{"id":2592,"date":"2015-08-31T09:53:08","date_gmt":"2015-08-31T12:53:08","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=2592"},"modified":"2015-08-31T09:53:08","modified_gmt":"2015-08-31T12:53:08","slug":"o-faq-da-crise","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=2592","title":{"rendered":"O F.A.Q. da Crise"},"content":{"rendered":"

Foi publicado recentemente neste site<\/em> o texto \u201cPor que a economia brasileira foi para o buraco?<\/a>\u201d. Com base no diagn\u00f3stico ali tra\u00e7ado, listamos uma s\u00e9rie de perguntas frequentes sobre a crise econ\u00f4mica, oferecendo as nossas respostas.<\/p>\n

\u00a0<\/strong><\/p>\n

1 – A crise que estamos vivendo \u00e9 consequ\u00eancia da crise econ\u00f4mica internacional?<\/strong><\/p>\n

R: <\/strong>N\u00e3o. A crise fiscal, a infla\u00e7\u00e3o alta, o desemprego crescente, a baixa capacidade de crescimento da economia brasileira s\u00e3o fundamentalmente consequ\u00eancia de desequil\u00edbrio fiscais estruturais (a despesa p\u00fablica cresce mais que o PIB h\u00e1 30 anos) somada a uma pol\u00edtica econ\u00f4mica equivocada adotada a partir de 2005\/2006.<\/p>\n

Na verdade, a situa\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica internacional existente entre 2003 e 2011 foi muito favor\u00e1vel ao Brasil, devido a dois fen\u00f4menos: o grande aumento nos pre\u00e7os dos nossos produtos de exporta\u00e7\u00e3o (commodities<\/em>) e a fartura de cr\u00e9dito no mercado financeiro internacional. O nosso governo tomou essas duas situa\u00e7\u00f5es passageiras como se fossem definitivas e passou a conduzir a pol\u00edtica econ\u00f4mica acreditando que os pre\u00e7os das commodities<\/em> nunca iriam mudar e que haveria dinheiro barato para sempre no mercado financeiro internacional.<\/p>\n

Por isso, acelerou os gastos p\u00fablicos, concedeu isen\u00e7\u00f5es tribut\u00e1rias, distribuiu benef\u00edcios credit\u00edcios, interferiu no processo de decis\u00e3o das grandes empresas, congelou pre\u00e7os p\u00fablicos e fez muitas outras pol\u00edticas critic\u00e1veis, com descrito em detalhe no post<\/em> \u201cPor que a economia brasileira foi para o buraco?<\/a>\u201d Enquanto os ventos na economia internacional eram favor\u00e1veis, o Brasil ia bem apesar dos erros de pol\u00edtica econ\u00f4mica. Contudo, tais erros acumularam distor\u00e7\u00f5es (d\u00e9ficits p\u00fablico e no balan\u00e7o de pagamentos crescentes, aumento da infla\u00e7\u00e3o, insustentabilidade da d\u00edvida p\u00fablica).<\/p>\n

Agora que os ventos favor\u00e1veis vindo do exterior mudaram (queda nos pre\u00e7os das commodities<\/em> e tend\u00eancia de aumento das taxas de juros internacionais), como seria de se prever, o governo passa a culpar tais mudan\u00e7as pela crise brasileira. Se durante o per\u00edodo de bonan\u00e7a tiv\u00e9ssemos adotado uma pol\u00edtica econ\u00f4mica respons\u00e1vel, n\u00e3o estar\u00edamos enfrentando uma situa\u00e7\u00e3o t\u00e3o dura. Se tiv\u00e9ssemos aproveitado os tempos bons para fazer reformas que consertassem as inconsist\u00eancias no gasto p\u00fablico, estar\u00edamos mais bem preparados para o momento atual. Assim como um organismo fragilizado \u00e9 mais vulner\u00e1vel a contrair doen\u00e7as, uma economia desajustada sofre mais quando h\u00e1 uma crise na economia internacional. Basta comparar o desempenho da economia brasileira com a de pa\u00edses latino-americanos que praticam melhores pol\u00edticas macroecon\u00f4micas, como Chile e Col\u00f4mbia. Esses dois pa\u00edses est\u00e3o sentido o impacto da crise internacional, mas com intensidade muito menor que o Brasil.<\/p>\n

2 – Se a economia est\u00e1 em recess\u00e3o, por que fazer ajuste fiscal, que aprofunda mais a recess\u00e3o? Ser\u00e1 que esse tipo de rem\u00e9dio n\u00e3o ir\u00e1 matar o paciente?<\/strong><\/p>\n

R: <\/strong>Em primeiro lugar, \u00e9 preciso dizer que a recess\u00e3o come\u00e7ou ANTES do ajuste fiscal. O Comit\u00ea de Data\u00e7\u00e3o de Ciclos Econ\u00f4micos (Codace) da FGV mostrou recentemente que a recess\u00e3o come\u00e7ou em meados de 2014. Portanto, mais de seis meses antes da posse do Ministro Levy e do in\u00edcio do ajuste fiscal.<\/p>\n

Essa recess\u00e3o se deu pelo esgotamento de um padr\u00e3o de crescimento do gasto p\u00fablico acima do crescimento do PIB, somado a uma pol\u00edtica econ\u00f4mica populista e insustent\u00e1vel, adotada a partir de 2005\/2006. A crise \u00e9 composta por v\u00e1rios problemas: infla\u00e7\u00e3o alta e crescente, vis\u00edvel esgotamento financeiro do Tesouro e incapacidade de continuar a subsidiar investimentos, paralisa\u00e7\u00e3o do setor de \u00f3leo e g\u00e1s pela mudan\u00e7a do marco regulat\u00f3rio do pr\u00e9-sal, amea\u00e7a de racionamento de energia, sobre-endividamento da maior empresa do pa\u00eds, queda da produtividade da economia (devido aos in\u00fameros gargalos produtivos, como a infraestrutura deficiente, legisla\u00e7\u00e3o tribut\u00e1ria e trabalhista inadequadas e interfer\u00eancia do governo nas decis\u00f5es privadas), sobre-endividamento das fam\u00edlias, crescente risco de rebaixamento da nota de cr\u00e9dito do Governo Federal para o n\u00edvel de investimento especulativo.<\/p>\n

Enquanto a China puxava nossa economia, parte desses problemas n\u00e3o aparecia ou era menor. Acabado o est\u00edmulo externo, a crise se imp\u00f4s.<\/p>\n

Na situa\u00e7\u00e3o em que nos encontramos, o ajuste fiscal n\u00e3o \u00e9 uma das pol\u00edticas poss\u00edveis. Ele \u00e9 o \u00fanico caminho respons\u00e1vel a ser trilhado. Esse ajuste \u00e9 condi\u00e7\u00e3o necess\u00e1ria para que o pa\u00eds tenha alguma esperan\u00e7a de retomar o crescimento no futuro. Sem o ajuste fiscal, a d\u00edvida p\u00fablica vai crescer rapidamente, o Tesouro n\u00e3o ter\u00e1 como financi\u00e1-la (porque os investidores n\u00e3o v\u00e3o querer correr o risco de levar o calote) e ser\u00e1 preciso emitir moeda para pagar a d\u00edvida p\u00fablica. Voltaremos \u00e0 \u00e9poca da hiperinfla\u00e7\u00e3o. E quem viveu nos anos 80 sabe que com hiperinfla\u00e7\u00e3o n\u00e3o se vai a lugar nenhum.<\/p>\n

Embora seja necess\u00e1rio (o \u00fanico caminho poss\u00edvel, a n\u00e3o ser que se considere o caos econ\u00f4mico como op\u00e7\u00e3o v\u00e1lida), o ajuste fiscal n\u00e3o ser\u00e1 suficiente para garantir a retomada do crescimento. Est\u00e3o certos os que dizem que o ajuste vai aprofundar a recess\u00e3o. A \u00fanica possibilidade de o ajuste fiscal n\u00e3o gerar mais recess\u00e3o seria faz\u00ea-lo por meio de reformas que permitissem reduzir o gasto p\u00fablico corrente, abrindo espa\u00e7o para que, ao mesmo tempo em que o super\u00e1vit prim\u00e1rio aumentasse, a carga tribut\u00e1ria pudesse ser mantida constante e houvesse investimentos de qualidade em infraestrutura.<\/p>\n

Por\u00e9m, n\u00e3o \u00e9 esse o padr\u00e3o de ajuste fiscal de curto prazo vi\u00e1vel no Brasil. Como no passado, o ajuste ser\u00e1 feito por meio de aumento de tributos e mais repress\u00e3o ao investimento. N\u00e3o h\u00e1 como n\u00e3o derrubar a economia fazendo tal ajuste. Mesmo assim, \u00e9 melhor fazer esse ajuste sub-\u00f3timo do que n\u00e3o fazer nenhum ajuste e rumar para a hiperinfla\u00e7\u00e3o.<\/p>\n

Ou seja: o ajuste em curso vai ajudar a derrubar a economia no curto prazo. Mas a rec\u00edproca n\u00e3o \u00e9 verdadeira: o \u201cn\u00e3o-ajuste\u201d n\u00e3o far\u00e1 a economia crescer. Ir\u00e1, isso sim, nos levar para uma situa\u00e7\u00e3o ainda pior: a hiperinfla\u00e7\u00e3o e a desestrutura\u00e7\u00e3o da economia. H\u00e1, ainda, o risco de ficarmos no meio do caminho: um ajuste insuficiente que n\u00e3o evitar\u00e1 o pior, e ainda impor\u00e1 custos \u00e0 sociedade.<\/p>\n

3 – A tentativa de resolver a crise econ\u00f4mica na Europa por meio de medidas de austeridade fiscal falhou. Por que vamos insistir nesse rem\u00e9dio que n\u00e3o funcionou em outros lugares?<\/strong><\/p>\n

R: <\/strong>\u00c9 incorreto dizer que a pol\u00edtica de ajuste na Europa foi apenas de austeridade fiscal. Irlanda, Portugal e Espanha implantaram n\u00e3o apenas duros ajustes fiscais, mas tamb\u00e9m fizeram reformas importantes: vendas de ativos, flexibiliza\u00e7\u00e3o do mercado de trabalho, reforma or\u00e7ament\u00e1ria.<\/p>\n

Tamb\u00e9m \u00e9 incorreto dizer que esse conjunto de medidas n\u00e3o deu resultado. Esses tr\u00eas pa\u00edses sofreram as dores do ajuste, mas est\u00e3o todos emergindo da crise e voltando a crescer, assim como diversos pa\u00edses do leste europeu, como Pol\u00f4nia, Hungria e os pa\u00edses b\u00e1lticos.<\/p>\n

A li\u00e7\u00e3o que devemos tirar do caso europeu \u00e9 justamente o contr\u00e1rio da afirma\u00e7\u00e3o feita na pergunta: o pa\u00eds que se recusou a se ajustar, a Gr\u00e9cia, \u00e9 que foi para uma crise aguda. O caso grego \u00e9 um exemplo do que ocorrer\u00e1 com o Brasil se n\u00e3o fizermos um adequado ajuste fiscal. Diga-se de passagem, apesar de todo o barulho pol\u00edtico feito por seu governo populista, a Gr\u00e9cia acabou tendo que por em pr\u00e1tica um programa de ajuste fiscal e de reforma estrutural do setor p\u00fablico. N\u00e3o apenas por exig\u00eancia dos credores, mas por uma quest\u00e3o de sobreviv\u00eancia da economia do pa\u00eds.<\/p>\n

Deve-se dizer, por fim, que a contra\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica nos ajustes fiscais feitos nos pa\u00edses do Euro tende a ser maior do que em um pa\u00eds que tem moeda pr\u00f3pria, como o Brasil. Isso porque os pa\u00edses do Euro n\u00e3o t\u00eam a op\u00e7\u00e3o de se ajustar por meio da desvaloriza\u00e7\u00e3o cambial, j\u00e1 que a moeda \u00e9 \u00fanica. Por isso, para reduzir os custos internos e se tornarem mais produtivos, eles precisam de uma grande contra\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica, para gerar grande desemprego e, com isso, reduzir os sal\u00e1rios e os custos das empresas. No Brasil, a desvaloriza\u00e7\u00e3o cambial pode fazer uma parte desse servi\u00e7o, sendo necess\u00e1ria menor contra\u00e7\u00e3o do PIB.<\/p>\n

4 – N\u00e3o seria contradit\u00f3rio acabar com a desonera\u00e7\u00e3o da folha de pagamentos no momento em que as empresas est\u00e3o sofrendo com a crise econ\u00f4mica?<\/strong><\/p>\n

R: <\/strong>Sem d\u00favida que seria melhor fazer um ajuste fiscal baseado em redu\u00e7\u00e3o da despesa p\u00fablica, sem a necessidade de elevar tributos. Isso n\u00e3o aumentaria os custos das empresas, geraria menos desemprego e abriria mais espa\u00e7o para o investimento privado. Por\u00e9m, o or\u00e7amento p\u00fablico brasileiro \u00e9 muito r\u00edgido. Se n\u00e3o fizermos reformas que reduzam o ritmo de crescimento de despesas da previd\u00eancia, das pol\u00edticas sociais ou da folha de pagamento, n\u00e3o haver\u00e1 como conter a expans\u00e3o do gasto.<\/p>\n

Nessa situa\u00e7\u00e3o, como j\u00e1 afirmado acima, \u00e9 melhor que se fa\u00e7a um ajuste de baixa qualidade (via aumento de impostos e corte de investimentos) do que n\u00e3o se fazer ajuste nenhum.<\/p>\n

O risco, como j\u00e1 apontado na resposta \u00e0 quest\u00e3o 1, \u00e9 que o ajuste \u201cpoliticamente poss\u00edvel\u201d n\u00e3o seja suficiente para reequilibrar as contas e conter o crescimento da d\u00edvida. A\u00ed os sacrif\u00edcios ser\u00e3o em v\u00e3o.<\/p>\n

5 – O ajuste fiscal vai ser pago pelos mais pobres? <\/strong><\/p>\n

R: <\/strong>N\u00e3o necessariamente os pobres pagar\u00e3o pelo ajuste fiscal. Como afirmado ao longo do texto \u201cPor que a economia brasileira foi para o buraco?<\/em><\/a>\u201d, o gasto p\u00fablico no Brasil beneficia todas as camadas de renda. Se fizermos uma reforma fiscal que contenha a expans\u00e3o dos gastos feitos a favor das classes alta e m\u00e9dia, poderemos ter um efeito de redistribui\u00e7\u00e3o de renda. Uma reforma da previd\u00eancia social, por exemplo, que requeira maior tempo de trabalho para a aposentadoria, tende a ser redistribuidora de renda, pois o seu custo recair\u00e1 sobre a classe m\u00e9dia e alta urbana. O mesmo se pode dizer de um maior controle na contrata\u00e7\u00e3o e remunera\u00e7\u00e3o de servidores p\u00fablicos, que, em sua maioria, est\u00e3o entre os 5% mais ricos do pa\u00eds. O fim dos subs\u00eddios credit\u00edcios a grandes empresas tamb\u00e9m teria importante efeito redistributivo de renda. Um redirecionamento do gasto p\u00fablico em educa\u00e7\u00e3o do n\u00edvel universit\u00e1rio para o ensino b\u00e1sico tamb\u00e9m beneficiaria os mais pobres, principalmente se fosse institu\u00edda a cobran\u00e7a de mensalidades nas universidades p\u00fablicas. Mesmo alguns programas normalmente identificados como sendo de atendimento aos mais pobres, como o abono salarial e o seguro desemprego, atendem camadas de renda acima do n\u00edvel de pobreza: o seu redesenho pode levar \u00e0 redu\u00e7\u00e3o de despesas sem afetar os mais pobres.<\/p>\n

Deve-se lembrar, ainda, que o n\u00e3o-ajuste levar\u00e1 a aumento da infla\u00e7\u00e3o; esta sim muito prejudicial aos pobres e concentradora de renda.<\/p>\n

6 – Por que n\u00e3o fazemos o ajuste tributando os bancos?<\/strong><\/p>\n

R: <\/strong>Uma li\u00e7\u00e3o b\u00e1sica em economia \u00e9 a de que o custo dos tributos n\u00e3o incide, necessariamente, sobre o agente econ\u00f4mico que \u00e9 tributado. Sempre que a pessoa f\u00edsica ou jur\u00eddica que \u00e9 tributada pode passar para frente o custo do imposto pago, ela passar\u00e1. Uma maior tributa\u00e7\u00e3o dos bancos (que j\u00e1 s\u00e3o bastante tributados) se converter\u00e1, total ou parcialmente, em aumento das taxas de juros por eles cobradas. Quem pagar\u00e1 uma parte ou a totalidade do imposto ser\u00e1 o indiv\u00edduo ou a empresa que precisar tomar cr\u00e9dito.<\/p>\n

N\u00e3o obstante isso, tendo em vista o ex\u00edguo espa\u00e7o pol\u00edtico para se cortar despesas, \u00e9 poss\u00edvel que se acabe optando por tributar as opera\u00e7\u00f5es de cr\u00e9dito, pois essa \u00e9 uma forma dissimulada de se ampliar a tributa\u00e7\u00e3o sobre a popula\u00e7\u00e3o como um todo, disfar\u00e7ando-a de tributa\u00e7\u00e3o sobre os bancos.<\/p>\n

7- Por que n\u00e3o fazemos o ajuste tributando os ricos, atrav\u00e9s da cria\u00e7\u00e3o do Imposto sobre Grandes Fortunas?<\/strong><\/p>\n

Esse imposto, sozinho, n\u00e3o resolveria o problema. Mesmo que n\u00e3o se preveja nenhuma isen\u00e7\u00e3o, nem se leve em conta a fuga de capitais que ele provocaria, sua arrecada\u00e7\u00e3o dificilmente passaria de R$ 5 bilh\u00f5es por ano. O valor \u00e9 irris\u00f3rio frente \u00e0s necessidades fiscais do Tesouro Nacional.<\/p>\n

Pode-se discutir a progressividade ou regressividade do sistema tribut\u00e1rio brasileiro e, com isso, a possibilidade de tributos que incidam sobre os mais ricos. Por\u00e9m, n\u00e3o se pode esperar que esse tipo de tributa\u00e7\u00e3o gere receita suficiente para fechar as contas p\u00fablicas. Somente os aumentos previstos nas \u00e1reas de previd\u00eancia, sa\u00fade e educa\u00e7\u00e3o para os pr\u00f3ximos anos est\u00e1 na casa de R$ 22 bilh\u00f5es por ano.<\/p>\n

Tributar grandes fortunas pode tamb\u00e9m trazer o impacto indesejado de reduzir ainda mais a j\u00e1 reduzida taxa de poupan\u00e7a dom\u00e9stica.<\/p>\n

8 – As despesas com juros s\u00e3o da ordem de R$ 417 bilh\u00f5es por ano. Por que n\u00e3o fazemos o ajuste fiscal cortando a taxa de juros fixada pelo Banco Central? N\u00e3o seria muito mais f\u00e1cil do que cortar programas sociais?<\/strong><\/p>\n

R: <\/strong>Isso j\u00e1 foi tentado pelo Governo, no \u00e2mbito da \u201cnova matriz econ\u00f4mica\u201d. Entre agosto de 2011 e outubro de 2012 a taxa Selic foi sistematicamente reduzida, passando de 12,5% a.a. para 7,25% a.a.. Por\u00e9m, a redu\u00e7\u00e3o for\u00e7ada dos juros, sem que haja uma correspondente redu\u00e7\u00e3o do d\u00e9ficit prim\u00e1rio, aumenta a infla\u00e7\u00e3o e n\u00e3o se sustenta. O d\u00e9ficit do governo coloca renda na m\u00e3o das pessoas e aumenta o consumo. Como a oferta de bens e servi\u00e7os \u00e9 r\u00edgida (h\u00e1 uma s\u00e9rie de obst\u00e1culos \u00e0 expans\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o no Brasil, como descrito no texto), o aumento da demanda leva a aumento de pre\u00e7os.<\/p>\n

Por isso, o ajuste das contas n\u00e3o financeiras deve preceder a redu\u00e7\u00e3o dos juros pelo Banco Central. Tentar come\u00e7ar pelos juros, apesar de ser a conta mais elevada, n\u00e3o \u00e9 algo consistente ou sustent\u00e1vel. Ademais, a maior parte dos valores pagos a t\u00edtulos de amortiza\u00e7\u00e3o e juros da d\u00edvida n\u00e3o v\u00eam diretamente da tributa\u00e7\u00e3o imposta \u00e0 popula\u00e7\u00e3o, e sim de novos empr\u00e9stimos, que rolam os antigos. Um corte abrupto dos juros reduzir\u00e1 a oferta de novos empr\u00e9stimos ao Governo. Com isso, seriam necess\u00e1rios cortes nas outras despesas com vistas a alocar mais recursos para pagar amortiza\u00e7\u00e3o e juros da d\u00edvida.<\/p>\n

9 – Muitos economistas advogam que, para o pa\u00eds crescer mais r\u00e1pido, \u00e9 necess\u00e1rio aumentar a poupan\u00e7a. Mas se todo mundo poupar, qual ser\u00e1 o est\u00edmulo para as empresas investirem, se n\u00e3o haver\u00e1 quem consome?<\/strong><\/p>\n

H\u00e1 uma confus\u00e3o de conceitos. Poupar n\u00e3o \u00e9 o mesmo que deixar de gastar. Um indiv\u00edduo que deixa de gastar em bens de consumo final (alimentos, roupas, festas, etc) para comprar tijolos e construir uma casa, em verdade, est\u00e1 poupando. Sua poupan\u00e7a est\u00e1 sendo gasta na aquisi\u00e7\u00e3o de bens de investimento (no caso, os tijolos). Poupar (e sua contrapartida, investir), portanto, \u00e9 simplesmente trocar o consumo de bens e servi\u00e7os finais hoje por bens e servi\u00e7os finais no futuro. Assim, um aumento da taxa de poupan\u00e7a de um pa\u00eds somente altera o mix <\/em>de produ\u00e7\u00e3o, com a economia passando a produzir mais bens de capital, insumos para constru\u00e7\u00e3o civil ou produtos para exporta\u00e7\u00e3o (que lhes permite adquirir ativos no exterior). Naturalmente, economias que investem mais, crescem mais rapidamente. N\u00e3o \u00e9 por menos que os pa\u00edses emergentes do leste asi\u00e1tico, cuja taxa de poupan\u00e7a \u00e9 acima de 30% do PIB (enquanto no Brasil \u00e9 em torno de 15% do PIB), s\u00e3o os que mais rapidamente crescem.<\/p>\n

10 – Um modelo de crescimento do estilo asi\u00e1tico, baseado em elevada taxa de poupan\u00e7a e c\u00e2mbio depreciado, n\u00e3o est\u00e1 associado a piores condi\u00e7\u00f5es para o trabalho?<\/strong><\/p>\n

No curto prazo, \u00e9 correto. Se o pa\u00eds poupa muito, h\u00e1 poucos recursos para programas assistenciais e de previd\u00eancia. Al\u00e9m disso, a taxa de c\u00e2mbio depreciada implica sal\u00e1rios reais menores. Entretanto, essa \u00e9 uma vis\u00e3o est\u00e1tica. Como esses pa\u00edses investem mais, o que lhes permite crescer mais rapidamente, no longo prazo, o padr\u00e3o de vida da popula\u00e7\u00e3o tende a ser melhor. Cor\u00e9ia do Sul e Brasil tinham n\u00edveis de renda per capita<\/em> semelhantes na d\u00e9cada de 1960 e, hoje, a renda per capita<\/em> sul-coreana \u00e9 cerca do triplo da brasileira. Da mesma forma, a renda per capita<\/em> da China j\u00e1 se aproxima da brasileira, quando era menos da metade h\u00e1 vinte anos. Pode-se fazer uma analogia com o bem-estar de uma fam\u00edlia. Se tivermos dois domic\u00edlios com a mesma renda inicial, aquele que poupar mais ter\u00e1 menor qualidade de vida no curto prazo. Entretanto, no longo prazo, o que poupou mais ter\u00e1 maior renda (decorrente das aplica\u00e7\u00f5es financeiras feitas ao longo da vida), o que lhe permitir\u00e1 auferir maior bem estar.<\/p>\n

11 – Corremos o risco de uma nova d\u00e9cada perdida?<\/strong><\/p>\n

Infelizmente, sim. Tomando o PIB per capita<\/em> como medida de bem estar individual, temos que o pico deste ocorreu em 2013 (R$ 27,4 mil, em valores de dezembro de 2014). Considerando que o PIB cresceu 0,15% em 2014 e a popula\u00e7\u00e3o tem crescido em torno de 0,9% a.a., e assumindo que o PIB diminuir\u00e1 2% em 2015 e 0,5% em 2016, crescendo 1,5% na m\u00e9dia dos anos seguintes, temos que o PIB per capita<\/em> cair\u00e1 at\u00e9 2017, recuperando-se lentamente depois disso, at\u00e9 voltar ao patamar de 2013 apenas em 2023 ou 2024. Trata-se de cen\u00e1rio bastante plaus\u00edvel. N\u00e3o havendo reformas substanciais que aumentem a poupan\u00e7a p\u00fablica e a produtividade, teremos baixa taxa m\u00e9dia de crescimento econ\u00f4mico no per\u00edodo 2017-2024, em face do esgotamento da principal fonte de crescimento econ\u00f4mico do passado recente (qual seja, o aumento da taxa de ocupa\u00e7\u00e3o da m\u00e3o de obra), combinado com nosso hist\u00f3rico de incrementos reduzidos na produtividade do trabalho.<\/p>\n

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Os autores agradecem os coment\u00e1rios de Pedro Fernando Nery.<\/em><\/p>\n

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