{"id":1883,"date":"2013-06-26T12:56:09","date_gmt":"2013-06-26T15:56:09","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=1883"},"modified":"2013-06-28T09:02:53","modified_gmt":"2013-06-28T12:02:53","slug":"quanto-custa-um-estadio-de-futebol-ou-ainda-temos-tempo-de-economizar-42-maracanas","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=1883","title":{"rendered":"Quanto custa um est\u00e1dio de futebol? Ou: ainda temos tempo de economizar 42 Maracan\u00e3s"},"content":{"rendered":"
Apesar do car\u00e1ter difuso dos protestos populares que tomaram conta do pa\u00eds neste m\u00eas de junho de 2013, um ponto parece claro: a popula\u00e7\u00e3o est\u00e1 indignada com as prioridades adotadas pelos governantes. Tomou-se consci\u00eancia de que os governos federal, estaduais e municipais preferiram construir est\u00e1dios de futebol a investir na supera\u00e7\u00e3o dos nossos cr\u00f4nicos problemas de transporte urbano ou na melhoria da oferta de servi\u00e7os de sa\u00fade e educa\u00e7\u00e3o.<\/p>\n
A indigna\u00e7\u00e3o n\u00e3o \u00e9 apenas com a invers\u00e3o de prioridades<\/span>, mas tamb\u00e9m com os custos totais dos est\u00e1dios, que levantam suspeitas acerca de superfaturamento e corrup\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Ser\u00e1 que os est\u00e1dios brasileiros realmente custaram caro, quando comparados com outros constru\u00eddos para copas do mundo anteriores? Essa compara\u00e7\u00e3o pode ser feita consultando-se a base de dados da ONG Play the Game <\/em>(www.playthegame.org<\/a>), uma entidade com sede na Dinamarca, cujo objetivo \u00e9 fortalecer a \u00e9tica no esporte. O crit\u00e9rio b\u00e1sico de custo utilizado por essa entidade \u00e9 o custo total dos est\u00e1dios dividido pela sua capacidade (custo por assento).<\/p>\n A Tabela 1 compara o custo m\u00e9dio por assento dos seis est\u00e1dios brasileiros j\u00e1 conclu\u00eddos e dos est\u00e1dios utilizados nas Copas de Jap\u00e3o\/Cor\u00e9ia do Sul, Alemanha e \u00c1frica do Sul. Observa-se que o custo por assento da Copa brasileira ficou 10% acima do observado na Copa da \u00c1frica do Sul e 14% superior ao da Copa de Jap\u00e3o e Cor\u00e9ia do Sul. H\u00e1 grande diferen\u00e7a em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 Alemanha, cujo custo de est\u00e1dios foi quase 40% menor que o brasileiro.<\/p>\n Ainda que diferen\u00e7as no poder de compra das moedas possa afetar essa compara\u00e7\u00e3o, \u00e9 surpreendente que o Brasil n\u00e3o tenha gasto muito mais que Jap\u00e3o e Cor\u00e9ia do Sul, que s\u00e3o pa\u00edses muito mais produtivos e com processo de engenharia mais avan\u00e7ado que o Brasil. Todos aqueles que conhecem o Brasil esperariam pre\u00e7os muito acima da m\u00e9dia internacional, n\u00e3o s\u00f3 devido a uma percep\u00e7\u00e3o de alta corrup\u00e7\u00e3o e inefici\u00eancia, como tamb\u00e9m pelo fato de que o custo de investir no Brasil \u00e9 elevado1<\/sup>.<\/p>\n A grande diferen\u00e7a entre a Alemanha e as outras sedes de Copas se deve ao fato de que aquele pa\u00eds j\u00e1 dispunha, antes de sua Copa, de diversos est\u00e1dios que atendiam ao padr\u00e3o da FIFA, e que necessitavam de apenas alguns ajustes. Isso reduziu fortemente os custos de reforma e constru\u00e7\u00e3o. Para a Copa brasileira todos os 12 est\u00e1dios foram constru\u00eddos do zero ou fortemente reformados. Um exemplo oposto ao do Brasil foi o da Copa dos EUA, para a qual n\u00e3o foi preciso construir um est\u00e1dio sequer, pois bastou adaptar os j\u00e1 existentes campos de futebol americano.<\/p>\n Paira a d\u00favida se todos os est\u00e1dios brasileiros realmente precisavam ser totalmente reconstru\u00eddos, ou se faltou capacidade de negocia\u00e7\u00e3o de nossas autoridades junto \u00e0 FIFA, no sentido de flexibilizar exig\u00eancias. Principalmente no caso do Maracan\u00e3, que passou por ampla reforma h\u00e1 poucos anos.<\/p>\n Tabela 1 \u2013 Custo M\u00e9dio dos Est\u00e1dios das \u00daltimas Quatro Copas do Mundo (US$ por assentos)<\/strong><\/p>\n Fontes:www.playthegame.org<\/a> (est\u00e1dios internacionais) e Portal da Transpar\u00eancia da Copa 2014. Elaborado pelos autores. A Tabela 2, abaixo, apresenta est\u00e1dios dos outros pa\u00edses que foram inteiramente constru\u00eddos ou sofreram grandes reformas, para tornar a compara\u00e7\u00e3o mais equilibrada com as arenas brasileiras, que, como afirmado acima, est\u00e3o todas na categoria de nova constru\u00e7\u00e3o\/grande reforma. Para tanto, utilizamos os est\u00e1dios de maior custo porque o relat\u00f3rio da Play the Game<\/em> n\u00e3o especifica quais foram os est\u00e1dios das tr\u00eas copas passadas que est\u00e3o na categoria constru\u00e7\u00e3o\/grandes reformas2<\/sup>.<\/p>\n Tabela 2 \u2013 Custo por Assento de Est\u00e1dios Constru\u00eddos ou Submetidos a Grandes Reformas para as \u00daltimas Quatro Copas do Mundo (US$ por assentos)<\/strong><\/p>\n Fontes: Fontes:www.playthegame.org<\/a> (est\u00e1dios internacionais) e Portal da Transpar\u00eancia da Copa. Elaborado pelos autores. Nessa compara\u00e7\u00e3o os est\u00e1dios brasileiros n\u00e3o parecem estar fora do padr\u00e3o de pre\u00e7o internacional. Apenas o Man\u00e9 Garrincha, em Bras\u00edlia, e o Maracan\u00e3 est\u00e3o entre os mais caros, mas h\u00e1 na experi\u00eancia internacional est\u00e1dios que custaram ainda mais caro. Quatro dos seis est\u00e1dios brasileiros representados na amostra est\u00e3o abaixo da m\u00e9dia da amostra. \u00c9 verdade que estamos comparando com os est\u00e1dios mais caros de cada um dos demais pa\u00edses, mas o retrato mostrado na Tabela 2 n\u00e3o parece ser o de um \u201cdesastre\u201d generalizado de custos unit\u00e1rios. O que as Tabelas 1 e 2 est\u00e3o mostrando \u00e9 que est\u00e1dio de futebol custa muito caro: aqui e no exterior.<\/p>\n A Tabela 3, por sua vez, compara o custo projetado para cada um dos est\u00e1dios em 2010 com a despesa efetivamente verificada. Existem tr\u00eas casos distintos. O Maracan\u00e3 e o Man\u00e9 Garrincha sofreram claros estouros de or\u00e7amento, o que os levou a serem os dois est\u00e1dios mais caros.<\/p>\n O Mineir\u00e3o tamb\u00e9m estourou o or\u00e7amento, por\u00e9m devido a uma mudan\u00e7a de planos no meio da execu\u00e7\u00e3o da obra. Ap\u00f3s a demoli\u00e7\u00e3o resolveu-se alterar o projeto. Pelos custos estimados para o novo projeto, no momento da sua reformula\u00e7\u00e3o, praticamente n\u00e3o houve estouro de or\u00e7amento. Por\u00e9m, a necessidade de alterar o projeto durante a execu\u00e7\u00e3o da obra revela fragilidade t\u00e9cnica e\/ou excesso de otimismo inicial.<\/p>\n Por fim, h\u00e1 os tr\u00eas est\u00e1dios da Regi\u00e3o Nordeste, que foram executados dentro da expectativa e, em dois casos, custaram menos que previsto.<\/p>\n Tabela 3 \u2013 Diferen\u00e7a entre o custo final da obra e a estimativa inicial de custo (%)<\/strong><\/p>\n Fontes: Matriz de responsabilidade da Copa 2010 e Tabelas 1 e 2. Elaborado pelos autores.<\/span><\/p>\n O que diferencia o Maracan\u00e3 e o Man\u00e9 Garrincha dos demais est\u00e1dios \u00e9 que ambos foram reformados pelos respectivos governos estaduais, por meio de contrata\u00e7\u00e3o de empreiteiras. Nos demais casos a execu\u00e7\u00e3o da obra foi pela modalidade de PPP, em que as empresas que constru\u00edram as arenas ser\u00e3o respons\u00e1veis por sua gest\u00e3o, contando com uma subven\u00e7\u00e3o estatal. Tais empresas tinham, portanto, incentivos para reduzir os custos, pois quanto maiores fossem seus custos, menor o retorno que elas obteriam com a gest\u00e3o do est\u00e1dio. J\u00e1 no caso do Maracan\u00e3 e do Man\u00e9 Garrincha esse incentivo n\u00e3o existia, pois as empreiteiras envolvidas na constru\u00e7\u00e3o n\u00e3o iriam gerir os est\u00e1dios posteriormente; estavam apenas recebendo pelo servi\u00e7o de constru\u00e7\u00e3o.<\/p>\n A hist\u00f3ria que parece ser contada pelas Tabelas 1 a 3 n\u00e3o \u00e9 simplesmente de superfaturamento e corrup\u00e7\u00e3o na constru\u00e7\u00e3o de est\u00e1dios. Isto pode ter ocorrido, em especial nos est\u00e1dios que tiveram maior custo por assento. Mas h\u00e1 outros fatores envolvidos.<\/p>\n Em pelo menos tr\u00eas casos (Maracan\u00e3, Man\u00e9 Garrincha e Mineir\u00e3o) o custo inicialmente apresentado era muito otimista, quando comparado com a experi\u00eancia internacional e com a obra que efetivamente se executou.<\/p>\n Al\u00e9m disso, mesmo nos est\u00e1dios em que n\u00e3o houve otimismo na estimativa de custos, houve superestima\u00e7\u00e3o dos benef\u00edcios a serem proporcionados pela Copa: investimentos complementares nas infraestruturas urbanas, est\u00edmulo \u00e0 economia pelo aumento do turismo, melhoria da imagem internacional do pa\u00eds.<\/p>\n Com alguns est\u00e1dios tendo seu custo subestimado e o evento como um todo tendo benef\u00edcios superestimados, a diferen\u00e7a entre benef\u00edcios e custos tornou-se douradamente positiva.<\/p>\n Igualmente otimista foi o argumento adicional de que parte substancial dos investimentos seria feita pela iniciativa privada, n\u00e3o onerando o er\u00e1rio. Na pr\u00e1tica, mesmo nos projetos contratados sob a forma de PPP, h\u00e1 significativos recursos p\u00fablicos envolvidos, seja na participa\u00e7\u00e3o direta dos governos estaduais no financiamento das obras, seja no financiamento subsidiado concedido pelo BNDES, que, em \u00faltima inst\u00e2ncia, obt\u00e9m seus recursos por meio de receitas tribut\u00e1rias federais e de transfer\u00eancias do Tesouro Federal.<\/p>\n Superestimou-se, tamb\u00e9m, a capacidade de planejamento e execu\u00e7\u00e3o do setor p\u00fablico brasileiro. Acreditou-se que seria poss\u00edvel fazer n\u00e3o s\u00f3 est\u00e1dios, mas tamb\u00e9m ampla reformula\u00e7\u00e3o da infraestrutura urbana. Na pr\u00e1tica, o esfor\u00e7o financeiro, de log\u00edstica e organiza\u00e7\u00e3o para a constru\u00e7\u00e3o dos est\u00e1dios subtraiu recursos, capacidade de planejamento e tempo de trabalho que se pretendia investir na amplia\u00e7\u00e3o da infraestrutura urbana. Em vez de mais e melhores meios de transportes e equipamentos urbanos, a Copa deixar\u00e1 como legado um conjunto de est\u00e1dios que implicar\u00e3o custos de manuten\u00e7\u00e3o. Mesmo os que est\u00e3o contratados sob a forma de PPP requerer\u00e3o participa\u00e7\u00e3o p\u00fablica em sua manuten\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Muitos est\u00e1dios n\u00e3o gerar\u00e3o receita suficiente para cobrir tais custos. Compare-se, por exemplo, o Man\u00e9 Garrincha com o Saporo Dome, do Jap\u00e3o. Este \u00e9 o est\u00e1dio mais caro entre os elencados na Tabela 2. No entanto, de acordo com o j\u00e1 citado relat\u00f3rio da Play the Game<\/em>, o est\u00e1dio japon\u00eas \u00e9 intensamente utilizado e lucrativo, recebendo eventos t\u00e3o distintos quanto competi\u00e7\u00f5es de esqui, jogos de baseball e de futebol. J\u00e1 o Man\u00e9 Garrincha tem poucas possibilidades de utiliza\u00e7\u00e3o ap\u00f3s a Copa, dada a fragilidade da liga brasiliense de futebol e a baixa flexibilidade do est\u00e1dio para receber outros tipos de eventos.<\/p>\n O excesso de otimismo em projetos de engenharia e a consequente apresenta\u00e7\u00e3o de rela\u00e7\u00e3o benef\u00edcio-custo superestimada \u00e9 um fen\u00f4meno muito comum em todo o mundo sendo, inclusive, objeto de estudos acad\u00eamicos. Bent Flyvbjerg3<\/sup>, por exemplo, afirma que:<\/p>\n A psicologia e a economia pol\u00edtica explicam a imprecis\u00e3o das estimativas. A psicologia explica a imprecis\u00e3o em termos de vi\u00e9s de otimismo<\/span>, ou seja, uma predisposi\u00e7\u00e3o cognitiva, encontrada na maioria das pessoas, para julgar os eventos futuros em uma perspectiva mais positiva do que aquela oferecida pela experi\u00eancia passada. A economia pol\u00edtica, por sua vez, explica a imprecis\u00e3o em termos de deturpa\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica<\/span>. Nesse caso, os planejadores deliberadamente superestimam os benef\u00edcios e subestimam os custos para aumentar a probabilidade de que os seus projetos, e n\u00e3o os projetos rivais, recebam aprova\u00e7\u00e3o e financiamento. (…)Embora os dois tipos de explica\u00e7\u00e3o sejam diferentes, o resultado \u00e9 o mesmo: estimativas imprecisas e rela\u00e7\u00e3o benef\u00edcio-custo inflada. <\/em>(tradu\u00e7\u00e3o livre \u2013 grifo nosso)<\/p><\/blockquote>\n Com rela\u00e7\u00e3o aos est\u00e1dios brasileiros, o leite est\u00e1 derramado ou, como gostam de dizer os economistas, o custo dos est\u00e1dios est\u00e1 \u201cafundado\u201d. N\u00e3o h\u00e1 como recuper\u00e1-lo. Mas ainda h\u00e1 como a popula\u00e7\u00e3o brasileira tirar proveito da experi\u00eancia e obter um legado efetivamente positivo. As institui\u00e7\u00f5es p\u00fablicas e privadas, tais como o TCU, o Minist\u00e9rio P\u00fablico, as comiss\u00f5es tem\u00e1ticas do legislativo, as associa\u00e7\u00f5es de classe, a imprensa e as ONGs precisam tomar consci\u00eancia da exist\u00eancia do vi\u00e9s de otimismo<\/span> e da deturpa\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica<\/span>. Cada vez que um planejador p\u00fablico apresentar um projeto de alto custo, \u00e9 preciso questionar as estimativas de custos e benef\u00edcios que s\u00e3o apresentadas.<\/p>\n Outra li\u00e7\u00e3o fundamental a ser aprendida pelos brasileiros \u00e9 de que \u00e9 fundamental elencar os investimentos por ordem de prioridade<\/span>. N\u00e3o \u00e9 poss\u00edvel fazer tudo ao mesmo tempo, ainda mais com a restri\u00e7\u00e3o fiscal e a baixa capacidade de planejamento\/execu\u00e7\u00e3o do nosso setor p\u00fablico. O governo, ainda que conte com a participa\u00e7\u00e3o da iniciativa privada, n\u00e3o consegue, ao mesmo tempo, construir est\u00e1dios, ampliar metr\u00f4s, redesenhar corredores de \u00f4nibus, ampliar o saneamento b\u00e1sico, construir hospitais ou aperfei\u00e7oar a educa\u00e7\u00e3o. \u00c9 imperioso ter uma lista de prioridades.<\/p>\n H\u00e1 atualmente no Brasil um projeto de engenharia que tem \u201ctoda pinta\u201d de, assim como os est\u00e1dios da Copa, ser um caso cl\u00e1ssico de baixa prioridade associada \u00e0\u00a0 superestimativa de retorno econ\u00f4mico-social. Trata-se do chamado trem-bala, que ligar\u00e1 o Rio a S\u00e3o Paulo.<\/p>\n O projeto n\u00e3o \u00e9 priorit\u00e1rio porque ser\u00e1 um meio de transporte de luxo, com passagens caras, destinado a transportar pessoas de renda alta entre Rio e S\u00e3o Paulo. O n\u00f3 urbano em que vivemos evidentemente indica que o priorit\u00e1rio \u00e9 fazer S\u00e3o Paulo, Rio e demais cidades sa\u00edrem do engarrafamento permanente que existe dentro<\/span> de cada cidade, em vez de investir em transporte r\u00e1pido, acess\u00edvel a poucos, entre as cidades.<\/p>\n Quando questionado sobre qu\u00e3o priorit\u00e1rio seria o trem-bala em rela\u00e7\u00e3o a outros projetos de infraestrutura, uma autoridade governamental diretamente encarregada de desenvolver o projeto deu clara demonstra\u00e7\u00e3o de n\u00e3o estar preocupada com o adequado ordenamento de prioridades:<\/p>\n o que temos que entender no Brasil \u00e9 que esse falso dilema de prioridades<\/span> levou o Pa\u00eds a parar. Quer dizer, vai l\u00e1 no Par\u00e1 e no Amazonas e v\u00ea se a Transamaz\u00f4nica n\u00e3o tem nenhuma funcionalidade l\u00e1 hoje, se ela n\u00e3o gerou nenhuma transforma\u00e7\u00e3o naquela regi\u00e3o.<\/em><\/p>\n Quer dizer, a gente tem que perceber que temos que olhar este Pa\u00eds no que ele precisa e buscar fazer o que ele precisa. Vamos supor: vamos abandonar o trem de alta velocidade, vamos puxar um projeto e coloc\u00e1-lo em p\u00e9. E qual ser\u00e1 o projeto?4<\/sup> <\/em>(grifo nosso)<\/p><\/blockquote>\n Fazer uma lista de prioridades \u00e9, para essa autoridade, um \u201cfalso dilema\u201d, ou seja, uma perda de tempo. N\u00e3o importa buscar o projeto de maior retorno econ\u00f4mico e social: escolha-se qualquer um e toque-se em frente. \u00c9 esse mesmo racioc\u00ednio que coloca est\u00e1dios de futebol \u00e0 frente de saneamento b\u00e1sico, transporte urbano e outras prioridades gritantes da realidade urbana brasileira.<\/p>\n Os sinais de subestimativa de custos e superestimativa de benef\u00edcios no projeto do trem-bala est\u00e3o por toda a parte. O leitor que se interessar pode v\u00ea-los em outro artigo neste site (Vale a pena construir o trem-bala?<\/a>5<\/sup>).<\/p>\n O enredo da novela \u00e9 muito parecido com o dos est\u00e1dios da Copa. Inicialmente, as autoridades afirmavam que n\u00e3o haveria um centavo de dinheiro p\u00fablico no projeto. Na formata\u00e7\u00e3o atual o governo j\u00e1 admite forte envolvimento de recursos p\u00fablicos e subs\u00eddios do Tesouro via financiamento do BNDES, bem como est\u00e1 disposto a dar todo tipo de garantias e a absorver riscos.<\/p>\n Mesmo antes do in\u00edcio das obras, a estimativa de custo j\u00e1 pulou de R$ 18 bilh\u00f5es para R$ 35,6 bilh\u00f5es. Este \u00e9 o valor atualmente apresentado pelas autoridades, mas com a ressalva de que est\u00e1 a pre\u00e7os de 20086<\/sup>. Corrigindo-se tal custo pelo \u00edndice de pre\u00e7os da constru\u00e7\u00e3o civil (INCC) chegamos a R$ 50 bilh\u00f5es! Essa \u00e9 a estimativa oficial, provavelmente subestimada, como analisado nos estudos acima citados, que apontam ind\u00edcios de vi\u00e9s de otimismo e deturpa\u00e7\u00e3o estrat\u00e9gica no projeto do trem de alta velocidade.<\/p>\n R$ 50 bilh\u00f5es s\u00e3o nada menos que 42 Maracan\u00e3s! Se a experi\u00eancia negativa da sociedade brasileira com os est\u00e1dios da Copa servir para que possamos definitivamente interromper o projeto do trem-bala, recanalizando os recursos para prioridades mais urgentes<\/span>, isso valer\u00e1 mais que um hexacampeonato.<\/p>\n *Agradecemos a Gustavo Mendes que contribuiu para o levantamento estat\u00edstico usado neste texto.<\/em><\/p>\n ________________<\/p>\n 1<\/sup> Sobre esse ponto ver, por exemplo, http:\/\/fernandonogueiracosta.wordpress.com\/2013\/05\/24\/preco-do-investimento-no-brasil\/<\/a><\/p>\n 2<\/sup> Relat\u00f3rio completo sobre os est\u00e1dios das Copas Cor\u00e9ia\/Jap\u00e3o, Alemanha e \u00c1frica do Sul est\u00e1 dispon\u00edvel em http:\/\/www.playthegame.org\/knowledge-bank\/theme-pages\/world-stadium-index.html<\/a><\/p>\n 3<\/sup> Flyvbjerg,B.\u00a0 Curbing\u00a0Optimism\u00a0Bias\u00a0and Strategic Misrepresentation in Planning: Reference Class Forecasting in Practice, European Planning Studies, v. 16, n. 1, p. 3-21, 2008.<\/p>\n 4<\/sup> Transcri\u00e7\u00e3o do depoimento de Bernardo Figueiredo, ent\u00e3o presidente da ANTT, atual presidente da Empresa de Planejamento e Log\u00edstica (EPL) \u00e0 Comiss\u00e3o de Infraestrutura do Senado, em debate sobre o trem-bala, em 12\/4\/2011.<\/p>\n 5<\/sup> An\u00e1lises mais detalhadas est\u00e3o publicadas nos seguintes textos para discuss\u00e3o Trem de Alta Velocidade: caso t\u00edpico de problema de gest\u00e3o de investimento<\/a> e Trem de Alta Velocidade: novas informa\u00e7\u00f5es para debater o projeto<\/a><\/p>\n 6<\/sup> Fonte: http:\/\/www.epl.gov.br\/tav<\/a><\/p>\n Download:<\/em><\/strong><\/p>\n<\/a><\/strong><\/p>\n
\n(*) Seis est\u00e1dios j\u00e1 conclu\u00eddos em junho de 2013 e utilizados na Copa das Confedera\u00e7\u00f5es.
\n(**) Os valores dos est\u00e1dios internacionais foram corrigidos de US$ de 2010 para US$ de 2013 pela taxa de infla\u00e7\u00e3o ao consumidor dos EUA. Os valores dos est\u00e1dios brasileiros foram convertidos para d\u00f3lar pela taxa m\u00e9dia do per\u00edodo janeiro de 2012 \u2013 maio de 2013 (R$ 1,97).<\/span><\/p>\n
\n<\/em><\/span><\/p>\n<\/a><\/strong><\/p>\n
\n(*) Valor inclui despesas a realizar relativas \u00e0 infraestrutura no entorno dos est\u00e1dios
\n(**) Todos os est\u00e1dios brasileiros incluem custos de infraestrutura no entorno, tais como acesso vi\u00e1rio e esta\u00e7\u00f5es de metr\u00f4.
\n(***) Os valores dos est\u00e1dios internacionais foram corrigidos de US$ de 2010 para US$ de 2013 pela taxa de infla\u00e7\u00e3o ao consumidor dos EUA. Os valores dos est\u00e1dios brasileiros foram convertidos para d\u00f3lar pela taxa m\u00e9dia do per\u00edodo janeiro de 2012 \u2013 maio de 2013 (R$ 1,97).<\/span><\/p>\n
\n<\/span><\/p>\n<\/a><\/p>\n
\n<\/span><\/p>\n\n