{"id":2156,"date":"2014-03-10T11:33:31","date_gmt":"2014-03-10T14:33:31","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=2156"},"modified":"2014-03-10T11:33:31","modified_gmt":"2014-03-10T14:33:31","slug":"as-exportacoes-brasileiras-ficaram-mais-competitivas-com-a-desvalorizacao-do-real","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=2156","title":{"rendered":"As exporta\u00e7\u00f5es brasileiras ficaram mais competitivas com a desvaloriza\u00e7\u00e3o do real?"},"content":{"rendered":"

No final de 2007, o saldo da balan\u00e7a comercial come\u00e7ou a apresentar uma trajet\u00f3ria declinante, parcialmente interrompida entre o terceiro trimestre de 2010 e o terceiro trimestre de 2011. Desde ent\u00e3o, a tend\u00eancia de queda se acentuou. Para v\u00e1rios analistas e formuladores da pol\u00edtica econ\u00f4mica, o vil\u00e3o desse fraco desempenho foi a taxa de c\u00e2mbio, que estaria demasiadamente apreciada. A solu\u00e7\u00e3o para o problema seria, portanto, uma deprecia\u00e7\u00e3o do real. Com o real mais depreciado, as empresas brasileiras ganhariam maior competitividade e, com isso, exportariam mais.<\/p>\n

Em verdade, h\u00e1 um consenso de que a melhor forma de ganhar competitividade \u00e9 aumentar a produtividade, mas isso s\u00f3 \u00e9 vi\u00e1vel no m\u00e9dio e longo prazos. \u00c9 igualmente consensual que menor tributa\u00e7\u00e3o \u00e9 outra forma de ganho de competitividade. Entretanto, as exporta\u00e7\u00f5es j\u00e1 s\u00e3o isentas de v\u00e1rios tributos, e altera\u00e7\u00f5es na estrutura tribut\u00e1ria podem envolver longas discuss\u00f5es no Congresso, de forma que, efetivamente, no curto prazo, o principal instrumento de ganho de competitividade \u00e9 a deprecia\u00e7\u00e3o cambial.<\/p>\n

A ideia \u00e9 bastante intuitiva: suponhamos um autom\u00f3vel que, no mercado internacional, custe US$ 10 mil. Se a taxa de c\u00e2mbio estiver em R$ 2,00 por d\u00f3lar, seu pre\u00e7o, em reais, seria de R$ 20 mil. Se o real se desvalorizar, e o d\u00f3lar passar a valer R$ 3,00, o pre\u00e7o do autom\u00f3vel, em reais, aumentaria para R$ 30 mil. Suponhamos que o custo de fabrica\u00e7\u00e3o do carro no Brasil fosse de R$ 25 mil. Na situa\u00e7\u00e3o inicial, com o d\u00f3lar valendo R$ 2,00, o fabricante brasileiro teria imensa dificuldade em exportar, pois seu custo de produ\u00e7\u00e3o estaria acima do pre\u00e7o internacional e, para exportar sem preju\u00edzos, dificilmente encontraria consumidores dispostos a pagar R$ 25 mil (ou US$ 12,5 mil) por um bem que podem adquirir por R$ 20 mil (ou US$ 10 mil). J\u00e1 com o real depreciado, a R$ 3,00 por d\u00f3lar, o fabricante de autom\u00f3veis n\u00e3o teria maiores dificuldades em exportar sua produ\u00e7\u00e3o. Afinal, se vendesse o carro a US$ 10 mil, receberia, em reais, R$ 30 mil, e teria um lucro de R$ 5 mil.<\/p>\n

O problema desse racioc\u00ednio \u00e9 que, se nossa moeda se depreciar, com o d\u00f3lar norte americano passando de R$ 2,00 para R$ 3,00, o custo da montadora, antes de R$ 25 mil, pode tamb\u00e9m aumentar. Do ponto de vista de ganho de competitividade, de pouco adiantaria a taxa nominal de c\u00e2mbio depreciar-se de R$ 2,00 para R$ 3,00 se os custos das empresas brasileiras aumentassem na mesma propor\u00e7\u00e3o. Por esse motivo, a medida de nossa competitividade n\u00e3o \u00e9 dada pelo c\u00e2mbio nominal, mas, sim, pelo c\u00e2mbio real que, grosso modo, busca avaliar em que medida o pre\u00e7o internacional dos bens tem evolu\u00eddo em rela\u00e7\u00e3o aos custos dom\u00e9sticos.<\/p>\n

Apesar de o conceito de c\u00e2mbio real ser relativamente f\u00e1cil de entender, sua mensura\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 trivial. Antes de discutirmos diferentes formas de mensura\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio real, cabe esclarecer que, ao contr\u00e1rio do c\u00e2mbio nominal, onde h\u00e1 algum espa\u00e7o de manipula\u00e7\u00e3o pela autoridade monet\u00e1ria, o c\u00e2mbio real depende integralmente das for\u00e7as de mercado, e, em larga medida, de como a absor\u00e7\u00e3o dom\u00e9stica (a soma do consumo e investimento, privados e do governo) se comporta em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 produ\u00e7\u00e3o 1<\/sup>. Assim, eventuais interven\u00e7\u00f5es do banco central no mercado de c\u00e2mbio ou choques externos, como o an\u00fancio do banco central norte-americano de que adotaria uma pol\u00edtica monet\u00e1ria mais restritiva, podem alterar o c\u00e2mbio nominal, mas ter\u00e3o um impacto m\u00ednimo sobre a taxa real de c\u00e2mbio se a pol\u00edtica econ\u00f4mica n\u00e3o se alterar.<\/p>\n

Feito esse par\u00eanteses, voltemos \u00e0 mensura\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio real. A melhor forma de mensurar a competitividade \u00e9 comparar a evolu\u00e7\u00e3o dos pre\u00e7os dos chamados itens comercializ\u00e1veis com a dos itens n\u00e3o comercializ\u00e1veis. Bens comercializ\u00e1veis s\u00e3o aqueles que podem ser facilmente import\u00e1veis ou export\u00e1veis. S\u00e3o, em geral, produtos industriais ou commodities<\/i>. J\u00e1 os itens n\u00e3o comercializ\u00e1veis correspondem \u00e0queles produtos que n\u00e3o podem ser facilmente export\u00e1veis ou import\u00e1veis. Normalmente est\u00e3o associados a servi\u00e7os. N\u00e3o h\u00e1 divis\u00e3o inequ\u00edvoca entre o que \u00e9 e o que n\u00e3o \u00e9 comercializ\u00e1vel, pois depende dos custos de transa\u00e7\u00e3o (que inclui o custo de transportes), dos parceiros comerciais e de outros fatores institucionais. Por exemplo, commodities<\/i> s\u00e3o, quase que por defini\u00e7\u00e3o, bens comercializ\u00e1veis. A inven\u00e7\u00e3o de navios frigor\u00edficos, no in\u00edcio do s\u00e9culo XX, transformou a carne em bem comercializ\u00e1vel e permitiu o grande desenvolvimento da Argentina e Uruguai. J\u00e1 o turismo pode ser um servi\u00e7o comercializ\u00e1vel ou n\u00e3o, dependendo do contexto. Para pequenas ilhas caribenhas, pr\u00f3xima a fortes mercados emissores, como norte-americano e canadense, e com estrutura bem montada, o turismo \u00e9 um servi\u00e7o comercializ\u00e1vel. J\u00e1 o turismo no Nordeste brasileiro teria caracter\u00edsticas de item comercializ\u00e1vel e n\u00e3o comercializ\u00e1vel ao mesmo tempo, pois compete com outras praias no exterior, mas com custos de transa\u00e7\u00e3o mais elevados (exig\u00eancia de visto de americanos, longa dist\u00e2ncia de europeus) e conta com um mercado cativo dom\u00e9stico (brasileiros que n\u00e3o disp\u00f5e de recursos para ir ao exterior ou que n\u00e3o querem enfrentar barreiras de l\u00edngua, vistos, etc).<\/p>\n

Por que a rela\u00e7\u00e3o pre\u00e7o dos bens comercializ\u00e1veis\/pre\u00e7o dos bens n\u00e3o comercializ\u00e1veis mensura o c\u00e2mbio real (e, portanto, a competitividade de um pa\u00eds)? Observem, inicialmente, que, em tese, o pre\u00e7o dos comercializ\u00e1veis livre de impostos, quando convertidos em uma \u00fanica moeda, \u00e9 o mesmo em todos os pa\u00edses. No caso de commodities<\/i> essa \u00e9 uma aproxima\u00e7\u00e3o muito boa. J\u00e1 para bens diferenciados, como autom\u00f3veis, certamente h\u00e1 varia\u00e7\u00f5es de pre\u00e7o em fun\u00e7\u00e3o da marca, modelo, etc, mas, dentro de determinada categoria de qualidade, conforto e tamanho de ve\u00edculo, a faixa de varia\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os tende a ser pequena. J\u00e1 o pre\u00e7o dos n\u00e3o comercializ\u00e1veis pode variar intensamente de pa\u00eds para pa\u00eds, pois esses bens\/servi\u00e7os est\u00e3o protegidos da concorr\u00eancia internacional. Mesmo dentro de um pa\u00eds, as diferen\u00e7as de pre\u00e7o entre bens n\u00e3o comercializ\u00e1veis \u00e9 muito maior do que entre bens comercializ\u00e1veis. Por exemplo, o aluguel de um apartamento em Ipanema (Rio de Janeiro) pode ser dez vezes mais caro do que o aluguel de um apartamento semelhante em Goi\u00e2nia. J\u00e1 a diferen\u00e7a entre o pre\u00e7o do autom\u00f3vel ou do feij\u00e3o entre as duas localidades \u00e9 substancialmente menor, se houver.<\/p>\n

Na produ\u00e7\u00e3o de qualquer bem, h\u00e1 insumos comercializ\u00e1veis e n\u00e3o comercializ\u00e1veis. Assim, para produzir autom\u00f3veis, \u00e9 necess\u00e1rio a\u00e7o, tinta e outros insumos cujos custos devem ser aproximadamente os mesmos (uma vez convertidos na mesma moeda) no Brasil ou em qualquer pa\u00eds. Assim, um aumento no pre\u00e7o dos insumos comercializ\u00e1veis, por afetar da mesma forma todos os produtores, n\u00e3o prejudica a competitividade da ind\u00fastria nacional.<\/p>\n

J\u00e1 o transporte dos insumos do porto para a f\u00e1brica e, posteriormente, o transporte do autom\u00f3vel da f\u00e1brica para o porto, a tarifa de energia, o aluguel e a m\u00e3o-de-obra, todos esses insumos s\u00e3o n\u00e3o comercializ\u00e1veis e, portanto, um aumento de seu custo afeta somente a competitividade da ind\u00fastria nacional. Por esse motivo, quando o pre\u00e7o dos comercializ\u00e1veis sobe em rela\u00e7\u00e3o aos n\u00e3o comercializ\u00e1veis, o c\u00e2mbio real se deprecia e estamos ganhando competitividade. Simetricamente, se o pre\u00e7o dos n\u00e3o comercializ\u00e1veis aumenta em rela\u00e7\u00e3o ao dos comercializ\u00e1veis, estamos perdendo competitividade, e o c\u00e2mbio real se aprecia.<\/p>\n

Podemos analisar agora como mensurar os pre\u00e7os relativos. A f\u00f3rmula tradicionalmente utilizada na literatura \u00e9:<\/p>\n

\"formula\"<\/div>\n
<\/div>\n
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Em que q<\/i> \u00e9 a taxa real de c\u00e2mbio; e<\/i> \u00e9 a taxa nominal de c\u00e2mbio (expressa em moeda dom\u00e9stica por moeda externa, como R$ por US$); p*<\/i> e o n\u00edvel de pre\u00e7os internacional; e p<\/i>, o n\u00edvel de pre\u00e7os dom\u00e9sticos.<\/p>\n

Quanto maior o valor de q<\/i>, mais desvalorizada est\u00e1 a moeda do pa\u00eds. Olhando para os termos, o numerador corresponde ao pre\u00e7o internacional convertido na moeda dom\u00e9stica. No exemplo do autom\u00f3vel, era o pre\u00e7o de US$ 10 mil, multiplicado pela taxa de c\u00e2mbio nominal, para chegarmos aos R$ 20 mil. Assim, o numerador corresponde ao pre\u00e7o dos bens comercializ\u00e1veis.<\/p>\n

O denominador \u00e9 o n\u00edvel de pre\u00e7os dom\u00e9sticos. Pela discuss\u00e3o acima, vemos que p<\/i> n\u00e3o deve ser escolhido aleatoriamente, mas deve refletir o pre\u00e7o dos bens n\u00e3o comercializ\u00e1veis.<\/p>\n

Com base na f\u00f3rmula acima, o Banco Central (Bacen) estima diversas taxas de c\u00e2mbio real. Como podemos estimar a taxa de c\u00e2mbio real em rela\u00e7\u00e3o a cada moeda diferente, haver\u00e1 tantas taxas de c\u00e2mbio real quantos forem as moedas. O Bacen estima uma taxa de c\u00e2mbio que chama de efetiva, em que pondera as diferentes moedas pela participa\u00e7\u00e3o do pa\u00eds emissor nas exporta\u00e7\u00f5es brasileiras. Assim, a taxa de c\u00e2mbio real efetiva corresponde ao comportamento do real brasileiro frente a uma cesta de moedas que incluem o d\u00f3lar norte-americano, o yuan chin\u00eas, o euro, o iene japon\u00eas, o peso argentino, entre outras. Al\u00e9m disso, o Bacen calcula as taxas de c\u00e2mbio real bilaterais, por exemplo, real x d\u00f3lar, real x euro, etc.<\/p>\n

Em rela\u00e7\u00e3o aos \u00edndices de pre\u00e7os, o Bacen utiliza quatro \u00edndices dom\u00e9sticos (IPCA, IPC-Fipe, INPC e IPA-DI) e, para os pre\u00e7os internacionais, dois (o correspondente ao \u00cdndice de Pre\u00e7os no Atacado – IPA, quando utiliza o IPA-DI para os pre\u00e7os dom\u00e9sticos, e o correspondente ao \u00cdndice de Pre\u00e7os ao Consumidor \u2013 IPC, quando utiliza os demais \u00edndices para os pre\u00e7os dom\u00e9sticos). Pela discuss\u00e3o anterior, o IPA-DI, por ser um \u00edndice de pre\u00e7os no atacado, e, como tal, fortemente influenciado pelo pre\u00e7o dos bens comercializ\u00e1veis, \u00e9 inadequado para o c\u00e1lculo da taxa real de c\u00e2mbio. Na pr\u00e1tica, entretanto, como veremos a seguir, a diferen\u00e7a n\u00e3o \u00e9 muito grande em termos qualitativos (embora possa ser, do ponto de vista quantitativo).<\/p>\n

Outra forma de calcular a taxa real de c\u00e2mbio \u00e9 dividir diretamente o \u00edndice de pre\u00e7os de bens comercializ\u00e1veis pelo de bens n\u00e3o comercializ\u00e1veis. O Bacen calcula esses \u00edndices para o IPCA. O Gr\u00e1fico 1 mostra a evolu\u00e7\u00e3o das diferentes medidas de c\u00e2mbio real desde dezembro de 2005. Para suavizar as s\u00e9ries, apresentamos os valores m\u00e9dios dos \u00faltimos doze meses, tendo como base dezembro de 2006 = 100. Apresentamos tamb\u00e9m o \u00edndice referente \u00e0 taxa de c\u00e2mbio nominal.<\/p>\n

\"grafico_1\"<\/a><\/p>\n

(Clique no gr\u00e1fico para ampliar)<\/em><\/p>\n

Observamos, em primeiro lugar, que todos os m\u00e9todos de calcular a taxa real de c\u00e2mbio de acordo com a Equa\u00e7\u00e3o 1 fornecem resultados qualitativamente semelhantes. Em termos quantitativos, a diferen\u00e7a entre utilizar como base de compara\u00e7\u00e3o o d\u00f3lar ou uma cesta de moedas pode ser substancial, podendo superar 10 pontos percentuais. J\u00e1 o uso do IPCA ou IPA como deflator n\u00e3o altera muito os resultados. Na maior parte do tempo, as s\u00e9ries s\u00e3o muito pr\u00f3ximas, apresentando diferen\u00e7a m\u00e9dia de 1 ponto percentual. Em alguns per\u00edodos, contudo, como no fim do primeiro semestre de 2008, a diferen\u00e7a entre as s\u00e9ries chegou a 6 pontos percentuais.<\/p>\n

Em segundo lugar, vemos que as s\u00e9ries de c\u00e2mbio real calculadas de acordo com a Equa\u00e7\u00e3o (1) s\u00e3o qualitativamente semelhantes \u00e0 evolu\u00e7\u00e3o da taxa de c\u00e2mbio nominal. Os movimentos, contudo, tendem a ser mais suaves. Por exemplo, no recente ciclo de deprecia\u00e7\u00e3o do real, desde o segundo semestre de 2011, a deprecia\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio nominal foi mais intensa do que a do c\u00e2mbio real, refletindo o fato de a infla\u00e7\u00e3o brasileira ser mais alta do que a infla\u00e7\u00e3o de nossos parceiros comerciais.<\/p>\n

Finalmente, mas n\u00e3o menos importante, o comportamento da s\u00e9rie que mensura somente a rela\u00e7\u00e3o pre\u00e7o comercializ\u00e1veis\/n\u00e3o comercializ\u00e1veis \u00e9 bem diferente das demais. Observe-se, inclusive, que, de acordo com esse \u00edndice, a forte deprecia\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio nominal observada nos \u00faltimos dois anos n\u00e3o se transformou em deprecia\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio real: o forte aumento do pre\u00e7o dos servi\u00e7os no Brasil teria minado eventuais ganhos de competitividade.<\/p>\n

Qual das metodologias \u00e9 mais correta? N\u00e3o h\u00e1 resposta inequ\u00edvoca para essa pergunta. A Equa\u00e7\u00e3o 1 utiliza o \u00edndice de pre\u00e7os (no atacado ou ao consumidor) de nossos parceiros comerciais. Mas os itens que comp\u00f5em esses \u00edndices, bem como sua pondera\u00e7\u00e3o, podem guardar pouca rela\u00e7\u00e3o com os itens comercializ\u00e1veis que competem com nossa produ\u00e7\u00e3o. Em rela\u00e7\u00e3o ao denominador, j\u00e1 explicamos que o IPA \u00e9 um \u00edndice inadequado. Em tese, o IPCA restrito aos bens e servi\u00e7os n\u00e3o comercializ\u00e1veis seria mais adequado. Ainda assim, o IPCA \u00e9 um \u00edndice ao consumidor. Se queremos ter uma no\u00e7\u00e3o dos custos de nossas empresas, dever\u00edamos utilizar um \u00edndice de n\u00e3o comercializ\u00e1veis de insumos, e n\u00e3o de bens de consumo final. Por motivos similares, a taxa de c\u00e2mbio real calculada pelo \u00edndice IPCA comercializ\u00e1veis\/IPCA n\u00e3o comercializ\u00e1veis tem problemas por n\u00e3o tratar diretamente dos insumos na produ\u00e7\u00e3o. Uma alternativa seria utilizar somente um \u00edndice de sal\u00e1rios como proxy<\/i> para os pre\u00e7os dos bens n\u00e3o comercializ\u00e1veis, mas essa proxy <\/i>tamb\u00e9m teria problemas, pois deixaria de considerar v\u00e1rios insumos importantes que n\u00e3o s\u00e3o comercializ\u00e1veis, como aluguel, tarifas de \u00e1gua, luz e transportes. Por fim, mesmo o \u00edndice do IPCA comercializ\u00e1veis \u00e9 contaminado por itens n\u00e3o comercializ\u00e1veis: quando compramos uma garrafa de vinho ou um autom\u00f3vel, estamos pagando tamb\u00e9m pelo transporte at\u00e9 a loja, pelo sal\u00e1rio do vendedor, alugu\u00e9is, etc.<\/p>\n

Mesmo com todas as limita\u00e7\u00f5es, as taxas reais de c\u00e2mbio apresentam boa correla\u00e7\u00e3o com o saldo da balan\u00e7a comercial. Os Gr\u00e1ficos 2 e 3 mostram a rela\u00e7\u00e3o do saldo da balan\u00e7a comercial e dos servi\u00e7os n\u00e3o fatores; o primeiro com a taxa real de c\u00e2mbio mensurada pela rela\u00e7\u00e3o pre\u00e7o comercializ\u00e1veis\/pre\u00e7o n\u00e3o comercializ\u00e1veis; o segundo, com a taxa mensurada em rela\u00e7\u00e3o ao d\u00f3lar e utilizando o IPA como deflator (dentre as s\u00e9ries calculadas de acordo com a Equa\u00e7\u00e3o 1<\/i>, foi a que apresentou a melhor correla\u00e7\u00e3o). Para o per\u00edodo analisado, a taxa de c\u00e2mbio estimada pela varia\u00e7\u00e3o dos pre\u00e7os relativos apresentou melhor ader\u00eancia \u00e0 s\u00e9rie do saldo da balan\u00e7a comercial, e maior correla\u00e7\u00e3o (0,96 versus<\/i> 0,79). Esse resultado, contudo, deve ser visto somente como um fato estilizado. Um trabalho econom\u00e9trico mais profundo, utilizando outras vari\u00e1veis, \u00e9 necess\u00e1rio para que se possa chegar a conclus\u00f5es mais robustas. De qualquer forma, n\u00e3o deixa de ser interessante verificar que, a despeito da forte deprecia\u00e7\u00e3o no c\u00e2mbio nominal observada desde o primeiro trimestre de 2013 at\u00e9 o in\u00edcio de 2014, quando o d\u00f3lar passou (em valores aproximados) de R$ 2,00 para R$ 2,35, uma deprecia\u00e7\u00e3o nominal muito acima da infla\u00e7\u00e3o do per\u00edodo, o c\u00e2mbio real medido pela rela\u00e7\u00e3o pre\u00e7o comercializ\u00e1veis\/n\u00e3o comercializ\u00e1veis continua se apreciando, comportamento mais consistente com a cont\u00ednua deteriora\u00e7\u00e3o de nossa balan\u00e7a comercial.<\/p>\n

Em suma, para que a competitividade das exporta\u00e7\u00f5es brasileiras aumente, e o d\u00e9ficit comercial seja revertido, n\u00e3o basta desvalorizar o c\u00e2mbio nominal. \u00c9 preciso que os pre\u00e7os dos bens n\u00e3o comercializ\u00e1veis parem de subir a taxas superiores \u00e0s dos comercializ\u00e1veis.<\/p>\n

\"grafico_2\"<\/a><\/p>\n

(Clique no gr\u00e1fico para ampliar)<\/em><\/p>\n

\"grafico_3\"<\/a><\/p>\n

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_______________<\/p>\n

1<\/sup>\u00a0Sobre a determina\u00e7\u00e3o da taxa real de c\u00e2mbio, ver outro artigo deste blog, intitulado \u201cPor que o real se valoriza em rela\u00e7\u00e3o ao d\u00f3lar desde 2002?<\/a>\u201d<\/p>\n

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