{"id":1053,"date":"2012-02-12T18:58:59","date_gmt":"2012-02-12T21:58:59","guid":{"rendered":"http:\/\/www.brasil-economia-governo.org.br\/?p=1053"},"modified":"2012-02-10T15:44:57","modified_gmt":"2012-02-10T18:44:57","slug":"o-que-e-subsidio-cruzado-e-como-ele-afeta-a-sua-conta-de-luz","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.brasil-economia-governo.com.br\/?p=1053","title":{"rendered":"O que \u00e9 “subs\u00eddio cruzado” e como ele afeta a sua conta de luz?"},"content":{"rendered":"

H\u00e1 diversos pre\u00e7os na economia que s\u00e3o fixados ou submetidos a regras e restri\u00e7\u00f5es pelo governo: energia el\u00e9trica, tarifas postais, tarifas telef\u00f4nicas, tarifas aeroportu\u00e1rias, planos de sa\u00fade, ingressos para espet\u00e1culos (regra de meia-entrada), passagens de \u00f4nibus, etc.<\/p>\n

Ao fixar esses pre\u00e7os, o governo muitas vezes procura atingir diversos objetivos, tais como: evitar o lucro excessivo de empresas monopolistas, beneficiar um grupo de pessoas (os mais pobres, os mais idosos, os estudantes, etc.), estimular alguns setores da economia ou ajudar o desenvolvimento de regi\u00f5es mais atrasadas. \u00c9 muito comum que o pre\u00e7o mais baixo cobrado de uma classe de consumidores (ou os incentivos financeiros dados a uma classe de produtores) seja compensado por pre\u00e7o mais alto cobrado aos demais consumidores. \u00c9 a isso que se chama \u201csubs\u00eddio cruzado\u201d: uma classe de consumidores paga pre\u00e7os mais elevados para subsidiar um grupo espec\u00edfico, seja ele outro grupo de consumidores ou um grupo de empresas (Para ler mais acerca de \u201csubs\u00eddios cruzados\u201d veja, neste site, o texto Quem deve pagar a conta dos subs\u00eddios nos servi\u00e7os de utilidade p\u00fablica?<\/a>)<\/span>.<\/p>\n

O presente artigo argumenta que, de modo geral, o uso de subs\u00eddios cruzados na fixa\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os regulados pelo governo reduz a efici\u00eancia da economia, penaliza injusticadamente os consumidores n\u00e3o subsidiados, reduz a transpar\u00eancia sobre quanto custa cada classe de subs\u00eddio, distorce a pol\u00edtica or\u00e7ament\u00e1ria do governo e viabiliza a sobreviv\u00eancia de subs\u00eddios ineficientes com base em press\u00e3o pol\u00edtica de grupos benefici\u00e1rios.<\/p>\n

Ser\u00e1 apresentado o caso da conta de luz paga pelos consumidores brasileiros, na qual h\u00e1 in\u00fameros itens de custo que representam recursos a serem utilizados para subsidiar diferentes atividades consideradas merit\u00f3rias, tais como o consumo de energia pela popula\u00e7\u00e3o de baixa renda, o incentivo \u00e0 produ\u00e7\u00e3o de energia por fontes alternativas, a eletrifica\u00e7\u00e3o rural, entre outros.<\/p>\n

Inicialmente \u00e9 preciso considerar os motivos pelos quais o governo interfere na fixa\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os. Este ponto j\u00e1 foi analisado em outro artigo postado neste site (\u201cPor que o governo deve interferir na economia?<\/a>\u201d)<\/span>. \u00a0Um caso importante \u00e9 o dos setores em que o livre funcionamento de mercado n\u00e3o gera concorr\u00eancia (ver, no texto acima citado, o conceito de \u201cmonop\u00f3lio natural\u201d),\u00a0 nos quais a livre fixa\u00e7\u00e3o de pre\u00e7os pelo mercado daria \u00e0s empresas o poder de ditar pre\u00e7os elevados, em preju\u00edzo dos consumidores.<\/p>\n

A solu\u00e7\u00e3o para esse problema pode ser a produ\u00e7\u00e3o do servi\u00e7o por uma empresa estatal, na qual o governo define o pre\u00e7o do servi\u00e7o,\u00a0 ou pode ser a entrega do servi\u00e7o a uma empresa privada que dever\u00e1 obedecer \u00e0 regula\u00e7\u00e3o<\/span><\/a> estatal. A regula\u00e7\u00e3o fixar\u00e1 pre\u00e7os m\u00e1ximos, metas de investimento e cobertura dos servi\u00e7os, entre outras exig\u00eancias.<\/p>\n

Tanto a regula\u00e7\u00e3o quanto a opera\u00e7\u00e3o estatal abrem espa\u00e7o para que o governo estabele\u00e7a pre\u00e7os diferenciados para distintos consumidores ou incentivos a grupos de empresas, instituindo os subs\u00eddios cruzados.<\/p>\n

Os principais mercados sujeitos \u00e0 regula\u00e7\u00e3o ou produ\u00e7\u00e3o estatal s\u00e3o os de energia el\u00e9trica, telefonia, servi\u00e7os postais, aeroportos, estradas, saneamento, transporte de combust\u00edveis. Usaremos o caso do mercado de energia para analisar os subs\u00eddios cruzados e seus efeitos delet\u00e9rios.<\/p>\n

Montalv\u00e3o (2009) faz uma an\u00e1lise detalhada dos componentes da conta de luz e lista os seguintes mecanismos expl\u00edcitos e impl\u00edcitos de subs\u00eddios cruzados, que representam itens de custo somados \u00e0 tarifa b\u00e1sica de energia el\u00e9trica e encarecem a conta de luz paga pelos consumidores finais de energia:<\/p>\n