informa\u00e7\u00f5es tais como12<\/sup>:<\/p>\n Estas informa\u00e7\u00f5es poderiam melhorar a tomada de decis\u00e3o do segurado de quando se aposentar diante da coexist\u00eancia das duas f\u00f3rmulas de c\u00e1lculo, inclusive uma delas com regra de transi\u00e7\u00e3o (a da 85\/95). Note ainda que os \u00faltimos dois itens informariam sobre a impossibilidade de obter a desaposentadoria (pelo menos por via administrativa). Informa\u00e7\u00f5es como essas poderiam melhorar o entendimento do segurado sobre o sistema, garantir que sua decis\u00e3o sobre quando se aposentar seja s\u00f3lida e contribuir para que sua escolha n\u00e3o resulte em um benef\u00edcio que ele venha a considerar insatisfat\u00f3rio no futuro.<\/p>\n Conceitos da economia comportamental que se relacionam com a proposta acima incluem efeitos de enquadramento ou contexto; ancoragem; avers\u00e3o \u00e0 perda; disponibilidade; sali\u00eancia; alertas; e influ\u00eancias sociais13<\/sup>.<\/p>\n Thaler e Sunstein (2008) advogam pelos nudges<\/em>: \u201cum bom sistema de arquitetura da escolha ajuda as pessoas a aprimorar suas capacidades de planejar e consequentemente de escolher op\u00e7\u00f5es que as far\u00e3o ficar em situa\u00e7\u00e3o melhor<\/em>\u201d. No mesmo sentido, as diretrizes do decreto assinado em 2015 pelo presidente Barack Obama sobre o uso da economia comportamental no governo americano recomendam que gestores encorajem ou facilitem que os cidad\u00e3os tomem a\u00e7\u00f5es espec\u00edficas como poupar para a aposentadoria, e, ao faz\u00ea-lo, considerem como o timing<\/em>, a frequ\u00eancia, a apresenta\u00e7\u00e3o ou outros incentivos podem de modo mais efetivo e eficiente promover este tipo de a\u00e7\u00e3o.<\/p>\n <\/p>\n Ressalvas <\/strong><\/p>\n Cabe ressaltar, por\u00e9m, que, conforme discutido anteriormente, a pertin\u00eancia do nudge<\/em> proposto ser\u00e1 menor com o eventual advento de uma idade m\u00ednima para a aposentadoria por tempo de contribui\u00e7\u00e3o, j\u00e1 que \u00e9 justamente a inexist\u00eancia da idade m\u00ednima que cria um amplo espa\u00e7o de possibilidades para a decis\u00e3o relativa \u00e0 ATC. A idade m\u00ednima foi publicamente defendida pela Presidenta Dilma Rousseff em 2016[14]<\/a>. No entanto, a idade m\u00ednima por si n\u00e3o retira a import\u00e2ncia de nudges<\/em> nos moldes sugeridos, j\u00e1 que ela poder\u00e1 vir com regras de transi\u00e7\u00e3o, manter a possibilidade de aposentados continuarem trabalhando e manter as formas de c\u00e1lculo do benef\u00edcio (inclusive o fator previdenci\u00e1rio) \u2013 todos itens que complicam a decis\u00e3o para o segurado, mesmo na presen\u00e7a de uma idade m\u00ednima.<\/p>\n Outra observa\u00e7\u00e3o relevante \u00e9 que este tipo de nudge <\/em>correria o risco de ser mal interpretado pelo segurado, que pode ser levado a crer que tem algum direito adquirido em rela\u00e7\u00e3o a valores futuros do benef\u00edcio. As estimativas se baseariam em uma inser\u00e7\u00e3o cont\u00ednua no mercado de trabalho formal, o que n\u00e3o \u00e9 a realidade de parcela significativa dos segurados. Os valores de fato calculados no futuro depender\u00e3o do emprego e do sal\u00e1rio do segurado no per\u00edodo, e podem ser inferiores ao inicialmente estimado. Assim, um desafio seria ressaltar o car\u00e1ter de estimativa que as informa\u00e7\u00f5es possuiriam, n\u00e3o vinculando o valor do benef\u00edcio em nenhuma data. Este desafio n\u00e3o \u00e9 trivial, j\u00e1 que um nudge <\/em>deve ser simples e claro como os exemplos apresentados, e n\u00e3o denso como um contrato cheio de cl\u00e1usulas: quanto maior a quantidade de observa\u00e7\u00f5es e ressalvas apresentadas, menor ser\u00e1 a sua efic\u00e1cia.<\/p>\n <\/p>\n Considera\u00e7\u00f5es finais<\/strong><\/p>\n A popularidade dos nudges<\/em> em governos de pa\u00edses desenvolvidos passou at\u00e9 a gerar preocupa\u00e7\u00f5es sobre um poss\u00edvel excesso. George Loewenstein e Peter Ubel, alguns dos mais eminentes pesquisadores da \u00e1rea, alertaram no The New York Times<\/em> que \u201ca economia comportamental est\u00e1 sendo usada como um expediente pol\u00edtico, permitindo aos formuladores de pol\u00edticas p\u00fablicas evitar solu\u00e7\u00f5es dolorosas, por\u00e9m mais efetivas baseadas na economia tradicional<\/em>\u201d15<\/sup>.<\/p>\n Richard Thaler, por\u00e9m, considera que interven\u00e7\u00f5es paliativas baseadas na economia comportamental podem ser v\u00e1lidas quando a resist\u00eancia a rem\u00e9dios mais tradicionais for grande, citando o caso do jurista Cass Sunstein quando chefiou um importante \u00f3rg\u00e3o do governo americano: na impossibilidade pol\u00edtica de criar um imposto sobre o petr\u00f3leo, medidas amparadas na economia comportamental foram usadas para melhorar a efici\u00eancia energ\u00e9tica de combust\u00edveis16<\/sup>. Nesse sentido, cabe ressaltar que as graves quest\u00f5es conhecidas em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Previd\u00eancia no Brasil certamente exigem medidas impopulares, aprova\u00e7\u00e3o de leis e de emendas \u00e0 Constitui\u00e7\u00e3o. Por mais merit\u00f3rios e eficazes que possam ser, cabe ressaltar que nudges <\/em>n\u00e3o t\u00eam potencial para mudar a dram\u00e1tica trajet\u00f3ria do pa\u00eds nesta quest\u00e3o.<\/p>\n \u00a0<\/em><\/p>\n Este texto \u00e9 baseado no Texto para Discuss\u00e3o no<\/sup> 188 da Consultoria Legislativa do Senado Federal (\u201cErrar \u00e9 Humano: economia comportamental aplicada \u00e0 aposentadoria\u201d). <\/em>Dispon\u00edvel em: <\/em>http:\/\/www.senado.gov.br\/estudos<\/em><\/a>. <\/em><\/p>\n \u00a0<\/em><\/p>\n Refer\u00eancias<\/strong><\/p>\n ARIELY, D.\u00a0Predictably Irrational: <\/em>The Hidden Forces That Shape Our Decisions. New York: Harper Perennial, 2009.<\/p>\n AUSTIN, R. 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\n
\n2<\/sup>Defini\u00e7\u00e3o da rec\u00e9m-lan\u00e7ada vers\u00e3o do Guia de economia comportamental e experimental<\/em> em portugu\u00eas (organiza\u00e7\u00e3o de Fl\u00e1via \u00c1vila e Ana Maria Bianchi). Dispon\u00edvel em: \u00a0http:\/\/www.economiacomportamental.org\/guia-economia-comportamental.pdf<\/a>.
\n3<\/sup>Immersive virtual reality.
\n4<\/sup>Sobre educa\u00e7\u00e3o previdenci\u00e1ria e educa\u00e7\u00e3o financeira como um todo ver, entre outros, Giambiagi (2014, 2015).
\n5<\/sup>O termo heuristic<\/em> (heuristics<\/em>) tamb\u00e9m \u00e9 traduzido como heur\u00edstico (heur\u00edsticos), no masculino.
\n6<\/sup>Texto para Discuss\u00e3o n\u00ba 164, de 2014 (\u201cProjetos de iniciativa parlamentar sobre Previd\u00eancia Social: uma avalia\u00e7\u00e3o qualitativa de impacto fiscal<\/em>\u201d). Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.senado.leg.br\/estudos<\/a>.
\n7<\/sup>S\u00e3o elas \u00e0s MPs n\u00bas <\/sup>664, 665, 672 e 676. Ver Boletim Legisativo n\u00ba 33, de 2015 (\u201cA vis\u00e3o das ag\u00eancias internacionais de classifica\u00e7\u00e3o de risco sobre o Congresso Nacional<\/em>\u201d). Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.senado.leg.br\/estudos<\/a>.
\n8<\/sup>Cabe ressaltar, por\u00e9m, que o contingente de aposentadorias especiais, como o de professores, pode reduzir essa m\u00e9dia, por serem exigidos menos anos de tempo de contribui\u00e7\u00e3o.
\n9<\/sup>\u00c9 pertinente notar que, embora a T\u00e1bua de Mortalidade do IBGE que fornece a expectativa de sobrevida usada no c\u00e1lculo do fator de fato seja atualizada anualmente, com o passar dos anos a pr\u00f3pria idade do segurado, al\u00e9m de seu tempo de contribui\u00e7\u00e3o, aumentam, o que tende a tornar o c\u00e1lculo do benef\u00edcio mais favor\u00e1vel. Ainda, quanto maior a idade, menor tender\u00e1 a ser a expectativa de sobrevida de uma pessoa, melhorando ainda mais a conta do fator previdenci\u00e1rio. Por isso, via de regra, faria pouco sentido a l\u00f3gica de que quem trabalhar mais ter\u00e1 uma aposentadoria menor.
\n10<\/sup> Outras possibilidades mais de acordo com o conceito de racionalidade seriam a de pedir a aposentadoria esperando judicialmente conseguir um benef\u00edcio maior no futuro, ou ainda esperando que o mercado de trabalho seja desproporcionalmente desfavor\u00e1vel a pessoas mais velhas. Ainda, o segurado que recebe ao redor de um sal\u00e1rio m\u00ednimo pode considerar que pouco adianta contribuir mais se a aposentadoria ser\u00e1 eventualmente maior de qualquer jeito com aumentos reais ao sal\u00e1rio m\u00ednimo (que \u00e9 tamb\u00e9m o piso da Previd\u00eancia).
\n11<\/sup> Processo n\u00ba 0009542-49.2010.403.6183 da Justi\u00e7a Federal em S\u00e3o Paulo.\u00a0 \u00cdntegra da decis\u00e3o dispon\u00edvel em: http:\/\/www.jfsp.jus.br\/assets\/Uploads\/administrativo\/NUCS\/decisoes\/2010\/101202fatorprevidenciario.pdf<\/a>
\n12<\/sup>O Projeto de Lei de Convers\u00e3o no<\/sup> 4, de 2015, aprovado pelo Congresso Nacional, acatava a Emenda no<\/sup> 50, da\u00a0 Senadora L\u00facia V\u00e2nia, \u00e0 Medida Provis\u00f3ria no<\/sup> 676, com conte\u00fado semelhante.\u00a0 Tal dispositivo foi vetado pela Presid\u00eancia, por impor ao INSS \u201ca necessidade de significativa realoca\u00e7\u00e3o de recursos humanos e materiais<\/em>\u201d.
\n13<\/sup>Ver Samson (2015).
\n14<\/sup>`Vamos encarar a reforma da Previd\u00eancia`, afirma Dilma.<\/em> Folha de S\u00e3o Paulo, 7 de janeiro de 2016. Dispon\u00edvel em: http:\/\/www1.folha.uol.com.br\/mercado\/2016\/01\/1726862-ajuste-e-prioridade-e-inflacao-ficara-dentro-da-meta-em-2016-afirma-dilma.shtml<\/a>.
\n15<\/sup> Economics behaving badly<\/em>. The New York Times, 14 de julho de 2014. Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.nytimes.com\/2010\/07\/15\/opinion\/15loewenstein.html?_r=0<\/a>
\n16<\/sup> Behavioural economics and public policy<\/em>. Financial Times, 14 de mar\u00e7o de 2014. \u00a0http:\/\/www.ft.com\/intl\/cms\/s\/2\/9d7d31a4-aea8-11e3-aaa6-00144feab7de.html<\/a>.<\/p>\n