{"id":1509,"date":"2012-10-01T08:51:14","date_gmt":"2012-10-01T11:51:14","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=1509"},"modified":"2012-10-01T08:51:14","modified_gmt":"2012-10-01T11:51:14","slug":"o-que-e-produtividade-e-como-conseguir-seu-incremento","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=1509","title":{"rendered":"O que \u00e9 produtividade e como conseguir seu incremento?"},"content":{"rendered":"
(O presente texto constitui adapta\u00e7\u00e3o de cap\u00edtulo do livro <\/em>\u201cInfraestrutura: os caminhos para sair do buraco\u201d de autoria de Raul Velloso, C\u00e9sar Mattos, Marcos Mendes e Paulo Springer de Freitas).<\/em><\/p>\n A teoria econ\u00f4mica mensura a produtividade de uma economia por meio do conceito de \u201cProdutividade Total dos Fatores\u201d (PTF). Parte-se da ideia de que o produto anual de uma economia (PIB) \u00e9 criado pela intera\u00e7\u00e3o entre os estoques de capital f\u00edsico e de capital humano existentes. O capital f\u00edsico \u00e9 constitu\u00eddo por m\u00e1quinas, equipamentos, edif\u00edcios e demais instrumentos utilizados na produ\u00e7\u00e3o. O capital humano \u00e9 dado pela capacidade produtiva da for\u00e7a de trabalho e normalmente \u00e9 representado pela quantidade de pessoas em idade laboral ponderada pelo n\u00edvel de escolaridade m\u00e9dio dessa for\u00e7a de trabalho (na suposi\u00e7\u00e3o de que trabalhadores que passaram mais tempo na escola s\u00e3o mais produtivos).<\/p>\n Suponha duas economias hipot\u00e9ticas que tenham igual dota\u00e7\u00e3o de capital f\u00edsico e de capital humano. Se uma dessas economias tem um PIB maior que o da outra, conclui-se que ela foi mais eficiente no uso de seu estoque de capital. Logo, ela tem maior produtividade. Ser mais produtivo, portanto, significa fazer mais produtos a partir de uma dada disponibilidade de capital humano e f\u00edsico dispon\u00edvel na economia.<\/p>\n Dessa descri\u00e7\u00e3o resumida, pode-se concluir que as fontes de crescimento do PIB de uma economia s\u00e3o:<\/p>\n O aumento da produtividade \u00e9 um caminho promissor para elevar a renda per capita de um pa\u00eds, devido \u00e0s restri\u00e7\u00f5es \u00e0 eleva\u00e7\u00e3o dos demais determinantes da varia\u00e7\u00e3o do PIB. Sen\u00e3o vejamos:<\/p>\n A produtividade \u00e9 calculada por \u201cres\u00edduo\u201d: todo o crescimento do PIB que n\u00e3o possa ser atribu\u00eddo ao aumento do capital f\u00edsico e humano \u00e9, por res\u00edduo, considerado aumento de produtividade. \u00c9 importante deixar claro o que pode e o que n\u00e3o pode ser considerado como aumento de produtividade.<\/p>\n Em geral, associa-se a ideia de aumento de produtividade com o progresso tecnol\u00f3gico no \u00e2mbito da produ\u00e7\u00e3o industrial. De fato, a cria\u00e7\u00e3o de m\u00e1quinas mais eficientes permite que se gere mais produ\u00e7\u00e3o industrial a partir de uma mesma dota\u00e7\u00e3o de capital. Mas a produtividade \u00e9 mais do que isso. Ela diz respeito a todos os setores da economia: servi\u00e7os, agricultura e ind\u00fastria, e n\u00e3o est\u00e1 restrita \u00e0 tecnologia de produ\u00e7\u00e3o.<\/p>\n A qualidade da educa\u00e7\u00e3o, por exemplo, afeta diretamente a produtividade. Foi dito acima que o capital humano \u00e9 medido por uma pondera\u00e7\u00e3o do n\u00famero de trabalhadores pelo n\u00famero de anos de estudo. N\u00e3o entra nesse c\u00e1lculo a qualidade da educa\u00e7\u00e3o oferecida ao trabalhador. Certamente um trabalhador com quatro anos de escolaridade na Alemanha \u00e9 mais qualificado (e, portanto, mais produtivo) que um trabalhador com quatro anos de estudos no Brasil, pelo simples fato de que as escolas alem\u00e3s ensinam mais e melhor que as brasileiras. A diferen\u00e7a de capacidade de produ\u00e7\u00e3o desses dois trabalhadores vai para a conta da produtividade.<\/p>\n A efici\u00eancia dos servi\u00e7os p\u00fablicos tamb\u00e9m afeta diretamente a produtividade. Diversos exemplos podem ilustrar essa afirma\u00e7\u00e3o:<\/p>\n Em qualquer economia que tenha passado do n\u00edvel b\u00e1sico de subsist\u00eancia, as empresas dependem de um grande n\u00famero de agentes econ\u00f4micos. A obten\u00e7\u00e3o de alta produtividade depende de que todos esses agentes sejam eficientes. Tomemos um exemplo simples: o que \u00e9 necess\u00e1rio para que uma pequena mercearia de bairro funcione de forma eficiente?<\/p>\n As empresas de energia e de \u00e1gua n\u00e3o podem cortar o fornecimento por muitas horas para evitar a deteriora\u00e7\u00e3o dos produtos; os agricultores precisam usar adequadamente os agrot\u00f3xicos para que os produtos finais n\u00e3o estejam contaminados com res\u00edduos (e precisam ter escolaridade suficiente para isso); os caminh\u00f5es de entrega precisam chegar no hor\u00e1rio para que a mercadoria esteja dispon\u00edvel j\u00e1 na abertura da loja; a prefeitura da cidade precisa oferecer um tr\u00e2nsito organizado para que os caminh\u00f5es de entrega n\u00e3o se atrasem; os tr\u00eas n\u00edveis de governo (municipal, estadual e federal) n\u00e3o podem cobrar uma carga excessiva de impostos que inviabilize o neg\u00f3cio; os bancos devem prover uma linha de cr\u00e9dito adequada \u00e0s dimens\u00f5es da mercearia; o propriet\u00e1rio deve pesquisar novos produtos e novas demandas da clientela; etc.<\/p>\n Ou seja, mesmo para um empreendimento pequeno e de impacto econ\u00f4mico limitado, s\u00e3o necess\u00e1rios esfor\u00e7os coordenados de pessoas, empresas e institui\u00e7\u00f5es, nos setores p\u00fablico e privado, para que os recursos de capital e trabalho da economia sejam bem aproveitados e resultem na oferta de bens e servi\u00e7os de qualidade (BID, 2010, p. 17).<\/p>\n O papel do setor p\u00fablico \u00e9 fundamental, pois ele precisa estabelecer incentivos<\/span> e condi\u00e7\u00f5es adequadas para que as empresas privadas busquem\u00a0 o lucro por meio de a\u00e7\u00f5es que aumentem sua efici\u00eancia produtiva: regras de tributa\u00e7\u00e3o, oferta de infraestrutura diretamente pelo setor p\u00fablico, regras para a concess\u00e3o ao setor privado de servi\u00e7os de infraestrutura, normas regulat\u00f3rias (sa\u00fade p\u00fablica, preserva\u00e7\u00e3o ambiental, uso adequado do espa\u00e7o p\u00fablico, abertura e fechamento de empresas, etc.), entre outras pol\u00edticas e decis\u00f5es da esfera p\u00fablica.<\/p>\n De acordo com BID (2010) e Veloso (2011), a produtividade na Am\u00e9rica Latina e no Brasil, em particular, tem apresentado evolu\u00e7\u00e3o muito inferior \u00e0 do resto do mundo, em especial em rela\u00e7\u00e3o \u00e0 dos pa\u00edses desenvolvidos e de pa\u00edses em desenvolvimento din\u00e2micos (como os do sudeste asi\u00e1tico). Quatro importantes fatos estilizados s\u00e3o apresentados por BID (2010):<\/p>\n Esses fatos, se por um lado revelam que a Am\u00e9rica Latina, e o Brasil em particular, n\u00e3o foram at\u00e9 hoje bem sucedidos em criar incentivos e institui\u00e7\u00f5es capazes de gerar uma economia produtiva; por outro lado descortinam uma grande oportunidade: concentrar esfor\u00e7os em pol\u00edticas p\u00fablicas voltadas para a melhoria da produtividade pode render altas taxas de crescimento econ\u00f4mico sem a necessidade de se fazer o esfor\u00e7o de aumentar a poupan\u00e7a e o investimento agregados.<\/p>\n \u00c9 bastante amplo o leque de pol\u00edticas voltadas \u00e0 eleva\u00e7\u00e3o da produtividade. Um ponto importante \u00e9 a cria\u00e7\u00e3o de regras que permitam que o capital flua de empresas (setores) pouco lucrativas para outras de maior rentabilidade, isso significa ter regras que facilitem a abertura e o fechamento de empresas, evitar pol\u00edticas de prote\u00e7\u00e3o comercial a alguns setores (isen\u00e7\u00f5es tribut\u00e1rias por setor; tratamento tribut\u00e1rio preferencial a pequenas empresas), reduzir as barreiras \u00e0entrada e sa\u00edda de capital de um determinado setor (por exemplo, evitar regras de proibi\u00e7\u00e3o de capital estrangeiro em alguns setores).<\/p>\n Outros pontos relevantes s\u00e3o a redu\u00e7\u00e3o do n\u00edvel e da complexidade tribut\u00e1ria, a maior seguran\u00e7a jur\u00eddica dos contratos, a amplia\u00e7\u00e3o do acesso ao cr\u00e9dito, a redu\u00e7\u00e3o da informalidade por meio de menor regula\u00e7\u00e3o do mercado de trabalho, a redu\u00e7\u00e3o no protecionismo comercial na rela\u00e7\u00e3o com outros pa\u00edses.<\/p>\n Para ler mais sobre o tema:<\/strong><\/p>\n Banco Interamericano de Desenvolvimento – BID (2010) \u201cLa era de La productividad: como transformar las economias desde sus cimientos<\/em>\u201d Editado por Carmen Pag\u00e9s.<\/p>\n Jones, C.I. (1997) Introduction to economic growth<\/em>. Ed. W.W Norton & Company.<\/p>\n Veloso, F. (2011) Crescimento econ\u00f4mico brasileiro: desafios e perspectivas. In: Giambiagi, F., Porto, C. (2011) 2022 propostas para um Brasil melhor no ano do bicenten\u00e1rio. <\/em>Ed. Campus-Elsevier.<\/p>\n Download:<\/em><\/strong><\/p>\n\n
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