{"id":1282,"date":"2012-07-10T08:12:11","date_gmt":"2012-07-10T11:12:11","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=1282"},"modified":"2012-08-06T12:21:51","modified_gmt":"2012-08-06T15:21:51","slug":"por-que-hidreletricas-com-reservatorio-sao-a-melhor-opcao-para-o-brasil","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=1282","title":{"rendered":"Por que hidrel\u00e9tricas (com reservat\u00f3rio) s\u00e3o a melhor op\u00e7\u00e3o para o Brasil?"},"content":{"rendered":"

A matriz de gera\u00e7\u00e3o do Sistema El\u00e9trico Brasileiro (SEB) \u00e9 quase integralmente hidrot\u00e9rmica, isto \u00e9, 98% da capacidade de gera\u00e7\u00e3o v\u00eam de usinas hidrel\u00e9tricas, que predominam, e de t\u00e9rmicas \u2013 movidas a \u00f3leo, g\u00e1s, carv\u00e3o e combust\u00edvel nuclear.<\/p>\n

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Mas essa predomin\u00e2ncia j\u00e1 foi bem maior h\u00e1 dez anos, como mostra a tabela 2.<\/p>\n

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O aumento da participa\u00e7\u00e3o das fontes t\u00e9rmicas, que se deu a partir da crise energ\u00e9tica de 2001, deveu-se principalmente \u00e0 descontinuidade dos investimentos privados decorrente do processo de mudan\u00e7a da legisla\u00e7\u00e3o do setor el\u00e9trico, entre 2003 e 2005, e <\/em>\u00e0 forte oposi\u00e7\u00e3o enfrentada pelos projetos de constru\u00e7\u00e3o de novas usinas hidrel\u00e9tricas.<\/p>\n

A matriz projetada no Plano Decenal de Expans\u00e3o de Energia (PDE) do Governo Federal para 2020 indica mudan\u00e7as ainda maiores.<\/p>\n

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A participa\u00e7\u00e3o das fontes hidrot\u00e9rmicas cair\u00e1 para 93,25% do total, mantendo-se est\u00e1veis as puramente hidrel\u00e9tricas. As fontes t\u00e9rmicas dever\u00e3o perder espa\u00e7o, a ser ocupado principalmente pelas e\u00f3licas, que perfar\u00e3o 6,7% da matriz brasileira (contra 1%, hoje). O aumento da produ\u00e7\u00e3o nuclear se dever\u00e1 ao projeto de expans\u00e3o de Angra dos Reis.<\/p>\n

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O modo como essa matriz vem sendo constru\u00edda, ao longo de d\u00e9cadas, obedece \u00e0 l\u00f3gica determinada pela oferta de recursos naturais e pelo custo de produ\u00e7\u00e3o. Como se sabe, o pre\u00e7o da energia el\u00e9trica gerada a partir de fonte h\u00eddrica foi e segue sendo menor. Al\u00e9m disso, a gera\u00e7\u00e3o hidrel\u00e9trica \u00e9 renov\u00e1vel e, como se ver\u00e1 adiante, tem vantagens ambientais que nem mesmo as formas de gera\u00e7\u00e3o renov\u00e1vel oferecem. Mas, antes de prosseguir na an\u00e1lise da matriz, \u00e9 preciso fazer breve digress\u00e3o sobre o Sistema Interligado Nacional (SIN).<\/p>\n

Quase todo o Brasil \u00e9 abastecido por meio do SIN. As poucas exce\u00e7\u00f5es est\u00e3o quase todas localizadas na Amaz\u00f4nia: trata-se de comunidades isoladas, abastecidas por gera\u00e7\u00e3o t\u00e9rmica a \u00f3leo, nos chamados Sistemas Isolados. O SIN \u00e9 composto, principalmente, pela Rede B\u00e1sica de Transmiss\u00e3o, que interliga uma vasta parcela do territ\u00f3rio nacional, por meio de quase 100 mil quil\u00f4metros de linhas de transmiss\u00e3o de energia, aos quais se conectam redes secund\u00e1rias de transmiss\u00e3o e redes de distribui\u00e7\u00e3o, que levam eletricidade ao consumidor.<\/p>\n

\u00c0 Rede B\u00e1sica est\u00e3o conectadas as unidades geradoras que produzem energia el\u00e9trica. O processo de planejamento e de comando da produ\u00e7\u00e3o e aloca\u00e7\u00e3o da energia necess\u00e1ria para suprir a demanda nacional \u00e9 feito pelo Operador Nacional do Sistema El\u00e9trico (ONS), em Bras\u00edlia.<\/p>\n

Neste ponto, cabe outra digress\u00e3o. O Brasil ocupa o terceiro lugar entre os pa\u00edses que disp\u00f5em dos maiores potenciais hidrel\u00e9tricos, com 10% da disponibilidade mundial, atr\u00e1s da China, com 13% do total, e da R\u00fassia, com 12%[1]<\/a>. O potencial brasileiro \u00e9 de 260 mil MW[2]<\/a>. Perto de 30% dele (83.000 MW) se transformaram em usinas. O potencial pass\u00edvel de aproveitamento \u00e9 estimado em 126 mil MW, conforme o Plano Nacional de Energia 2030, estando mais de 70% dele localizados nas Bacias do Amazonas e do Tocantins\/Araguaia[3]<\/a>.<\/p>\n

\u00c9 importante lembrar que um dos problemas enfrentados entre a produ\u00e7\u00e3o e o consumo de energia el\u00e9trica \u00e9 o armazenamento. A energia produzida precisa ser imediatamente consumida, porque n\u00e3o tem como ser armazenada. S\u00f3 \u00e9 poss\u00edvel armazenar os elementos usados na gera\u00e7\u00e3o, como \u00e1gua, \u00f3leos combust\u00edveis, carv\u00e3o, g\u00e1s natural e ur\u00e2nio enriquecido.<\/p>\n

Cerca de 70% da capacidade nacional \u00e9 proveniente de usinas hidrel\u00e9tricas. Em seus reservat\u00f3rios, a \u00e1gua \u00e9 guardada e utilizada ao longo do ano. Os grandes reservat\u00f3rios das usinas da Regi\u00e3o Sudeste\/Centro-Oeste representam 71% do Sistema Interligado Nacional[4]<\/a>, constituindo nossa melhor alternativa de armazenamento de energia el\u00e9trica, uma riqueza de que poucos pa\u00edses disp\u00f5em.<\/p>\n

Mas a \u00e1gua desses reservat\u00f3rios n\u00e3o \u00e9 suficiente para atender \u00e0 demanda durante todo o ano. A forma mais segura de suprir o que faltar \u00e9 a gera\u00e7\u00e3o por termoel\u00e9tricas, que podem ser acionadas sempre que necess\u00e1rio, embora com custo de gera\u00e7\u00e3o maior e com emiss\u00e3o de gases de efeito estufa (GEE).<\/p>\n

As t\u00e9rmicas nucleares, embora firmes e constantes, de custo razo\u00e1vel e baixa emiss\u00e3o de GEE, apresentam problemas de disposi\u00e7\u00e3o dos res\u00edduos radioativos e de desconfian\u00e7a popular, refor\u00e7ada por eventos como os de Fukushima, no Jap\u00e3o (sobre energia nuclear ver, neste site<\/em> o texto \u201cO Brasil deve desistir da energia nuclear?<\/a>\u201d).<\/p>\n

A cogera\u00e7\u00e3o a biomassa, principalmente a baga\u00e7o e a palha de cana, permite produzir simultaneamente calor e energia el\u00e9trica, com grande economia de combust\u00edvel.\u00a0 Ela \u00e9 mais eficiente que a gera\u00e7\u00e3o por meio de combust\u00edveis f\u00f3sseis, mas s\u00f3 ganha for\u00e7a, no Brasil, na \u00e9poca da safra da cana de a\u00e7\u00facar. Embora essa seja limita\u00e7\u00e3o relevante, \u00e9 importante registrar que a safra ocorre nas \u00e9pocas de baixa dos reservat\u00f3rios, o que ajuda a compensar a menor gera\u00e7\u00e3o hidrel\u00e9trica.<\/p>\n

A capacidade de produ\u00e7\u00e3o por biomassa, contudo, ainda \u00e9 limitada, respondendo por cerca de 5% da pot\u00eancia instalada nacional. A queima de biomassa n\u00e3o \u00e9 considerada produtora de GEE, pois durante o crescimento do canavial houve retirada de CO\u00b2<\/sub> da atmosfera. A biomassa \u00e9 considerada neutra para efeito de aquecimento global e, por isso, uma fonte alternativa \u2013 al\u00e9m de renov\u00e1vel.<\/p>\n

Por \u00faltimo, os parques de gera\u00e7\u00e3o e\u00f3lica j\u00e1 representam promessa relevante para o abastecimento nacional. Ultimamente, o custo de gera\u00e7\u00e3o dessa energia tem se tornado bastante competitivo em virtude dos incentivos governamentais e do barateamento dos equipamentos geradores.<\/p>\n

A gera\u00e7\u00e3o e\u00f3lica n\u00e3o produz energia firme e constante, j\u00e1 que depende dos ventos. Contudo, \u00e9 excelente fonte complementar ao sistema hidrot\u00e9rmico, gerando mais nos per\u00edodos de baixa dos reservat\u00f3rios.<\/p>\n

O pre\u00e7o da energia, ao lado dos fatores naturais, \u00e9 considerado elemento priorit\u00e1rio na decis\u00e3o sobre fontes geradoras de energia. A abund\u00e2ncia e o custo, al\u00e9m de aspectos ligados \u00e0 seguran\u00e7a do abastecimento, s\u00e3o os fatores que determinam a matriz energ\u00e9tica dos pa\u00edses. Trata-se, obviamente, do c\u00e1lculo econ\u00f4mico, presente em toda atividade humana.<\/p>\n

No setor el\u00e9trico brasileiro h\u00e1 uma m\u00e1xima que diz que \u201ca energia mais cara \u00e9 a da pr\u00f3xima usina\u201d. Vers\u00e3o setorial do princ\u00edpio econ\u00f4mico da produtividade marginal decrescente, de David Ricardo, ele reflete o fato de que se constroem primeiro as \u201cmelhores usinas\u201d. O primeiro fator na determina\u00e7\u00e3o dessas usinas \u00e9 o custo da gera\u00e7\u00e3o, medido em R$\/MWh, decorrente de projetos de execu\u00e7\u00e3o mais f\u00e1cil e mais barata. Depois, vem a proximidade dos centros de demanda, fator que influencia custos de constru\u00e7\u00e3o e manuten\u00e7\u00e3o das linhas de transmiss\u00e3o.<\/p>\n

N\u00e3o menos relevante, no caso de hidrel\u00e9tricas, \u00e9 a parti\u00e7\u00e3o ideal das quedas de uma bacia, t\u00e9cnica que otimiza o aproveitamento do curso d\u2019\u00e1gua para efeito de gera\u00e7\u00e3o de eletricidade. Trata-se do aproveitamento \u00f3timo, conceito legalmente estabelecido no Brasil[5]<\/a>, que deve presidir a elabora\u00e7\u00e3o dos projetos das usinas hidrel\u00e9tricas. Os potenciais h\u00eddricos e as pr\u00f3prias usinas s\u00e3o bens da Uni\u00e3o, conforme estabelecido na Constitui\u00e7\u00e3o Federal[6]<\/a>, constituindo patrim\u00f4nio de todos.<\/p>\n

Tamb\u00e9m s\u00e3o considerados melhores os aproveitamentos que permitem reservat\u00f3rios de grande capacidade e pequena exig\u00eancia de \u00e1rea inund\u00e1vel. Quando operam em cascata, a capacidade de gera\u00e7\u00e3o e a contribui\u00e7\u00e3o das usinas para a regulariza\u00e7\u00e3o do rio s\u00e3o potencializadas, sendo particularmente preciosas as primeiras do conjunto, dada sua maior capacidade de reserva.<\/p>\n

Al\u00e9m disso, os reservat\u00f3rios agregam vantagens comparativas \u00fanicas, fornecendo \u00e1gua para consumo e irriga\u00e7\u00e3o, servindo como criat\u00f3rios de peixes, viabilizando a navega\u00e7\u00e3o e gerando atividade tur\u00edstica.<\/p>\n

Por fim, as hidrel\u00e9tricas indenizam os Estados e Munic\u00edpios pela \u00e1rea que ocupam. Em 2011, pagaram R$ 1,63 bilh\u00e3o como Compensa\u00e7\u00e3o Financeira pela Utiliza\u00e7\u00e3o de Recursos H\u00eddricos (CFURH) e R$ 370 milh\u00f5es em royalties <\/em>(compensa\u00e7\u00e3o financeira espec\u00edfica, devida pela Usina de Itaipu).<\/p>\n

Vejamos, na tabela 5[7]<\/a>, os pre\u00e7os da energia gerada no Brasil, conforme suas fontes.<\/p>\n

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As grandes usinas hidrel\u00e9tricas continuam oferecendo os menores pre\u00e7os de energia. Contudo, os grandes potenciais ainda dispon\u00edveis est\u00e3o localizados nas bacias do Amazonas e do Tocantins\/Araguaia, o que acarreta dois problemas.<\/p>\n

O primeiro \u00e9 a dist\u00e2ncia dos grandes centros consumidores, o que encarece a energia. O segundo \u00e9 que a constru\u00e7\u00e3o de usinas na regi\u00e3o Norte, de terreno mais plano, tende a aumentar a \u00e1rea alagada. Isso tem influenciado no sentido da constru\u00e7\u00e3o de usinas a fio d\u2019\u00e1gua ou sem reservat\u00f3rio, que n\u00e3o acumular\u00e3o reservas para gera\u00e7\u00e3o na esta\u00e7\u00e3o seca, nem contribuir\u00e3o para regularizar as vaz\u00f5es dos rios.<\/p>\n

\u00c9 importante notar, tamb\u00e9m, que a energia de fonte hidrel\u00e9trica reduz seus pre\u00e7os ao longo do tempo, dada a longevidade das usinas e a \u201cgratuidade\u201d de seu \u201ccombust\u00edvel\u201d, a \u00e1gua. Agora mesmo, 18 mil MW de hidrel\u00e9tricas antigas, cujas concess\u00f5es vencem at\u00e9 2015, ter\u00e3o seus pre\u00e7os reduzidos em cerca de 25%, segundo estimativa da ANEEL, projetando pre\u00e7os da ordem de R$ 70 a R$ 75\/MWh.<\/p>\n

Impactos Ambientais Das Fontes<\/span><\/p>\n

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N\u00e3o h\u00e1 gera\u00e7\u00e3o de energia sem impactos ambientais. A melhor solu\u00e7\u00e3o, portanto, combina menor pre\u00e7o e menor impacto, sem esquecer que mitigar impactos encarece a energia. Examinemos os principais impactos de cada fonte de gera\u00e7\u00e3o e, em especial, a gera\u00e7\u00e3o de gases de efeito estufa (GEE), o que mais preocupa hoje.<\/p>\n

As fontes t\u00e9rmicas, com exce\u00e7\u00e3o das nucleares, emitem GEE em grande escala. As nucleares, por sua vez, padecem de dois problemas principais: a possibilidade de acidentes e a falta de solu\u00e7\u00e3o satisfat\u00f3ria para os rejeitos radioativos, embora eles sejam relativamente poucos. Em um ano, um reator nuclear de 1.200 MW, como o de Angra II, produz 265\u00a0kg de res\u00edduos[8]<\/a>. A sua produ\u00e7\u00e3o de GEE \u00e9 pequena.<\/p>\n

A gera\u00e7\u00e3o e\u00f3lica produz algum impacto ambiental. S\u00e3o referidos o impacto na paisagem, o ru\u00eddo decorrente de sua opera\u00e7\u00e3o, da ordem de 40 decib\u00e9is, o espa\u00e7o ocupado pelas torres e eventuais preju\u00edzos \u00e0s correntes migrat\u00f3rias de p\u00e1ssaros.<\/p>\n

A gera\u00e7\u00e3o e\u00f3lica serve apenas como fonte complementar de gera\u00e7\u00e3o de energia el\u00e9trica, j\u00e1 que depende dos ventos, ajudando a economizar \u00e1gua dos reservat\u00f3rios e evitando o despacho de t\u00e9rmicas, mais poluentes e onerosas.<\/p>\n

A energia de fonte solar fotovoltaica, querida dos ambientalistas, tem pre\u00e7o elevad\u00edssimo e depende da luz intermitente do sol, tamb\u00e9m caracterizando forma de gera\u00e7\u00e3o complementar.<\/p>\n

Dotada de boa imagem, essa fonte tem um problema raramente mencionado: ela inutiliza as extensas \u00e1reas ocupadas pelos parques solares. O Parque Solar Waldpolenz<\/em>, na Alemanha, tem pot\u00eancia instalada de 40 MW, gerando 40.000 MWh\/ano, em m\u00e9dia, gra\u00e7as a 550.000 pain\u00e9is solares, instalados em 2,2 km\u00b2. A pot\u00eancia m\u00e9dia de Waldpolenz<\/em> assim calculada \u00e9 de 4,57 MW, o que implica num baixo fator de capacidade, da ordem de 11,4%, e numa igualmente baixa produtividade energ\u00e9tica, de 18,2 GWh\/ano por km\u00b2 ocupado.<\/p>\n

A t\u00edtulo de compara\u00e7\u00e3o, a Usina Belo Monte tem uma pot\u00eancia instalada de 11.233 MW e gerar\u00e1 40 milh\u00f5es MWh\/ano, numa \u00e1rea de 516 km\u00b2. Assim, sua opera\u00e7\u00e3o ter\u00e1 pot\u00eancia m\u00e9dia de 4.571 MW, fator de capacidade de 40,7%, e produtividade energ\u00e9tica de 77,6 GWh\/ano por km\u00b2 (vide tabela a seguir).<\/p>\n

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Com isso, Belo Monte gerar\u00e1 4,2 vezes mais energia por km\u00b2 ocupado que Waldpolenz<\/em>, instala\u00e7\u00e3o considerada modelar. Para gerar mesma quantidade de energia que Belo Monte, uma usina como Waldpolenz<\/em> precisaria de uma \u00e1rea de 2.200 km\u00b2, esterilizando-a para outros aproveitamentos. Cabe mencionar ainda os potenciais impactos negativos dos materiais utilizados na constru\u00e7\u00e3o dos pain\u00e9is solares, tais como chumbo, merc\u00fario e c\u00e1dmio.<\/p>\n

J\u00e1 o reservat\u00f3rio de Belo Monte, passado o impacto inicial da constru\u00e7\u00e3o, tornar-se-\u00e1 um novo ecossistema, t\u00e3o vivo, est\u00e1vel e sustent\u00e1vel quanto o anterior, a exemplo do que ocorre com outras hidrel\u00e9tricas.<\/p>\n

\u00c9 hora agora de analisar os impactos da constru\u00e7\u00e3o de usinas hidrel\u00e9tricas. A Empresa de Pesquisa Energ\u00e9tica, vinculada ao Minist\u00e9rio das Minas e Energia, divulgou dado segundo o qual, somadas as \u00e1reas dos reservat\u00f3rios das usinas constru\u00eddas e a construir na Amaz\u00f4nia, seriam alagados 10.500 km\u00b2, ou seja, 0,16% de todo o bioma amaz\u00f4nico. A t\u00edtulo de compara\u00e7\u00e3o, foram desmatados 6.418 km\u00b2 na Amaz\u00f4nia brasileira somente em 2011, ano em que menos se destruiu a floresta desde 1988[9]<\/a>, quando o INPE iniciou esse levantamento.<\/p>\n

Aproveitar todo <\/em>o potencial hidrel\u00e9trico da Amaz\u00f4nia produzir\u00e1 impacto pouco superior ao do desmatamento ocorrido num ano de baixo \u00edndice de desmatamento. A alternativa \u00e9 optar por queimar combust\u00edvel f\u00f3ssil ou construir usinas nucleares, j\u00e1 que as fontes e\u00f3lica e solar n\u00e3o oferecem a seguran\u00e7a necess\u00e1ria ao abastecimento, como visto.<\/p>\n

Finalmente, no que diz respeito \u00e0s emiss\u00f5es de GEE, dados de estudo publicado em 2003[10]<\/a> comparam as emiss\u00f5es da cadeia completa dos diferentes sistemas de gera\u00e7\u00e3o de eletricidade por tipo de fonte, assim resumidas:<\/p>\n

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O desalojamento de popula\u00e7\u00f5es ribeirinhas \u00e9 outro problema da constru\u00e7\u00e3o de hidrel\u00e9tricas. Conduzida adequadamente, a remo\u00e7\u00e3o dessas popula\u00e7\u00f5es deve representar melhora das suas condi\u00e7\u00f5es de vida, em vista das exig\u00eancias feitas aos empreendedores de benef\u00edcios para os desalojados. Trata-se apenas de conduzir as coisas adequadamente, o que pode e deve ser fiscalizado pelo Poder P\u00fablico.<\/p>\n

Pedido do Minist\u00e9rio P\u00fablico Federal para que se ampliasse o prazo de consulta p\u00fablica do Plano Decenal de Expans\u00e3o de Energia 2020 baseou-se no fato de que 113.502 pessoas ser\u00e3o afetadas pelo conjunto de empreendimentos hidrel\u00e9tricos constantes do Plano, entre os quais Belo Monte. Nota-se, pelo n\u00famero de pessoas, que n\u00e3o teria custo absurdo realoc\u00e1-las dignamente como deve ser.<\/p>\n

Por fim, vem o tema das terras ind\u00edgenas, protegidas pela Constitui\u00e7\u00e3o Federal. De acordo com dados da imprensa[11]<\/a>, as terras demarcadas somam 112,7 milh\u00f5es de hectares, 13,2% do territ\u00f3rio nacional. Elas abrigam 502 mil ind\u00edgenas (0,26% da popula\u00e7\u00e3o), numa m\u00e9dia de 224,5 ha\/habitante. Comparando, nos assentamentos rurais, que abrigam quatro milh\u00f5es de pessoas (2,1% da popula\u00e7\u00e3o), a m\u00e9dia ocupada \u00e9 dez vezes menor, de 22 ha\/habitante. \u00c9 preciso, portanto, encontrar solu\u00e7\u00e3o negociada e satisfat\u00f3ria para a constru\u00e7\u00e3o das hidrel\u00e9tricas que as afetem.<\/p>\n

Tamb\u00e9m \u00e9 imperativo discutir a op\u00e7\u00e3o pela constru\u00e7\u00e3o de usinas hidrel\u00e9tricas sem reservat\u00f3rio ou a fio d\u2019\u00e1gua (para ler mais acerca de reservat\u00f3rios a fio d\u2019\u00e1gua ver, neste site, o texto \u201cO que s\u00e3o as usinas \u2018a fio d\u2019\u00e1gua\u2019 e quais os custos inerentes \u00e0 sua constru\u00e7\u00e3o?<\/a>\u201d), e abrir o debate sobre o que iremos fazer ao respeito do desperd\u00edcio de um precioso patrim\u00f4nio nacional, os aproveitamentos hidrel\u00e9tricos. Constru\u00edda uma usina sem reservat\u00f3rio, a perda de sua capacidade produtiva jamais ser\u00e1 recuperada, particularmente se for a primeira ou a segunda da cascata, fundamentais para a otimiza\u00e7\u00e3o do seu aproveitamento na gera\u00e7\u00e3o e na regulariza\u00e7\u00e3o. Equivale a renunciar para sempre a uma parcela importante de um po\u00e7o de petr\u00f3leo ou de uma rica jazida mineral.<\/p>\n

O PDE 2020 prev\u00ea que a capacidade de armazenamento dos reservat\u00f3rios das usinas brasileiras ter\u00e1 crescimento de apenas 6%, at\u00e9 2020, contra um aumento da capacidade instalada de 39%, no mesmo per\u00edodo. Essa proje\u00e7\u00e3o aponta o sacrif\u00edcio sem volta de uma importante riqueza. Note-se que isso ocorrer\u00e1 com descumprimento da legisla\u00e7\u00e3o em vigor, que determina o aproveitamento \u00f3timo dos potenciais h\u00eddricos.<\/p>\n

Tudo considerado, pode-se concluir que as usinas hidrel\u00e9tricas constituem a melhor e mais confi\u00e1vel alternativa de produ\u00e7\u00e3o de energia no Brasil, principalmente no que diz respeito ao custo de produ\u00e7\u00e3o e ao impacto ambiental.<\/p>\n

Tamb\u00e9m n\u00e3o se devem esquecer as t\u00e9rmicas nucleares, cujo desempenho \u00e9 muito bom no que diz respeito \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de GEE. A tecnologia vem ganhando em seguran\u00e7a, em projetos mais recentes, e o volume de seus res\u00edduos \u00e9 relativamente pequeno.<\/p>\n

N\u00e3o se pode, ali\u00e1s, dispensar fonte alguma, cada qual valiosa a seu modo. A e\u00f3lica vem ganhando competitividade, mas a solar ainda \u00e9 muito cara para figurar como alternativa concreta no Plano Decenal de Energia.<\/p>\n

A gera\u00e7\u00e3o a g\u00e1s, a \u00f3leo e a carv\u00e3o, embora onerosa e poluente, segue sendo uma alternativa segura para complementar o abastecimento nacional nos per\u00edodos de baixa produ\u00e7\u00e3o hidrel\u00e9trica. Por seu alto pre\u00e7o e impacto, contudo, deve ser reduzida ao m\u00ednimo indispens\u00e1vel.<\/p>\n

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