{"id":2757,"date":"2016-03-21T10:12:14","date_gmt":"2016-03-21T13:12:14","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=2757"},"modified":"2016-03-21T10:12:14","modified_gmt":"2016-03-21T13:12:14","slug":"fundos-de-pensao-devem-ter-adesao-automatica","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=2757","title":{"rendered":"Fundos de pens\u00e3o devem ter ades\u00e3o autom\u00e1tica?"},"content":{"rendered":"

Ades\u00e3o e reajuste autom\u00e1tico para planos de previd\u00eancia privada<\/strong><\/p>\n

A Lei no<\/sup> 13.183, de 2015 (decorrente da MP no<\/sup> 676\/2015) \u00a0instituiu a ades\u00e3o autom\u00e1tica \u00e0 Funda\u00e7\u00e3o de Previd\u00eancia Complementar do Servidor P\u00fablico Federal (Funpresp<\/a>). A Funpresp1<\/sup> funciona desde 2013 como regime de previd\u00eancia complementar,\u00a0 facultativo<\/em>, de novos servidores que ganham acima do teto do INSS. Esses servidores podem ou n\u00e3o aderir a esse regime de previd\u00eancia complementar para receber benef\u00edcios de valores maiores do que o teto do INSS (assim como ocorre com trabalhadores da iniciativa privada). O principal atrativo da Funpresp \u00e9 a contribui\u00e7\u00e3o da Uni\u00e3o, que entra com contrapartida de at\u00e9 100% da contribui\u00e7\u00e3o individual do servidor, aumentando o valor capitalizado.<\/p>\n

Entre 2013 e at\u00e9 o fim de 2015, os novos servidores efetivos da Uni\u00e3o tinham que se manifestar para serem inclu\u00eddos neste regime: o ingresso no servi\u00e7o p\u00fablico por si n\u00e3o constitu\u00eda ades\u00e3o. Com a ades\u00e3o autom\u00e1tica, a inscri\u00e7\u00e3o na Funpresp continua sendo facultativa, mas os novos servidores devem agora se manifestar para sair do regime, o oposto da situa\u00e7\u00e3o anterior. Tal op\u00e7\u00e3o inclui o ressarcimento de valores j\u00e1 pagos2<\/sup>.<\/p>\n

O texto da justificativa da Emenda no<\/sup> 34, do Deputado Gonzaga Patriota3<\/sup>, que incluiu a ades\u00e3o autom\u00e1tica na MP, argumentava que apenas 15% de 60 mil servidores eleg\u00edveis ingressaram na Funpresp desde sua cria\u00e7\u00e3o. A justificativa defende tamb\u00e9m que os servidores que optam por n\u00e3o ingressar ter\u00e3o perdas significativas de renda no futuro, alegando que a ades\u00e3o autom\u00e1tica foi adotada em muitos pa\u00edses para contornar esta situa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

A ades\u00e3o autom\u00e1tica \u00e9 um nudge<\/em>, principal instrumento que a economia comportamental<\/a>, a partir das descobertas de pesquisa, prescreve para ado\u00e7\u00e3o dos governos. A tradu\u00e7\u00e3o literal do termo nudge <\/em>seria \u201cempurr\u00e3o\u201d, e, por isso, seguimos outros autores e a vers\u00e3o brasileira do Guia de economia comportamental e experimental<\/em>, usando neste texto o termo no original. Um nudge<\/em> seria um reenquadramento de escolhas, feito com intuito de superar os vieses inconscientes que levam indiv\u00edduos a tomar decis\u00f5es consideradas irracionais.<\/p>\n

Este enquadramento (framing<\/em>), por um lado, n\u00e3o altera os incentivos econ\u00f4micos existentes previamente, e, por outro, tamb\u00e9m n\u00e3o obriga um indiv\u00edduo a seguir qualquer dire\u00e7\u00e3o espec\u00edfica. Segundo Sunstein (2013), nudges <\/em>podem ser alertas (como os das embalagens de cigarros), defaults<\/em> (\u201cescolhas padr\u00e3o\u201d, como na escolha pela configura\u00e7\u00e3o de um software<\/em>) ou requerimentos de divulga\u00e7\u00e3o de informa\u00e7\u00f5es ao p\u00fablico de maneira clara e inteleg\u00edvel4<\/sup>. Sunstein considera a abordagem dos nudges<\/em> como simples e barata, com potencial de fazer as pessoas \u201cmais saud\u00e1veis, ricas e felizes\u201d.<\/p>\n

Thaler e Sunstein (2008) usam o termo \u201carquitetura da escolha\u201d para definir os nudges<\/em>. Este tipo de \u201carquitetura\u201d seria respons\u00e1vel por organizar o contexto em que as decis\u00f5es s\u00e3o tomadas: \u201cUm nudge \u00e9 qualquer aspecto da arquitetura da escolha que altera o comportamento das pessoas de modo previs\u00edvel sem proibir quaisquer alternativas nem alterar significativamente seus incentivos econ\u00f4micos<\/em>\u201d. Eles defendem que o emprego adequado dos nudges<\/em> poderia ajudar a solucionar muitos dos principais problemas da sociedade.<\/p>\n

Um requisito para uma interven\u00e7\u00e3o ser considerada um nudge <\/em>\u00e9 o fato de ser f\u00e1cil e barato poder evit\u00e1-la, j\u00e1 que a op\u00e7\u00e3o \u201csugerida\u201d pelo nudge <\/em>n\u00e3o pode ser obrigat\u00f3ria. De fato, a principal controv\u00e9rsia em rela\u00e7\u00e3o aos nudges<\/em> seria a \u201camea\u00e7a\u201d \u00e0 liberdade do indiv\u00edduo alvo da interven\u00e7\u00e3o, como ser\u00e1 visto mais adiante.<\/p>\n

A ades\u00e3o autom\u00e1tica, como a configura\u00e7\u00e3o padr\u00e3o de um software<\/em>, \u00e9 um nudge <\/em>por excel\u00eancia, e um dos mais usados. \u00c9 um default<\/em> (escolha padr\u00e3o). A economia comportamental diagnostica pelo menos tr\u00eas problemas que ensejariam o uso de defaults<\/em>:<\/p>\n