{"id":1420,"date":"2012-08-27T09:44:08","date_gmt":"2012-08-27T12:44:08","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=1420"},"modified":"2012-08-27T09:44:08","modified_gmt":"2012-08-27T12:44:08","slug":"por-que-a-producao-industrial-nao-cresce-desde-2010","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=1420","title":{"rendered":"Por que a produ\u00e7\u00e3o industrial n\u00e3o cresce desde 2010?"},"content":{"rendered":"
O objetivo deste trabalho \u00e9 explicar porque a produ\u00e7\u00e3o mensal da ind\u00fastria de transforma\u00e7\u00e3o est\u00e1 estagnada desde o in\u00edcio de 2010. Para dar uma resposta temos que pensar em uma economia com dois setores. O primeiro \u00e9 o de servi\u00e7os, com as caracter\u00edsticas: a) de ser grande no mercado de m\u00e3o de obra e ter elevada participa\u00e7\u00e3o no PIB; e b) de ser fechado ao com\u00e9rcio internacional, operando como um \u201cfixador de pre\u00e7os\u201d. O segundo \u00e9 o industrial, que \u00e9 bem menor no mercado de m\u00e3o de obra e tamb\u00e9m no PIB, mas \u00e9 muito aberto ao mercado internacional, operando em uma situa\u00e7\u00e3o pr\u00f3xima \u00e0 de um \u201ctomador de pre\u00e7os\u201d.<\/p>\n
A rea\u00e7\u00e3o do governo \u00e0 crise de 2008 foi provocar a redu\u00e7\u00e3o da taxa de juros e dos super\u00e1vits prim\u00e1rios, ao lado da expans\u00e3o do cr\u00e9dito por parte de bancos p\u00fablicos, visando estimular a demanda agregada, que \u00e9 a soma das demandas por servi\u00e7os e por produtos industriais. A expans\u00e3o da demanda do setor de servi\u00e7os elevou a demanda de m\u00e3o de obra, que foi a grande respons\u00e1vel pela queda acentuada da taxa de desemprego, provocando o crescimento dos sal\u00e1rios reais. Mas no caso da ind\u00fastria, o aumento da demanda por produtos industriais n\u00e3o levou \u00e0 expans\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o. Embora a taxa real de juros tenha ca\u00eddo o suficiente para que, tudo o mais mantido constante, tivesse ocorrido o aumento da utiliza\u00e7\u00e3o de capacidade, retirando o hiato da produ\u00e7\u00e3o industrial do territ\u00f3rio negativo e ampliando a produ\u00e7\u00e3o, o que ocorreu foi o contr\u00e1rio. A eleva\u00e7\u00e3o dos sal\u00e1rios combinada com a estagna\u00e7\u00e3o da produtividade do trabalho na ind\u00fastria levou a um aumento do custo unit\u00e1rio do trabalho, que foi suficiente n\u00e3o somente para anular o est\u00edmulo vindo da queda da taxa real de juros, como para levar \u00e0 amplia\u00e7\u00e3o do hiato negativo de produto e \u00e0 queda da utiliza\u00e7\u00e3o de capacidade instalada.<\/p>\n
E para onde foi a demanda de produtos industriais que n\u00e3o pode ser atendida pelo aumento da produ\u00e7\u00e3o? Como a ind\u00fastria \u00e9 um setor muito aberto ao com\u00e9rcio internacional, seu destino foi o aumento das importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas. Ao vazar para o<\/p>\n
exterior na forma de importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas, essa amplia\u00e7\u00e3o da demanda retirou parte do crescimento do PIB, contribuindo para a desacelera\u00e7\u00e3o do crescimento econ\u00f4mico.<\/p>\n
Com esse modelo simples explicamos v\u00e1rios \u201cpuzzles\u201d da economia brasileira atual. Como foi poss\u00edvel, por exemplo, a ocorr\u00eancia simult\u00e2nea de queda do n\u00edvel de emprego na ind\u00fastria com a eleva\u00e7\u00e3o dos sal\u00e1rios pagos pelo setor, levando ao aumento do custo unit\u00e1rio do trabalho? Como foi poss\u00edvel ter ao mesmo tempo uma economia com pleno emprego (ou acima dele) no mercado de m\u00e3o de obra, ao lado de uma queda na utiliza\u00e7\u00e3o de capacidade na ind\u00fastria?<\/p>\n
O curioso \u00e9 que a nossa explica\u00e7\u00e3o para o que ocorreu n\u00e3o faz qualquer men\u00e7\u00e3o \u00e0 valoriza\u00e7\u00e3o cambial. N\u00e3o que ela n\u00e3o tenha ocorrido. Primeiro, porque somente foi poss\u00edvel realizar uma expans\u00e3o t\u00e3o forte da absor\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o ao produto devido aos ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca, o que leva \u00e0 valoriza\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio real. Segundo, porque com o mercado de trabalho operando pr\u00f3ximo de uma situa\u00e7\u00e3o de pleno emprego, ocorreu o crescimento dos sal\u00e1rios reais, elevando os pre\u00e7os dos bens \u201cdom\u00e9sticos\u201d relativamente aos bens \u201cinternacionais\u201d, ou seja, valorizando o c\u00e2mbio real. Terceiro, porque ap\u00f3s a deprecia\u00e7\u00e3o ocorrida em 2008, o c\u00e2mbio nominal voltou a se apreciar, devido ao r\u00e1pido retorno dos ingressos de capitais.<\/p>\n
A for\u00e7a dos ingressos de capitais pode ter levado a uma aprecia\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio real maior do que a decorrente do crescimento da absor\u00e7\u00e3o; dos ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca; e da eleva\u00e7\u00e3o dos sal\u00e1rios reais, mas mesmo na sua aus\u00eancia, o c\u00e2mbio real teria se valorizado. As evid\u00eancias emp\u00edricas apresentadas neste trabalho mostram que n\u00e3o \u00e9 preciso usar o argumento de uma valoriza\u00e7\u00e3o cambial determinada exogenamente para explicar o que se passou com a ind\u00fastria brasileira.<\/p>\n
Nas pr\u00f3ximas se\u00e7\u00f5es detalhamos como tudo isso foi poss\u00edvel.<\/p>\n
A REA\u00c7\u00c3O \u00c0 CRISE DE 2008<\/p>\n
Na crise de 2008 o Brasil teve uma recess\u00e3o que foi profunda, por\u00e9m curta e concentrada no setor industrial. Enquanto o PIB da ind\u00fastria por dois trimestres consecutivos mostrou quedas que ocorreram a taxas anualizadas superiores a 20%, a contra\u00e7\u00e3o no setor de servi\u00e7os ocorreu \u00e0 taxa anualizada de 10% por apenas um trimestre. O governo reagiu \u00e0 crise estimulando o crescimento da demanda. A taxa SELIC caiu de 13,75% em janeiro de 2009 para 8,75% em julho, levando as taxas reais de juros de mercado para pouco acima de 4% ao ano no m\u00eas de outubro de 2009; o cr\u00e9dito de bancos oficiais se expandiu a uma taxa de 12 meses que superou 30% em 2009; foram cortados impostos e ampliados os gastos p\u00fablicos, reduzindo o super\u00e1vit prim\u00e1rio em 2 pontos porcentuais do PIB.<\/p>\n
Com estes est\u00edmulos, a economia saiu rapidamente da recess\u00e3o, e em pouco tempo a produ\u00e7\u00e3o mensal da ind\u00fastria de transforma\u00e7\u00e3o j\u00e1 havia voltado ao pico pr\u00e9vio. Por\u00e9m, superada a fase das pol\u00edticas contrac\u00edclicas, o governo continuou estimulando a expans\u00e3o da demanda, e em 2010 colheu um crescimento do PIB de 7,5%. A maior amplia\u00e7\u00e3o da demanda veio da expans\u00e3o do consumo. Medido a pre\u00e7os constantes do ano 2000, o consumo das fam\u00edlias passou de uma m\u00e9dia pr\u00f3xima de 63% do PIB em 2006 e 2007, para perto de 66% no per\u00edodo de 2009 a 2012, como mostra o gr\u00e1fico 1. Mas ocorreu tamb\u00e9m uma eleva\u00e7\u00e3o da forma\u00e7\u00e3o bruta de capital fixo, que voltou a oscilar entre 19% e 20% do PIB depois de encolher para 16% no auge da recess\u00e3o. Por algum tempo, a ind\u00fastria de transforma\u00e7\u00e3o elevou a produ\u00e7\u00e3o, respondendo \u00e0 amplia\u00e7\u00e3o de demanda, mas a partir do in\u00edcio de 2010 n\u00e3o mais conseguiu crescer.<\/p>\n
Gr\u00e1fico 1 \u2013 Consumo\/PIB e Investimentos\/PIB \u2013 a pre\u00e7os constantes do ano 2000<\/p>\n
No gr\u00e1fico 2 est\u00e3o superpostas a produ\u00e7\u00e3o industrial mensal e uma proxy <\/em>mensal do PIB estimada pelo Banco Central (o IBC-Br). H\u00e1 algum tempo a ind\u00fastria vem perdendo participa\u00e7\u00e3o no PIB, mas com base nestas duas s\u00e9ries em uma amostra de janeiro de 2003 a novembro de 2008 rejeita-se a hip\u00f3tese de uma quebra de estrutura. Estes dados mostram que at\u00e9 novembro de 2008 h\u00e1 uma rela\u00e7\u00e3o muito est\u00e1vel entre o crescimento da ind\u00fastria e o crescimento do PIB. A quebra de estrutura somente ocorreu na crise de 2008, e da\u00ed em diante o PIB persistiu se elevando, ainda que a taxas mais baixas do que no per\u00edodo encerrado em 2008, mas a produ\u00e7\u00e3o da ind\u00fastria de transforma\u00e7\u00e3o manteve-se estagnada desde o in\u00edcio de 2010, caindo nos \u00faltimos meses.<\/p>\n Gr\u00e1fico 2 \u2013 Produ\u00e7\u00e3o Industrial e proxy <\/em>do PIB estimada pelo BC<\/p>\n EMPREGO, SAL\u00c1RIOS REAIS E O CUSTO UNIT\u00c1RIO DO TRABALHO<\/p>\n O peso do setor de servi\u00e7os no mercado de m\u00e3o de obra \u00e9 muito maior do que o da ind\u00fastria. Em 2009, a ind\u00fastria contratava perto de 20 milh\u00f5es de trabalhadores, e o setor de servi\u00e7os contratava 60 milh\u00f5es, com a propor\u00e7\u00e3o de 1 para 3 mantendo-se ao longo dos anos, como \u00e9 mostrado na tabela 1. Os dados do CAGED mostram que os fluxos de contrata\u00e7\u00e3o de m\u00e3o de obra pelo setor de servi\u00e7os sempre se mantiveram bem acima dos fluxos de contrata\u00e7\u00e3o por parte da ind\u00fastria. Foi devido ao vigor da demanda de m\u00e3o de obra por parte do setor de servi\u00e7os que a taxa de desemprego declinou.<\/p>\n Tabela 1 – Pessoal empregado (em milh\u00f5es de trabalhadores)<\/p>\n Depois de um crescimento durante a crise de 2008, que \u00e9 muito pequeno em propor\u00e7\u00e3o \u00e0 profundidade da recess\u00e3o vivida pela ind\u00fastria, a taxa de desemprego desabou em 2010 e caiu abaixo de 6% em 2011, situando-se em torno de 6% quando corrigida pelas varia\u00e7\u00f5es na taxa de participa\u00e7\u00e3o, como \u00e9 mostrado no gr\u00e1fico 3. Em 2012, a taxa de desemprego estimada com base em uma taxa de participa\u00e7\u00e3o constante caiu ainda mais. Os dados do IBGE mostram, tamb\u00e9m, que os sal\u00e1rios reais m\u00e9dios v\u00eam crescendo. Desemprego baixo e cadente, ao lado de sal\u00e1rios reais crescentes, \u00e9 indicativo de uma economia pr\u00f3xima (ou talvez acima) do n\u00edvel de pleno emprego.<\/p>\n Gr\u00e1fico 3 \u2013 Taxas de desemprego<\/p>\n Contrariamente \u00e0 afirma\u00e7\u00e3o frequente de que \u201c\u00e9 a ind\u00fastria que paga os sal\u00e1rios mais elevados\u201d, os dados do IBGE mostram uma clara tend\u00eancia \u00e0 equaliza\u00e7\u00e3o de sal\u00e1rios. Na tabela 2 mostramos os sal\u00e1rios anuais m\u00e9dios da ind\u00fastria e do setor de servi\u00e7os medidos a pre\u00e7os correntes. N\u00e3o esperar\u00edamos uma equaliza\u00e7\u00e3o perfeita, porque h\u00e1 diferentes composi\u00e7\u00f5es nos graus de treinamento, idade, sexo e qualifica\u00e7\u00e3o da m\u00e3o de obra. Mas a proximidade dos sal\u00e1rios m\u00e9dios dos dois setores indica que no agregado aquelas s\u00e3o diferen\u00e7as que se diluem, havendo um grau suficientemente elevado de mobilidade da m\u00e3o de obra que for\u00e7a na dire\u00e7\u00e3o da equaliza\u00e7\u00e3o. N\u00e3o surpreende, portanto, que um aumento na demanda de m\u00e3o de obra por um setor que \u00e9 o grande empregador no mercado brasileiro de trabalho produza um crescimento nos sal\u00e1rios reais m\u00e9dios em outro setor, que \u00e9 menor tanto na sua participa\u00e7\u00e3o no PIB, quanto no mercado de m\u00e3o de obra.<\/p>\n Tabela 2 – Sal\u00e1rio m\u00e9dio anual a pre\u00e7os correntes<\/p>\n O resultado \u00e9 a eleva\u00e7\u00e3o cont\u00ednua do sal\u00e1rio m\u00e9dio real na ind\u00fastria. Isto n\u00e3o seria um problema se a produtividade m\u00e9dia da m\u00e3o de obra na ind\u00fastria estivesse crescendo \u00e0 uma taxa pr\u00f3xima \u00e0 de eleva\u00e7\u00e3o dos sal\u00e1rios, como ocorria entre 2004 e 2007, mantendo o custo unit\u00e1rio do trabalho na ind\u00fastria flutuando em torno de um patamar est\u00e1vel. Mas a partir do in\u00edcio de 2010 h\u00e1 uma queda gradual da produtividade m\u00e9dia da ind\u00fastria, que coincide com a paraliza\u00e7\u00e3o da produ\u00e7\u00e3o industrial, e que ocorre ao lado da eleva\u00e7\u00e3o dos sal\u00e1rios reais, como se v\u00ea no gr\u00e1fico 4.<\/p>\n Gr\u00e1fico 4 – Sal\u00e1rios m\u00e9dios e produtividade m\u00e9dia do trabalho na ind\u00fastria<\/p>\n Durante a fase aguda da crise, ao final de 2008, ocorreu uma implos\u00e3o da produtividade m\u00e9dia do trabalho. A produ\u00e7\u00e3o caiu mais do que o n\u00edvel de emprego, e segundo a PIMES ocorreu um ajuste pequeno nas horas trabalhadas por trabalhador. O colapso tempor\u00e1rio do cr\u00e9dito que se seguiu \u00e0 quebra do Lehman Brothers explica porque a queda da produ\u00e7\u00e3o e da produtividade por trabalhador foi t\u00e3o intensa e t\u00e3o r\u00e1pida. Quem continuou trabalhando manteve os sal\u00e1rios reais, em parte devido \u00e0 pequena varia\u00e7\u00e3o das horas trabalhadas por trabalhador, mas em parte porque o setor de servi\u00e7os sofreu muito pouco durante a crise, mantendo o n\u00edvel de emprego e impedindo o crescimento maior da taxa de desemprego. Ao longo desse curto ciclo de queda da produ\u00e7\u00e3o e da produtividade os sal\u00e1rios reais n\u00e3o declinaram. A restaura\u00e7\u00e3o do cr\u00e9dito e dos pagamentos na economia global removeram a restri\u00e7\u00e3o \u00e0 continuidade da produ\u00e7\u00e3o, o que ao lado das medidas contrac\u00edclicas empurraram a produ\u00e7\u00e3o e a produtividade da ind\u00fastria brasileira para n\u00edveis \u201cnormais\u201d em um per\u00edodo muito mais curto do que nos demais pa\u00edses.<\/p>\n O comportamento do custo unit\u00e1rio do trabalho \u00e9 visto no gr\u00e1fico 5. De fato, entre 2004 e a segunda metade de 2008, o custo unit\u00e1rio do trabalho oscilou em torno de um patamar est\u00e1vel. Por um breve momento, no auge da crise, o custo unit\u00e1rio do trabalho explodiu, mas isso foi devido \u00e0 implos\u00e3o da produtividade m\u00e9dia da m\u00e3o de obra. A rapidez da recess\u00e3o logo corrigiu esse comportamento. A partir do in\u00edcio de 2010, o custo unit\u00e1rio do trabalho j\u00e1 se eleva fortemente, saindo de uma m\u00e9dia de 0,95 em torno do in\u00edcio de 2010, para pr\u00f3ximo de 1,05 no \u00faltimo m\u00eas dispon\u00edvel.<\/p>\n Gr\u00e1fico 5 \u2013 Custo unit\u00e1rio do trabalho na ind\u00fastria<\/p>\n Qual foi o efeito dessa eleva\u00e7\u00e3o na produ\u00e7\u00e3o industrial? Para dar uma resposta vamos trabalhar com dois modelos: um explicativo do hiato da produ\u00e7\u00e3o industrial; e outro explicativo do hiato do n\u00edvel de utiliza\u00e7\u00e3o da capacidade instalada (estimado pela FGV) na ind\u00fastria. Ambos s\u00e3o definidos como os desvios com rela\u00e7\u00e3o ao respectivo filtro HP. H\u00e1 duas vari\u00e1veis independentes de natureza dom\u00e9stica: a taxa real de juros de mercado (os swaps <\/em>de 360 dias deflacionados pela taxa de infla\u00e7\u00e3o esperada 12 meses \u00e0 frente); e o custo unit\u00e1rio do trabalho, al\u00e9m de duas vari\u00e1veis dummy <\/em>para captar movimentos exacerbados em dois meses durante o auge da queda da produ\u00e7\u00e3o, e da pr\u00f3pria vari\u00e1vel end\u00f3gena defasada de um per\u00edodo para captar a din\u00e2mica do ajuste. Inclu\u00edmos, tamb\u00e9m, uma medida do hiato da produ\u00e7\u00e3o industrial mundial, para captar o cont\u00e1gio de ciclos externos. Os resultados est\u00e3o na tabela 3.<\/p>\n Tabela 3 \u2013 Modelos explicativos dos hiatos da produ\u00e7\u00e3o e do NUCI<\/p>\n Independentemente de qual seja a vari\u00e1vel end\u00f3gena escolhida, e independentemente de incluirmos ou n\u00e3o as dummies <\/em>e o hiato do resto do mundo, o custo unit\u00e1rio do trabalho e a taxa real de juros mostram sempre coeficientes negativos que diferem significativamente de zero, com probabilidade nula de serem obtidos ao acaso. Uma queda da taxa real de juros atua (com defasagens) elevando a utiliza\u00e7\u00e3o de capacidade e elevando a produ\u00e7\u00e3o relativamente \u00e0 sua tend\u00eancia, com o aumento do custo unit\u00e1rio do trabalho produzindo o efeito contr\u00e1rio. Como a taxa real de juros caiu nos meses ap\u00f3s a crise, a utiliza\u00e7\u00e3o de capacidade teria que ter se elevado, e o hiato (negativo) da produ\u00e7\u00e3o industrial teria que ter se reduzido, mas a eleva\u00e7\u00e3o do custo unit\u00e1rio do trabalho atuou na dire\u00e7\u00e3o contr\u00e1ria.<\/p>\n No gr\u00e1fico 6 comparamos os valores observados do hiato da produ\u00e7\u00e3o com as proje\u00e7\u00f5es din\u00e2micas, quer incluindo, quer excluindo o hiato do resto do mundo. Nas proje\u00e7\u00f5es din\u00e2micas os valores estimados n\u00e3o s\u00e3o obtidos usando os valores efetivamente observados da vari\u00e1vel end\u00f3gena em t-1, mas sim os seus valores estimados pelo pr\u00f3prio modelo. Os dados indicam que as proje\u00e7\u00f5es tra\u00e7am muito bem a fase de estagna\u00e7\u00e3o ocorrida depois do in\u00edcio de 2010.<\/p>\n Gr\u00e1fico 6 \u2013 Hiato da produ\u00e7\u00e3o industrial \u2013 valores observados e proje\u00e7\u00f5es din\u00e2micas<\/p>\n Se a ind\u00fastria fosse um setor fechado ao com\u00e9rcio internacional, atuando como \u201cfixador de pre\u00e7os\u201d, como \u00e9 predominantemente o caso do setor de servi\u00e7os, o aumento de custos representado pela eleva\u00e7\u00e3o do custo unit\u00e1rio do trabalho poderia ter sido (pelo menos parcialmente) repassado para os pre\u00e7os. A magnitude do repasse dependeria da elasticidade pre\u00e7o da demanda. Mas a ind\u00fastria de transforma\u00e7\u00e3o \u00e9 um setor aberto, e se n\u00e3o for exatamente um \u201ctomador de pre\u00e7os\u201d est\u00e1 muito pr\u00f3ximo dessa situa\u00e7\u00e3o. Isto significa que a eleva\u00e7\u00e3o do custo unit\u00e1rio do trabalho leva ao estreitamento das margens, o que desestimula a produ\u00e7\u00e3o, e produz o comportamento observado do hiato da produ\u00e7\u00e3o.<\/p>\n A expans\u00e3o forte da demanda agregada de bens (dom\u00e9sticos e internacionais) elevou a demanda de m\u00e3o de obra e os sal\u00e1rios reais. No entanto, atuou desestimulando a produ\u00e7\u00e3o industrial.<\/p>\n AUMENTO DA ABSOR\u00c7\u00c3O E DAS IMPORTA\u00c7\u00d5ES L\u00cdQUIDAS<\/p>\n Desde 2005, a absor\u00e7\u00e3o vem se expandindo a uma velocidade superior \u00e0 do PIB. O crescimento das importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas foi temporariamente interrompido durante a recess\u00e3o de 2008, mas de 2009 em diante ocorreu um crescimento muito forte. Avaliadas a pre\u00e7os constantes do ano 2000, as importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas passaram de perto de 1% do PIB, no in\u00edcio de 2009, para mais de 6% do PIB, da metade de 2011 em diante (gr\u00e1fico 7).<\/p>\n Gr\u00e1fico 7 \u2013 Absor\u00e7\u00e3o, PIB e Importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas a pre\u00e7os constantes do ano 2000<\/p>\n Como ficou evidente da observa\u00e7\u00e3o dos dados mostrados anteriormente no gr\u00e1fico 1, a acelera\u00e7\u00e3o no crescimento da absor\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o ao PIB n\u00e3o veio apenas da expans\u00e3o do consumo das fam\u00edlias, mas tamb\u00e9m, ainda que em menor escala, da forma\u00e7\u00e3o bruta de capital fixo. A expans\u00e3o da absor\u00e7\u00e3o em rela\u00e7\u00e3o ao PIB tamb\u00e9m coincide com a acelera\u00e7\u00e3o dos ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca. Desde 2005 h\u00e1 um movimento de eleva\u00e7\u00e3o das rela\u00e7\u00f5es de troca, mas esse crescimento se acelerou em 2010 (gr\u00e1fico 8).<\/p>\n Gr\u00e1fico 8 \u2013 Rela\u00e7\u00f5es de troca<\/p>\n A mudan\u00e7a de pre\u00e7os relativos permitiu que a pre\u00e7os constantes a absor\u00e7\u00e3o atingisse 6% do PIB, enquanto que a pre\u00e7os correntes elevou-se apenas para 1,5% do PIB em 2010 e 2011. Os ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca abriram o espa\u00e7o para que pudesse ocorrer uma forte amplia\u00e7\u00e3o da absor\u00e7\u00e3o relativamente ao PIB. No gr\u00e1fico 9 comparamos as importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas a pre\u00e7os correntes e a pre\u00e7os constantes. Entre 2000 e 2005 praticamente n\u00e3o ocorreram ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca, mantendo as importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas a pre\u00e7os constantes e correntes flutuando em torno do mesmo valor. Em 2005 se iniciam os ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca, e a acelera\u00e7\u00e3o das importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas a pre\u00e7os constantes coincide com esses ganhos.<\/p>\n Gr\u00e1fico 9 \u2013 Importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas a pre\u00e7os correntes e a pre\u00e7os constantes<\/p>\n Entre 2009 e 2010\/11 as importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas elevaram-se em 5 pontos porcentuais do PIB, e este aumento foi suportado quase que exclusivamente pela ind\u00fastria. Nem o setor de servi\u00e7os, com um valor adicionado de 67,5% do PIB em 2009, nem o setor de constru\u00e7\u00e3o, cujo valor adicionado em 2009 representava 5,3% do PIB (tabela 4), operam com uma propor\u00e7\u00e3o significativa de bens \u201cinternacionais\u201d. A agricultura, por outro lado, foi o grande benefici\u00e1rio dos ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca, gerando elevadas exporta\u00e7\u00f5es l\u00edquidas. Dessa forma, o peso de um aumento de cinco pontos porcentuais nas importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas avaliadas a pre\u00e7os constantes foi suportado quase que exclusivamente pela ind\u00fastria de transforma\u00e7\u00e3o.<\/p>\n Tabela 4 – Propor\u00e7\u00e3o do valor adicionado no PIB (%)<\/p>\n Duas s\u00e3o as consequ\u00eancias deste elevado grau de abertura da ind\u00fastria. A primeira \u00e9 que impede que a ind\u00fastria repasse para pre\u00e7os os aumentos do custo unit\u00e1rio da m\u00e3o de obra, o que se transforma em queda de margens, desestimulando a produ\u00e7\u00e3o. A segunda \u00e9 que a demanda que n\u00e3o \u00e9 atendida pela produ\u00e7\u00e3o industrial vaza para o exterior na forma de importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas, cuja eleva\u00e7\u00e3o n\u00e3o leva a um d\u00e9ficit elevado nas contas correntes devido aos ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca.<\/p>\n C\u00c2MBIO REAL, RELA\u00c7\u00d5ES DE TROCA E POUPAN\u00c7AS DOM\u00c9STICAS<\/p>\n Com o encerramento da fase aguda da recess\u00e3o, ao final de 2009, e a forte expans\u00e3o monet\u00e1ria promovida pelo crescimento dos ativos de v\u00e1rios bancos centrais no mundo, os ingressos de capitais retornaram e o c\u00e2mbio nominal se valorizou. Embora seja frequente atribuir \u00e0 China a for\u00e7a que leva ao aumento dos pre\u00e7os de commodities<\/em>, n\u00e3o se pode ignorar que o aumento de liquidez que se seguiu \u00e0 expans\u00e3o dos ativos dos bancos centrais foi uma for\u00e7a adicional elevando pre\u00e7os de commodities<\/em>.<\/p>\n Nos 12 meses que se encerram na metade de 2011, tivemos ingressos de investimentos estrangeiros diretos de mais de US$ 60 bilh\u00f5es, com ingressos em portf\u00f3lio de renda vari\u00e1vel de mais de US$ 40 bilh\u00f5es, e em portf\u00f3lio de renda fixa de mais de US$ 20 bilh\u00f5es. Esses ingressos foram mais do que suficientes para financiar o d\u00e9ficit nas contas correntes, que se ampliou com a eleva\u00e7\u00e3o das importa\u00e7\u00f5es l\u00edquidas, e apesar da acumula\u00e7\u00e3o de reservas, de perto de US$ 50 bilh\u00f5es dentro do ano de 2011, o c\u00e2mbio nominal se valorizou.<\/p>\n Essa valoriza\u00e7\u00e3o tamb\u00e9m ocorreu no c\u00e2mbio real. O c\u00e2mbio nominal \u00e9 o pre\u00e7o de um ativo, sendo influenciado pelos ingressos e sa\u00eddas de capitais, e o c\u00e2mbio real \u00e9 um pre\u00e7o relativo, entre bens dom\u00e9sticos e internacionais. A longo prazo, o c\u00e2mbio real depende apenas de vari\u00e1veis reais, e retorna \u00e0 sua m\u00e9dia (o c\u00e2mbio real de equil\u00edbrio), mas se desvia dessa m\u00e9dia por per\u00edodos longos quando \u00e9 submetido a choques no c\u00e2mbio nominal, como s\u00e3o os choques gerados por varia\u00e7\u00f5es nos ingressos de capitais. As economias s\u00e3o caracterizadas por um elevado grau de rigidez de pre\u00e7os, e o Brasil n\u00e3o \u00e9 uma exce\u00e7\u00e3o. \u00c9 isso que est\u00e1 por tr\u00e1s da correla\u00e7\u00e3o positiva entre o c\u00e2mbio nominal e o c\u00e2mbio real (gr\u00e1fico 10). Contudo, os efeitos desses \u201cchoques\u201d n\u00e3o s\u00e3o permanentes. As evid\u00eancias emp\u00edricas sobre a paridade de poder de compra para um n\u00famero enorme de pa\u00edses, inclusive o Brasil, mostram que quando ocorre um choque ele n\u00e3o se incorpora permanentemente ao c\u00e2mbio real, dissipando-se. Mas essa dissipa\u00e7\u00e3o \u00e9 muito lenta. Ou seja, o c\u00e2mbio real tem uma componente autorregressiva positiva, o que gera persist\u00eancia, mas tem uma raiz fora do c\u00edrculo unit\u00e1rio.<\/p>\n Gr\u00e1fico 10 \u2013 C\u00e2mbio nominal e c\u00e2mbio real<\/p>\n A parada de ingressos de capitais em 2008 provocou a deprecia\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio nominal e do c\u00e2mbio real naquele ano, e o retorno dos ingressos de capitais levou \u00e0 valoriza\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio nominal e do c\u00e2mbio real. Foram movimentos de natureza semelhante aos que ocorreram nas paradas bruscas de ingressos de capitais, que levaram \u00e0 deprecia\u00e7\u00e3o dos c\u00e2mbios nominal e real durante a crise de confian\u00e7a de 2002, e durante a crise internacional de 2008. O retorno dos ingressos de capitais tem um papel importante na explica\u00e7\u00e3o da valoriza\u00e7\u00e3o cambial ocorrida em 2010 e grande parte de 2011. Mas se o c\u00e2mbio nominal n\u00e3o tivesse se valorizado, existiriam for\u00e7as que levariam \u00e0 valoriza\u00e7\u00e3o do c\u00e2mbio real, ainda que em uma velocidade menor. Neste caso a valoriza\u00e7\u00e3o ocorreria com uma infla\u00e7\u00e3o maior.<\/p>\n A primeira destas for\u00e7as vem dos ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca. A associa\u00e7\u00e3o entre as varia\u00e7\u00f5es nas rela\u00e7\u00f5es de troca e o c\u00e2mbio real est\u00e1 longe de ser perfeita, mas h\u00e1 uma clara correla\u00e7\u00e3o inversa, como se v\u00ea no gr\u00e1fico 11. A partir de 2010, o Brasil conheceu um ciclo de ganhos de rela\u00e7\u00f5es de troca cuja intensidade somente se compara \u00e0 ocorrida em torno da reforma monet\u00e1ria do plano Real, e em ambos os casos ocorreram valoriza\u00e7\u00f5es do c\u00e2mbio real.<\/p>\n Gr\u00e1fico 11 \u2013 C\u00e2mbio real e rela\u00e7\u00f5es de troca<\/p>\n<\/a><\/p>\n
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Notas: estimativas realizadas com base em dados mensais, de janeiro de 2002 a mar\u00e7o de 2012. Os n\u00fameros entre par\u00eanteses abaixo dos coeficientes s\u00e3o as estat\u00edsticas t de Student.<\/em><\/h5>\n
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