{"id":1878,"date":"2013-06-11T11:14:31","date_gmt":"2013-06-11T14:14:31","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=1878"},"modified":"2013-06-11T11:14:31","modified_gmt":"2013-06-11T14:14:31","slug":"as-contas-externas-do-brasil-estao-se-deteriorando","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=1878","title":{"rendered":"As contas externas do Brasil est\u00e3o se deteriorando?"},"content":{"rendered":"
As contas externas de um pa\u00eds est\u00e3o retratadas no seu balan\u00e7o de pagamentos, registros das transa\u00e7\u00f5es econ\u00f4micas entre residentes e n\u00e3o residentes. O balan\u00e7o \u00e9 dividido em duas partes principais. A primeira retrata as transa\u00e7\u00f5es com bens e servi\u00e7os, inclusive os juros e lucros pagos por investimentos feitos por estrangeiros. A segunda parte reflete as transa\u00e7\u00f5es financeiras, entre as quais as entradas e sa\u00eddas de investimentos diretos, empr\u00e9stimos banc\u00e1rios e investimentos em carteira, que s\u00e3o opera\u00e7\u00f5es com a\u00e7\u00f5es e t\u00edtulos de empresas e do governo.<\/p>\n
\u00c0 exce\u00e7\u00e3o do modelo asi\u00e1tico, os pa\u00edses em desenvolvimento, a exemplo do Brasil, costumam ter d\u00e9ficit nas transa\u00e7\u00f5es com bens e servi\u00e7os, tamb\u00e9m conhecidas como transa\u00e7\u00f5es correntes, e super\u00e1vit nas transa\u00e7\u00f5es financeiras. Assim, as aquisi\u00e7\u00f5es l\u00edquidas de bens e servi\u00e7os do exterior s\u00e3o financiadas com as entradas l\u00edquidas de investimentos estrangeiros, seja diretamente nas empresas (investimentos diretos), seja por meio dos empr\u00e9stimos banc\u00e1rios e das aquisi\u00e7\u00f5es de a\u00e7\u00f5es e t\u00edtulos das empresas e do governo.<\/p>\n
Esse mecanismo de financiamento externo pode ser \u00fatil ao esfor\u00e7o do pa\u00eds em desenvolvimento, normalmente caracterizado por escassez de capital, mas est\u00e1 sujeito tamb\u00e9m \u00e0 instabilidade, por vezes pronunciada, como se viu em v\u00e1rias experi\u00eancias de crise internacional nas duas \u00faltimas d\u00e9cadas. Nesses casos, os residentes encontram dificuldades para pagar seus compromissos externos, em geral pagos em d\u00f3lar, moeda emitida apenas pelos Estados Unidos, gerando crise cambial, esp\u00e9cie de crise de liquidez do pa\u00eds.<\/p>\n
Diante dos riscos, o desej\u00e1vel \u00e9 que o pa\u00eds utilize o financiamento externo de modo adequado e parcimonioso, o que decorre da qualidade da pol\u00edtica econ\u00f4mica do pa\u00eds receptor. Disso depender\u00e1 a intensidade dos efeitos internos em caso de mudan\u00e7as abruptas do cen\u00e1rio internacional.<\/p>\n
Feita essa introdu\u00e7\u00e3o, cabe analisar a evolu\u00e7\u00e3o das contas externas do Brasil nos \u00faltimos anos, com base nas estat\u00edsticas do balan\u00e7o de pagamentos divulgadas pelo Banco Central do Brasil (Bacen)1<\/sup>.<\/p>\n No que tange \u00e0s transa\u00e7\u00f5es correntes, no per\u00edodo 2003 a 2006, o Brasil apresentou super\u00e1vit entre 1% e 2% do PIB, m\u00e9dia anual de US$ 13,1 bilh\u00f5es, situa\u00e7\u00e3o pouco usual em seu hist\u00f3rico. Tal fato refletiu o descompasso entre o aumento das exporta\u00e7\u00f5es de bens, impulsionadas pela valoriza\u00e7\u00e3o das commodities exportadas pelo Brasil, em rela\u00e7\u00e3o \u00e0s importa\u00e7\u00f5es de bens e servi\u00e7os, contidas por conta da defasagem entre o crescimento econ\u00f4mico do Brasil e da economia mundial.<\/p>\n Em 2007, o super\u00e1vit nas transa\u00e7\u00f5es correntes foi praticamente eliminado e, no bi\u00eanio 2008-2009, transformou-se em d\u00e9ficit de cerca de 1% do PIB, m\u00e9dia anual de US$ 26,2 bilh\u00f5es. No tri\u00eanio 2010-2012, o d\u00e9ficit subiu ainda mais e ficou um pouco acima de 2% do PIB, m\u00e9dia anual de US$ 51,3 bilh\u00f5es. A evolu\u00e7\u00e3o do d\u00e9ficit se deveu ao forte aumento das compras externas de bens e servi\u00e7os, inclusive transporte, viagem e aluguel de equipamentos cujos gastos somados chegaram a US$ 55,2 bilh\u00f5es em 2012.<\/p>\n Esse patamar de d\u00e9ficit n\u00e3o chega a ser preocupante. Ocorre que, desde setembro de 2012, a tend\u00eancia pendeu para os 3% do PIB. No primeiro quadrimestre de 2013 houve surpreendente d\u00e9ficit na balan\u00e7a comercial por conta da redu\u00e7\u00e3o das exporta\u00e7\u00f5es de bens, enquanto as importa\u00e7\u00f5es de bens e servi\u00e7os mantiveram o ritmo anterior de aumento. O d\u00e9ficit de US$ 33,2 bilh\u00f5es nas contas correntes do primeiro quadrimestre de 2013 foi 91% superior a igual per\u00edodo de 2012 e correspondeu a 61% do d\u00e9ficit acumulado nos doze meses do ano passado.<\/p>\n \u00c9 cedo ainda para dizer para qual patamar caminhar\u00e1 o d\u00e9ficit em conta corrente, mas com certeza sua evolu\u00e7\u00e3o \u00e9 mais um sinal de alerta na economia brasileira. Vale observar que o d\u00e9ficit n\u00e3o superou os 4,55% do PIB entre 1999 e 2002, anos em que o Brasil passou por grandes dificuldades nas contas externas. A exemplo do cen\u00e1rio atual,<\/p>\n naquele per\u00edodo havia instabilidade no mercado financeiro internacional, trazendo muita incerteza acerca das condi\u00e7\u00f5es do financiamento externo das economias deficit\u00e1rias.<\/p>\n Outra dificuldade \u00e9 o cen\u00e1rio macroecon\u00f4mico atual da economia brasileira, no qual convivem baixo crescimento e infla\u00e7\u00e3o elevada. A eventual necessidade de ajustamento da economia por conta de falta de financiamento externo poderia piorar esse quadro, pois o ajuste normalmente requer desacelera\u00e7\u00e3o da economia e desvaloriza\u00e7\u00e3o cambial para conter as importa\u00e7\u00f5es e elevar as exporta\u00e7\u00f5es.<\/p>\n O assunto envolve ainda outras duas complica\u00e7\u00f5es. Uma \u00e9 o efeito da desacelera\u00e7\u00e3o da economia chinesa sobre os pre\u00e7os e quantidades exportadas de commodities<\/em> pelo Brasil. \u00c9 sabido que boa parte do forte aumento das vendas externas brasileiras ao longo da d\u00e9cada passada se deveu \u00e0 crescente import\u00e2ncia da China na economia mundial. Outra complica\u00e7\u00e3o \u00e9 a reduzida capacidade competitiva do Brasil que se reflete n\u00e3o apenas na concentra\u00e7\u00e3o das exporta\u00e7\u00f5es em commodities<\/em> de baixo valor agregado, como tamb\u00e9m na crescente import\u00e2ncia das importa\u00e7\u00f5es na economia brasileira, as quais n\u00e3o parecem arrefecer nem mesmo com o lento crescimento do pa\u00eds.<\/p>\n Como visto, o d\u00e9ficit nas transa\u00e7\u00f5es correntes \u00e9 financiado pelas entradas de capital no pa\u00eds. Se as condi\u00e7\u00f5es do financiamento s\u00e3o favor\u00e1veis, abre-se espa\u00e7o para que corre\u00e7\u00f5es por ventura necess\u00e1rias sejam feitas gradualmente e com menor custo para o pa\u00eds. Do contr\u00e1rio, o ajustamento pode ser traum\u00e1tico. Cabe, portanto, analisar a evolu\u00e7\u00e3o nos \u00faltimos anos da parte do balan\u00e7o de pagamentos que registra as transa\u00e7\u00f5es financeiras entre residentes e n\u00e3o residentes no Brasil.<\/p>\n A principal marca dessas transa\u00e7\u00f5es a partir de 2007 foi a forte entrada l\u00edquida de investimentos estrangeiros, tanto os investimentos diretos em empresas, como os investimentos em t\u00edtulos e a\u00e7\u00f5es. O fluxo l\u00edquido de capital superou em larga medida o d\u00e9ficit das transa\u00e7\u00f5es correntes, o que tamb\u00e9m traz dificuldades.<\/p>\n Em situa\u00e7\u00f5es como essa, a pol\u00edtica econ\u00f4mica se v\u00ea diante do seguinte dilema: deixar ou n\u00e3o que os efeitos da abund\u00e2ncia de d\u00f3lares se propaguem pela economia, a come\u00e7ar pela valoriza\u00e7\u00e3o do real e seu impacto sobre as exporta\u00e7\u00f5es e as importa\u00e7\u00f5es.<\/p>\n A resposta est\u00e1 em larga medida na avalia\u00e7\u00e3o que se faz da qualidade do financiamento externo. Em geral, os investimentos diretos s\u00e3o considerados financiamento de boa qualidade, j\u00e1 que ao implicarem envolvimento com o processo produtivo, n\u00e3o s\u00e3o facilmente revertidos, sugerindo compromisso de longo prazo com a economia brasileira. Os investimentos diretos brutos no Brasil (inclusive empr\u00e9stimos intercompanhias) subiram da m\u00e9dia anual de US$ 17,3 bilh\u00f5es no tri\u00eanio 2004-2006 para a m\u00e9dia anual de US$ 47,7 bilh\u00f5es no per\u00edodo 2007-2012. O aumento a partir de 2007 se deu em boa hora, pois, como visto, nesse ano, o saldo da conta corrente transitava para o d\u00e9ficit. Desde ent\u00e3o, ou os investimentos diretos l\u00edquidos superaram o d\u00e9ficit em conta corrente ou financiaram boa parte dele.<\/p>\n H\u00e1 duas d\u00favidas a respeito desses investimentos cujas respostas fogem ao escopo deste artigo. A primeira refere-se \u00e0 continuidade ou n\u00e3o no futuro dos elevados fluxos de recursos dirigidos ao Brasil nos \u00faltimos anos, quest\u00e3o que ganha import\u00e2ncia com o aumento do d\u00e9ficit nas contas correntes.<\/p>\n A segunda quest\u00e3o est\u00e1 relacionada com o efeito posterior desses investimentos sobre as contas externas do pa\u00eds. H\u00e1 o efeito positivo decorrente do esperado incremento da produtividade da economia brasileira. Entretanto, h\u00e1 tamb\u00e9m o efeito sobre as transa\u00e7\u00f5es correntes, por meio da remessa de lucros para o exterior, \u00e0 medida que os investimentos entram em opera\u00e7\u00e3o. Segundo o Bacen, o estoque de investimentos diretos no Brasil chegou a US$ 750,9, em abril de 2013, 366% a mais que o saldo existente no final de 2004. \u00c9 claro que esse \u00faltimo efeito pode ser compensado pelo incremento na capacidade produtiva de setores exportadores ou que substituam importa\u00e7\u00f5es. Entretanto, \u00e9 preciso verificar se os investimentos diretos v\u00eam sendo preponderantemente atra\u00eddos para esses setores, dados os incentivos econ\u00f4micos vigentes nos \u00faltimos anos.<\/p>\n J\u00e1 os investimentos em carteira, que s\u00e3o aplica\u00e7\u00f5es em a\u00e7\u00f5es e t\u00edtulos das empresas e do governo, foram tamb\u00e9m bastante elevados desde 2007, excetuados os meses que se seguiram ao in\u00edcio da crise internacional, em setembro de 2008. A partir de 2011, entretanto, esses investimentos desaceleraram, sem dar mostras de que retornar\u00e3o ao ritmo anterior. Considerando-se os valores m\u00e9dios anuais em cada per\u00edodo, os investimentos brutos em carteira de estrangeiros no Brasil foram de US$ 3,9 bilh\u00f5es, US$ 40,3 bilh\u00f5es e US$ 17,5 bilh\u00f5es, respectivamente, nos per\u00edodos 2004-2006, 2007-2010 e 2011-2012.<\/p>\n Ainda que esses investidores levem em conta as perspectivas de longo prazo da economia receptora, predomina na sua avalia\u00e7\u00e3o o retorno esperado dos pap\u00e9is adquiridos, relativamente ao retorno esperado nos demais pa\u00edses, notadamente nas grandes economias dos Estados Unidos e da Uni\u00e3o Europ\u00e9ia. Os investidores tamb\u00e9m cotejam o diferencial de retorno com o risco da aplica\u00e7\u00e3o no pa\u00eds hospedeiro, especialmente quanto \u00e0 mudan\u00e7a da taxa de c\u00e2mbio no horizonte de c\u00e1lculo, pois ela afeta o retorno em d\u00f3lar do investimento.<\/p>\n Como os investimentos em carteiras, em geral, podem ser desfeitos com baixos custos, qualquer altera\u00e7\u00e3o no retorno esperado ou no risco, tanto no pa\u00eds receptor, como nas localidades alternativas, provoca ajustes r\u00e1pidos na dire\u00e7\u00e3o e intensidade dos fluxos de capital. Em situa\u00e7\u00f5es mais graves, os fluxos l\u00edquidos de entrada podem ficar negativos, desequilibrando as contas externas, mesmo com investimentos diretos elevados.<\/p>\n Entre 2007 e 2010, excetuando-se os meses que se seguiram ao in\u00edcio da crise internacional, as condi\u00e7\u00f5es foram muito atrativas para os investimentos em t\u00edtulos e a\u00e7\u00f5es no Brasil. Em meados de 2007, a taxa de juros nos EUA caiu de forma acentuada, fato que se reproduziu na economia europ\u00e9ia no ano seguinte. No Brasil, embora a tend\u00eancia da taxa de juros tenha sido de queda, o processo se deu com idas e vindas. Houve ainda a melhora na percep\u00e7\u00e3o internacional do risco da economia brasileira, culminando na reclassifica\u00e7\u00e3o do pa\u00eds para grau de investimentos pela ag\u00eancia classificadora de cr\u00e9dito Standard & Poor\u2019s, em abril de 2008, seguidas de outras ag\u00eancias nos meses seguintes.<\/p>\n A rea\u00e7\u00e3o das autoridades econ\u00f4micas aos abundantes fluxos de capital foi um meio termo entre deixar o real se valorizar e acumular elevados montantes de reservas internacionais, por meio das interven\u00e7\u00f5es do Bacen no mercado de c\u00e2mbio, adquirindo o excesso de d\u00f3lares.<\/p>\n A taxa de c\u00e2mbio efetiva real calculada com base no IPA-DI valorizou-se entre 2005 a 2011. Ao final de 2004, alcan\u00e7ou o n\u00edvel anterior \u00e0s crises de 2001 e 2002, cerca de 90% do valor verificado em junho de 1994. Em meados de 2011, o percentual estava abaixo de 60%. A valoriza\u00e7\u00e3o cambial ajudou a compor o quadro negativo da evolu\u00e7\u00e3o das exporta\u00e7\u00f5es e das importa\u00e7\u00f5es apontado anteriormente. Entretanto, a valoriza\u00e7\u00e3o teria sido ainda maior se as reservas internacionais n\u00e3o tivessem subido acentuadamente de US$ 62,7 bilh\u00f5es em junho de 2006 para US$ 378,7 bilh\u00f5es em abril de 2013.<\/p>\n Alguns estudos feitos com base em an\u00e1lises de custo-benef\u00edcio, usuais na literatura econ\u00f4mica, entendem que tal montante de reservas supera o n\u00edvel \u00f3timo. Os custos s\u00e3o evidentes, tendo em vista que, no Brasil, a aquisi\u00e7\u00e3o de reservas \u00e9 financiada pelo aumento do caro endividamento interno do governo. Esse procedimento n\u00e3o afeta imediatamente a d\u00edvida l\u00edquida do setor p\u00fablico, mas o faz posteriormente por conta do aumento dos juros l\u00edquidos devidos. O custo fiscal no final depender\u00e1 da taxa de c\u00e2mbio com que as reservas internacionais forem vendidas.<\/p>\n Entretanto, o problema n\u00e3o est\u00e1 no ac\u00famulo de reservas em si. Dada a forte entrada de capitais, a op\u00e7\u00e3o faz sentido, pois o ac\u00famulo reduz o risco de crises cambiais e, caso elas ocorram, o uso das reservas amortece os efeitos sobre a economia . A cr\u00edtica que pode ser feita \u00e9 a incapacidade da pol\u00edtica econ\u00f4mica em evitar que o pa\u00eds atraia capitais em excesso. O controle da entrada ajuda, mas apenas acessoriamente, at\u00e9 que medidas mais eficazes surtam efeito.<\/p>\n A partir de 2011, os investimentos em carteira no Brasil desaceleraram, ao contr\u00e1rio dos investimentos diretos, que continuaram vindo ao pa\u00eds em ritmo ainda mais intenso do que o verificado nos anos anteriores. Inicialmente, a desacelera\u00e7\u00e3o decorreu de medidas internas ent\u00e3o adotadas, mas, posteriormente, ganharam import\u00e2ncia a deteriora\u00e7\u00e3o dos indicadores da economia brasileira e a evolu\u00e7\u00e3o da economia internacional.<\/p>\n No que tange \u00e0s medidas internas, n\u00e3o propositalmente dirigidas \u00e0 redu\u00e7\u00e3o dos fluxos de capital, o Bacen passou a reduzir a taxa Selic a partir de maio de 2011 at\u00e9 baix\u00e1-la ao n\u00edvel in\u00e9dito de 7,25% ao ano em setembro de 2012. Outra decis\u00e3o, a\u00ed sim propositalmente dirigida \u00e0 redu\u00e7\u00e3o da entrada de recursos, foram os sucessivos aumentos da al\u00edquota de IOF, notadamente ao final de 2010, sobre as aquisi\u00e7\u00f5es por estrangeiros de pap\u00e9is privados de renda fixa, aqui ou no exterior. A pol\u00edtica j\u00e1 havia sido utilizada entre mar\u00e7o e setembro de 2008, mas foi abandonada com o in\u00edcio da crise internacional.<\/p>\n Resultado da desacelera\u00e7\u00e3o da entrada de capitais, e da j\u00e1 apontada eleva\u00e7\u00e3o do d\u00e9ficit nas transa\u00e7\u00f5es correntes, a tend\u00eancia de valoriza\u00e7\u00e3o da taxa de c\u00e2mbio foi revertida a partir do segundo semestre de 2011. Da\u00ed em diante, a taxa de c\u00e2mbio chegou a patamares de desvaloriza\u00e7\u00e3o que n\u00e3o alcan\u00e7ava desde meados de 2009, per\u00edodo em que os efeitos da crise internacional ainda estavam bem presentes. \u00c9 claro que a nova situa\u00e7\u00e3o elevou as incertezas acerca do retorno esperado em d\u00f3lar da aplica\u00e7\u00e3o estrangeira no pa\u00eds, criando desest\u00edmulo extra aos investimentos em carteira.<\/p>\n Em anos anteriores, com a abund\u00e2ncia de capital, a desvaloriza\u00e7\u00e3o cambial s\u00f3 seria poss\u00edvel a custa de forte interven\u00e7\u00e3o do Bacen no mercado de c\u00e2mbio, tendo como resultado colateral o aumento ainda maior do saldo das reservas internacionais. Entretanto, desde meados de 2011, mesmo com a desvaloriza\u00e7\u00e3o cambial, as reservas deixaram de crescer no ritmo dos anos anteriores. Na verdade, ap\u00f3s os US$ 353,4 bilh\u00f5es alcan\u00e7ados em agosto de 2011, as reservas se mantiveram relativamente est\u00e1veis, a exce\u00e7\u00e3o dos meses de mar\u00e7o e abril de 2012. Entre abril de 2013 e o mesmo m\u00eas de 2012, as reservas subiram apenas 1,2%.<\/p>\n O risco para o pa\u00eds agora \u00e9 a poss\u00edvel transi\u00e7\u00e3o de uma situa\u00e7\u00e3o de abund\u00e2ncia de capital que inclusive trouxe problemas para a gest\u00e3o da pol\u00edtica econ\u00f4mica, para outra de escassez, algo ainda mais problem\u00e1tico, levando-se em conta o j\u00e1 apontado desempenho recente das transa\u00e7\u00f5es correntes do pa\u00eds.<\/p>\n A exist\u00eancia de reservas externas de quase US$ 380 bilh\u00f5es representa um seguro importante, conforme j\u00e1 apontado. J\u00e1 os investimentos diretos no Brasil t\u00eam se mantido em patamares elevados. H\u00e1 ainda dois instrumentos que podem ser usados para atrair o investimento estrangeiro em carteira: a redu\u00e7\u00e3o da al\u00edquota de IOF aplicada sobre eles e a eleva\u00e7\u00e3o da taxa Selic, que j\u00e1 voltou a subir em abril de 2013 por conta da infla\u00e7\u00e3o, estando agora em 8% ao ano.<\/p>\n Em que pese esses fatores, em alguns cen\u00e1rios poss\u00edveis para a economia internacional esses instrumentos podem ser insuficientes. Al\u00e9m da j\u00e1 citada desacelera\u00e7\u00e3o da economia chinesa com seus impactos sobre as exporta\u00e7\u00f5es brasileiras, uma possibilidade cada vez mais concreta \u00e9 a da revers\u00e3o da pol\u00edtica monet\u00e1ria americana fortemente expansionista iniciada em 2007, caso a recupera\u00e7\u00e3o da economia se consolide e a taxa de desemprego baixe para padr\u00f5es mais aceit\u00e1veis.<\/p>\n Uma eventual eleva\u00e7\u00e3o da taxa de juros oficial nos EUA atrair\u00e1 pelo menos parte do capital que emigrou nos \u00faltimos anos em busca de melhor rentabilidade. Na verdade, as taxas de juros dos t\u00edtulos do governo americano j\u00e1 v\u00eam aumentando, diante da expectativa de alguma inflex\u00e3o importante na pol\u00edtica do banco central dos EUA. Ao final de maio e in\u00edcio de junho de 2013, quando esse artigo estava sendo conclu\u00eddo, o pre\u00e7o do d\u00f3lar em rela\u00e7\u00e3o a diversas moedas subiu fortemente. O real foi uma das moedas mais afetadas. Como resposta, o governo brasileiro reduziu a zero a al\u00edquota do IOF sobre investimentos estrangeiros em pap\u00e9is de renda fixa no Brasil. Vale lembrar que tal medida j\u00e1 havia sido adotada nos meses que se seguiram ao in\u00edcio da crise internacional, em setembro de 2008, per\u00edodo de severa escassez de capitais externos. O Bacen tamb\u00e9m passou a intervir mais no mercado de c\u00e2mbio para conter a desvaloriza\u00e7\u00e3o cambial. As medidas foram em parte neutralizadas pelo an\u00fancio da Standard & Poor\u2019s de que a perspectiva da nota do Brasil \u00e9 de baixa.<\/p>\n Tais riscos ao equil\u00edbrio das contas externas do pa\u00eds n\u00e3o est\u00e3o devidamente considerados nos usuais indicadores de endividamento externo divulgados pelo Bacen. Mais reveladoras s\u00e3o as informa\u00e7\u00f5es sobre a posi\u00e7\u00e3o internacional de investimentos do pa\u00eds, tamb\u00e9m divulgadas pela Autarquia.<\/p>\n Ao final de abril de 2013, os estrangeiros tinham aplicado no Brasil US$ 172,4 bilh\u00f5es em t\u00edtulos de renda fixa e US$ 235,9 bilh\u00f5es em a\u00e7\u00f5es, enquanto os empr\u00e9stimos externos estavam em US$ 197,7 bilh\u00f5es. Apenas a soma dos dois primeiros valores j\u00e1 resulta em valor superior ao saldo das reservas no mesmo m\u00eas. H\u00e1 que se considerar ainda a possibilidade de que os pr\u00f3prios residentes remetam capital ao exterior. Trata-se de algo esperado quando os estrangeiros est\u00e3o retirando capital do pa\u00eds, j\u00e1 que o racioc\u00ednio econ\u00f4mico de ambos os grupos de investidores \u00e9 essencialmente o mesmo.<\/p>\n Dito tudo isso, cabe sintetizar uma resposta para a pergunta feita no t\u00edtulo deste artigo. De fato, em geral, os n\u00fameros do balan\u00e7o de pagamentos est\u00e3o piorando e a quest\u00e3o do equil\u00edbrio das contas externas retorna ao centro das aten\u00e7\u00f5es nos notici\u00e1rios e debates econ\u00f4micos. Entretanto, ainda n\u00e3o se pode dizer que o pa\u00eds caminha inequivocamente para uma crise cambial. H\u00e1 alguns sinais contradit\u00f3rios. O d\u00e9ficit em conta corrente est\u00e1 subindo, mas, como propor\u00e7\u00e3o do PIB, ainda n\u00e3o est\u00e1 fora de controle. As entradas l\u00edquidas dos investimentos em carteira est\u00e3o caindo, mas os investimentos diretos permanecem elevados. \u00c9 muito dif\u00edcil prever as trajet\u00f3rias desses tr\u00eas agregados, pois, como express\u00f5es das rela\u00e7\u00f5es econ\u00f4micas entre residentes e n\u00e3o residentes, dependem simultaneamente da evolu\u00e7\u00e3o da economia interna e internacional. O pior cen\u00e1rio para o Brasil, caso o d\u00e9ficit em conta corrente se situe acima de 3% do PIB, \u00e9 a desacelera\u00e7\u00e3o do investimento direto estrangeiro no pa\u00eds conjugada \u00e0 concretiza\u00e7\u00e3o de cen\u00e1rios externos desfavor\u00e1veis, notadamente no que tange \u00e0 China (desacelera\u00e7\u00e3o econ\u00f4mica) e aos EUA (aumento de taxa de juros).<\/p>\n __________________<\/p>\n 1<\/sup>Todos os dados utilizados neste artigo foram retirados da p\u00e1gina eletr\u00f4nica da Autarquia, mais exatamente das s\u00e9ries temporais e tabelas especiais relativas ao setor externo (https:\/\/www3.bcb.gov.br\/sgspub\/localizarseries\/localizarSeries.do?method=prepararTelaLocalizarSeries<\/a>)<\/p>\n Download:<\/strong><\/em><\/p>\n