{"id":1731,"date":"2013-02-25T09:53:55","date_gmt":"2013-02-25T12:53:55","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=1731"},"modified":"2013-03-26T09:17:34","modified_gmt":"2013-03-26T12:17:34","slug":"como-construir-um-indicador-de-desenvolvimento-sustentavel","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=1731","title":{"rendered":"Como construir um Indicador de Desenvolvimento Sustent\u00e1vel?"},"content":{"rendered":"
O Produto Interno Bruto (PIB) \u00e9 o principal indicador da riqueza de um pa\u00eds, representando a soma dos bens e servi\u00e7os produzidos por uma na\u00e7\u00e3o. Essa medida leva em conta tr\u00eas grupos principais de atividades:<\/p>\n
A import\u00e2ncia do PIB consiste no fato de que existem padr\u00f5es internacionais sobre a forma pela qual ele deve ser computado, permitindo compara\u00e7\u00f5es entre os pa\u00edses.<\/p>\n
Apesar de sua import\u00e2ncia como medida da atividade econ\u00f4mica, h\u00e1 que se enfatizar que o PIB n\u00e3o pode ser tomado como indicador de bem-estar. Afinal, o PIB (e, principalmente, o PIB per capita<\/em>) capta somente a renda m\u00e9dia do pa\u00eds, n\u00e3o capturando aspectos importantes para o bem-estar, como distribui\u00e7\u00e3o de renda, incid\u00eancia de pobreza, preserva\u00e7\u00e3o do meio-ambiente e qualidade de vida de forma mais abrangente.Dessa maneira, estudiosos do mundo todo v\u00eam discutindo intensamente a substitui\u00e7\u00e3o do PIB por um novo indicador que contemple o desenvolvimento sustent\u00e1vel e, a pardas vari\u00e1veis econ\u00f4micas, incorpore tamb\u00e9m as sociais e as ambientais.<\/p>\n O que mais se aproxima disso em escala global \u00e9 o \u00cdndice de Desenvolvimento Humano (IDH). Trata-se de \u00edndice que serve para compara\u00e7\u00e3o entre os pa\u00edses, com o objetivo de medir o grau de desenvolvimento econ\u00f4mico e a qualidade de vida oferecida \u00e0 popula\u00e7\u00e3o. O relat\u00f3rio anual do IDH \u00e9 elaborado pelo Programa das Na\u00e7\u00f5es Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Esse \u00edndice \u00e9 calculado com base em dados econ\u00f4micos e sociais, e apresenta valores que v\u00e3o de 0 (nenhum desenvolvimento humano) a 1 (desenvolvimento humano total). Quanto mais pr\u00f3ximo de 1, mais desenvolvido \u00e9 o pa\u00eds. OIDH tamb\u00e9m \u00e9 usado para apurar o desenvolvimento de cidades, estados e regi\u00f5es. No c\u00e1lculo do \u00edndice, s\u00e3o computados os seguintes fatores: educa\u00e7\u00e3o (n\u00famero m\u00e9dio de anos de estudos), longevidade (expectativa de vida da popula\u00e7\u00e3o) e o PIB per capita<\/em>.<\/p>\n Observe-se que o IDH, indiretamente, capta v\u00e1rios aspectos importantes para a sustentabilidade. Por exemplo, sociedades com popula\u00e7\u00e3o mais educada tendem a respeitar mais a cidadania e a ter maior consci\u00eancia de problemas ambientais. Longevidade maior est\u00e1 usualmente associada a uma vida mais saud\u00e1vel, o que decorre tanto de a\u00e7\u00f5es que afetam o indiv\u00edduo (como acesso \u00e0 sa\u00fade, boa alimenta\u00e7\u00e3o, estilo de vida mais regrado), quanto de a\u00e7\u00f5es que afetam a coletividade de maneira geral (como menor polui\u00e7\u00e3o e melhores condi\u00e7\u00f5es de transporte p\u00fablico). Contudo, a correla\u00e7\u00e3o entre IDH e sustentabilidade n\u00e3o \u00e9 perfeita e pode envolver defasagens: uma a\u00e7\u00e3o de preserva\u00e7\u00e3o hoje pode se refletir em um IDH mais alto somente ap\u00f3s v\u00e1rios anos.<\/p>\n Feita essa introdu\u00e7\u00e3o, antes de discutirmos as novas propostas de indicadores que tentam englobar a sustentabilidade ambiental, h\u00e1 que se definir o que \u00e9 desenvolvimento sustent\u00e1vel.<\/p>\n Segundo o Relat\u00f3rio da Comiss\u00e3o Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, desenvolvimento sustent\u00e1vel \u00e9 aquele que atende \u00e0s necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gera\u00e7\u00f5es futuras de terem atendidas tamb\u00e9m as suas. Assim, o desenvolvimento sustent\u00e1vel deve, no m\u00ednimo, salvaguardar os sistemas naturais que sustentam a vida na Terra: atmosfera, \u00e1guas, solos e seres vivos.<\/p>\n Al\u00e9m disso, o desenvolvimento sustent\u00e1vel imp\u00f5e a considera\u00e7\u00e3o de crit\u00e9rios de sustentabilidade social, ambiental e de viabilidade econ\u00f4mica. Apenas as solu\u00e7\u00f5es que considerem esses tr\u00eas elementos, isto \u00e9, que promovam o crescimento econ\u00f4mico com impactos positivos em termos sociais e ambientais, merecem essa denomina\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Portanto, ante uma sociedade global que deixa de pensar unicamente em retorno financeiro e passa a valorizar o desenvolvimento sustent\u00e1vel, \u00e9 natural que surjam questionamentos e discuss\u00f5es sobre a mensura\u00e7\u00e3o desse novo paradigma.<\/p>\n H\u00e1 muitos trabalhos sobre o tema. Uma compila\u00e7\u00e3o interessante da discuss\u00e3o encontra-se no livro Mis-measuringourlives: why GDP doesn\u2019taddup 1<\/sup><\/em>, escrito por tr\u00eas autores prestigiados no meio acad\u00eamico, dois dos quais s\u00e3o ganhadores do Pr\u00eamio Nobel em Economia.<\/p>\n Os autores concluem que a defini\u00e7\u00e3o de um indicador para medir sustentabilidade \u00e9 algo extremamente complexo, em torno do que n\u00e3o existe consenso. \u00c9 importante tamb\u00e9m ter em mente que n\u00e3o adianta estabelecer uma f\u00f3rmula ideal se n\u00e3o houver dados dispon\u00edveis para quantific\u00e1-la. Procurando adotar uma vis\u00e3o bem pragm\u00e1tica, os citados especialistas apresentam algumas recomenda\u00e7\u00f5es para se refletir sobre uma medida de desenvolvimento sustent\u00e1vel.<\/p>\n Primeiramente, lembram que uma avalia\u00e7\u00e3o de sustentabilidade difere de uma avalia\u00e7\u00e3o de felicidade da popula\u00e7\u00e3o. Os dois assuntos podem ser tratados de forma complementar, mas n\u00e3o necessariamente devem fazer parte de um \u00fanico indicador. Sugerem tamb\u00e9m que, ao medir sustentabilidade, devem ser contabilizadas as mudan\u00e7as dos estoques das vari\u00e1veis que afetar\u00e3o a capacidade das gera\u00e7\u00f5es futuras de terem atendidas suas necessidades, contabilizando-se n\u00e3o s\u00f3 os recursos naturais, mas tamb\u00e9m quantidades e qualidades humanas, sociais e econ\u00f4micas. Alguns indicadores podem ser quantificados monetariamente, outros n\u00e3o, sendo necess\u00e1ria uma medida f\u00edsica.<\/p>\n Em 2008, um grupo de trabalho composto por representantes da Organiza\u00e7\u00e3o para a Coopera\u00e7\u00e3o e Desenvolvimento Econ\u00f4mico (OCDE), da Comiss\u00e3o Econ\u00f4mica da Organiza\u00e7\u00e3o das Na\u00e7\u00f5es Unidas (UNECE) e do Gabinete de Estat\u00edstica da Uni\u00e3o Europeia (Eurostat) produziu um relat\u00f3rio2<\/sup> sobre a mensura\u00e7\u00e3o do desenvolvimento sustent\u00e1vel. O trabalho indica as vari\u00e1veis que devem ser consideradas na constru\u00e7\u00e3o de um \u00edndice de sustentabilidade.<\/p>\n O conjunto de vari\u00e1veis divide-se em dois dom\u00ednios. O primeiro, denominado \u201cbem-estar fundamental\u201d, cont\u00e9m indicadores que refletem medidas de estoque e fluxo em \u00e1reas essenciais para o bem-estar da sociedade. O segundo dom\u00ednio, denominado \u201cbem-estar econ\u00f4mico\u201d, traz vari\u00e1veis de bem-estar derivadas do meio econ\u00f4mico e das atividades de mercado. O Quadro I sintetiza os principais indicadores apontados.<\/p>\n