{"id":1527,"date":"2012-10-08T08:56:22","date_gmt":"2012-10-08T11:56:22","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=1527"},"modified":"2012-10-08T08:56:22","modified_gmt":"2012-10-08T11:56:22","slug":"aonde-nos-levara-a-reducao-do-ipi-dos-automoveis","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=1527","title":{"rendered":"Aonde nos levar\u00e1 a redu\u00e7\u00e3o do IPI dos autom\u00f3veis?"},"content":{"rendered":"

Os pa\u00edses t\u00eam enfrentado a crise econ\u00f4mica iniciada em 2007 de diferentes maneiras. Cada qual escolhe sua alternativa de acordo com suas circunst\u00e2ncias pol\u00edticas, sua situa\u00e7\u00e3o fiscal, suas vantagens e desvantagens comparativas e \u2013 muito obviamente \u2013 segundo as cren\u00e7as econ\u00f4micas e prefer\u00eancias ideol\u00f3gicas de seus governos. Tamb\u00e9m n\u00e3o se deve esquecer das inten\u00e7\u00f5es, que s\u00e3o sempre as melhores… Mas como lembra Marx \u2013 sem muito sucesso entre seus disc\u00edpulos nesse particular \u2013 a estrada do inferno \u00e9 pavimentada por boas inten\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Um exemplo de opera\u00e7\u00e3o de pol\u00edtica econ\u00f4mica condicionada por eventos pol\u00edticos foi a recente solu\u00e7\u00e3o apresentada pelo presidente do Banco Central Europeu, Mario Draghi \u2013 compra ilimitada de t\u00edtulos dos pa\u00edses do Club Med com prazo de at\u00e9 tr\u00eas anos \u2013, que n\u00e3o seria vi\u00e1vel se o Presidente Hollande n\u00e3o tivesse derrotado Nickolas Sarkozy. Sem o apoio da Fran\u00e7a, que sob Sarkozy se alinhava quase integralmente com a pol\u00edtica de austeridade defendida pela Alemanha, o presidente do Banco Central Europeu n\u00e3o conseguiria sequer propor a medida, frente \u00e0 resist\u00eancia do Bundesbank. Se Draghi conseguir\u00e1 execut\u00e1-la, \u00e9 outra est\u00f3ria, tamb\u00e9m condicionada pelas mesmas restri\u00e7\u00f5es.<\/p>\n

Os americanos e os brit\u00e2nicos v\u00e3o de quantitativeeasing<\/em>, pol\u00edtica acusada por aqui de ser mera continua\u00e7\u00e3o da guerra comercial conduzida por outros meios; no caso, pela diplomacia da desvaloriza\u00e7\u00e3o do d\u00f3lar. A d\u00favida entre eles, agora, \u00e9 se aumentam a dose.<\/p>\n

A f\u00f3rmula do elixir brasileiro, como n\u00e3o poderia deixar de ser, \u00e9 bem original: bastante cr\u00e9dito, subs\u00eddio a gosto, f\u00e9 em Deus e p\u00e9 na t\u00e1bua do carro novo (assim que o motorista da frente come\u00e7ar a andar).<\/p>\n

J\u00e1 a China, talvez inspirada no pragmatismo de Conf\u00facio, em vez de entupir suas ruas e avenidas, considerou mais razo\u00e1vel ampli\u00e1-las e investir na mobilidade urbana, em infraestrutura e transportes p\u00fablicos. Vai implantar ou estender metr\u00f4s em 18 cidades, ampliar a oferta de terra urbana e de esgotos e expandir a malha rodoferrovi\u00e1ria. Enquanto a prefer\u00eancia brasileira continua sendo pelo indolente keynesianismo que amplia a demanda, a China tem optado pelo seu irm\u00e3o mais operoso, o keynesianismo que amplia a oferta.<\/p>\n

O contraste entre as medidas tomadas pelo Brasil e pela China n\u00e3o poderia ser maior e explica boa parte do desempenho med\u00edocre da economia brasileira nos anos recentes. Em vez de seguir o caminho pedregoso e \u00edngreme de poupar muito, o que permite financiar o aumento do investimento, e de combater as inefici\u00eancias, prefere-se o caminho f\u00e1cil dos subs\u00eddios fiscais e credit\u00edcios, das barreiras tarif\u00e1rias e do incentivo ao consumo, sem maior preocupa\u00e7\u00e3o com os efeitos dessas medidas sobre o investimento, a produtividade e… a infla\u00e7\u00e3o. Ah, as boas inten\u00e7\u00f5es!<\/p>\n

O Governo tem jogado nas costas da crise econ\u00f4mica a culpa pelos \u00edndices declinantes de crescimento do PIB, mas os n\u00fameros de pa\u00edses semelhantes mostram que o argumento \u00e9 ret\u00f3rica vazia. A compara\u00e7\u00e3o do Brasil com os pa\u00edses de sua categoria demonstra que s\u00e3o internos os fatores do nosso fraco desempenho. A crise internacional afetaria menos esses pa\u00edses?<\/p>\n

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A proje\u00e7\u00e3o do FMI para 2012 \u00e9 de crescimento de 3,5% no mundo, sendo de 5,6% para os pa\u00edses emergentes e de 1,4% para os desenvolvidos. Segundo o Relat\u00f3rio Focus de 10 de setembro, o crescimento brasileiro deve ficar em 1,62%, ter\u00e7a parte do previsto para os emergentes e menos da metade do crescimento previsto para o mundo.<\/p>\n

Pelo lado da infla\u00e7\u00e3o, vamos encerrar mais um ano superando a meta, estabelecida em 4,5%, o que \u00e9 preocupante, quando se considera que o cen\u00e1rio mundial no primeiro semestre era de infla\u00e7\u00e3o reduzida e que os incentivos fiscais influenciaram para baixo os pre\u00e7os de bens de consumo como autom\u00f3veis e eletrodom\u00e9sticos.<\/p>\n

A continuidade dos incentivos \u00e0 ind\u00fastria automobil\u00edstica \u00e9 inconsistente n\u00e3o apenas com o ambiente macroecon\u00f4mico. Tamb\u00e9m se choca com o atual limite da oferta interna de petr\u00f3leo e derivados, que a Petrobras tem sido incapaz de elevar, apesar da prodigalidade de suas reservas, da sua posi\u00e7\u00e3o quase monopolista de mercado e dos aportes financeiros que consegue mobilizar a baixo custo interna e externamente. A demanda adicional de derivados que dever\u00e1 ser atendida por importa\u00e7\u00f5es ir\u00e1 piorar o resultado da empresa e pressionar\u00e1 a conta petr\u00f3leo, situa\u00e7\u00e3o intrigante em um Pa\u00eds que at\u00e9 h\u00e1 pouco batia o bumbo ufanista do Pr\u00e9-Sal.<\/p>\n

Quando se alega, com certo exagero, que os pre\u00e7os da gasolina e do diesel est\u00e3o defasados no Brasil, deixa-se de considerar que, em termos de \u00f3leo bruto, o pa\u00eds \u00e9 autossuficiente \u2013 ou pelo menos deveria ser \u2013 e que, portanto, os pre\u00e7os de refinaria n\u00e3o t\u00eam, necessariamente, de se igualar \u00e0 m\u00e9dia mundial. Ou seja, uma coisa \u00e9 dizer que a Petrobras est\u00e1 deixando de ganhar, pois n\u00e3o pode vender o \u00f3leo extra\u00eddo (devidamente transformado em gasolina) pelo pre\u00e7o internacional. Outra coisa \u00e9 dizer que a Petrobras est\u00e1 tendo preju\u00edzo. A defasagem em rela\u00e7\u00e3o ao pre\u00e7o internacional n\u00e3o conflita com o fato de o pre\u00e7o do petr\u00f3leo no mercado dom\u00e9stico ser ainda substancialmente maior que o custo da produ\u00e7\u00e3o.\u00a0 O grande problema da Petrobr\u00e1s, no momento, \u00e9 sua incapacidade de expandir a produ\u00e7\u00e3o de derivados, especialmente gasolina. \u00c9 por conta dessa defici\u00eancia que a dist\u00e2ncia entre os pre\u00e7os internos e os internacionais vem afetando o balan\u00e7o da empresa. A expans\u00e3o subsidiada da frota de autom\u00f3veis, patrocinada pelo keynesianismo de demanda do governo, s\u00f3 ir\u00e1 piorar a situa\u00e7\u00e3o. Mais alguns milhares de barris di\u00e1rios dever\u00e3o ser importados \u2013 e subsidiados.<\/p>\n

A satura\u00e7\u00e3o da nossa malha urbana nos levar\u00e1 a mais inefici\u00eancia sist\u00eamica. Nas economias contempor\u00e2neas, em que grande parte do PIB \u00e9 gerado nas grandes cidades e metr\u00f3poles, a mobilidade urbana \u00e9 importante n\u00e3o s\u00f3 para a qualidade de vida de seus habitantes, mas para a produtividade e o custo da m\u00e3o-de-obra.<\/p>\n

A via do Keynesianismo populista \u00e9 pavimentada de boas inten\u00e7\u00f5es. E liga um engarrafamento a outro.<\/p>\n

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