{"id":2745,"date":"2016-03-17T10:36:00","date_gmt":"2016-03-17T13:36:00","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=2745"},"modified":"2016-03-17T10:36:00","modified_gmt":"2016-03-17T13:36:00","slug":"qual-indicador-preve-melhor-o-futuro-da-economia","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=2745","title":{"rendered":"Qual indicador prev\u00ea melhor o futuro da economia?"},"content":{"rendered":"
1. Introdu\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n A complexidade de uma economia seria a explica\u00e7\u00e3o para a diverg\u00eancia <\/em>nos n\u00edveis de renda entre pa\u00edses ricos e pa\u00edses pobres que n\u00e3o \u00e9 esperada por v\u00e1rios modelos tradicionais de crescimento econ\u00f4mico. Ao contr\u00e1rio, tais modelos t\u00eam como hip\u00f3tese a converg\u00eancia<\/em> da renda dos pa\u00edses. \u00a0Por complexidade econ\u00f4mica, Hidalgo (2015) entende a diversidade de \u201ccapacidades\u201d de um pa\u00eds, medida pela diversidade e sofistica\u00e7\u00e3o de sua estrutura produtiva. Tais capacidades incluem desde habilidades espec\u00edficas no mercado de trabalho (que s\u00e3o de difus\u00e3o dif\u00edcil e est\u00e3o contidas em redes de profissionais), at\u00e9 direitos de propriedade e regula\u00e7\u00e3o. Como tais capacidades n\u00e3o podem ser exportadas ou importadas (non-tradable<\/em>), elas se concentram no espa\u00e7o geogr\u00e1fico, gerando a desigualdade entre regi\u00f5es ricas e pobres.<\/p>\n Em uma tentativa de medir esse conjunto de capacidades, foi criado o \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica (ECI) por pesquisadores do Instituto de Tecnologia do Massachusetts (MIT) e do Centro para o Desenvolvimento Internacional da Universidade de Harvard. Em especial, este esfor\u00e7o tem sido capitaneado pelos pesquisadores sul-americanos C\u00e9sar Hidalgo e Ricardo Hausmann, cujo trabalho \u00e9 introduzido aqui.<\/p>\n O \u00cdndice tem se mostrado bem-sucedido em prever o crescimento da economia de diversos pa\u00edses no m\u00e9dio e no longo prazo, superando a previs\u00e3o de modelos baseados em indicadores de educa\u00e7\u00e3o ou institui\u00e7\u00f5es\/governan\u00e7a, duas das principais vari\u00e1veis usadas nas \u00faltimas d\u00e9cadas para explicar o crescimento econ\u00f4mico.<\/p>\n Embora seja de formula\u00e7\u00e3o recente (2009) e exija para seu c\u00f4mputo grandes bases de dados, h\u00e1 paralelismos em sua l\u00f3gica com o trabalho de te\u00f3ricos do desenvolvimento do s\u00e9culo passado, como Wassily Leontief (matriz insumo-produto), B\u00e9la Balassa (vantagem comparativa revelada) e Albert Hirschman (encadeamentos para frente e para tr\u00e1s).<\/p>\n Hidalgo e Hausmann (2009) argumentam que a complexidade de uma economia seria capaz de prever que tipos de produto ela poder\u00e1 produzir no futuro, porque novos produtos dependeriam substancialmente das capacidades j\u00e1 acumuladas em um pa\u00eds referentes a diversos fatores de produ\u00e7\u00e3o, do capital humano ao respeito pela lei. No entanto, a constru\u00e7\u00e3o do \u00cdndice desconsidera quaisquer detalhes espec\u00edficos relativos a essas vari\u00e1veis, que estariam na verdade refletidas na diversidade e sofistica\u00e7\u00e3o da estrutura produtiva de um pa\u00eds. Por sua vez, como proxy <\/em>dessa estrutura produtiva s\u00e3o usados dados de com\u00e9rcio internacional, em especial a vantagem comparativa revelada<\/em>.<\/p>\n Neste texto, introduzimos na pr\u00f3xima se\u00e7\u00e3o a vis\u00e3o de produtos como \u201ccristais de imagina\u00e7\u00e3o\u201d, que fundamentam a \u00eanfase dos criadores do \u00cdndice na diversidade e sofistica\u00e7\u00e3o da estrutura produtiva como preditivas do crescimento. A seguir, detalhes do c\u00e1lculo do \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica s\u00e3o apresentados. A se\u00e7\u00e3o 4 discute resultados e aplica\u00e7\u00f5es, inclusive para o caso brasileiro. A se\u00e7\u00e3o 5 traz o espa\u00e7o de produto (product space<\/em>), uma atraente ferramenta de visualiza\u00e7\u00e3o de uma economia apresentada pelos criadores do \u00cdndice. Uma \u00faltima se\u00e7\u00e3o discute pol\u00edtica industrial.<\/p>\n \u00a0<\/strong><\/p>\n 2. Prosperidade e imagina\u00e7\u00e3o <\/strong><\/p>\n Hidalgo (2015) descreve a economia como um sistema em que as pessoas acumulam conhecimento para criar produtos, que, por sua vez, podem aumentar nossa pr\u00f3pria capacidade de acumular mais conhecimento.<\/p>\n Como indiv\u00edduos, n\u00e3o ser\u00edamos t\u00e3o mais capazes do que nossos ancestrais, mas como sociedade sim. As sociedades modernas s\u00e3o aquelas que conseguiriam acumular muito conhecimento produtivo ao distribu\u00ed-lo entre os seus membros. Assim, o progresso e a prosperidade dos pa\u00edses ricos n\u00e3o seriam fruto da intelig\u00eancia individual de moradores inteligentes, mas do fato de tais sociedades possu\u00edrem grande diversidade de knowhow<\/em> recombinado para criar uma grande variedade de produtos, e de produtos melhores (Hausmann et al., 2011).<\/p>\n A desigualdade no mundo decorreria da \u201cfinitude\u201d dos homens e das redes por eles formadas, que limitam a possibilidade de acumular e transmitir conhecimento1<\/sup>, tornando este conhecimento acumulado no espa\u00e7o. Os produtos que produzimos e consumimos nada mais seriam do que express\u00f5es deste conhecimento.<\/p>\n Nesse sentido, as exporta\u00e7\u00f5es de um pa\u00eds, usadas no \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica, revelariam n\u00e3o somente informa\u00e7\u00e3o sobre capital ou trabalho presente nele, mas, mais importante, sobre a capacidade que sua popula\u00e7\u00e3o tem de criar objetos que antes eram apenas imaginados (na terminologia particular de Hidalgo, \u201ccristais de imagina\u00e7\u00e3o\u201d). A prosperidade de um pa\u00eds, a m\u00e9dio e longo prazo, seria determinada n\u00e3o pela sua capacidade de comprar<\/em>, mas pela sua capacidade de criar<\/em> produtos.<\/p>\n Ilustrativamente, em 2012, o Brasil teria tido um saldo positivo na balan\u00e7a comercial com a China de mais de US$ 7 bilh\u00f5es.\u00a0 No entanto, o pa\u00eds teria tido uma \u201cbalan\u00e7a da imagina\u00e7\u00e3o\u201d deficit\u00e1ria, pois o Brasil exporta principalmente min\u00e9rio de ferro e soja, e importa da China eletr\u00f4nicos, qu\u00edmicos e metais processados. Hidalgo faz uma provoca\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o ao argumento, popular em pa\u00edses em desenvolvimento, de que a exporta\u00e7\u00e3o de mat\u00e9ria-prima para pa\u00edses que exportam produtos mais elaborados seria um ato de explora\u00e7\u00e3o. Defendendo que a cria\u00e7\u00e3o de valor decorre n\u00e3o da atividade extrativa, mas da imagina\u00e7\u00e3o, seriam os exportadores de mat\u00e9ria-prima os \u201cexploradores\u201d. Tratando do seu pa\u00eds natal, Hidalgo afirma que o Chile exploraria a imagina\u00e7\u00e3o de inventores como Michael Faraday e Nikola Tesla, que permitiram que produtos feitos a partir do cobre (principal produto da pauta de exporta\u00e7\u00e3o chilena) tivessem valor (HIDALGO, 2015):<\/p>\n Produtores de petr\u00f3leo como Venezuela e R\u00fassia exploram a imagina\u00e7\u00e3o de Henry Ford, Rudolf Diesel, Gottlieb Daimler, Nicolas Carnot, James Watt e James Joule ao estarem envolvidos no com\u00e9rcio de uma gosma gelatinosa preta que era virtualmente in\u00fatil at\u00e9 a inven\u00e7\u00e3o de motores de combust\u00e3o.<\/p>\n Segundo Hidalgo, a diferen\u00e7a entre riqueza e desenvolvimento econ\u00f4mico residiria na distin\u00e7\u00e3o entre \u201cgera\u00e7\u00e3o de valor\u201d e \u201capropria\u00e7\u00e3o de compensa\u00e7\u00e3o monet\u00e1ria\u201d. O desenvolvimento n\u00e3o se basearia na capacidade que uma economia tem em consumir, mas na capacidade que sua popula\u00e7\u00e3o tem em transformar sonhos em realidade: a capacidade de produzir (n\u00e3o de comprar). Tal \u00eanfase parte do entendimento de que a economia seria um \u201csistema que amplifica os usos pr\u00e1ticos do conhecimento\u201d2<\/sup>.<\/p>\n <\/p>\n Desigualdade e diverg\u00eancia: o papel de redes de conhecimento<\/strong><\/p>\n A concentra\u00e7\u00e3o, em apenas algumas partes do mundo, da capacidade de produzir produtos sofisticados, como motores de avi\u00e3o e dispositivos de mem\u00f3ria, n\u00e3o \u00e9 \u00f3bvia. Hidalgo (2015) ressalta que v\u00e1rios modelos econ\u00f4micos, para ele excessivamente otimistas, supunham que a produ\u00e7\u00e3o de qualquer produto poderia ser estimulada apenas pela demanda e por incentivos.\u00a0 Segundo o autor, no entanto, o fundamental para compreender tal desigualdade no mundo seria o ac\u00famulo de conhecimento em redes de profissionais: para produzir algo, \u00e9 necess\u00e1rio aprender.<\/p>\n O papel desse ac\u00famulo n\u00e3o \u00e9 trivial. Pelo contr\u00e1rio, o conhecimento seria t\u00e3o \u201cpesado\u201d que seria muito mais f\u00e1cil, ilustrativamente, retirar l\u00edtio do deserto do Atacama e envi\u00e1-lo para a Coreia do Sul para produzir bateria de celulares do que enviar cientistas coreanos ao Chile para ensinar mineiros a produzir as baterias.<\/p>\n A difus\u00e3o do conhecimento seria dif\u00edcil porque o aprendizado seria \u201csocial\u201d e \u201cexperiencial\u201d (HIDALGO, 2015):<\/p>\n A natureza experiencial e social do aprendizado n\u00e3o apenas limita o conhecimento que indiv\u00edduos podem conquistar, mas tamb\u00e9m enviesa a acumula\u00e7\u00e3o de conhecimento para o que j\u00e1 est\u00e1 dispon\u00edvel nos lugares onde esses indiv\u00edduos residem. Isso implica uma acumula\u00e7\u00e3o de conhecimento que \u00e9 geograficamente enviesada.<\/p>\n Vasconcelos (2013) explica que o valor do conhecimento decorre de ele ser non- tradable, <\/em>isto \u00e9, n\u00e3o poder ser comercializado como um bem f\u00edsico. Ao contr\u00e1rio, a transfer\u00eancia de conhecimento estaria ligada \u00e0 no\u00e7\u00e3o de \u201cconhecimento t\u00e1cito\u201d, que decorre da pr\u00f3pria experi\u00eancia de trabalho, de anos de aperfei\u00e7oamento e da conviv\u00eancia com profissionais mais experientes.<\/p>\n Tal desigualdade daria ensejo \u00e0 quantifica\u00e7\u00e3o das capacidades produtivas de um pa\u00eds, que reflete as diferen\u00e7as de conhecimento.\u00a0 \u00c9 este o prop\u00f3sito do \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica (ECI).\u00a0 Para, Britto et al. (2014), economias complexas seriam as economias com elevado n\u00edvel de conhecimento relevante, presente em amplas redes de pessoas e organiza\u00e7\u00f5es, capazes de gerar uma diversidade de produtos intensivos em conhecimentos. J\u00e1 economias menos complexas teriam redes de intera\u00e7\u00f5es menores e mais simples, com n\u00edvel baixo de conhecimento e capazes apenas de produzir poucos produtos e produtos mais simples.<\/p>\n Para Hausmann (2012), um indicador de complexidade seria \u00fatil n\u00e3o apenas para explicar a \u201cGrande Diverg\u00eancia\u201d na renda per capita<\/em> de pa\u00edses ricos e pobres, mas tamb\u00e9m a converg\u00eancia que alguns pa\u00edses t\u00eam conseguido nas \u00faltimas d\u00e9cadas (como China e \u00cdndia), enquanto outros grandes emergentes ficam para tr\u00e1s (como a Nig\u00e9ria).<\/p>\n <\/p>\n 3. O \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica (ECI)<\/strong><\/p>\n Como o conhecimento \u00e9 dif\u00edcil de mensurar, s\u00e3o necess\u00e1rias express\u00f5es que forne\u00e7am informa\u00e7\u00f5es indiretas sobre a localiza\u00e7\u00e3o onde o conhecimento est\u00e1 presente (Hidalgo, 2015). Essas express\u00f5es podem ser patentes, produ\u00e7\u00e3o industrial ou, na vers\u00e3o mais comum do \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica, o com\u00e9rcio internacional.<\/p>\n Nesta se\u00e7\u00e3o, apresentamos a intui\u00e7\u00e3o de como funciona o c\u00e1lculo do \u00cdndice. O \u00cdndice de Complexidade \u00e9 calculado para pa\u00edses (ECI) e para produtos (PCI).<\/p>\n Entendendo a complexidade econ\u00f4mica de um pa\u00eds como a diversidade e sofistica\u00e7\u00e3o da estrutura produtividade, um ponto de partida para mensur\u00e1-la seria a diversidade<\/strong> de produtos ali feitos.<\/p>\n J\u00e1 o indicador da complexidade de um produto <\/em>parte do conceito de ubiquidade<\/strong>, medida de quantos pa\u00edses produzem um determinado bem. Intuitivamente, bens mais ub\u00edquos, produzidos em muitas localidades, seriam menos complexos (exemplo: algod\u00e3o \u00e9 mais ub\u00edquo do que aparelhos de radiologia).<\/p>\n Entretanto, nem a diversidade de um pa\u00eds ou a ubiquidade de um produto s\u00e3o suficientes para medir sua complexidade. \u00c9 poss\u00edvel que um pa\u00eds produza muitos produtos, mas sem sofistica\u00e7\u00e3o. \u00c9 poss\u00edvel ainda que um produto seja pouco ub\u00edquo apenas por ser raro (como ur\u00e2nio), e n\u00e3o por conta do n\u00edvel de conhecimento de sua produ\u00e7\u00e3o.\u00a0 A medida de diversidade \u00e9 corrigida pela ubiquidade, e vice versa.<\/p>\n Assim, no \u00cdndice, a medida de diversidade de um pa\u00eds A \u00e9 corrigida de acordo com a ubiquidade dos produtos produzidos em A, e corrigida tamb\u00e9m de acordo com a diversidade presente em pa\u00edses que exportam o mesmo produto. Analogamente, a medida de ubiquidade de um produto B \u00e9 corrigida pela diversidade de produtos dos pa\u00edses que o exportam, bem como de acordo com a ubiquidade de outros produtos produzidas pelos pa\u00edses que exportam B.<\/p>\n Em verdade, a matriz \u201cpa\u00eds-produto\u201d que gera o \u00cdndice de Complexidade considera apenas os produtos que um pa\u00eds possui vantagem comparativa revelada (VCR), conforme o conceito de Balassa (1965). Existe vantagem comparativa revelada quando a participa\u00e7\u00e3o de um produto na pauta de exporta\u00e7\u00e3o de um pa\u00eds \u00e9 maior do que a m\u00e9dia internacional (grosso modo, sua participa\u00e7\u00e3o no com\u00e9rcio mundial). \u00c9 o caso do min\u00e9rio de ferro ou da soja no Brasil, por exemplo. \u00a0H\u00e1 ainda uma corre\u00e7\u00e3o para atenuar o impacto de flutua\u00e7\u00f5es de pre\u00e7o, com o uso da m\u00e9dia dos tr\u00eas anos anteriores a um determinado per\u00edodo. Para quem quiser conhecer mais sobre a formula\u00e7\u00e3o matem\u00e1tica do \u00cdndice, recomenda-se a leitura de Hausmann et al. (2011).<\/p>\n Hidalgo e Hausmann (2009) defendem que o \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica vem suprir uma lacuna da pesquisa emp\u00edrica, considerando que a teoria econ\u00f4mica j\u00e1 atribu\u00eda \u00e0 complexidade papel no crescimento econ\u00f4mico desde a m\u00e3o invis\u00edvel de Adam Smith at\u00e9 as teorias de crescimento end\u00f3geno de Romer (1990) e Grossman e Helpman (1991).<\/p>\n A l\u00f3gica por tr\u00e1s do \u00edndice \u00e9 a mesma exposta na se\u00e7\u00e3o anterior, que agora recapitulamos:\u00a0 a prosperidade de um pa\u00eds vem de sua capacidade de criar. Em verdade, este \u00e9 um conjunto de capacidades de sua popula\u00e7\u00e3o, dif\u00edcil de difundir no espa\u00e7o, e que \u00e9 refletida na diversidade e na sofistica\u00e7\u00e3o de sua estrutura produtiva. No \u00cdndice, como exposto acima, \u00a0a diversidade e a sofistica\u00e7\u00e3o da estrutura produtiva, por sua vez, s\u00e3o medidas de acordo com a vantagem comparativa revelada, seguindo as no\u00e7\u00f5es de diversidade e de ubiquidade.<\/p>\n Para ilustrar tal l\u00f3gica, Vasconcelos (2013) reproduz o exemplo de Felipe et al. (2012), que compara Canad\u00e1 e Vietn\u00e3. Inicialmente, o Canad\u00e1 tem menos diversidade do que o Vietn\u00e3: possu\u00eda vantagem comparativa revelada em 893 produtos, contra 902 do Vietn\u00e3. Os produtos do Canad\u00e1 s\u00e3o menos ub\u00edquos: na m\u00e9dia produzidos em 20 pa\u00edses, contra 25 do Vietn\u00e3.\u00a0 Adicionalmente, o \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica contempla ainda uma outra intera\u00e7\u00e3o: a diversidade\u00a0 dos pa\u00edses que tamb\u00e9m produzem, ou melhor, t\u00eam vantagem comparativa, nestes produtos. O resultado \u00e9 que em 2013 o Canad\u00e1 possu\u00eda um \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica de 0.70 (33\u00ba entre 186 pa\u00edses), com uma pauta exportadora que inclui em grande medida carros e produtos ligados ao transporte;\u00a0 m\u00e1quinas e equipamentos; e produtos qu\u00edmicos. J\u00e1 o Vietn\u00e3 tinha um ECI que, embora em alta, era de -0.27 (71\u00ba), refletindo uma pauta em que tem grande peso produtos t\u00eaxteis e vestu\u00e1rio. O Canad\u00e1 teria uma economia mais complexa, com redes de profissionais e institui\u00e7\u00f5es mais capazes de trazer prosperidade.<\/p>\n Desta forma, o \u00cdndice confirmaria a cr\u00edtica de Leontief ao uso exagerado na economia de \u00edndices agregados, que desconsideram informa\u00e7\u00e3o sobre ind\u00fastrias espec\u00edficas (Hidalgo, 2015). \u00a0Leontief se baseava nas famosas matrizes insumo-produto que lhe renderam um dos primeiros pr\u00eamios Nobel em Economia (1973). J\u00e1 o \u00cdndice, contrariamente a essas matrizes, n\u00e3o possui informa\u00e7\u00f5es ligando diferentes setores. Entretanto, os dados de com\u00e9rcio internacional teriam como vantagem a disponibilidade para muitos pa\u00edses e um amplo per\u00edodo de tempo, al\u00e9m de serem muito mais desagregados: s\u00e3o milhares de produtos, enquanto as matrizes de Leontief se baseiam em algumas dezenas de ind\u00fastrias (Hidalgo, 2015).<\/p>\n A pr\u00f3xima se\u00e7\u00e3o traz outros resultados do \u00edndice e analisa suas aplica\u00e7\u00f5es, com \u00eanfase no Brasil.<\/p>\n <\/p>\n 4. Resultados e aplica\u00e7\u00f5es<\/strong><\/p>\n Hausmann e Hidalgo (2011) defendem que o \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica (ECI) foi capaz de explicar 75% da varia\u00e7\u00e3o da renda em 75 pa\u00edses de sua amostra. O \u00cdndice teria poder explicativo muito maior do que um conjunto de indicadores de governan\u00e7a e qualidade de institui\u00e7\u00f5es do Banco Mundial (Worldwide Governance Indicators<\/em>, WGI) e do que indicadores de educa\u00e7\u00e3o. Um exemplo ilustrativo seria a trajet\u00f3ria de Gana e da Tail\u00e2ndia: o primeiro investiu mais em educa\u00e7\u00e3o, enquanto o segundo, com uma estrutura produtiva mais complexa, cresceu mais.<\/p>\n Em verdade, o pr\u00f3prio ECI j\u00e1 refletiria tamb\u00e9m essas vari\u00e1veis (institui\u00e7\u00f5es e educa\u00e7\u00e3o). No caso da educa\u00e7\u00e3o, ao contr\u00e1rio dos indicadores de provas padronizadas, o ECI seria capaz inclusive de refletir habilidades como criatividade e capacidade de trabalhar em equipe, essenciais para complexidade econ\u00f4mica (Hidalgo, 2015). O pr\u00f3prio uso de dados de com\u00e9rcio internacional poderia absorver a qualidade da governan\u00e7a e de institui\u00e7\u00f5es, uma vez que at\u00e9 a exporta\u00e7\u00e3o de frutos frescos requer uma aduana minimamente eficiente, bem como conformidade com padr\u00f5es sanit\u00e1rios ou fitossanit\u00e1rios internacionais. Seus criadores defendem tamb\u00e9m que o \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica refletiria tamb\u00e9m o capital social presente em um pa\u00eds, o que inclui valores culturais (Hidalgo, 2015).<\/p>\n Concretamente, n\u00e3o \u00e9 o \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica por si que apresenta grande poder preditivo, mas o res\u00edduo de uma regress\u00e3o entre o \u00cdndice e a renda per capita<\/em> dos pa\u00edses. Esse res\u00edduo indica pa\u00edses que est\u00e3o vivendo acima de suas capacidades, por possu\u00edrem renda per capita<\/em> alta em n\u00edveis relativos, quando se leva em conta a sua estrutura produtiva. Por outro lado, indica tamb\u00e9m pa\u00edses com potencial para crescer, ou seja, aqueles que ainda possuem uma renda relativamente baixa para uma estrutura produtiva razoavelmente desenvolvida.\u00a0 O res\u00edduo seria preditivo da trajet\u00f3ria dos pa\u00edses em m\u00e9dio e longo prazo (HIDALGO, 2015):<\/p>\n \u00c9 interessante notar que a complexidade econ\u00f4mica n\u00e3o prev\u00ea o crescimento econ\u00f4mico acuradamente para escalas de tempo pequenas, de menos de cinco anos. Esses tendem a ser dominadas por flutua\u00e7\u00f5es causadas por per\u00edodos de crise, mudan\u00e7as nos pre\u00e7os das commodities<\/em>, e em alguma extens\u00e3o varia\u00e7\u00f5es das taxas de c\u00e2mbio. Durante per\u00edodos de tempo mais longo (dez a quinze anos), a complexidade econ\u00f4mica \u00e9 altamente preditiva do crescimento econ\u00f4mico futuro, significando que essas medidas capturam informa\u00e7\u00e3o da capacidade de uma economia de gerar renda no longo prazo.<\/p>\n Hausmann (2012) exemplifica a l\u00f3gica da compara\u00e7\u00e3o da renda per capita<\/em> com a complexidade usando os casos de Gr\u00e9cia e \u00cdndia. Em 2013, estes pa\u00edses tinham ECI pr\u00f3ximos: 0.27 para Gr\u00e9cia (48\u00ba do mundo) e 0.26 para a \u00cdndia (50\u00ba). No entanto, a Gr\u00e9cia \u00e9 significativamente mais rica do que a \u00cdndia em termos per capita<\/em>. Mesmo em 2014, anos depois do in\u00edcio da grave crise grega, o pa\u00eds possu\u00eda uma renda per capita<\/em> que era a 44\u00aa do mundo, quatro vezes maior do que a indiana (125\u00aa do mundo apenas, segundo dados do FMI).<\/p>\n De fato, a \u00cdndia tem crescido velozmente, enquanto a Gr\u00e9cia se encontra em uma crise prolongada desde 2009. A discrep\u00e2ncia da renda per capita<\/em> em rela\u00e7\u00e3o aos \u00edndices de complexidade indicaria que a Gr\u00e9cia est\u00e1 vivendo acima do que seria poss\u00edvel no futuro, enquanto a \u00cdndia possuiria enorme potencial de crescimento. Para Hidalgo (2015), o conjunto de produtos que um pa\u00eds exporta seria altamente preditivo do n\u00edvel futuro de sua renda porque indica o conhecimento presente em uma sociedade hoje que contribuir\u00e1 para o seu n\u00edvel de prosperidade amanh\u00e3. Em Hidalgo e Hausmann (2009), a liga\u00e7\u00e3o entre complexidade e crescimento, como no caso da \u00cdndia, \u00e9 atribu\u00edda ao potencial que um pa\u00eds tem no futuro de desenvolver todos os produtos que s\u00e3o fact\u00edveis para o seu conjunto de capacidades.<\/p>\n J\u00e1 o Brasil possu\u00eda em 2013 um \u00edndice de 0.15, o 56\u00ba do mundo. Este seria um avan\u00e7o de 21 posi\u00e7\u00f5es desde 1964, mas um retrocesso de impressionantes 32 posi\u00e7\u00f5es desde 1993 (20 anos antes) ou de 13 posi\u00e7\u00f5es desde 2003 (10 anos antes), que coadunaria com a tese de desindustrializa\u00e7\u00e3o da economia brasileira. Trata-se de trajet\u00f3ria oposta \u00e0 da China, que em 1994 estava quase 20 posi\u00e7\u00f5es atr\u00e1s do Brasil, mas nos \u00faltimos 20 anos saltou quase 30 posi\u00e7\u00f5es, chegando ao 22\u00ba maior \u00edndice de complexidade. Os dois pa\u00edses praticamente trocaram de lugar em duas d\u00e9cadas.<\/p>\n Para Hausmann (2012), a converg\u00eancia que China ou \u00cdndia tem experimentado ocorreu porque a produ\u00e7\u00e3o em cadeias globais de valor permitiu que pa\u00edses menos desenvolvidos fossem pouco a pouco entrando na produ\u00e7\u00e3o de bens mais sofisticados, permitindo que as capacidades fossem se acumulando. Este processo gradual seria vantajoso, uma vez que seria dif\u00edcil dar um grande salto de uma vez de uma estrutura pouco complexa para uma muito complexa.<\/p>\n Em 2013, os dez pa\u00edses com maior \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica, seriam, em ordem, Jap\u00e3o, Su\u00ed\u00e7a, Alemanha, Su\u00e9cia,\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 Reino Unido, Rep\u00fablica Tcheca, Coreia do Sul, Finl\u00e2ndia, \u00c1ustria e Singapura. Na Am\u00e9rica Latina, estariam na frente do Brasil: M\u00e9xico (23\u00ba), Panam\u00e1 (44\u00ba), Uruguai, (52\u00ba), Argentina (53\u00ba), Col\u00f4mbia (54\u00ba) e Costa Rica (55\u00ba). Outros emergentes que tamb\u00e9m est\u00e3o na frente do Brasil incluem China (22\u00ba), Tail\u00e2ndia (29\u00ba), Mal\u00e1sia (34\u00aa), R\u00fassia (38\u00ba), Turquia (40\u00ba), \u00c1frica do Sul (45\u00ba), Filipinas (49\u00ba), e \u00cdndia (50\u00ba).<\/p>\n <\/p>\n Gr\u00e1fico 1 \u2013 Posi\u00e7\u00e3o do Brasil no ranking de complexidade econ\u00f4mica \u2013 1964-2013<\/em><\/p>\n Fonte: The Observatory for Economic Complexity (OEC). Dispon\u00edvel em: http:\/\/atlas.media.mit.edu\/en\/<\/a>.<\/p>\n <\/p>\n Em 2013, o Brasil estava na mesma coloca\u00e7\u00e3o que estava 40 anos antes \u2013 vide gr\u00e1fico acima. Neste sentido, a perda de complexidade da economia brasileira a estaria tornando menos \u201cadapt\u00e1vel\u201d, com menor potencial para usar uma nova habilidade (Britto et al., 2014). Britto et al. afirmam que a perda de competitividade da ind\u00fastria brasileira nos \u00faltimos anos foi concentrada nas ind\u00fastrias manufatureiras de m\u00e9dia de tecnologia (MMT) e de baixa tecnologia (MBT).<\/p>\n J\u00e1 Vasconcelos (2013) analisa o per\u00edodo quando a complexidade da economia brasileira esteve crescendo, concluindo que tiveram grande import\u00e2ncia os per\u00edodos do Programa de A\u00e7\u00e3o Econ\u00f4mica do Governo (PAEG), do milagre econ\u00f4mico e do II Plano Nacional de Desenvolvimento (II PND).\u00a0 Tais per\u00edodos teriam sido bem sucedidos, n\u00e3o em investir nas vantagens comparativas do pa\u00eds, mas em mover a estrutura produtiva ao centro do espa\u00e7o de produtos \u2013 conceito que ser\u00e1 apresentado a seguir. \u00a0Por ora, o centro do espa\u00e7o de produtos \u00e9 onde estariam os produtos mais sofisticados, com maior potencial de encadeamento (a la Hirschman).<\/p>\n Segundo o Atlas de Complexidade Econ\u00f4mica<\/em> de 2011, os produtos mais complexos pertenciam aos grupos de m\u00e1quinas e equipamentos ou qu\u00edmica (como utens\u00edlios que fazem uso de radia\u00e7\u00e3o ou raios-X), enquanto os produtos menos complexos eram commodities <\/em>como petr\u00f3leo bruto, min\u00e9rio de estanho, algod\u00e3o e gr\u00e3os de cacau.<\/p>\n Para o Brasil, o portal DataViva3<\/sup>, criado por uma s\u00e9rie de organiza\u00e7\u00f5es e com o apoio do Governo de Minas Gerais, traz uma grande quantidade de informa\u00e7\u00f5es para estados e munic\u00edpios. Em 2014, as economias mais complexas seriam as de S\u00e3o Paulo (com ampla margem), Rio de Janeiro e Amazonas, enquanto as menos complexas as de Bahia, Par\u00e1 e Santa Catarina4<\/sup>. O Gr\u00e1fico 2, abaixo, relaciona os dados de complexidade de 2014 com os dados o PIB per capita<\/em> em 2013.<\/p>\n <\/p>\n Gr\u00e1fico 2 \u2013 \u00cdndice de Complexidade e PIB per capita, por unidade federativa.<\/em><\/p>\n Fonte: Elabora\u00e7\u00e3o pr\u00f3pria, a partir de dados do DataViva e do IBGE.<\/p>\n <\/p>\n O Gr\u00e1fico revela que, embora o \u00edndice de complexidade seja muito similar para os estados brasileiros (com a exce\u00e7\u00e3o do outlier<\/em> S\u00e3o Paulo), o PIB per capita<\/em> diverge muito. As unidades federativas (UF) destacadas s\u00e3o algumas daquelas que, segundo a l\u00f3gica apresentada anteriormente, teriam maior ou menor potencial para crescer no m\u00e9dio e no longo prazo, de acordo com a sua posi\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 linha de regress\u00e3o.<\/p>\n Nesse sentido, as UF que teriam menor potencial para crescer no futuro, por j\u00e1 terem um n\u00edvel de renda elevado face \u00e0 sua estrutura produtiva, seriam o Distrito Federal e estados muito dependentes de commodities<\/em> como o Rio de Janeiro (petr\u00f3leo), Esp\u00edrito Santo (petr\u00f3leo e min\u00e9rio de ferro) e Mato Grosso\/Mato Grosso do Sul (soja, carne). Por outro lado, se esperaria crescimento mais acelerado, no m\u00e9dio e longo prazo, para cinco estados nordestinos: Piau\u00ed, Maranh\u00e3o, Alagoas, Para\u00edba e Cear\u00e1, que possuem um PIB per capita <\/em>bem abaixo de outros estados com complexidade semelhante.\u00a0 Note que isto n\u00e3o quer dizer que estes estados liderariam o crescimento do pa\u00eds, mas teriam grande potencial para convergir partindo de seus n\u00edveis atuais de PIB per capita<\/em>, que s\u00e3o muito baixos.<\/p>\n Gr\u00e1fico an\u00e1logo \u00e9 apresentado abaixo para pa\u00edses, enfatizando a posi\u00e7\u00e3o do Brasil, e de Gr\u00e9cia e \u00cdndia, pa\u00edses comparados anteriormente.<\/p>\n <\/p>\n Gr\u00e1fico 3 \u2013 \u00cdndice de Complexidade e renda per capita (log) por pa\u00eds \u2013 2008<\/em><\/p>\n Fonte: Hausmann et al. (2011).<\/p>\n <\/p>\n 5. O espa\u00e7o de produtos<\/strong><\/p>\n Os criadores do \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica tamb\u00e9m apresentaram outra interessante ferramenta para analisar a economia de um pa\u00eds: o espa\u00e7o de produtos, dispon\u00edvel para dezenas de pa\u00edses na p\u00e1gina do Atlas de Complexidade Econ\u00f4mica<\/em>. Ainda de acordo com os dados de com\u00e9rcio exterior, o espa\u00e7o de produtos permite visualizar a estrutura produtiva de uma economia em apenas uma figura. No espa\u00e7o, cada ponto corresponde a um produto, que pode estar ligado a um outro ponto, ou a v\u00e1rios outros pontos, de acordo com a probabilidade que os produtos t\u00eam de serem exportados conjuntamente (o que reflete a conex\u00e3o na produ\u00e7\u00e3o deles). Assim, produtos mais complexos tendem a ter v\u00e1rias liga\u00e7\u00f5es e se situar no meio do espa\u00e7o, como m\u00e1quinas e equipamentos, qu\u00edmicos e metais processados, enquanto commodities<\/em> tendem a ficar na periferia do espa\u00e7o.<\/p>\n O espa\u00e7o de produtos \u00e9 o mesmo para todos os pa\u00edses, e foi gerado computacionalmente a partir dos dados de com\u00e9rcio exterior, sem que tenha sido necess\u00e1rio fazer qualquer hip\u00f3tese a respeito dos produtos ou das ind\u00fastrias. O que muda, de pa\u00eds para pa\u00eds, \u00e9 o destaque dado para os produtos em que existe vantagem comparativa: eles aparecem coloridos e ser\u00e3o t\u00e3o maiores quanto maior for o seu peso no com\u00e9rcio. As cores diferentes se referem a ind\u00fastrias diferentes, escolhidas pelos pesquisadores que o criaram (ex: tons de azul se referem a m\u00e1quinas ou eletroeletr\u00f4nicos, a cor rosa se refere a qu\u00edmicos).<\/p>\n As Figuras 1 e 2 apresentam o espa\u00e7o de produtos da economia brasileira em 1963 e em 2013.<\/p>\n Figura 1 \u2013 Espa\u00e7o de produtos – Brasil (1963)<\/p>\n Fonte: The Observatory for Economic Complexity<\/em>.<\/p>\n <\/p>\n Figura 2 \u2013 Espa\u00e7o de produtos – Brasil (2013)<\/p>\n Fonte: The Observatory for Economic Complexity<\/em>.<\/p>\n <\/p>\n Neste per\u00edodo, a estrutura produtiva foi migrando ao centro do espa\u00e7o de produtos, ilustrando a vantagem comparativa em produtos mais complexos, como caminh\u00f5es e tratores. No entanto, um dos principais produtos do pa\u00eds (revelado pelo tamanho do ponto) \u00e9 a soja, em cor bege e abaixo, um produto que seria perif\u00e9rico, com poucas conex\u00f5es com outros produtos e baixo potencial para desenvolver novas ind\u00fastrias. \u00a0J\u00e1 a Figura 3 apresenta o espa\u00e7o de produtos da China em 2013.<\/p>\n <\/p>\n Figura 3 \u2013 Espa\u00e7o de produtos – China (2013)<\/p>\n Fonte: The Observatory for Economic Complexity<\/em>.<\/p>\n <\/p>\n A p\u00e1gina do Atlas mantida pelo Observat\u00f3rio de Complexidade Econ\u00f4mica do MIT, bem como o DataViva para o caso brasileiro, permitem visualizar com detalhes o espa\u00e7o de produto de v\u00e1rios pa\u00edses.<\/p>\n <\/p>\n 6. Considera\u00e7\u00f5es finais: complexidade e pol\u00edtica industrial<\/strong><\/p>\n Com base em instrumentos como o \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica e o espa\u00e7o de produtos, a pesquisa em complexidade daria ensejo a prescri\u00e7\u00f5es de pol\u00edtica industrial que lembram muito a pesquisa de autores considerados heterodoxos, apesar de ter\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0\u00a0 florescido em centros como MIT e Harvard.<\/p>\n Hidalgo e Hausmann (2009), explicitamente retomando as ideias de Albert Hirschman, defendem uma estrat\u00e9gia de desenvolvimento que promova produtos de modo a criar incentivos para o ac\u00famulo de mais capacidades. Essas capacidades adicionais poderiam sucessivamente trazer mais produtos e mais capacidades. Isso equivaleria, no espa\u00e7o de produtos, a tentar chegar mais pr\u00f3ximo do n\u00facleo, por meio do caminho menos arriscado, conforme as vantagens comparativas reveladas atuais. Conforme o espa\u00e7o de produtos, a \u00eanfase em commodities <\/em>levaria a becos praticamente sem sa\u00edda.\u00a0 J\u00e1 Hausmann (2012) defende uma pol\u00edtica industrial que invista em ind\u00fastrias mais parecidas com as que j\u00e1<\/em> existem em um pa\u00eds.<\/p>\n A discuss\u00e3o sobre pol\u00edtica industrial no Brasil esteve repleta de controv\u00e9rsias nos \u00faltimos anos, com destaque para temas como a pol\u00edtica de \u201ccampe\u00f5es nacionais\u201d e a desindustrializa\u00e7\u00e3o. Instrumentos como o \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica ou o espa\u00e7o de produtos permitiriam uma an\u00e1lise mais criteriosa sobre os setores de nossa economia, o que poderia ser \u00fatil at\u00e9 mesmo para aqueles que defendem uma pol\u00edtica industrial mais agressiva e menos horizontal (o que tende a ser mais caro \u00e0 \u201cheterodoxia\u201d). Para qualquer ponto de vista neste debate, a pesquisa sobre complexidade de Hidalgo e Hausmann, aqui apresentada, parece promissora por fornecer para a discuss\u00e3o insumos com bases mais emp\u00edricas<\/em>.<\/p>\n <\/p>\n Refer\u00eancias<\/strong><\/p>\n BALASSA, B. Trade Liberalization and Revealed Comparative Advantage. Manchester School of Economic and Social Studies<\/em>, vol. 33, p. 99-123, 1965.<\/p>\n BRITTO, G.; FREITAS, E.; ROMERO, J. P. Competitividade Industrial e Inova\u00e7\u00e3o na Abordagem da Complexidade<\/em>: uma an\u00e1lise do caso brasileiro. 2014. Dispon\u00edvel em: http:\/\/sicetel.org.br\/sicetel2014\/wp-content\/uploads\/2014\/09\/gustavo-brito.pdf<\/a>.<\/p>\n FELIPE, J. ; KUMAR, U. ; ABDON, A. Using capabilities to project growth 2010-2030. Journal of Japanese and International Economies<\/em>, v. 26, p. 153-166, 2012.<\/p>\n GROSSMAN, G. M.; HELPMAN, E. Quality ladders in the theory of growth. Review of Economic Studies<\/em>, 58?43-61, 1991.<\/p>\n HAUSMANN. R. Taking Stock of Economic Complexity<\/em>. Confer\u00eancia do \u00a0New Institute for Economic Thinking.\u00a0 2012. Dispon\u00edvel em: https:\/\/www.youtube.com\/watch?v=EysLMxRt3Dg<\/a>.<\/p>\n HAUSMANN, R.; HIDALGO, C. A.; BUSTOS, S.; COSCIA, M.; CHUNG, S.; JIMENEZ, J.; SIM\u00d5ES, A.; YILDIRIM, M. A. The Atlas of Economic Complexity: <\/em>Mapping Paths to Prosperity. <\/em>2011. Dispon\u00edvel em: http:\/\/atlas.cid.harvard.edu\/about\/data\/sitc4\/<\/a>.<\/p>\n HIDALGO, C. Why Information Grows<\/em>: The Evolution of Order, from Atoms to Economies. New York: Basic Books, 2015.<\/p>\n HIDALGO, C.; HAUSMANN, R. The building blocks of economic complexity. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America<\/em>, vol. 106(26), p. 10570\u201310575, 2009.<\/p>\n ______________________. The network structure of economic output. Journal of Economic Growth<\/em>, v. 16 (4), p. 309\u2013342, 2011.<\/p>\n ROMER, P. Endogenous technological change. Journal of Political Economy<\/em>, vol. 98 (5), p. S71\u2013S102, 1990.<\/p>\n VASCONCELOS, T. C. S. O \u00cdndice de Complexidade Econ\u00f4mica: Uma Revis\u00e3o Te\u00f3rica e Aplica\u00e7\u00f5es ao Caso Brasileiro. Monografia de conclus\u00e3o do curso de Bacharel em Ci\u00eancias Econ\u00f4micas da Universidade de Bras\u00edlia. Apresenta\u00e7\u00e3o em 19 de novembro de \u00a02013.<\/p>\n _____________<\/p>\n 1<\/sup>Hidalgo (2015) diferencia os termos knowledge<\/em> e knowhow.<\/em> Por simplifica\u00e7\u00e3o, tratamos aqui ambos como \u201cconhecimento\u201d. <\/p>\n Download:<\/strong><\/p>\n<\/p>\n
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\n2<\/sup> Especificamente, para Hidalgo, produtos (os cristais de imagina\u00e7\u00e3o) teriam tr\u00eas atributos que justificariam sua import\u00e2ncia: a amplia\u00e7\u00e3o da capacidade humana (ex: voar), criatividade combinat\u00f3ria (a possibilidade de cria\u00e7\u00e3o de novos produtos a partir de outros) e o seu papel como meio de express\u00e3o da criatividade humana.
\n3<\/sup> http:\/\/pt.dataviva.info\/<\/a>.
\n4<\/sup> Ao inv\u00e9s de dados sobre com\u00e9rcio internacional, o DataViva usada dados de emprego.<\/p>\n