{"id":2309,"date":"2014-10-13T15:04:04","date_gmt":"2014-10-13T18:04:04","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=2309"},"modified":"2014-10-13T15:07:14","modified_gmt":"2014-10-13T18:07:14","slug":"o-que-e-economia-da-felicidade-e-como-ela-pode-ser-aplicada-as-politicas-publicas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=2309","title":{"rendered":"O que \u00e9 economia da felicidade e como ela pode ser aplicada \u00e0s pol\u00edticas p\u00fablicas?"},"content":{"rendered":"
INTRODU\u00c7\u00c3O<\/strong><\/p>\n A Economia da Felicidade investiga os fatores por tr\u00e1s da felicidade das pessoas, usando n\u00e3o apenas conceitos e ferramentas da economia, mas tamb\u00e9m da sociologia, da ci\u00eancia pol\u00edtica, e, especialmente, da psicologia. Os estudos em Economia da Felicidade s\u00e3o fundamentalmente emp\u00edricos e baseados em surveys <\/em>(pesquisas de opini\u00e3o) sobre o n\u00edvel de felicidade das pessoas: a rela\u00e7\u00e3o entre as caracter\u00edsticas econ\u00f4micas, sociais e demogr\u00e1ficas – entre outras – e o n\u00edvel de felicidade reportado pelos entrevistados \u00e9 analisado estatisticamente, para que se compreenda o que torna alguns indiv\u00edduos mais felizes do que outros (com t\u00e9cnicas de econometria, por exemplo).<\/p>\n Apesar de novo, o campo conta com contribui\u00e7\u00f5es de acad\u00eamicos importantes. V\u00e1rios estudos em Economia da Felicidade se baseiam em trabalhos de vencedores do Pr\u00eamio Nobel em economia, como Daniel Kahneman, Amartya Sen e Gary Becker. O professor Bruno Frey, um dos principais expoentes da \u00e1rea, \u00e9 listado entre os cinquenta economistas mais influentes do mundo, \u00e0 frente de macroeconomistas conhecidos1<\/sup>. Assim, o ramo vem se consolidando como uma \u00e1rea emergente, cada vez mais distante de ser apenas uma mera curiosidade.<\/p>\n Compreendendo o que torna os cidad\u00e3os mais felizes, uma an\u00e1lise cuidadosa dos resultados das pesquisas em Economia da Felicidade pode prescrever mudan\u00e7as em algumas pol\u00edticas p\u00fablicas, com a cautela de n\u00e3o sugerir uma atua\u00e7\u00e3o paternalista por parte do Estado. V\u00e1rios dos servi\u00e7os que um governo busca prover aos seus cidad\u00e3os, principalmente em pa\u00edses democr\u00e1ticos, j\u00e1 s\u00e3o servi\u00e7os que se relacionam com o n\u00edvel de felicidade e bem-estar das pessoas, como os servi\u00e7os de sa\u00fade. Por outro lado, a Economia da Felicidade traz insights<\/em> de \u00e1reas que est\u00e3o ligadas \u00e0 felicidade dos indiv\u00edduos e onde ainda h\u00e1 espa\u00e7o para atua\u00e7\u00e3o do governo.<\/p>\n Neste texto, apresenta-se de uma maneira geral a Economia da Felicidade e os principais resultados das pesquisas, dividindo os fatores econ\u00f4micos e n\u00e3o econ\u00f4micos por tr\u00e1s da felicidade. Ainda, discute-se como esses resultados se encaixam na realidade brasileira, t\u00e3o diferente da dos pa\u00edses em que muitos dos estudos foram realizados, e como as descobertas se inserem no \u00e2mbito das pol\u00edticas p\u00fablicas.<\/p>\n FATORES ECON\u00d4MICOS<\/strong><\/p>\n Naturalmente, as pesquisas em Economia da Felicidade analisam como vari\u00e1veis econ\u00f4micas afetam o bem-estar subjetivo (felicidade) dos indiv\u00edduos, dando particular aten\u00e7\u00e3o \u00e0 influ\u00eancia da renda e do emprego na felicidade \u2013 mas tamb\u00e9m da desigualdade e da infla\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Renda<\/strong><\/p>\n De fato, encontrou-se em v\u00e1rios estudos uma correla\u00e7\u00e3o positiva entre renda e felicidade. No entanto, os estudos demonstram que mais do que a renda absoluta<\/em>, o que importa para a satisfa\u00e7\u00e3o das pessoas \u00e9 a renda relativa<\/em>, baseada na compara\u00e7\u00e3o com alguns grupos espec\u00edficos pr\u00f3ximos do indiv\u00edduo. Verificou-se tamb\u00e9m que a influ\u00eancia do dinheiro na felicidade \u00e9 cada vez menor \u00e0 medida que a renda cresce. Assim, a rela\u00e7\u00e3o entre renda e felicidade \u00e9 n\u00e3o linear, com as pesquisas confirmando, por outro lado, que a pobreza \u00e9 uma importante fonte de infelicidade.<\/p>\n O n\u00edvel de bem-estar subjetivo nos pa\u00edses ricos tende a ser maior do que nos pa\u00edses pobres, mas, entre pa\u00edses em um mesmo patamar de renda, a varia\u00e7\u00e3o nos n\u00edveis de felicidade n\u00e3o se correlaciona com a renda, o que ocorreria tanto entre pa\u00edses ricos quanto entre pa\u00edses pobres. Essa rela\u00e7\u00e3o pode ser bem visualizada na Figura 1, retirada de Borrero et. al (2013): os autores relacionaram o n\u00edvel de bem-estar subjetivo e a renda nacional bruta per capita <\/em>para 197 pa\u00edses. No mesmo sentido, Easterlin (1974) observou que, no per\u00edodo p\u00f3s-Segunda Guerra, o n\u00edvel de felicidade dos pa\u00edses desenvolvidos se manteve constante ao longo das d\u00e9cadas, mesmo com o grande crescimento da renda real \u2013 fato estilizado que \u00e9 conhecido na literatura como \u201cParadoxo de Easterlin\u201d.<\/p>\n Figura 1 \u2013 Satisfa\u00e7\u00e3o com a vida e Renda nacional bruta per capita<\/em><\/p>\n <\/p>\n Fonte: Borrero et. al (2013)<\/p>\n <\/p>\n Tamb\u00e9m os estudos em Economia da Felicidade que focam na compara\u00e7\u00e3o em n\u00edvel individual encontraram limites para o efeito da renda sobre a felicidade.\u00a0 As pesquisas mostram que, na m\u00e9dia, pessoas com renda maior t\u00eam um n\u00edvel de bem-estar subjetivo tamb\u00e9m maior. Entretanto, o impacto da renda adicional no n\u00edvel de felicidade diminui \u00e0 medida que a renda aumenta. Frey (2008) ressalta que essa descoberta coaduna com a teoria econ\u00f4mica tradicional, que considera decrescente a utilidade marginal (incremental) da renda. Na teoria, a utilidade \u00e9 um conceito pr\u00f3ximo do de \u201csatisfa\u00e7\u00e3o\u201d no sentido comum.<\/p>\n H\u00e1 uma preocupa\u00e7\u00e3o nesses estudos em resolver o problema da dire\u00e7\u00e3o da causalidade entre renda e felicidade, j\u00e1 que uma possibilidade para explicar a correla\u00e7\u00e3o entre as vari\u00e1veis \u00e9 de que indiv\u00edduos mais felizes tendem a possuir caracter\u00edsticas que levam a uma renda maior. A solu\u00e7\u00e3o de parte dos estudos em Economia da Felicidade foi analisar o efeito de varia\u00e7\u00f5es na renda n\u00e3o associadas ao trabalho, e, portanto, n\u00e3o associadas a caracter\u00edsticas pessoais dos indiv\u00edduos, como o recebimento de heran\u00e7as e de pr\u00eamios de loteria2<\/sup>. Outras vari\u00e1veis independentes controladas nesses estudos incluem idade, escolaridade, emprego e g\u00eanero, entre outras.<\/p>\n A felicidade \u00e9 mais afetada pela posi\u00e7\u00e3o relativa da renda do que pela renda absoluta de um indiv\u00edduo. O economista brasileiro Andr\u00e9 Lara Resende reflete nessa linha: \u201cn\u00e3o \u00e9 a riqueza absoluta, mas a riqueza relativa que importa. N\u00e3o nos basta ser apenas ricos, mas, sim, mais ricos do que nossos pares\u201d3<\/sup>. No mesmo sentido, Kahneman (2011) explica que a rela\u00e7\u00e3o entre satisfa\u00e7\u00e3o e renda depende de \u201cpontos de refer\u00eancia\u201d estabelecidos pelos pr\u00f3prios indiv\u00edduos. Os grupos de compara\u00e7\u00e3o incluem a fam\u00edlia, colegas de trabalho e outras pessoas com a mesma faixa et\u00e1ria e escolaridade do indiv\u00edduo.<\/p>\n Da psicologia vem um conceito que explica o porqu\u00ea de ganhos de renda n\u00e3o trazerem sempre ganhos proporcionais em bem-estar. N\u00e3o apenas os indiv\u00edduos se comparam, mas tamb\u00e9m se \u201cadaptam\u201d a seus n\u00edveis de renda. Lyubomirsky (2010, p\u00e1g. 201) define \u201cadapta\u00e7\u00e3o hed\u00f4nica\u201d como \u201co processo psicol\u00f3gico pelo qual as pessoas se acostumam com um est\u00edmulo positivo ou negativo, de forma que os efeitos emocionais do est\u00edmulo s\u00e3o atenuados ao longo do tempo\u201d. Assim, mais renda n\u00e3o traria mais felicidade porque as pessoas se acostumariam com a renda maior. Algumas pesquisas sugerem que o efeito da adapta\u00e7\u00e3o eliminaria entre 60 e 80% do efeito da renda no bem-estar4<\/sup>.<\/p>\n Compreendido o conceito de adapta\u00e7\u00e3o, chegamos \u00e0 \u201cteoria dos n\u00edveis de aspira\u00e7\u00e3o\u201d5<\/sup>, que explica de maneira mais ampla a liga\u00e7\u00e3o entre renda e felicidade. Frey e Stutzer (2002, p\u00e1g. 414), explicam que \u201cDe acordo com a teoria dos n\u00edveis de aspira\u00e7\u00e3o, o bem-estar individual \u00e9 determinado pela dist\u00e2ncia entre aspira\u00e7\u00e3o e realiza\u00e7\u00e3o\u201d. Dessa forma, tanto a no\u00e7\u00e3o sobre a renda relativa e o processo de compara\u00e7\u00e3o entre os indiv\u00edduos quanto \u00e0 ideia de adapta\u00e7\u00e3o hed\u00f4nica em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 renda anterior fazem parte de uma teoria mais ampla, a dos n\u00edveis de aspira\u00e7\u00e3o.\u00a0 Frey (2008) conclui que, juntos, os dois processos fazem os indiv\u00edduos buscarem aspira\u00e7\u00f5es maiores. Seria esta teoria a explica\u00e7\u00e3o para o Paradoxo de Easterlin.<\/p>\n Entretanto, a rela\u00e7\u00e3o entre renda e felicidade \u00e9 n\u00e3o linear, e a renda tem sim efeitos significativos em n\u00edveis menores de renda. Para Kahneman (2011, p\u00e1g. 396), \u201cser pobre torna uma pessoa miser\u00e1vel\u201d e ele ressalta ainda que \u201ca pobreza extrema amplifica os efeitos e de outros infort\u00fanios da vida. Em particular, doen\u00e7as s\u00e3o muito piores para os muito pobres\u201d. J\u00e1 Frey (2008, p\u00e1g. 76) afirma que \u201ca no\u00e7\u00e3o de que as pessoas em pa\u00edses pobres s\u00e3o mais felizes porque vivem em condi\u00e7\u00f5es mais \u201cnaturais\u201d e menos estressantes \u00e9 um mito.\u201d<\/p>\n Desemprego<\/strong><\/p>\n Com a import\u00e2ncia da renda sobre a felicidade relativizada, focamos a aten\u00e7\u00e3o para outra vari\u00e1vel econ\u00f4mica que tem impacto devastador nos n\u00edveis de satisfa\u00e7\u00e3o individual: o desemprego. Frey (2008) ressalta que a forte influ\u00eancia negativa do desemprego no bem-estar subjetivo \u00e9 uma das descobertas mais robustas da Economia da Felicidade e que as pessoas nessa condi\u00e7\u00e3o se tornam \u201cmuito infelizes\u201d. Clark e Oswald (1994) observaram que nada diminui mais o bem-estar individual do que o desemprego, nem mesmo uma situa\u00e7\u00e3o de div\u00f3rcio ou separa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n O que muda na vida de um indiv\u00edduo que passa da situa\u00e7\u00e3o de empregado para a de desempregado? O custo individual \u00e9, a princ\u00edpio, a perda de renda. Em compensa\u00e7\u00e3o, esses indiv\u00edduos tamb\u00e9m t\u00eam mais tempo livre, que pode ser despendido com mais lazer. Entretanto, o que os estudos indicam \u00e9 que mesmo quando controlada a mudan\u00e7a de renda, o bem-estar individual \u00e9 afetado negativamente de maneira significativa pelo desemprego.<\/p>\n Como antes, tamb\u00e9m na rela\u00e7\u00e3o entre desemprego e felicidade existe o desafio de se determinar a dire\u00e7\u00e3o da causalidade1<\/sup>. Afinal, pessoas infelizes podem ter uma atua\u00e7\u00e3o inferior no mercado de trabalho e essas caracter\u00edsticas indesej\u00e1veis poderiam levar ao desemprego. Como no caso da renda, \u201cexperimentos naturais\u201d foram usados para solucionar esse problema de endogeneidade, isto \u00e9, fatos ex\u00f3genos que levaram a situa\u00e7\u00e3o de desemprego, que n\u00e3o t\u00eam rela\u00e7\u00e3o com caracter\u00edsticas individuais: um exemplo \u00e9 o desemprego causado pelo fechamento de uma f\u00e1brica.<\/p>\n Segundo Frey, se a queda de bem-estar n\u00e3o \u00e9 explicada pela mudan\u00e7a de renda nem pela autossele\u00e7\u00e3o de pessoas que j\u00e1 eram infelizes, o desemprego possui custos n\u00e3o financeiros, sendo o principal o \u201ccusto psicol\u00f3gico\u201d.<\/p>\n Infla\u00e7\u00e3o<\/strong><\/p>\n De acordo com Frey (2008, p\u00e1g. 56), \u201cO estudo da felicidade encontra que a infla\u00e7\u00e3o sistem\u00e1tica e marcadamente reduz o bem-estar individual reportado\u201d. Como a experi\u00eancia brasileira ensina, o autor ressalta que as pessoas precisam despender muitos esfor\u00e7os em se informar sobre a alta de pre\u00e7os esperada, e tamb\u00e9m em se proteger \u00a0dela. Do hist\u00f3rico brasileiro com a infla\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m sabemos que a renda real dos mais pobres \u00e9 a que mais \u00e9 corro\u00edda \u2013 vimos que a pobreza extrema \u00e9 um determinante importante da infelicidade dos indiv\u00edduos. Di Tella et. al (2001b), no entanto, consideram o efeito da infla\u00e7\u00e3o na felicidade \u201csubstancial, mas n\u00e3o t\u00e3o grande\u201d. Frey (2008) afirma que, segundo os economistas, seria perigosa apenas uma infla\u00e7\u00e3o rampante, mas uma infla\u00e7\u00e3o de at\u00e9 5% ao ano (\u201cbaixa\u201d) n\u00e3o causaria maiores problemas.<\/p>\n Desigualdade<\/strong><\/p>\n Ao contr\u00e1rio das pesquisas sobre o efeito da renda, do desemprego e da infla\u00e7\u00e3o na felicidade, as pesquisas sobre o efeito da desigualdade n\u00e3o levam a uma conclus\u00e3o consensual. Observam-se impactos diferentes de acordo com o pa\u00eds pesquisado. Para Alesina et. al (2004, 2005) a diferen\u00e7a seria explicada por percep\u00e7\u00f5es diferentes em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s possibilidades de ascens\u00e3o social e das convic\u00e7\u00f5es acerca da origem da desigualdade.<\/p>\n Consumo<\/strong><\/p>\n A Economia da Felicidade tamb\u00e9m analisa o papel do consumo na satisfa\u00e7\u00e3o das pessoas. Como lembra Frey (2008), o dinheiro \u00e9 valorizado pelo status<\/em> que gera, mas principalmente porque permite a aquisi\u00e7\u00e3o de mais bens materiais e servi\u00e7os. No entanto, v\u00e1rios conceitos da psicologia desafiam a ideia de que mais consumo gera mais bem-estar.<\/p>\n Para o psic\u00f3logo agraciado com o Pr\u00eamio Nobel de Economia Daniel Kahneman, o conceito de \u201cilus\u00e3o de foco\u201d (focusing illusion<\/em>) \u00e9 um conceito cient\u00edfico t\u00e3o importante que deveria ser amplamente popularizado6<\/sup>. Tamb\u00e9m conhecido como \u201cfocalismo\u201d (focalism<\/em>), esse conceito se refere a um vi\u00e9s cognitivo que ocorre quando muita aten\u00e7\u00e3o \u00e9 dada a um \u00fanico aspecto de uma situa\u00e7\u00e3o, gerando uma previs\u00e3o errada sobre o bem-estar futuro7<\/sup>. Na presente discuss\u00e3o, este aspecto seria o consumo de um bem material e a situa\u00e7\u00e3o, de maneira ampla, a satisfa\u00e7\u00e3o de um indiv\u00edduo com a sua vida. A ilus\u00e3o de foco seria uma das causas do que Wilson e Gilbert (2003) chamam de \u201cerro de previs\u00e3o afetiva\u201d (affective forecasting error<\/em>), que ocorre quando os indiv\u00edduos erram ao imaginar o seu futuro estado emocional, e que pode ter como consequ\u00eancia m\u00e1s escolhas ou decis\u00f5es (miswanting <\/em>no termo criado por Wilson e Gilbert). Tais conceitos explicariam porque o consumo de v\u00e1rios bens materiais n\u00e3o eleva os n\u00edveis de felicidade: os indiv\u00edduos superestimam a import\u00e2ncia que a aquisi\u00e7\u00e3o de bens materiais, por exemplo, o carro do ano, ter\u00e1 em seu bem-estar8<\/sup>.<\/p>\n Nesse sentido, Andr\u00e9 Lara Resende critica a \u00eanfase dada a esse consumo: \u201cJ\u00e1 n\u00e3o faz mais sentido associar desenvolvimento exclusivamente ao crescimento e ao aumento do consumo material\u201d9<\/sup>. O economista considera que, ultrapassado um determinado n\u00edvel de renda, \u201ca qualidade de vida n\u00e3o est\u00e1 mais necessariamente associada ao consumo material\u201d. Para ele, as pol\u00edticas p\u00fablicas devem ser revistas para que se alcance o bem-estar. Esta revis\u00e3o n\u00e3o implica a escolha por menos crescimento, mas por \u201cmudan\u00e7a na composi\u00e7\u00e3o do produto, um aumento do peso dos servi\u00e7os \u2013 mais entretenimento, mais esporte, mais educa\u00e7\u00e3o, mais sa\u00fade, mais m\u00fasica\u201d, concluindo que as ind\u00fastrias do setor de servi\u00e7os liderar\u00e3o o crescimento no futuro10<\/sup>.<\/p>\n O resultado das pesquisas e a realidade brasileira<\/strong><\/p>\n Boa parte das pesquisas citadas at\u00e9 agora se utilizam de dados amostrais de pa\u00edses desenvolvidos, de modo que \u00e9 oportuno discutir as aplica\u00e7\u00f5es desses estudos ao caso brasileiro. Como os resultados das pesquisas se relacionam com os indicadores brasileiros de renda, desemprego, infla\u00e7\u00e3o e com a realidade da desigualdade e do consumo?<\/p>\n A an\u00e1lise conjunta dos resultados das pesquisas e da realidade brasileira indica que, por ora, a Economia da Felicidade tem pouco a acrescentar ao debate de pol\u00edtica econ\u00f4mica do pa\u00eds. Neste debate, as principais for\u00e7as pol\u00edticas concordam que a renda ainda deve crescer, a desigualdade diminuir e que o atual n\u00edvel da infla\u00e7\u00e3o \u00e9 desconfort\u00e1vel. Talvez as maiores contribui\u00e7\u00f5es da Economia da Felicidade para o caso brasileiro seja em outras pol\u00edticas p\u00fablicas e desenhos institucionais \u2013 essas contribui\u00e7\u00f5es s\u00e3o apresentadas a seguir.<\/p>\n FATORES N\u00c3O ECON\u00d4MICOS <\/strong><\/p>\n A Economia da Felicidade estuda tamb\u00e9m, al\u00e9m dos fatores econ\u00f4micos, a influ\u00eancia de fatores n\u00e3o econ\u00f4micos no n\u00edvel de satisfa\u00e7\u00e3o das pessoas. Destaca-se o efeito, sobre a felicidade, de boas institui\u00e7\u00f5es, de uma mobilidade urbana eficiente, de um desenho urbano que privilegie a conviv\u00eancia, e da boa sa\u00fade f\u00edsica, entre outros. Ainda no \u00e2mbito das pol\u00edticas p\u00fablicas, as pesquisas podem contribuir para a sua avalia\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Institui\u00e7\u00f5es<\/strong><\/p>\n De maneira ampla, institui\u00e7\u00f5es s\u00e3o entendidas como os mecanismos que moldam o comportamento dos indiv\u00edduos \u2013 ou \u201cas regras do jogo\u201d. Assim, em ci\u00eancias sociais, o termo \u201cinstitui\u00e7\u00f5es\u201d tem uma acep\u00e7\u00e3o particular e n\u00e3o deve ser confundido, por exemplo, com \u00f3rg\u00e3os p\u00fablicos. Muitos pesquisadores descobriram efeitos importantes de boas institui\u00e7\u00f5es no bem-estar subjetivo.<\/p>\n Frey (2008, p\u00e1g. 64) conclui que as \u201c<\/em>institui\u00e7\u00f5es democr\u00e1ticas aumentam o bem-estar das pessoas consideravelmente\u201d. Uma parte importante deste efeito se daria na \u201cutilidade processual\u201d (procedural utility<\/em>), conceito muito difundido na Economia da Felicidade que explicaria o efeito desse e tamb\u00e9m de outros fatores na satisfa\u00e7\u00e3o individual. De maneira diversa da utilidade concebida na teoria econ\u00f4mica tradicional, em que predomina a import\u00e2ncia de resultados (objetivos), a utilidade processual contempla a satisfa\u00e7\u00e3o que decorre das situa\u00e7\u00f5es que levam a um resultado, e n\u00e3o apenas a que decorre do resultado. No caso da democracia, por exemplo, existiriam ganhos porque o processo democr\u00e1tico traria como resultado decis\u00f5es mais pr\u00f3ximas das prefer\u00eancias das pessoas (utilidade \u201ctradicional\u201d) e tamb\u00e9m porque os cidad\u00e3os apreciam participar do processo (utilidade processual).<\/p>\n Outras institui\u00e7\u00f5es importantes verificadas pelos estudos incluem honestidade, efici\u00eancia, aus\u00eancia de corrup\u00e7\u00e3o e a exist\u00eancia de um Estado de Direito, al\u00e9m de mecanismos de participa\u00e7\u00e3o democr\u00e1tica mais direta11<\/sup>.<\/p>\n Mobilidade urbana<\/strong><\/p>\n O estudo da felicidade mostra tamb\u00e9m que existe uma forte rela\u00e7\u00e3o negativa entre o tempo gasto no percurso casa-trabalho e os n\u00edveis de felicidade. O resultado \u00e9 observado mesmo quando s\u00e3o controladas outras vari\u00e1veis, como a renda.<\/p>\n Stutzer e Frey (2007), ao observarem a rela\u00e7\u00e3o, a definiram como \u201cO paradoxo do deslocamento casa-trabalho\u201d (The commuting paradox<\/em>)12<\/sup>. Eles argumentam que, apesar de para a maioria das pessoas tal deslocamento ser um fardo mental e f\u00edsico, na teoria econ\u00f4mica o tempo gasto com o percurso seria apenas mais uma decis\u00e3o racional tomada pelos indiv\u00edduos. De acordo com o prescrito pela Economia Regional e pela Economia Urbana, n\u00e3o deveria haver desutilidade em morar longe do trabalho, j\u00e1 que, em contrapartida, haveria ganhos de utilidade, por meio de um custo de vida menor (im\u00f3vel residencial mais barato) ou de um emprego com remunera\u00e7\u00e3o maior (em linha com o que o conceito da Economia do Trabalho de diferenciais compensat\u00f3rios).<\/p>\n Entretanto, a observa\u00e7\u00e3o emp\u00edrica foi de encontro com a teoria, e, mantidas outras vari\u00e1veis constantes, o n\u00edvel de bem-estar individual \u00e9 negativamente afetado pelo tempo gasto com a viagem \u2013 verificando-se o paradoxo. Tamb\u00e9m Kahneman et. al (2004) verificou, em uma amostra composta apenas por mulheres, que o per\u00edodo gasto no trajeto matinal casa-trabalho foi o mais associado com emo\u00e7\u00f5es negativas, a frente at\u00e9 mesmo do per\u00edodo no pr\u00f3prio trabalho e do per\u00edodo gasto com tarefas dom\u00e9sticas.<\/p>\n As perdas de bem-estar ocorreriam porque, al\u00e9m de estar associado a um maior custo financeiro, um tempo maior no deslocamento casa-trabalho implica menor tempo de lazer. Os efeitos negativos do deslocamento casa-trabalho n\u00e3o se limitam, por\u00e9m, apenas aos aspectos financeiro e de lazer. Koslowsky et. al (1995) associam um maior tempo no trajeto casa-trabalho a problemas de press\u00e3o sangu\u00ednea, angina, dores cr\u00f4nicas (transtornos musculoesquel\u00e9ticos), ansiedade e raiva, al\u00e9m de problemas cognitivos. Entre \u00a0as condi\u00e7\u00f5es que causam rea\u00e7\u00f5es f\u00edsicas e emo\u00e7\u00f5es negativas est\u00e3o o desconforto com a temperatura, a exist\u00eancia de multid\u00f5es, barulho e polui\u00e7\u00e3o. Todas s\u00e3o caracter\u00edsticas not\u00f3rias do transporte p\u00fablico nas grandes cidades do pa\u00eds.<\/p>\n Para Kahneman (2011, p\u00e1g. 395), as descobertas sobre o efeito do deslocamento casa-trabalho no bem-estar t\u00eam implica\u00e7\u00f5es para a sociedade e ele defende que \u201cum transporte melhor para a for\u00e7a de trabalho\u201d est\u00e1 entre as maneiras relativamente eficientes de elevar o bem-estar da popula\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Desenho urbano<\/strong><\/p>\n A inser\u00e7\u00e3o em comunidades \u00e9 um dos principais fatores relacionados \u00e0 felicidade para a Psicologia Positiva \u2013 ramo da psicologia que, em vez de focar em patologias, estuda, entre outras coisas, o bem-estar13<\/sup>. Para Frey (2008, p\u00e1g. 154), existe na Psicologia Positiva um \u201creconhecimento de que as pessoas e experi\u00eancias integram um contexto social. Comunidades positivas como a igreja ou a fam\u00edlia s\u00e3o consideradas fatores importantes para alcan\u00e7ar a felicidade.\u201d Assim, um desenho urbano que privilegie a conviv\u00eancia e d\u00ea espa\u00e7o a essas comunidades contribuiria positivamente para o bem-estar individual.<\/p>\n Para Helliwell, espa\u00e7os p\u00fablicos que permitam a conviv\u00eancia agrad\u00e1vel geram cidad\u00e3os mais felizes14<\/sup>. \u00a0 Para Carter e Gilovich (2010), \u201caquisi\u00e7\u00f5es de experi\u00eancias\u201d tendem a deixar os indiv\u00edduos mais felizes do que aquisi\u00e7\u00f5es materiais. Os autores concluem que fortes conex\u00f5es sociais, como as decorrentes de organiza\u00e7\u00f5es recreativas e c\u00edvicas s\u00e3o \u201cessenciais\u201d para o bem-estar psicol\u00f3gico. Para Gilovich, o resultado sugere que as pol\u00edticas p\u00fablicas devem permitir que os cidad\u00e3os tenham essas experi\u00eancias e opina que as comunidades devem ter \u201cparques, trilhas e assim por diante, que promovam experi\u00eancias que produzam satisfa\u00e7\u00e3o real\u201d.15<\/sup><\/p>\n Sa\u00fade <\/strong><\/p>\n Um importante aspecto ligado \u00e0 felicidade e que \u00e9 diretamente afetado por pol\u00edticas p\u00fablicas \u00e9 o estado de sa\u00fade de um indiv\u00edduo. Alguns pesquisadores defendem que, por conta da adapta\u00e7\u00e3o hed\u00f4nica, algumas condi\u00e7\u00f5es de sa\u00fade n\u00e3o influenciam tanto os n\u00edveis de bem-estar, que seria mais afetado por condi\u00e7\u00f5es que ret\u00e9m de forma quase permanente a aten\u00e7\u00e3o do doente – mas essa vis\u00e3o \u00e9 contestada por outros pesquisadores. No entanto, todos concordam que pelo menos alguns estados de sa\u00fade t\u00eam forte efeito permanente sobre a satisfa\u00e7\u00e3o com a vida. Ainda, muitos pesquisadores apontam a relev\u00e2ncia da sa\u00fade mental para o bem-estar individual16<\/sup>.<\/p>\n Outros fatores<\/strong><\/p>\n O estudo da felicidade encontrou ainda a influ\u00eancia de outros fatores n\u00e3o econ\u00f4micos no n\u00edvel de bem-estar subjetivo. Entre eles est\u00e3o, positivamente, o voluntariado e o conv\u00edvio social, e, negativamente, a inseguran\u00e7a, a degrada\u00e7\u00e3o ambiental, a discrimina\u00e7\u00e3o e a publicidade.<\/p>\n Iniciativas pelo mundo<\/strong><\/p>\n V\u00e1rios pa\u00edses e organismos t\u00eam dado uma aten\u00e7\u00e3o maior tem sido dada aos indicadores de bem-estar. Um exemplo foi a cria\u00e7\u00e3o, \u00a0pelo ex-presidente franc\u00eas Nicholas Sarkozy, da Comiss\u00e3o para a Mensura\u00e7\u00e3o da Performance Econ\u00f4mica e do Progresso Social (Comiss\u00e3o Stiglitz-Sen), liderada pelos vencedores do pr\u00eamio Nobel em Economia Joseph Stiglitz e Amartya Sem, e que contou com a participa\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m de outros acad\u00eamicos ilustres (alguns deles tamb\u00e9m laureados com o Nobel), como Daniel Kahneman, James Heckman e Kenneth Arrow, Angus Deaton, Alan Krueger e Cass Sunstein. A Comiss\u00e3o estudou os limites do PIB como um indicador desempenho econ\u00f4mico e como poderiam ser produzidos outros indicadores relevantes de progresso social.<\/p>\n Na mesma linha, em 2011, a Assembleia Geral da ONU aprovou unanimemente a Resolu\u00e7\u00e3o 65\/309, convidando os pa\u00edses membros a medir a felicidade de seus cidad\u00e3os e a usar os dados para orientar suas pol\u00edticas p\u00fablicas. Na Resolu\u00e7\u00e3o, a ONU coloca a busca da felicidade como um objetivo humano fundamental, reconhece que\u00a0 o objetivo da felicidade e a sua aspira\u00e7\u00e3o encarna o esp\u00edrito dos Objetivos de Desenvolvimento do Mil\u00eanio.<\/p>\n Os pa\u00edses j\u00e1 contam tamb\u00e9m com um padr\u00e3o internacional para a mensura\u00e7\u00e3o do bem-estar: a Organiza\u00e7\u00e3o para a Coopera\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Econ\u00f4mico (OCDE) publicou, em 2013, documento oficial com diretrizes t\u00e9cnicas orientando os pa\u00edses em como mensurar o bem-estar subjetivo17<\/sup>.<\/p>\n Tamb\u00e9m no \u00e2mbito internacional, v\u00e1rios rankings<\/em> comparam o n\u00edvel de bem-estar subjetivo entre os pa\u00edses, como o The World Happiness Report<\/em>, organizado pelos economistas John Helliwell, Richard Layard e Jeffrey Sachs, com a \u00faltima vers\u00e3o em 2013 \u2013 com o Brasil aparecendo em 24\u00ba lugar dentre 156 pa\u00edses.<\/p>\n Felicidade Interna Bruta como objetivo?<\/strong><\/p>\n A mais conhecida iniciativa internacional, entretanto, \u00e9 a do Reino do But\u00e3o, que j\u00e1 nos anos 70 colocou como objetivo do pa\u00eds aumentar a \u201cFelicidade Interna Bruta\u201d, aludindo ao Produto Interno Bruto (PIB).\u00a0 No entanto, a vis\u00e3o mais dominante na Economia da Felicidade \u00e9 que, em vez disso, os resultados das pesquisas devem servir de insumos adicionais no debate pol\u00edtico, n\u00e3o devendo o Estado se comprometer em maximizar um indicador de felicidade.<\/p>\n Como ent\u00e3o a Economia da Felicidade pode se relacionar com as pol\u00edticas p\u00fablicas? A Economia da Felicidade traz novas informa\u00e7\u00f5es emp\u00edricas para a discuss\u00e3o pol\u00edtica sobre determinadas pol\u00edticas, como visto no caso da mobilidade urbana. Projetos de mobilidade urbana tendem a ser priorizados por conta de suas vantagens, como o incremento da produtividade na economia ou o combate \u00e0 polui\u00e7\u00e3o, e preteridos quando outras pol\u00edticas s\u00e3o consideradas preferenciais, como quando o governo estimula a compra de carros ou subsidia o pre\u00e7o da gasolina. Neste exemplo, o estudo da felicidade traz mais um elemento para o debate: a descoberta robusta de que uma mobilidade urbana eficiente contribui diretamente para melhorar o bem-estar da popula\u00e7\u00e3o. O caso ilustra como os achados do estudo da felicidade podem ser incorporados pela esfera governamental sem que o governo necessariamente busque maximizar um indicador de felicidade.<\/p>\n Para Frey (2008, p\u00e1g. 167), em uma democracia, o desenho constitucional permite que os cidad\u00e3os \u201crevelem suas prefer\u00eancias e forne\u00e7am aos pol\u00edticos (o governo) o incentivo para torn\u00e1-las realidade\u201d, concluindo que a maximiza\u00e7\u00e3o de um indicador de felicidade n\u00e3o respeita esse processo. Os cidad\u00e3os podem distorcer o resultado das pesquisas respondendo a elas de maneira estrat\u00e9gica, em vez de sincera; e o governo pode dar mais import\u00e2ncia para pol\u00edticas populistas que elevem o indicador, ainda que elas n\u00e3o sejam sustent\u00e1veis, ou alterar a metodologia do indicador de maneira que lhe seja ben\u00e9fica (um exemplo parecido \u00e9 o de governos que \u201cmaquiam\u201d a taxa de infla\u00e7\u00e3o). Assim, a discuss\u00e3o remeteria \u00e0 chamada \u201cLei de Goodhart\u201d, que afirma que, quando uma medida passa a ser um objetivo, ela n\u00e3o \u00e9 mais uma boa medida do que se est\u00e1 avaliando18<\/sup>.<\/p>\n Conclus\u00e3o<\/strong><\/p>\n Conforme Frey, caberia aos resultados do estudo da felicidade prover \u201cinputs<\/em>\u201d ao processo pol\u00edtico: \u201cEsses inputs<\/em> devem ser colocados \u00e0 prova na competi\u00e7\u00e3o pol\u00edtica e no debate entre os cidad\u00e3os, e entre os cidad\u00e3os e os pol\u00edticos.\u201d (p\u00e1g. 181).<\/p>\n Dessa forma, a vis\u00e3o das pesquisas em felicidade competiria com outras vis\u00f5es, deixando para o processo pol\u00edtico a atribui\u00e7\u00e3o de tomar a melhor decis\u00e3o a respeito de quais resultados devem ser incorporados. Com isso, ainda segundo Frey (2008, p\u00e1g. 182): \u201cO perigo de paternalismo estatal desaparece e os indiv\u00edduos recebem a chance de determinar por si como eles escolhem elevar o seu bem-estar\u201d.<\/p>\n Assim, como mostrado no texto, os resultados de muitas pesquisas podem ser \u00fateis ao debate de pol\u00edticas p\u00fablicas de v\u00e1rias \u00e1reas no Brasil, sem passar por cima de outros argumentos ou de outras pol\u00edticas p\u00fablicas que n\u00e3o se liguem \u00e0 felicidade. Para o economista Eduardo Giannetti da Fonseca, por exemplo, a economia ainda \u00e9 muito importante, mas ele espera que ela \u201cdeixe de ocupar o lugar de proemin\u00eancia que ocupa hoje no debate brasileiro para que a gente possa focar em quest\u00f5es ligadas \u00e0 cidadania, \u00e0 realiza\u00e7\u00e3o humana, \u00e0 felicidade.19<\/sup>\u201d O pensamento de Giannetti em rela\u00e7\u00e3o ao crescimento econ\u00f4mico seria ilustrativo: expandido para outras \u00e1reas estaria sendo consoante com o estado atual da Economia da Felicidade, que reconhece a import\u00e2ncia de temas atualmente em debate, mas ressalta \u00e1reas para onde a nossa aten\u00e7\u00e3o deve migrar.<\/p>\n (Este texto \u00e9 baseado no trabalho <\/em>\u201cEconomia da Felicidade: Implica\u00e7\u00f5es para Pol\u00edticas\u201d. O estudo integral consta do Texto para Discuss\u00e3o n\u00ba 156 do N\u00facleo de Estudos e Pesquisas da Consultoria Legislativa do Senado, dispon\u00edvel no seguinte link: <\/em>http:\/\/www.senado.gov.br\/estudos<\/a>)<\/em><\/p>\n _______________<\/p>\n Refer\u00eancias<\/strong><\/p>\n ALESINA, A.; DI TELLA, R.; MACCULLOCH, R. Inequality and Happiness: Are Europeans and Americans Different? Journal of Public Economics<\/em>, v. 88, p. 2009-42, 2004.<\/p>\n Alesina, A.; La Ferrara, e. Preferences for Redistribution in the Land of Opportunities. Journal of Public Economics<\/em>, v. 89, n. 5-6, p. 897-931, 2005.<\/p>\n BORRERO, S; ESCOBAR, A. B.; CORT\u00c9S, A. M; MAYA, L. C. Poor and Distressed, but Happy: Situational and Cultural Moderators of the Relationship Between Wealth and Happiness. Estudios Gerenciales<\/em>, v. 29, n. 126, p. 2-11, jan-mar 2013.<\/p>\n CARTER, T.; GILOVICH, T. The Relative Relativity of Material and Experiential Purchases. 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Acesso em 21\/07\/2014<\/p>\n 7<\/sup> Vass (2012)<\/p>\n 8<\/sup> Outros conceitos relacionados apresentados por Kahneman (2011) s\u00e3o os de \u201cneglig\u00eancia com a dura\u00e7\u00e3o\u201d (duration neglect<\/em>) e \u201cregra do pico-fim\u201d (peak-end rule<\/em>), que explicariam o pequeno efeito do consumo pelo relativamente pouco tempo gasto com os bens adquiridos.<\/p>\n 9<\/sup> LARA RESENDE, A. \u2018\u00c9 preciso crescer com qualidade de vida\u2019, diz Lara Resende. [8 de mar\u00e7o, 2014]. S\u00e3o Paulo: O Estado de S\u00e3o Paulo<\/em>. Entrevista concedida a Alexa Salom\u00e3o e Ricardo Grinbaum. Dispon\u00edvel em: http:\/\/economia.estadao.com.br\/noticias\/geral,e-preciso-crescer-com-qualidade-de-vida-diz-lara-resende,179169e<\/a>. Acesso em: 21\/07\/2014<\/p>\n 10<\/sup> Cabe observar que o conceito macroecon\u00f4mico de \u201cconsumo\u201d n\u00e3o se refere apenas ao consumo de bens materiais, incluindo tamb\u00e9m o consumo de servi\u00e7os.<\/p>\n 11<\/sup> Ver Helliwell e Huang (2007) e Frey e Stutzer (2000)<\/p>\n 12<\/sup> O verbo ingl\u00eas \u201cto commute<\/em>\u201d se refere n\u00e3o apenas ao trajeto de casa at\u00e9 o trabalho, mas tamb\u00e9m a um local de estudo. Por simplifica\u00e7\u00e3o, adota-se aqui o termo \u201ccasa-trabalho\u201d.<\/p>\n 13<\/sup> Ver, entre outros, Seligman e Csikszentmihalyi (2000).<\/p>\n 14<\/sup> Bogota\u2019s Urban Happiness Movement [25 de junho, 2007]. Toronto: The Globe and Mail<\/em>. Entrevista concedida a Charles Montgomery. Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.theglobeandmail.com\/life\/bogotas-urban-happiness-movement\/article1087786\/?page=all<\/a> . Acesso em: 06\/08\/2014<\/p>\n 15<\/sup> GILOVICH, T. Glee from Buying Objects Wanes, While Joy of Buying Experiences Keeps Growing. [31 de mar\u00e7o, 2010]. Ithaca: Cornell Chronicle<\/em>. Entrevista concedida a George Lowery. Dispon\u00edvel em: http:\/\/www.news.cornell.edu\/stories\/2010\/03\/study-shows-experiences-are-better-possessions<\/a>. Acesso em: 06\/08\/2014<\/p>\n 16<\/sup> Ver Kahneman (2011), Easterlin (2003), Helliwell et. al (2013).<\/p>\n 17<\/sup> ORGANIZA\u00c7\u00c3O PARA A COOPERA\u00c7\u00c3O E DESENVOLVIMENTO ECON\u00d4MICO (2013). Guidelines on measuring subjective well-being<\/em>. Paris: OCDE.<\/p>\n 18<\/sup> Ver Goodhart (1975).<\/p>\n 19<\/sup> GIANNETTI DA FONSECA, E.\u00a0 Programa de Marina ser\u00e1 cumprido quando conta fiscal permitir<\/em>. [8 de setembro, 2014]. S\u00e3o Paulo: Valor Econ\u00f4mico<\/em>. Entrevista concedida a Denise Neumann e Catherine Vieira.<\/p>\n 20<\/sup> Economist Rankings at IDEAS (RePEc): <\/em>http:\/\/ideas.repec.org\/top\/top.person.all.html<\/a>. Acesso em junho de 2014.<\/p>\n <\/p>\n Download:<\/strong><\/p>\n<\/a><\/p>\n